segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

CINE CAIÇARA
“Num local que está destinado a se tornar o ponto de atração nº 1 da cidade, surge este cinema, que, sem favor, pode ser colocado entre os melhores do Brasil! Luxuoso! Confortável! Poltronas estofadas! Aparelhos de ar condicionados moderníssimos!” Se há um exagero no anúncio, certamente, diz respeito à quantidade de pontos de exclamação, pois o Cine Caiçara foi mesmo uma das melhores salas do país.
O empresário Domingos Fernandes Alonso foi o responsável pelo presente que a cidade recebeu no dia 15 de maio de 1952. A nova casa de espetáculos foi construída no mesmo local em que funcionara o antigo Miramar (Avenida Conselheiro Nébias, 851), onde aconteceu a exibição do primeiro filme em Santos.
O novo cinema, que comportava 1800 pessoas, era dotado de três projetores de última geração. A empresa se preocupou em proporcionar ao espectador conforto para que usufruísse melhor do momento de diversão. Assim, desde a bilheteria até a ampla sala de espera em tom cinza com painéis de pastilhas brilhantes, tudo foi pensado para evitar aborrecimento (hoje seria estresse). Uma galeria de circulação ligava o hall de entrada ao de saída. O salão de espetáculos foi decorado em tons de verde. A tela era de matéria plástica “permitindo extraordinária e nítida projeção”, de acordo com o anúncio. Em um cinema, poltronas são fundamentais e as do Caiçara eram estofadas, revestidas de couro verde e dispostas de tal forma que espectador teria perfeita visibilidade de qualquer ponto da sala. No verão santista, o público poderia contar com ar condicionado Westinghouse. Detalhes importantes para tranquilizar o público: “Esplêndidas instalações sanitárias para homens e senhoras, cabine telefônica isolada, bebedouro de água gelada e um jardim tropical (...)”.
 Para a estreia nada melhor do que um filme premiado com seis estatuetas na entrega do Oscar de 1952: “Sinfonia de Paris”, musical dirigido por Vincent Minelli no ano anterior, com Gene Kelly e Lesli Caron. As músicas são de George e Ira Gershwin e Conrad Salinger, Saul Chaplin e Johny Green. A escolha não poderia ser mais feliz: Sinfonia de Paris ocupa a nova posição na lista dos 25 maiores musicais norte-americanos do American Film Institute.
Para a inauguração foram distribuídos convites para autoridades, imprensa e críticos de cinema e a renda da bilheteria foi destinada à Gota de Leite, entidade beneficente de atendimento às crianças carentes. Na reportagem do dia seguinte, uma foto mostra o salão de 1762 lugares quase lotado minutos antes do início da sessão e outra, os convidados entre os quais se destacam o diretor de A TRIBUNA, M. Nascimento Jr., o deputado Athié Jorge Coury, Djalma Freixo e J. B. Andrade.
A reportagem permite que se tenha uma noção do comércio da cidade em 1952 ao listar os estabelecimentos onde o público poderia comprar os ingressos para a inauguração do Caiçara: Modas Teixeira, Modas Linda, Relojoaria Eska, A Lausanne Têxtil, SEARS, Instituto de Beleza Parque Balneário, Marquesa de Sevigné e Casa Leblon.

*Melhor filme, melhor fotografia colorida, melhor direção de arte colorida, melhor figurino colorido, melhor trilha sonora em musical. 

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