quarta-feira, 30 de novembro de 2016


CORREIO BRAZILIENSE
30/11/2016


A COMILANÇA DO NATAL

É tudo culpa dos portugueses. Pelo menos é o que Luis da Câmara Cascudo garante: “Festa portuguesa sem comida e bebida é uma anomalia inconcebível”. E arremata: “Até o Menino Jesus come e dá que comer”.

Oh, meu Menino Jesus,
Sua boquinha de requeijão!
Dai-me de vossa merenda,
Que minha mãe não tem pão.
[...]
Oh, meu Menino Jesus,
Inda tenho mais para vos dar
Esta pequena lembrança
Uma chouriça para assar.

Em Portugal, diz o folclorista brasileiro, “Até as alminhas vão comer as migalhas da mesa, na noite de Natal de tão familiar, essencialmente familiar, que a festa é”. E assim, quando desembarcaram no litoral brasileiro, trouxeram na bagagem e no sangue essa mania que herdamos e desenvolvemos com tanto cuidado. O Natal tropical mantém a tradição do Natal setentrional com as castanhas, as nozes, avelãs e amêndoas. Não faltam as rabanadas. Comida de pobre elevada à iguaria: pão amanhecido embebido no leite (prefiro vinho), passado no ovo, frito e salpicado de açúcar e canela – ah! as especiarias que vieram com as caravelas, cravo, pimenta-do-reino (claro!), noz-moscada...
Mário de Andrade dá uma ideia do paladar nacional em seu conto “Peru de Natal” (1942) em que retrata uma singela ceia familiar na primeira metade do século passado e que termina em “uma felicidade gustativa”.

“Era costume sempre, na família, a ceia de Natal. Ceia reles, já se imagina: ceia tipo meu pai, castanhas, figos, passas, depois da Missa do Galo. Empanturrados de amêndoas e nozes (quanto discutimos os três manos por causa dos quebra-nozes...) empanturrados de castanhas e monotonias, a gente se abraçava e ia pra cama. Foi lembrando disso que arrebentei com uma das minhas ‘loucuras’:
- Bom, no Natal, quero comer peru.
[...]
Não, não se convidava ninguém, era um peru pra nós, cinco pessoas. E havia de ser com duas farofas, a gorda com os miúdos, e a seca, douradinha, com bastante manteiga. Queria o papo recheado só com a farofa gorda, em que havíamos de ajuntar ameixas pretas e um cálice de xerez, como aprendera na casa da Rose, muito minha companheira. Está claro que omiti onde aprendera a receita, mas todos desconfiaram. E ficaram logo naquela de incenso assoprado, ai não seria tentação do Dianho aproveitar receita tão gostosa. E cerveja bem gelada, eu garantia quase gritando. É certo que com meus ‘gostos’ já bastante afinados fora do lar, pensei primeiro meu vinho bom, completamente francês. Mas a ternura por minha mãe venceu o doido, mamãe adorava cerveja.”

 Os pratos do Natal lusitano variam entre bacalhau, polvo, peru e cabrito.  O peru não fez parte dos natais de minha infância, que incluía sempre pernil e roast beef, saladas, muitas frutas naturais e secas e rabanadas – inesquecível o delicioso perfume da canela que inundava a sala de jantar nas manhãs de Natal. Num tempo pré-panetones, não me lembro de bolos nesta festa. O panetone, aliás, chegou ao Brasil com os imigrantes italianos do pós-guerra, na segunda metade do século passado. Fez muito sucesso e, naturalmente, passou por várias modificações para atender a todos os gostos.

Nesse feriado em que se celebra a família, vale cozinhar aquilo que se tem à mão e ao gosto de todos, pois o importante são os temperos cheios de carinho, recheados d e boa vontade. 


Ceia de Natal: cartão polonês.

