quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

SANTOS
O engenho, o porto e o hospital.

         Santos arranca suspiros dos visitantes e continua sendo a referência de todos os que nasceram ou um dia moraram por lá. Está situada numa ilha disfarçada – a ilha de São Vicente, tão próxima do continente que muita gente nem percebe a configuração. Aliás, divide a ilha com o município mais antigo do Brasil, São Vicente.
         Em 1532 Braz Cubas (1507-1592) acompanhou o amigo Martim Afonso de Sousa na expedição para o Brasil e se instalou na vila de São Vicente, recentemente criada, onde logo demonstrou sua capacidade de empreendedor. Entre as missões atribuídas pelo rei a Martim Afonso uma era iniciar o cultivo da cana-de-açúcar no Brasil e, assim, depois de declarar São Vicente vila, ele tratou de mandar plantar cana e construir um engenho no sopé de um dos morros da ilha; portanto “(...) foi na vila de São Vicente onde se fabricou o primeiro açúcar no Brasil”, segundo escreveu Padre Simão Vasconcelos (1597-1671).
         Foram construídos vários engenhos. O Engenho do Governador era propriedade de Martim Afonso, Pero Lopes de Sousa, Francisco Lobo e Vicente Gonçalves e mais tarde juntou-se a eles Johan Van Hielst ou João Vaniste. O prédio é de 1534. A sociedade se desfez com a partida de Martim Afonso para as Índias, mas Vaniste prosseguiu com o engenho até vendê-lo para Erasmos Schetz de Antuérpia. Enfim, o engenho passou a ser chamado de engenho “dos Erasmos”. 
         Enquanto isso Brás Cubas percebeu os benefícios do estabelecimento de um porto abrigado com acesso mais fácil para o planalto e, com um grupo de colonos, junto a um outeiro, fundou em 1543 uma vila, um hospital nos mesmos moldes das santas casas de Portugal e uma igreja que dedicaram à Santa Catarina, que acabou nomeando o outeiro. Como era 1º de novembro o hospital ganhou o nome de Santa Casa da Misericórdia de Todos os Santos, o primeiro hospital do Brasil, e sua forma reduzida acabou nomeando a nova vila – Santos.
         À medida que o tempo passava a vila de Santos foi ganhando importância por causa da qualidade do porto e a existência de um hospital também deve ter influenciado, pois no século XVI, após as longas viagens transoceânicas, marinheiros, colonos e viajantes frequentemente precisavam de assistência. Brás Cubas foi realmente um homem de visão: no século XXI, o porto é um dos maiores da América do Sul e a Santa Casa sobrevive aos trancos e barrancos cumprindo o seu papel. A Igreja de Santa Catarina soçobrou faz tempo. No outeiro, o italiano Antonio Eboli construiu em 1800 um castelinho de gosto duvidoso que, felizmente, continua enfeitando a Rua Visconde do Rio Branco.
Martim Afonso de Sousa deixou uma herança inestimável para a cidade. O engenho funcionou até meados do século XVIII, produzindo cana para exportação, e rapadura e aguardente para o consumo interno. Ao visitar o local atualmente é difícil imaginar que havia ali “[...] uma casa muito grande com seis lanços, uma senzala com uma ferraria provida de baluartes e ainda duas casas cobertas de telhas, muito boas e fortes”. Havia também uma capela dedicada a São Jorge – daí São dos Erasmos. O Monumento Nacional Ruínas Engenho São Jorge dos Erasmos é o testemunho físico mais antigo da colonização portuguesa no Brasil. Foi tombado em 1955 e integrado à Faculdade de Ciências e Letras (atual Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) da Universidade de São Paulo. A doação para a USP concretizou-se em 31 de janeiro de 1958. 
     
Visitas monitoradas: agendamento pelo telefone (13) 3229-2703 ou e-mail resjesantos@gmail.com
Rua. Alan Ciber Pinto, 96. Vila São Jorge, Santos.  

Engenho São Jorge dos Erasmos. Foto: H. A., 2009. 

Santa Casa de Santos: o quarto prédio do hospital mais antigo do Brasil foi inaugurado em 1945.Foto: H.A., 2017.


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