quinta-feira, 3 de maio de 2018

CEMITÉRIO DA CONSOLAÇÃO
Arte tumular
O guia Francivaldo Almeida Gomes (Popó) contando história com muito talento. Foto sem crédito, site da Prefeitura de São Paulo.
Domingo de sol. Imagino um passeio tranquilo, sem muita gente. Aonde ir? Então me lembro de um lugar ao ar livre, que certamente terá pouca gente: Cemitério da Consolação. Mórbido? Nem um pouco. Lido bem com a morte. É inevitável. E o Cemitério da Consolação reúne História e arte da cidade de São Paulo, além ser uma demonstração de que a vaidade humana, por mais vã que seja, pode incentivar o estudo e a pesquisa sobre as pessoas que contribuíram de alguma forma para a formação desta megacidade.
Não sou a única a pensar dessa forma: há dez anos a Prefeitura mantém um programa de visitas guiadas; contudo, fui disposta a fazer meu próprio caminho a partir de um mapa com o roteiro do que vale a pena ver nessa necrópole – não se esqueça de que depende de você encontrar a beleza, que pode estar em qualquer lugar.
O cemitério da Consolação completará em breve 160 anos – (o famoso Père Lachaise de Paris, tem 214!). Depois de percorrer sem rumo as alamedas sombreadas, felizmente, encontrei Francivaldo Almeida Gomes (Popó) que, não me deixou partir sem ver o que eu queria – os túmulos de Mário e Oswald de Andrade, Monteiro Lobato e Eduardo Prado – e muito mais, como as obras de Victor Brecheret, Nicola Rolo, Luigi Brizzolara, Gelileo Ugo Emendabili,entre centenas de escultores anônimos, mas não menos interessantes.
Tumba da Marquesa de Santos. 
Popó, cearense de Crateús, conhece praticamente tudo sobre o cemitério da Consolação e seus ocupantes – antigos e recentes. Eu achava que a marquesa de Santos, Domitila de Castro Canto e Melo, doara o terreno para a cidade, mas Popó me esclareceu que a área de 76.340 m² já era da cidade e a marquesa contribuiu com uma doação generosa para as obras. A campa de Maria Domitila é bem simples, contrapondo-se a verdadeiros monumentos como o Mausoléu da família Nami Jafet – uma obra em bronze do escultor italiano Materno Giribaldi (1870-1935), que viveu três anos em São Paulo; ou do Mausoléu da família Francesco Matarazzo, ambos empresários; os do presidente Campos Salles (1841-1913). Em matéria de simplicidade e elegância, destaca-se o Mausoléu de Ramos de Azevedo, desenhado por ele mesmo.
O Sepultamento, de Brecheret, 1923.
Belíssima a obra de Victor Brecheret (1894-1955) – O Sepultamento, no túmulo de Olivia Guedes de Penteado (1872-1934), sobrinha de Yolanda Penteado (1903-1983). A escultura foi premiada no Salão de Outono de Paris de 1923. Ela é vizinha de Tarsila do Amaral (1886-1973) – um túmulo simples onde alguém colocou flores numa garrafinha. Discreto, mas criativo, o túmulo do presidente da Província de São Paulo Washington Luis (1859-1957), que tem uma bandeira nacional dobrada. José Alves de Cerqueira César (1835-1911), que governou São Paulo entre 1891/1892 e após ser eleito senador renunciou antes de assumir, também tem um belo mausoléu, que ficou pronto muitos anos depois da morte dele por causa da I Guerra Mundial (1914-1918), que impossibilitou a importação do material para a obra.
Mausoléu do presidente Campos Salles.

Mausoléu de Cerqueira César. 
Autor desconhecido.
As visitas guiadas devem ser agendadas com um dia de antecedência por e-mail (assessoriaimprensa@prefeitura.sp.gov.br) e na mensagem devem contar: nome completo, telefone de contato e o nome do interessado e dos acompanhantes, se houver. Em caso de escolas, pedimos que no mesmo e-mail envie também o nome da instituição de ensino, responsável que acompanhará o grupo e faixa etária dos participantes.


. Fotos: Hilda Prado Araújo, 2018.

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