Carl Larsson (1853-1919).

terça-feira, 29 de novembro de 2016

NATIVIDADE E ARTE
O primeiro registro da celebração do Natal data de 354 e a mais antiga representação pictórica do nascimento de Jesus são os sarcófagos de Roma e da Gália do sul da mesma época. A narrativa da natividade é baseada nos Evangelhos (Mateus e Lucas) e sempre tem os Reis Magos (sábios), a cena do estábulo com Jesus, Maria e José e o recebimento dos presentes pelos visitantes que encontraram a família graças a uma estrela guia. O tema sempre cativou artistas que o registraram em pinturas, esculturas, afrescos, vitrais e livros etc. A tradição dos presépios (estatuária) foi popularizada por São Francisco de Assis (1182-1226), mas provavelmente se originou em Roma.

Sarcófago de Roma. 

Iluminura alemã, c. 1220.




segunda-feira, 28 de novembro de 2016


ERA UMA VEZ...
A lenda de São Nicolau/ Papai Noel se popularizou quando Clement Clarke Moore (1779 –1863), professor de Literatura Grega e Oriental de New York, escreveu o poema “Visita de S. Nicolau” para seus seis filhos. Para começo de conversa, o bispo São Nicolau de Mira notabilizou-se entre os cristãos pela caridade e por seu amor às crianças; ele nasceu em Patara (atualmente Turquia) em data ignorada, mas morreu em 6 de dezembro de 350 (século IV) na mesma cidade.  Ele é o santo padroeiro da Grécia, Noruega e Rússia.
Com o poema de Moore, São Nicolau se popularizou e o cartunista alemão Thomas Nast (1840-1920), radicado nos Estados Unidos, também teve uma participação importante nesse processo quando produziu em janeiro de 1863 a capa do Harper’s Weekly, criando a imagem de Papai Noel, que evoluiu com o decorrer dos anos. Contudo há controvérsias sobre a autoria da poesia, que alguns estudiosos atribuem ao Major Henry Livingston, Jr., um nova-iorquino descendente de alemães e escoceses, parente distante da mulher de Moore – mas isso é outra história.

UMA VISITA DE SÃO NICOLAU
Era véspera de Natal e nada na casa se movia,
Nenhuma criatura, nem mesmo um camundongo;
As meias com cuidado foram penduradas na lareira,
Na esperança de que São Nicolau logo chegasse;
As crianças aconchegadas, quentinhas em suas fronhas,
Enquanto rosquinhas de natal dançavam em seus sonhos;
Mamãe com seu lenço e eu com meu gorro,
Há pouco acomodados para uma longa soneca de inverno;
Quando no jardim começou uma barulhada,
Eu pulei da cama para ver o que estava acontecendo.
Para fora da janela como um raio eu voei,
Abri as persianas e subi pela cortina.
A lua no colo da recém-caída neve,
Dava um lustro de meio-dia em tudo em que tocava,
Quando, para meus olhos curiosos, o que apareceu:
Um trenó miniatura, e oitos renas pequenininhas,
Com um motorista velhinho, tão alerta e muito ágil,
E eu soube, na mesma hora, que era São Nicolau.
Mais rápido que uma águia vinha pelo caminho,
E assobiava e gritava e as chamava pelo nome;
“Agora, Corredora! Agora, Dançarina! Agora, Empinadora e Raposa!
Venha, Cometa! Venha, Cupido! Venham, Trovão e Relâmpago!
Por cima da sacada! Para o topo do telhado!
Agora fora, depressa!
Fora todos, bem depressa!”
Como folhas revoltas antes do furacão,
Sem encontrar obstáculos, voaram para o céu,
Tão alto, acima do telhado voaram,
O trenó cheio de brinquedos e São Nicolau nele também.
E então num piscar de olhos, ouvi no telhado
O toque-toque e o arrastar dos casquinhos.
Como um desenho em minha cabeça, assim que virei
Descendo a chaminé São Nicolau vinha resoluto
Todo vestido de peles, da cabeça até os pés,
E com a roupa toda manchada de cinzas e carvão;
Um saco de brinquedos em suas costas,
Parecia um mascate ao abrir o saco.
Seus olhos – como brilhavam!
Suas alegres covinhas!
Suas bochechas rosa, seu nariz como uma cereja!
Sua boquinha sapeca curvada para cima como num arco,
A barba em seu queixo tão branca como a neve;
O cabo do cachimbo bem preso em seus dentes,
A fumaça envolvendo sua cabeça como uma guirlanda;
Tinha um rosto redondo e uma barriga grande,
Que sacudia, quando ele sorria, como uma tigela de geleia.
Era gordinho e fofo, um perfeito elfo velhinho e alegre,
E eu ri quando o vi, sem poder evitar;
Uma piscada de olhos e um aceno de cabeça,
Na hora me fizeram entender que eu nada tinha a temer;
Não disse uma só palavra, mas voltou direto ao seu trabalho,
E recheou todas as meias; então virou no pé,
E colocando o dedo ao lado do nariz,
Acenando com a cabeça, a chaminé escalou;
Pulou em seu trenó, ao seu time assobiou,
E para longe voaram, como pétalas de dente-de-leão.
Mas ainda o ouvi exclamar, enquanto ele desaparecia
“Feliz Natal a todos e para todos uma Boa Noite!”
(Tradutor não identificado.)

