quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018


GOTA DE LEITE AMEAÇADA

            No final dos anos cinquenta do século passado, um primo recém-nascido precisou de tratamento urgente e especializado, que recebeu do médico Othon Feliciano na Gota de Leite (Santos,SP). Acompanhei minha tia em várias ocasiões e assistia aos difíceis procedimentos. A criança se recuperou plenamente e cresceu muito saudável. O caso ocorreu-me quando soube que a Gota de Leite corre o risco de fechar. Quantas crianças, como ele, tiveram suas vidas salvas graças à instituição ao longo dos seus 104 anos de existência?
            As crianças de Santos, no início do século passado, ganharam um grande presente, quando os médicos Alcides Lobo Viana e Othon Feliciano, em 11 de junho de 1914, abriram as portas da Assistência à Infância de Santos, a Gota de Leite, para atender às mães que não podiam amamentar e não tinham recursos. Elas recebiam uma garrafa de leite fresco para alimentar os filhos e os dois médicos, que tinham um relevante histórico de serviços na cidade, atendiam gratuitamente a garotada. Quantas crianças puderam crescer com saúde graças aos serviços da Gota de Leite?
Edição dos 50 anos de A TRIBUNA: 26/03/2944. Imagem: Novo Milênio.

A entidade começou a funcionar em um prédio alugado na Rua General Câmara até que, finalmente, em 1924, mudou para o casarão da Avenida Conselheiro Nébias, 388 e passou a contar com um ambulatório de pediatria, lactário e uma ala de internação. Logo veio a colaboração da cidade: os comerciantes de café importaram vacas holandesas para garantir o leite das crianças. Os animais pastavam nos terrenos ao redor da casa até que mais tarde foram transferidos para uma área da Avenida dos Bandeirantes.
Em algum momento o perfil da entidade (privada, filantrópica e sem fins lucrativos) mudou e atualmente funciona como uma escola atendendo gratuitamente a 220 crianças de 11 meses a seis anos. A subvenção da Prefeitura de Santos cobre 50% dos gastos; os outros 50% vêm da locação da escola e do prédio em que funciona o Fundo de Solidariedade de Santos, mais o valor arrecadado numa grande quermesse anual. Os custos têm aumentado e os auxílios, minguado. A quermesse desse ano foi cancelada, segundo o jornal A TRIBUNA, porque o número de patrocinadores caiu muito e tem sido mais na forma de permuta (material de limpeza, banners e convites), sem contar que no ano passado aparecem só 20 voluntários para ajudar no evento. A festa custa cerca de R$ 600 mil; feitas as contas concluiu-se que a realização da quermesse poderia aumentar o prejuízo da entidade. 
A Gota de Leite precisa de R$ 100 mil mensais para se manter, ainda de acordo com A TRIBUNA. Vários fatos chamaram minha atenção nesse cenário triste, mas a questão da cidadania prevalece sobre todos. Sei que há um exército de voluntários trabalhando por causas importantes em todo o país e fico espantada ao saber que só apareceram 20 pessoas para ajudar na quermesse que, diga-se de passagem, é um evento alegre. Não consigo calar: as 220 mães não se mobilizaram? Não se dispõem a colaborar no evento para a manutenção da vaga dos seus filhos e de outras crianças que virão a precisar da escola? Claro que elas trabalham ou têm dificuldades, mas poderiam organizar um rodízio para apoiar a entidade. Se a instituição fechar, vão se queixar da Prefeitura e reivindicar vagas em escolas e creches?
É fácil empurrar tudo para o poder público, mas nós temos um trabalho a fazer também. Não são só as mães. A sociedade precisa se mobilizar para manter viva a Gosta de Leite. O comércio se mobilizou para importar vacas em 1914. Hoje pretende fazer o quê? Eu pretendo me envolver nessa causa; embora tenha deixado Santos em 1982, mantenho-me ligada à cidade. Com esforço de todos a instituição centenária pode ser salva, preservando e honrando assim o trabalho de dois ilustres médicos santistas que se importaram realmente com as questões sociais.
         Na época das epidemias que assolaram Santos, Dr. Alcides Lobo Viana, organizou e dirigiu um hospital improvisado no Mosteiro de São Bento para socorrer as vitimas da febre amarela. “Mesmo alquebrado, já com a saúde muito comprometida, ele estava sempre disposto a atender aos necessitados. Dotado de grande capacidade médica, dedicado e generoso, quantas vidas foram salvas por ele?” – diz a justificativa do coronel Joaquim Montenegro à indicação da homenagem pública ao médico em 1922. Dr. Othon Feliciano (irmão de Antônio e Lincoln Feliciano) dirigiu e atuou por muitos anos na Gota de Leite. Médico sanitarista, chefiou o Centro de Saúde Santos até se aposentar.
         Há vários modos de ajudar: tornando-se sócio com doações mensais de R$15,00 e R$100,00. Informações no site: www.gotadeleite.org.br
Qualquer valor pode ser depositado na conta da instituição:
Banco Santanter
Agência 3553
CONTA CORRENTE 13000613-0
CNPJ 58.222.910/0001-07 (obrigatório).

Mais detalhes na edição de A TRIBUNA de 19/02/2018.


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