segunda-feira, 29 de junho de 2020

MARIA ISABEL E SUZETTE

Ao ver a receita do bolo Maria Isabel, pescada de um livro do sociólogo Gilberto Freyre, um amigo disse que costumava consultar Dona Benta e a conversa rendeu a indicação de dois livros que trazem receitas culinárias: “Dona Flor e seus dois maridos” de Jorge Amado e “O cemitério de Praga”, de Umberto Eco. Li os dois, mas se me lembro das histórias, não registrei as receitas.

Não é por acaso que o preparo da comida desenvolveu a Arte Culinária, presente na História, na literatura, na pintura e no cinema com histórias saborosas (desculpem), sem contar que é uma ciência que tem a ver com química e física. Pode ser uma poção mágica para conquistar pessoas ou um veneno amargo que afugenta até os seres amados.

Quando se trata de arte culinária na literatura, me ocorre o escritor americano Rex Stout (1886-1975), criador do detetive Nero Wolf. O personagem surgiu em 1934 em “Serpente” (Companhia das Letras) e continuou em ação com o seu braço direito (e pernas) Archie Goodwin até meados dos anos sessenta. Nero Wolf é um gênio em sua atividade, mas tem duas qualidades que afetam sua disposição para o trabalho ‒ é um gourmet e apreciador de cerveja. Esses atributos levam ao terceiro personagem, Fritz Brenner, o criativo cozinheiro que vive no “velho sobrado de arenito castanho-avermelhado” de Wolf na Rua 35 em Nova York.

Nem se precisa dizer que Wolf é muuuuito gordo. Hora da refeição é sagrada; por uma boa carne é capaz de recorrer até a um gangster; Goodwin entre as muitas tarefas tem que sair em busca de ingredientes especiais para um novo prato; misógino convicto fica encantado quando descobre uma mulher que sabe os segredos de um prato difícil...

Enfim, Stout inclui em todas as histórias vários pratos preparados sob a supervisão de Nero Wolf. Nas edições americanas de seus livros às vezes são publicadas algumas receitas criadas pelo detetive e seu cozinheiro. O crepe Suzette, por exemplo, faz parte do livro “Might as well be dead” (Bantan Books).

Sou fã de Stout. Não só porque ele tem ótimas histórias, mas porque descreve Manhattan de uma forma encantadora, suas ruas, seus prédios e casas. Evidentemente, quase tudo mudou desde meados do século passado, mas o charme daquela época persiste de alguma forma.

    Ah! Nero Wolf tem outra paixão além da comida e cerveja: orquídeas.

domingo, 28 de junho de 2020

JUNHO CHEGANDO FIM

OU DOMINGO COM ARTE
“Boulevard Poissonniere in the Rain” (c.1885), obra do impressionista francês Jean Béraud (1849-1935).

sexta-feira, 26 de junho de 2020

À PROCURA DO QUE FAZER


“Numb3rs” (2005-2010) foi uma das boas séries de TV e teve entre os produtores executivos Ridley Scott (1937), que dirigiu “Alien” e “Blade Runner”. Em um dos episódios o personagem de Dylan Bruno, durante uma investigação sobre o desaparecimento de uma mulher ao ver a foto dela se apaixona. Muito tempo depois, assistia a um episódio da série “NCSI” (2003) quando a história me surpreendeu: o personagem de Michael Wealthearly investiga o desaparecimento de uma mulher e ao ver o retrato dela se apaixona. Tinha certeza de já ter visto esta história antes, mas por muito tempo não lembrei onde.
        Aproveito os dias de isolamento social para assistir a clássicos do cinema e recentemente escolhi “Laura” (1944), filme noir dirigido por Otto Preminger, estrelado por Gene Tierney e Dana Andrews. O filme, que é muito bom, trata do assassinato da executiva de uma agência de publicidade, e o detetive encarregado do caso sente-se atraído pela vítima ao ver um retrato dela... Ah! Pensei com meus botões, eis aí a origem da “inspiração” dos roteiros das duas séries ‒ “Laura”.

