terça-feira, 16 de setembro de 2025

AH! ESSAS CRIANÇAS!

 O ônibus para, o motorista abre a porta, subo, dou boa tarde, mas já sei que não terei resposta. O motorista é um mal-humorado crônico. Sentei-me num banco da frente e lá fomos nós! Dois pontos depois alguns passageiros aguardam e, entre eles três ou quatro estudantes do ensino básico. Devem ter dez anos, mas estão agitados. Correm, riem e se estapeiam. O motorista para o coletivo, os adultos entram e os garotos continuam a brincadeira até que um gritou para o motorista esperar e coleguinha vem correndo sobe os dois degraus, ri e desce dizendo que não vai. Do meu camarote imagino a cara do motorista. Com uma cara marota, o moleque para em frente à porta que o motorista não fechara. Diante do silêncio, ele joga a isca:

– Por que não fechou a porta? Eu não vou.

Uma atitude obviamente desafiadora. Uma isca que o zangado ao volante engoliu, quando perguntou calmamente:

 – O que você está aprendendo na escola?

O rostinho do moleque brilhou:

– Porra nenhuma! – gritou o sapeca mal-educado.

Silenciosamente, o motorista fechou a porta e entrou no trânsito modorrento de uma terça-feira da última semana de inverno.


sexta-feira, 12 de setembro de 2025

VIDA NOTURNA

 

Ontem, a caminhada noturna pelo Centro Histórico foi decepcionante: em vez de caminhar o grupo foi convidado para assistir a um espetáculo gratuito do Festival Internacional de Palhaços. O evento tem importância cultural, sem dúvida, mas não gosto de palhaços. Assim, bati em retirada. De todo jeito valeu caminhar da Rua da Consolação até a Praça Roosevelt, que fica melhor à noite do que durante o dia.

    No caminho, vejo um quarto de uma parede só... Sem ninguém, embora não pareça abandonado. No chão, o colchão com a coberta bem arrumada; há uma mesinha posta e três livros. Duas cadeiras e vasos com plantas dão uma certa privacidade ao leito. Há duas lixeiras. Cenário?

    Lembro-me, não sei porquê, da música de Noel Rosa “O orvalho vem caindo”, embora não haja semelhança com a cena. A cama não é uma folha de jornal; a noite tem lua às vezes envolta em nuvens, nada de orvalho e as poucas estrelas visíveis ainda estão lá no céu... Caminho até a Avenida São Luís, agora tranquila, para pegar o ônibus. No ponto, dois homens aguardam sentados e conformados.





sábado, 6 de setembro de 2025

CENA BUCÓLICA

Hoje, na Vila das Mercês, depois de alguma andança, me dirigia ao ponto de ônibus, quando observei mais à frente um casal em plena colheita. Ah! Que cena! Lembrei-me da infância quando a nespereira do quintal de casa ficava carregadinha, fazendo a alegria da família e dos passarinhos, sem contar os nossos papagaios que adoravam a fruta. A árvore da Vila das Mercês também estava carregada e, generosa, estendeu os galhos para a calçada.







PAISAGEM

 Minha rua quinta-feira. Um luxo só. Inverno chegando ao fim com ares de primavera e uma lua cheia para lobisomem nenhum botar defeito.




domingo, 31 de agosto de 2025

DOMINGO NO MINHOCÃO

 

Hoje o passeio foi pelo Elevado Costa e Silva que, de acordo com a população, é simplesmente Minhocão. Fico com o povo: fui passear no Minhocão. O elevado tem 2.500 m de extensão; liga a Zona Oeste a partir da Praça Roosevelt à Zona Leste, terminando na Avenida Francisco Matarazzo. Os cinco acessos intermediários contribuem com mais 900 m. O objetivo da obra: desafogar o trânsito da cidade. O projeto do arquiteto Luiz Carlos Gomes Cardim Sangirdadi foi recusado pelo prefeito Faria Lima; quando o engenheiro Paulo Maluf assumiu a prefeitura paulistana, construiu o viaduto em onze meses e deu à obra o nome do seu padrinho: General Costa e Silva. O povo, entretanto, não perdoou e a obra-prima de Maluf virou Minhocão. A inauguração aconteceu em 24 de janeiro de 1971, com um tremendo congestionamento.

Não vou contar a história do Minhocão, porque daria uma novela – aliás, a polêmica foi registrada por Jorge Andrade na novela O Grito (1975/1976), mas ele já apareceu também em filmes. Passei poucas vezes por lá e, provavelmente, de ônibus; estou mais familiarizada com os baixos do viaduto – que eu me lembre da Avenida Amaral Gurgel até a praça Marechal Deodoro. Neste domingo, achei que era tempo de corrigir essa falha e assim fui até a Praça da República de metrô, segui pela Avenida Ipiranga até a Rua da Consolação, onde começa o viaduto. Ainda deu tempo de olhar o velho Teatro de Arena Eugenio Kusnet e a Igreja da Consolação em restauro.

É estranho ver o viaduto sem veículos e pessoas caminhando despreocupadas. Parece verão. Público heterogêneo – jovens, adultos e idosos; alguns sentados de olho no celular ou conversando com amigos; outros lendo (sim, lendo) livros. Há um espaço com jogos (dama e xadrez) e brinquedos. Um pai ensina a filha a jogar xadrez; muita gente toma sol como se aqui fosse o Gonzaga e saboreia água de coco. Não há vendedores. Em caso de necessidade, não faltam banheiros químicos.

O que me surpreende? A tranquilidade que paira pelo viaduto. Que bom! Estou interessada nas ruas lá embaixo – Major Sertório, General Jardim, Marques de Itu, Santa Isabel, Jaguaribe... De repente uma algazarra. Localizo a origem: uma enorme feira de domingo lá embaixo na Rua Sebastião Pereira. Uma infinidade de barraquinhas. Último dia de agosto, último domingo do mês e a freguesia parece disposta a gastar. Adiante, o Largo Santa Cecília. Hora de voltar.

Gostei muito da experiência e retornarei no sentido contrário – a partir do Largo Padre Péricles, em Perdizes. O lado negativo é a falta de recipientes na entrada do viaduto na Consolação para os vendedores de coco jogarem o lixo. 






 




sábado, 30 de agosto de 2025

DR. FRANKENSTEIN

Hoje é dia do Frankenstein, de acordo com a Microsoft que insiste em me manter atualizada com essas datas comemorativas tão importantes. Só por causa disso assistirei hoje o filme “Frankenstein” (1931), dirigido por James Whale.  O roteiro, baseado na obra de Mary Sheley, tem mais seis “colaboradores”: Peggy Webling, John L. Balderston, Francis Edward Faragoh, Garrett Fort, Robert Florey, John Russell. No papel de monstro, está Boris Karloff (1887-1969). Não gosto de filmes de terror, mas adorei “O jovem Frankenstein” (1974), dirigido por Mel Brooks (1926), com Geme Wilder (1933-2016). Os dois assinam o roteiro. A data é uma referência à criadora do monstro, a escritora britânica Mary Shelley, que nasceu em 30 de agosto de 1797 e faleceu em 1853. Ela escreveu o livro aos 19 anos.


https://www.blogger.com/blog/post/edit/8140872972624257493/6435134818330665965

AH! OS PSICHÊS!

 

Na biblioteca, peguei o livro por causa do tema, o bairro do Brás, nem me preocupei em verificar a autoria. Em casa, acomodada na poltrona, displicente, folheei o livro, parei nas páginas ilustradas com fotos antigas e voltei ao Sumário – uma espécie do cardápio dos livros. Um capítulo me atraiu – “Homenagem ao bucolismo, que não existe, e ao agente ferroviário, que existiu”, mas o seguinte foi decisivo porque lá estava o psichê, coisa da minha infância, palavra que não via ou ouvia havia mais sessenta anos... Fui direto para a página 110, repleta de “Retalhos, psichês, panos de prato, camisas saco”. Faço uma leitura dinâmica – das lojas de retalhos que proporcionam a criação de colchas e tapetes coloridos artesanais, criados por senhoras prendadas, das lojas especializadas em venda de sacarias, ideais para fazer pano de prato ou pano de chão –  e também se faziam camisas com pano de saco – roupa de trabalho, sem gola... Mais duas página sobre os casamentos (“Casava-se muito no Brás”) até que fico sabendo que no Brás antigo, além do enxoval, era fundamental também comprar um psichê.

            Eis um móvel que foi expulso dos dormitórios, quando as famílias trocaram as casas por apartamentos. Para quem não sabe ou não lembra, o psichê tanto pode ser a tradicional penteadeira com um grande espelho e várias gavetas para guardar os objetos de toucador como um espelho de corpo inteiro em moldura com pés e inclinável. No quarto de minha avó tinha um lindo psichê e no quarto do meu tio havia o psichê de moldura. As penteadeiras mantêm-se em camarins.

            Satisfeita com as histórias que encontrei nessa crônica, iniciei a leitura do livro cuja prosa deliciosa me conquistou e, quando finalmente, resolvi buscar o nome do autor não me espantou: Lourenço Diaféria (1933-2008), nascido e criado no Brás. Em “Raízes de uma Paixão” ele conta a história de Charles Miller (1874-1953) que nasceu no Brás, foi estudar na Inglaterra, aprendeu a jogar futebol e na volta foi trabalhar na São Paulo Railway, a “Inglesa”, como era chamada; entretanto, Miller se empenhou em dois trabalhos: um, no almoxarifado da ferrovia, e o outro, a ensinar e a divulgar o tal football – no início entre os funcionários da SPR, do London Bank e da Companhia de Gás que formaram os dois primeiros times de futebol no Brasil... O resultado desse trabalho todos nós sabemos e a história do Brás segue conduzida com sensibilidade que caracterizou o jornalista que passou pelos principais jornais de São Paulo. Ele começou a carreira na Folha da Manhã (Folha de S. Paulo), passou pelo Jornal da Tarde, Diário Popular e Diário de Grande ABC; escreveu vários livros e entre eles “BRÁS – sotaques e desmemórias”, Editora Boitempo Editorial, 2002.

Uma das minhas primas diante do psichê do quarto de minha avó. Anos 1970.

À direita, em frente à janela, um pequeno psichê. Um dos castelos do Vale do Loire, França. 2012.


PARQUE PRINCESA ISABEL

Achei que o sol ia aparecer à tarde, como ontem, e fui à antiga Praça Princesa Isabel lá pelos lados dos Campos Elíseos; porém, o tempo fechou e esfriou, mas fui em frente. O ônibus entra na Avenida São João e depois desvia pela Alameda Barão de Limeira. Passamos pela Folha, nº 425. Que tristeza! Dois ou três homens fumando na rua (é proibido fumar em prédios). Lembrei-me das dezenas de carros amarelinhos na porta, das pessoas que se aglomeravam na calçada, querendo saber das novidades ou simplesmente fazendo fofoca; gente entrando e saindo do prédio a qualquer hora do dia; as máquinas que ficavam na entrada... Do lado, uma construção de portas cerradas para uma história de sucesso até o triste fim – a famosa casa Zacharias de pneus da Barão de Limeira, 477. Tudo se foi.

A Praça Princesa Isabel, de princesa só tem o nome. Agora é Parque! Um imenso parque, quase vinte mil metros quadrados, muito bem cuidado. Tive que contornar o parque todo para entrar e no caminho a Guarda Metropolitana enquadrava dois pilantras. Comigo havia oito pessoas, dois passeando com seus cachorros, um casal de namorados e dois solitários resistentes ao frio. Alguns garis varriam as folhas que o vento insistia em espalhar. Tudo impecável. O Duque continua impávido, erguendo a espada: ontem o monumento completou sessenta anos. A obra que ao todo tem 48 metros de altura é de Victor Brecheret (1894-1955) e estava destinada, inicialmente, para ser colocada no Vale do Anhangabaú, mas mudaram de ideia e o Duque até hoje mantém-se sobranceiro na Praça Princesa Isabel.

 

O Duque em dia cinzento. (27/08/2025)


quinta-feira, 28 de agosto de 2025

CORDISLÂNDIA

 

O dia não começou muito bem, mas sempre salva-se alguma coisa boa. Ao sair do Centro Esportivo, vi o carro oficial estacionado próximo ao Hospital do Servidor e o nome da cidade chamou minha atenção: Cordislândia. Uma “cidade do coração”? Nunca havia ouvido falar dela.  Lembrei-me das aulas de Latim de dona Lígia Fava Fonseca, nos tempos do Liceu em Santos. Cor, cordis = coração – substantivo neutro da terceira declinação. O município fica no Sul de Minas Gerais e é banhado pelo rio Sapucaí, que tem 240 km e também percorre parte do território paulista. Tudo começou 1860, quando o fazendeiro pernambucano José Paredes Viana fundou, um vilarejo que (claro!) denominou de Paredes. O solo fértil atraiu moradores interessados em lavoura. Dois moradores Joaquim Silvério Grilo e José Máximo doaram áreas para a construção do cemitério e da igreja; em 1889, o lugarejo ganhou a primeira escola e a professora era Dona Vitalina Pereira; em seguida veio a agência postal. Somente em 1911 foi criado o Distrito de Paredes do Sapucaí como parte do município de São Gonçalo do Sapucaí. Em 1930 a população conseguiu o benefício da iluminação elétrica e em 1945 foi criada a paróquia do Sagrado Coração de Jesus. Paredes do Sapucaí foi elevada à categoria de cidade em 1962 e ganhou a denominação de Cordislândia em homenagem ao padroeiro da cidade.

Cordislândia tem 3.200 habitantes e o gentílico de quem nasce na cidade é cordislandense. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é alto: 0,660. A principal atividade econômica do município é a agropecuária com destaque para café e leite, mas ultimamente tem se destacado com a produção de vinhos e queijos artesanais, atraindo turistas.





terça-feira, 26 de agosto de 2025

DIA DO CACHORRO

Hoje é o Dia Internacional do Cachorro, data criada em 2004. Se eu tivesse um animal de estimação, seria um cão vira-lata, embora goste demais do Golden Retriever e do Pastor Alemão.