quarta-feira, 4 de abril de 2018


Uma névoa de Outono o ar raro vela
Fernando Pessoa

UMA NÉVOA de outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,

E será como esta           [...]

Vista do porto de Santos, outono de 2008.



Nenhum comentário: