domingo, 23 de julho de 2017

ARTE E LOUCURA

O psiquiatra paraibano Osório Thaumaturgo Cesar (1895-1979) iniciou a luta pela humanização do tratamento dos alienados e introduziu a arte como recurso terapêutico em psiquiatria no Brasil. Viveu um período na Europa, onde foi discípulo de Carl Jung. Estabeleceu-se em São Paulo, no início dos anos de 1931 casou-se com Tarsila do Amaral (uma união que durou pouco) e trabalhou por no Hospital Psiquiátrico do Juquery (Franco da Rocha) até 1965, quando se aposentou. Ali fundou a Escola Livre de Artes Plásticas cujas exposições, mais de 50, atraíram atenção de intelectuais como Sérgio Milliet e Flavio de Carvalho. A Escola foi desativada em 1970. Entre seus vários livros, destaca-se Misticismo e Loucura, premiado pela Academia Brasileira de Letras em 1948. Osório Cesar doou parte da sua coleção para o Museu de Arte de São Paulo, que realizou três exposições das obras, sendo a última em 2015.  
Os trabalhos produzidos na Escola foram reunidos, na década de 1980, pela professora de arte Maria Heloísa Corrêa de Toledo Ferraz (ECA/USP), responsável pela organização do Museu Osório Cesar, inaugurado em 1985 em um dos pavilhões do complexo do Juquery (Franco da Rocha).
No momento, é possível conhecer algumas obras dos internos – quase todos anônimos – do Sanatório Pinel (Pirituba) e do Manicômio Judiciário do Juquery – reunidas na mostra promovida pelo Arquivo Público do Estado de São Paulo, aberta à visitação de segunda à sexta-feira das 9 às 16h30.  
Se o título da exposição não é dos melhores (Mais que humanos – Arte no Juquery), o conteúdo é muito valioso sob vários aspectos. Além das pinturas e esculturas, que expressam o sofrimento e as angústias dos pacientes, é possível ler os prontuários de dezoito internos do Pinel. Esses documentos revelam a história dessas pessoas, o motivo do encaminhamento para internação e a avaliação médica ao ingressar na instituição, onde frequentemente eram abandonadas pela família.
Ao percorrer a exposição chama atenção a poesia de Stela do Patrocínio (1941-1997), internada por 35 anos na Colônia Juliano Moreira (Rio de Janeiro).

É dito: pelo chão você não pode ficar
Porque lugar da cabeça é na cabeça
Lugar de corpo é no corpo
Pelas paredes você também não pode
Pelas camas também você não vai poder ficar
Pelo espaço vazio você também não vai poder ficar
Porque lugar da cabeça é na cabeça
Lugar de corpo é no corpo

   
ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO: Rua Voluntários da Pátria, 596. Atrás da Estação Tietê do Metrô. Entrada gratuita.


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