domingo, 27 de novembro de 2016

PROCURA-SE...

... um senhor de idade indefinida com chegada prevista para os próximos dias em algum ponto deste mundo maluco. Ele está um pouco acima do peso, mas ainda é capaz de enxergar o dedão do pé ou a ponta da bota que costuma usar; gosta de roupas um tanto extravagantes – invariavelmente vermelhas – e uma barba branca muito bem cuidada adorna o rosto onde brilha um sorriso simpático encimado por um nariz vermelhinho, que revela o gosto por eggnogs e nightcaps. Dizem que está a caminho...
Ele atende por um desses nomes de acordo com o local em que é esperado:

Juliman (Dinamarca)
Babbo Natal (Itália)
Grandfather Frost (Rússia)
Joulupukki (Finlândia)
Jultomten (Suécia)
Santa Claus (EUA e Inglaterra)
Père Noel (França)
Papa Noel (Espanha)
Weihnachtsmann (Alemanha)
Sinterklaas (Países Baixos)
Papai Natal (Portugal)

Papai Noel (Brasil)

sábado, 26 de novembro de 2016

PAPAI NOEL DOS CORREIOS

Papai Noel é um mito adorável que sobrevive apesar da distorção do sentido original da festa familiar em favor de um consumismo promíscuo incentivado pelos interesses econômicos em escala mundial. Se antes as famílias presenteavam apenas as crianças, hoje é quase obrigação presentear a todos mesmo à custa do endividamento antecipado no ano que vai chegar.
Crianças de famílias pobres não entendem bem o motivo de não receberem presentes quando a publicidade na TV, nos outdoors e em revistas mostra um mundo tão cor-de-rosa e um velhinho tão pródigo em promessas – alguns até dão plantão em lojas, shoppings e magazines ouvindo pedidos que nem anotam.  
Quem se importa com aqueles que não receberão presentes? Muita gente e, felizmente, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos cuja direção se comoveu com a quantidade de cartas endereçadas a Papai Noel, que chegava todo final de ano. Assim, há 27 anos foi criada a campanha “Papai Noel dos Correios”, que responde às cartas de crianças de todo o Brasil que escrevem para Papai Noel. Nos últimos três anos em todo o país foram atendidos mais de 1,5 milhão de pedidos — cerca de 80% das cartas dentro dos critérios de participação.
As cartas são lidas e as selecionadas de acordo com os critérios da campanha são postas para adoção na Casa do Papai Noel ou em outras unidades da empresa no País onde as pessoas devem ir para adotar uma delas. O endereço da criança não é informado ao “Papai Noel” ou padrinho. Os presentes são encaminhados pelos padrinhos para locais específicos designados pelos Correios que, naturalmente, se encarregam da entrega.

Uma campanha de solidariedade. 

