quinta-feira, 12 de abril de 2018


O IMPÉRIO DA FOTOGRAFIA

Florença, 2012. Essa escultura me emociona de várias formas.
Gregos e romanos eram adeptos de esculturas que exaltavam a beleza do corpo humano. As estátuas povoavam as ruas das suas cidades. Muitas chegaram até nós. Os museus guardam muitas obras de escultores tão anônimos quanto seus modelos. Sem contar obras-primas de mestres da arte clássica. Os modelos? Quem sabe?
Em outros tempos a nobreza europeia descobriu os pintores que contratavam para retratá-los. Guardar a imagem para a posteridade era privilégio de poucos, embora muitos artistas tenham registrado o cotidiano das cidades e aldeias do velho continente – bem pouco sabemos sobre eles; enquanto isso os pintores viajantes registravam paisagens e povos de localidades por onde passavam, o que nos permite conhecer rostos populares e imaginar suas histórias.
Sir Brooke Boothby (1781), obra de Joseph Wright (1734-1797).
A situação muda em meados do século XIX, quando surgiu o daguerreótipo, o precursor da fotografia. Em 1839 já havia um viajante embarcando em Nantes (França) munido de um daguerreótipo para colher paisagens dos lugares que pretendia visitar. O desenvolvimento da fotografia foi, praticamente, simultâneo. A novidade permitiu que as pessoas tivessem a oportunidade de ter seus retratos – que deixam de ser privilegio dos ricos que podiam pagar o talento de um pintor.

Foto de família em estúdio, final século XIX. 

Por muito tempo ainda a máquina fotográfica esteve fora do alcance da maioria das pessoas, porém sempre era possível juntar um dinheiro para contratar um fotógrafo para retratar a família, o casamento e até mesmo um morto querido (algo mais comum do que se imagina). Logo surgem estúdios fotográficos mundo afora. Geralmente, dispunham de um cenário para os clientes posarem*.

Após a II Guerra Mundial a fotografia tornou-se ainda mais popular graças aos avanços tecnológicos das câmeras, que se tornaram mais leves e baratas, embora as boas máquinas continuassem (como até hoje) fora do alcance da maioria das bolsas e bolsos. Nesse panorama a câmera instantânea (Polaroid) comercializada a partir de 1948 também teve grande participação.
Mas foi com a era digital que a fotografia praticamente se tornou acessível a todas as faixas econômicas. Máquinas compactas, nada de filmes e revelações (apenas se o fotografo quiser). Errou? Descarte sem prejuízo. Quando as câmeras foram anexadas aos telefones celulares, o mundo então mudou mesmo. Sem ônus as pessoas passaram a fotografar tudo e principalmente a si mesmas.
Publicação de abril de 1961.
Descobrimos que vivemos na era do narcisismo. Redescobriram a fotografia de si mesmo (“selfie”), que já era possível fazer com algumas máquinas tradicionais. Criaram algo chamado de “pau de selfie” (duplo mau gosto) para quem estivesse só e quisesse muuuuito uma foto. (Viajei nos Estados Unidos ao lado de uma jovem que se fotografou durante o trajeto de algumas horas se fotografando com essa ferramenta detestável.) Parece, felizmente, que a moda passou.
Recentemente, numa cidade do litoral paulista, o teto de um shopping começou a desabar e em vez de se protegerem muitas pessoas ficaram filmando e fotografando o acontecimento, que logo estava na internet. Repórteres fotográficos amadores abundam. A frase famosa de que uma imagem vale mil palavras desgastou-se. Vivemos a banalização da imagem. As palavras, por sua vez, têm encontrado dificuldades para se organizarem harmoniosamente.  
Sem dúvida é um tempo para reflexões.

*O Museu Paulista da Universidade de São Paulo dispõe de um belo acervo de fotos antigas.

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