segunda-feira, 21 de agosto de 2017

PAULA NEY

Será que alguém sabe quem foi Paula Ney (1858-1897) que empresta o nome a uma rua no bairro da Aclimação? Paula Ney nem é citado na enciclopédia popular da internet entre os conterrâneos ilustres da cidade natal. Lembro bem que ao mudar para o bairro paulistano fiquei intrigada com o salão de beleza que ostentava o nome dele na placa, quando um colega de trabalho me esclareceu que se referia ao nome da rua.
Soube da existência de Paula Ney ainda adolescente, quando achei na estante de minha tia o livro de Ciro Vieira da Cunha premiado pela Academia Brasileira de Letras em 1949: “No tempo de Paula Ney” (Edição Saraiva, São Paulo, 1950). Cunha não escreveu uma simples biografia, ele faz uma narrativa rica e agradável de uma época em que fervilhava na corte um punhado de jovens que fariam muita diferença na história do país – tanto na literatura, no jornalismo como na política. Ney foi jornalista, poeta e boêmio, ora mais jornalista, ora mais boêmio.
Francisco de Paula Ney nasceu em Aracati, Ceará, em 1858, onde cresceu e estudou até que o pai o enviou para um seminário. Grave erro paterno: o jovem fez um discurso contra a falta de liberdade e as injustiças da instituição. Resultado: a expulsão do seminário e uma surra tão violenta, que levou Francisco a se queixar do pai para o Delegado de Polícia. Matriculado no Liceu Cearense, arranjou uma briga com o professor de inglês e foi reprovado. Mais tarde, como todo jovem, não sabia que rumo tomar – direito, medicina, engenharia? O pai o despachou para o Rio de Janeiro, onde Francisco desembarcou em 1877.
As dúvidas o acompanhavam. Bem que gostaria de atender aos desejos da mãe e estudar medicina, mas tinha horror a sangue. Enquanto se decidia, foi trabalhar na GAZETA DE NOTÍCIAS, em que pontificava José Carlos do Patrocínio (1854-1905). Era assíduo frequentador do Pascoal, uma confeitaria da Rua do Ouvidor com uma distinta clientela. Enfim, Paula Nei matriculou-se na Escola de Medicina, onde aparecia de vez em quando “para promover manifestações ou aliciar entusiasmos em favor da campanha abolicionista”. Foi levando o curso, graças à simpatia que conquistara entre professores e colegas; porém, foi a Obstetrícia que salvou a Medicina de um mau profissional. Na verdade, ele só queria o diploma. Quando o professor lhe fez uma pergunta a que não conseguiu responder com a usual criatividade humorística, o mestre ironizou:
- Senhor Paula Ney... Então não sabe isso? É incrível... coisa tão fácil. Olhe, o que lhe estou perguntando é coisa que sei desde que nasci.
-Se o senhor sabe isso desde que nasceu, então a senhora sua mãe devia ter uma biblioteca dentro do ventre.
Paula Ney estava livre para dedicar-se ao o jornalismo. E à boemia. A carreira foi tumultuada, cultivando muitos amigos e admiradores e vários desafetos. Foi ele, por exemplo, quem propôs que se concretizasse a ideia de Visconti Coroaci para erigir uma estátua ao grande ator João Caetano. Ele levantou a questão durante uma ceia em homenagem ao empresário Jacinto Heller. O ator Francisco Correa Vasques ficou encarregado de levantar os fundos e ficou com as glórias desde que o monumento foi inaugurado em 3 de maio de 1891.
A biografia de Cunha relata as lutas políticas, especialmente, a abolicionista em que ele se empenhou. Paula Ney morreu pobre. “Não se sabe de ninguém que tenha guardado dele um ressentimento ou uma queixa: sabe-se de muita gente que abençoa sua memória” – escreveu Olavo Bilac sobre o jornalista. 
Monumento a João Caetano, Praça Tiradentes, RJ.
(Foto: Hilda Araújo, 2015.)

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