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

"TEATRO NATALINO"
Suely Ribella 

As pessoas vão se empolgando,
se deixando contaminar
pelo espírito natalino.
E saem por aí distribuindo votos
disto e daquilo, sem sequer saberem
o que dizem e a quem dizem.
Passado esse período que antecede
e o dia propriamente do Natal,
vem o pós Natal e, as pessoas
guardam os votos na gaveta
para usarem no próximo ano.
Algumas até jogam fora.
E lá vêm as caras amarradas,
sem sorrisos, vêm as mãos
que não se abrem nem se estendem,
vêm os braços que não abraçam,
até o próximo Natal,
quando o teatro se repete. 


            A poetisa e advogada santista Suely Ribela tem vários livros publicados entre os quais Encantos, Meus Caminhos, Outros Sonhos, Quase Nada. O poema “Teatro Natalino” encontra-se no livro mais recente: Entre nós (São Paulo: Editora Delicata, 2016). 

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

IT’S BEGINNING TO LOOK A LOT LIKE CHRISTMAS.
It's beginning to look a lot like Christmas 
Ev'rywhere you go; 

Take a look at the five and ten glistening once again 

With candy canes and silver lanes aglow. 


It's beginning to look a lot like Christmas 
Toys in ev'ry store 
But the prettiest sight to see is the holly that will be 
On your own front door. 

A pair of hopalong boots and a pistol that shoots 
Is the wish of Barney and Ben; 
Dolls that will talk and will go for a walk 
Is the hope of Janice and Jen; 
And Mom and Dad can hardly wait for school to start again.

It's beginning to look a lot like Christmas

Ev'rywhere you go; 

There's a tree in the Grand Hotel, one in the park as well, 

The sturdy kind that doesn't mind the snow. 


It's beginning to look a lot like Christmas; 
Soon the bells will start, 
And the thing that will make them ring is the carol that you sing 
Right within your heart

It's beginning to look a lot like Christmas 
Toys in ev'ry store 
But the prettiest sight to see is the holly that will be 
On your own front door.

So it's Christmas once more.


Esta música foi composta em 1951 por Meridith Wilson (1902-1984) e gravada por Perry Como (1901-2001), Crosby (1903-1977) e The Fontane Sisters, no mesmo ano. 

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

A ARTE CORREIO
A arte correio, surgida nos anos de 1960, de acordo com Paulo Roberto Barbosa Bruscky, oferecia uma série de possibilidades para explorar e veicular o trabalho artístico – o envelope como obra, o conteúdo, o postal, o aerograma, o telegrama e o telex. “O genial da arte correio é que existia uma corrente e o Correio era o único meio de comunicação incontrolável (...).” A XVI Bienal de São Paulo teve uma sala de arte postal, que gerou muita polêmica. Em um trabalho para a UNICAMP sobre a exposição, Carolina Tiemi Odashima (bolsista na época) explicava que a arte postal se caracteriza “por seu valor subversivo, político, marginal democratizante, pela lógica do quantitativismo, da efemeridade e da transitoriedade”.  

A arte correio fez um grande sucesso no mundo todo, não se prendia a questões de nacionalidade; as pessoas engajadas no movimento se empenharam em não quebrar essa corrente, pois ela permitia discussões sistemáticas. Os artistas participantes da corrente em todo o mundo muitas vezes nem se conheciam e por meio da arte denunciavam governos ditatoriais, as ações contra a liberdade de expressão e assim obra era a informação, segundo Bruscky, que foi preso por causa de seu trabalho. Museus e os colecionadores buscam a comprovação dessa troca de informação, “mas a obra em si não era palpável, era essa troca de informação e essa resistência no mundo todo”.


Para aprofundar o tema:

enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa7783/paulo-bruscky  
www.museudapessoa.net/pt/conteudo/pessoa/paulo -roberto-barbosa-bruscky-4063

segunda-feira, 21 de novembro de 2016


Não Diga o Meu Espelho que Envelheço

Paul Signac (1863-1935): Mulher a pentear-se. 

Não diga o meu espelho que envelheço,
se a juventude e tu têm igual data, 
mas se os sulcos do tempo em ti conheço 
então devo expiar no que me mata. 
Tanta beleza te recobre e deu 
tais galas a vestir a meu coração, 
que vive no teu peito e o teu no meu. 
Mais velho do que tu serei então? 
Portanto, meu amor, cuida de ti 
como eu, não por mim, por ti somente 
te cuido o coração, que guardo aqui 
como à criança a ama diligente. 
    Não contes com o teu se o meu morrer. 
    Deste-me o teu e o não vou devolver.

William Shakespeare. Soneto 22. (Tradução sem crédito.)

domingo, 20 de novembro de 2016

MULHER AO ESPELHO

Cecília Meirelles (1901-1964)

Georges Seurat (1859-1891)

Hoje, que seja esta ou aquela,
pouco me importa.
Quero apenas parecer bela,
pois, seja qual for, estou morta.

Já fui loura, já fui morena,
já fui Margarida e Beatriz,
já fui Maria e Madalena.
Só não pude ser como quis.

Que mal fez essa cor fingida
do meu cabelo, e do meu rosto,
se é tudo tinta: o mundo, a vida,
o contentamento, o desgosto?

Por fora, serei como queira,
a moda, que vai me matando.
Que me levem pele e caveira
ao nada, não me importa quando.

Mas quem viu, tão dilacerados,
olhos, braços e sonhos seus,
e morreu pelos seus pecados,
falará com Deus.

Falará, coberta de luzes,
do alto penteado ao rubro artelho.
Porque uns expiram sobre cruzes,
outros, buscando-se no espelho.





quarta-feira, 16 de novembro de 2016


"SALVE LINDO PENDÃO DA ESPERANÇA!" 


A Bandeira Nacional foi instituída quatro dias após a proclamação da República em 19 de novembro de 1889. A letra do Hino à Bandeira é de Olavo Bilac e a música foi composta por Francisco Braga. Ele foi apresentando pela primeira vez em 9 de novembro de 1906. 


HINO À BANDEIRA
Salve lindo pendão da esperança!
Salve símbolo augusto da paz!
Tua nobre presença à lembrança
A grandeza da Pátria nos traz.
Recebe o afeto que se encerra
em nosso peito juvenil,
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil! 
 Em teu seio formoso retratas
Este céu de puríssimo azul,
A verdura sem par destas matas,
E o esplendor do Cruzeiro do Sul.
Recebe o afeto que se encerra
em nosso peito juvenil,
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil! 
 Contemplando o teu vulto sagrado,
Compreendemos o nosso dever,
E o Brasil por seus filhos amados,
poderoso e feliz há de ser!
Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito juvenil,
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil! 
Sobre a imensa Nação Brasileira,
Nos momentos de festa ou de dor,
Paira sempre sagrada bandeira
Pavilhão da justiça e do amor!

Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito juvenil,
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil!

BOBAGENS DO DIA
Que bom! Chegamos ao 322.º dia do ano; faltam 43 para terminar o ano e 37 para receber a visita de Papai Noel. O dia 18 de novembro marca alguns eventos históricos interessantes. Nessa data em 1926, o escritor irlandês George Bernard Shaw recusou o prêmio Nobel de Literatura. Em 1976 a  democracia voltou à Espanha, após 37 anos de ditadura; em 1993 a nova Constituição garantiu direito de voto para os negros do país.

      Quem conhece a República da Letônia? Uma boa chance de conhecer esse país que festeja hoje a Independência da Alemanha e Rússia alcançada em 1918. O Sultanato de Omã, situado na costa sudeste da Península Arábica comemora o dia da Pátria. No Brasil, comemora-se o Dia do Conselho Tutelar e o Dia do Tabelião e Registrador. O décimo primeiro mês do ano no calendário gregoriano era o nono (novem em latim) mês do calendário romano, que começava em março.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

REPÚBLICA


“Somos todos iguais! Ao futuro
Saberemos, unidos, levar
Nosso augusto estandarte que, puro,
Brilha, ovante, da Pátria no altar!”*


Há exatamente um ano encontrava-me no Rio de Janeiro e resolvi ir conhecer o Campo de Santana, onde a República foi proclamada em 1889. O local é um bonito parque urbano, ornamentado com algumas esculturas. Logo na entrada havia uma banda do Exército executando algumas músicas populares antes do início de uma cerimônia. Modesta até mesmo em audiência. Circulei pelas alamedas, onde dois ou três boêmios dormiam nos bancos... Um pavão exibia-se para três turistas perdidos na manhã carioca. Mais adiante três aves disputavam a atenção de uma pavoa indiferente (parecia). Ouçi os acordes do Hino Nacional e fui ouvi-lo junto à banda marcial. Havia umas 30 pessoas – a maioria fazia parte da organização. Lembro que a República foi proclamada sem grandes comoções; apenas a monarquia caiu de inanição.

Rio de Janeiro, 15 de novembro de 2015.

*Verso do Hino da Proclamação da República: letra de José Joaquim de Campos da Costa de Medeiros e Albuquerque (1867 - 1934) e música de Leopoldo Américo Miguez (1850 - 1902). Foi composto para ser o Hino Nacional, mas o presidente Marechal Deodoro da Fonseca vetou a ideia, determinando que fosse o Hino da Proclamação da República. Tela de Benedito Calixto (1853-1927).

domingo, 13 de novembro de 2016


TARTARUGAS, JABUTIS E COTIAS


A tartaruga nadava tranquilamente no laguinho do Orquidário de Santos, seguida pela cria (única pelo visto) que se esforçava para segui-la. Enfim, Dona Tartaruga parou para observar papai que parecia cochilar. O filhote a alcançou e começou a brincadeira, batendo as patinhas minúsculas na cabeça da mãe que aguentou o divertimento do rebento por uns bons minutos; porém, paciência de toda mãe tem limite e esta tartaruga não é diferente. Vira-se e nada rapidamente para longe do brincalhão. A tartaruguinha se desespera e segue a mãe em disparada. Parece que a relação entre mãe e filho é igual em qualquer espécie. (O filhote à esquerda acima da cabeça da tartaruga maior,seguindo a mãe mais à direita.)


A cutia para quando vê a intrusa. Não se mexe. Quando me afasto, ainda está no mesmo lugar,
 na mesma posição. Mais tarde passeava tranquilamente pelas alamedas atrás de alguma coisa mais interessante.

Não é apenas turista que aprecia uma praia.  Do outro lado
 do lago os jabutis aproveitam o sol da manhã. 

Araras em sincronia na hora da higiene pessoal (por assim dizer).




sábado, 12 de novembro de 2016

O PAVÃO
No Orquidário de Santos, perguntei pelo pavão à funcionária que varria cuidadosamente as alamedas. Ela se apoiou no vassourão e me informou que é difícil de saber, pois ele vive solto, porém costuma ficar no mostruário (sic). Faz sentido. Onde mais ficaria uma ave tão exibida? Por incrível que pareça estava na área reservada para ele! (Pelo menos havia uma placa onde se lia PAVÃO). Este pavão não é nada misterioso. Estava empoleirado em um banco, com a cauda a Luis XIV esparramada no chão. Virou a cabeça coroada em minha direção, olhou-me sem interesse, pesquisou em torno e começou a higiene matinal. Dei a volta para tentar vê-lo (e fotografar) de frente. Desta vez lançou um olhar entediado, ouviu o canto de um sabiá e pupilou em resposta, retornando logo à limpeza das penas. E haja pena! Noto que as penugens brancas das coxas lembram os culotes tão do agrado da nobreza pelos idos do século XVII. Os pezinhos nem são tão feios quanto dizem. Mas a voz... Nem sinal de dona Pavoa. É possível que o Barão de Itararé considerasse a possibilidade de que ela estivesse fazendo uma fezinha no 19.


         

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

FESTA NO JOSÉ MENINO

Hoje é dia de festa em Santos: o Orquidário Municipal completa 71 anos. O embrião do que a prefeitura chama atualmente de parque zoobotânico foi o Parque Indígena, criado no final do século XIX pelo comendador Júlio Conceição, um apreciador da natureza. Ele era proprietário de uma chácara de 22.000 m² na Avenida Conselheiro Nébias entre a praia (Avenida Vicente de Carvalho) e a Rua Embaixador Pedro de Toledo, no Boqueirão. Ele transformou o lugar em um parque, que logo se tornou uma grande atração da cidade.
Dois leões de tijolo e cimento guardavam o portão de ferro da entrada (Avenida Conselheiro Nébias) da Chácara Júlio Conceição, que mais tarde ele denominou de Parque Indígena. Ao entrar o visitante deparava-se com três grandes pomares, vários ripados de madeira, árvores nativas e exóticas, o Pavilhão Mira-Flores, jardins e amplo gramado. No Pavilhão Mira-Flores havia um mostruário de flores e plantas ornamentais, e servia também para recepções ou festas públicas. O acesso à residência era pela Rua Embaixador Pedro de Toledo.
Em 1909 Júlio Conceição começou a formar um orquidário, com aquisições e coletas próprias em excursões para ampliar o acervo do Parque. O lugar tornou-se um ponto turístico da cidade: Júlio Conceição fazia questão de receber pessoas ilustres para um cafezinho ou uma pinga de boa qualidade em seu paraíso particular. E entre os privilegiados – o presidente Herbert Hoover, dos Estados Unidos; cardeal Cerejeira, de Portugal; vice-presidente Roca, da Argentina e outras personalidades da Itália, Portugal, Uruguai, França e Espanha.
          Quando ele morreu, em 1938, havia reunido 90 mil orquídeas. A Prefeitura adquiriu a coleção de orquídeas, que transferiu para o bairro do José Menino e em 11 de novembro de 1945 inaugurou o Orquidário Municipal, organizado, desenvolvido e dirigido por Inácio Manso Filho, o técnico que tratava das orquídeas no Parque Indígena, que foi loteado em 1944.
O Orquidário Municipal tem 24 mil m², cobertos por um bosque com remanescentes da Mata Atlântica, entrecortado por jardins, um lago de 1.180 m² e um pavilhão para exposições de orquídeas e outras plantas ornamentais. Há espaço para 400 animais, entre eles pavões, cutias, jabutis, tucanos, araras, tartarugas, macacos e guarás. Anualmente, pássaros e aves aquáticas e migratórias pousam por lá.

Júlio Conceição foi comerciante, vereador, presidiu a Câmara em 21 de novembro de 1889, quando foi votada moção de solidariedade ao governo provisório do Marechal Deodoro da Fonseca; foi presidente do Banco Mercantil e Provedor da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia. 
ESCULTURAS

Uma das belas esculturas públicas de Santos adorna a fonte na entrada do Orquidário Municipal. Para o visitante pode parecer o lugar ideal para uma náiade (ninfa dos rios e das fontes, na mitologia grega); entretanto, a ninfa tem uma história conturbada. Ela foi criada para adornar a Praça José Bonifácio, onde ficam a Catedral e a Primeira igreja Batista de Santos. Causou escândalo entre as boas famílias cristãs e foi um alívio quando a trocaram pelo monumento ao Soldado Constitucionalista que, na verdade, se chama “Filhos de Bandeirantes”. A ninfa deve ter apreciado a troca e até hoje banha-se na fonte do Orquidário.
Foto: Hilda Araújo, novembro/2016.



Os cariocas são bem mais sofisticados e não se importaram
com a bela escultura em frente à Igreja de Nossa
 Senhora da Candelária em pose bem mais ousada. 

Foto: Hilda Araújo, novembro/2015.