        Identificada a origem da história, me chamou atenção o fato de que o personagem de Michael Weathearly, um cinéfilo que vive citando filmes o tempo todo, dessa vez tenha esquecido de se referir a “Laura”.
       Além de refilmagens, diretores de cinema costumam usar cenas de clássicos e muitas se tornaram clichês; sem contar as “homenagens” a grandes diretores que acabam virando plágio (minha opinião).
        Tudo isso para dizer que o filme de Preminger foi indicado para o Oscar em cinco categorias e ganhou o de melhor filme em 1945. 
Fotos: Dylan (esquerda) e Weathearly (direita). Wikipedia. 
 

quarta-feira, 24 de junho de 2020

SÃO JOÃO

Em época de isolamento social por causa do Coronavírus, sempre restam as comidas típicas para marcar o dia de São João.
           O cardápio do dia pode ter algumas destas opções: caldo verde, cuscuz, milho verde, arroz doce, pamonha, curau, canjica, paçoca, amendoim, pé de moleque, pinhão, pipoca, maçã do amor, maria-mole, doces de abóbora e batata doce. Para beber refrescos para as crianças e quentão para os adultos. 
          Como não pode faltar música, aí vai a história da moça que pediu um namorado ao santo errado, mas como a música era de carnaval, deve ter dado tempo de apelar a Santo Antônio para alcançar o milagre. "Isto é lá com Santo Antônio", composição de Lamartine Babo e Mário Reis, que interpreta a música com Carmen Miranda. Ano: 1934.

Eu pedi numa oração
Ao querido São João
Que me desse um matrimônio
São João disse que não!
São João disse que não!
Isso é lá com Santo Antônio!
Eu pedi numa oração
Ao querido São João
Que me desse um matrimônio
Matrimônio! Matrimônio!
Isto é lá com Santo Antônio!

Implorei a São João
Desse ao menos um cartão
Que eu levava a Santo Antônio
São João ficou zangado
São João só dá cartão
Com direito a batizado
Implorei a São João
Desse ao menos um cartão
Que eu levava a Santo Antônio
Matrimônio! Matrimônio!
Isso é lá com Santo Antônio!

terça-feira, 23 de junho de 2020

PARA ADOÇAR O DIA


BOLO MARIA ISABEL

250 G DE MANTEIGA
250 G DE AÇÚCAR
250 G DE FARINHA DE TRIGO
1 CÁLICE DE VINHO BRANCO
1 XÍCARA DE LEITE
6 OVOS

Bate-se a manteiga e o açúcar até ficarem brancos. Gemas e claras em separado. Depois juntam-se as gemas e a manteiga e por último a clara, o leite e o vinho, pondo-se a farinha com cuidado e rapidamente para não ficar solado o bolo. Este bolo deve ser muito bem batido.
(“AÇÚCAR: uma sociologia do doce, com receitas de bolos e doces do Nordeste do Brasil”, de Gilberto Freyre.)

segunda-feira, 22 de junho de 2020

CUIDADOS COM A VOZ

Elmer tem 1m50 e, embora o corpo não seja muito proporcional (um dos problemas é o pescoço), pode-se dizer que é muito bonito. E esbanja simpatia. Idade? Indefinida. Tempos atrás o cuidador percebeu que Elmer estava afônico. Marcou consulta para exame, o que é sempre um transtorno porque Elmer não gosta de ir ao médico (quem gosta?). Não diria que vai arrastado, mas esperneia bastante a ponto de ser necessária sedação. Desta vez pelo menos não teria gritaria. Sei disso tudo porque a consulta foi filmada para segurança do paciente e dos atendentes. Sedado e deitado na maca, o videoendoscópio foi introduzido na garganta dele e começou uma longa viagem até que se encontrasse o motivo da perda da voz: dois pólipos que foram removidos sem maiores complicações e encaminhados para biopsia. Assim que recobrou a consciência (por assim dizer), Elmer se mostrou bem disposto, olhou em torno, se pôs de pé e pouco depois começou a emitir sons; um pouco diferentes do que eram antes, comentou o cuidador, muito satisfeito com o resultado do procedimento. Então, ele colocou Elmer debaixo do braço, traseiro para frente e a cabeça para trás para que o amigo recuperado fosse apreciando a paisagem no caminho até o carro. Elmer voltou para o lago do Zoológico do Bronx em New York, onde vive com dezenas de flamingos cor-de-rosa.  
     Nisso tudo o espantoso para mim é o cuidador olhar o bando de flamingos absolutamente iguais e identificar o Elmer sem hesitar. “Segredos do Zoológico”. 
        Baseado em um episódio de “Segredos do Zoológico”.  Não tenho muita certeza se o nome do flamingo era Elmer mesmo ou algo parecido. 



domingo, 21 de junho de 2020

SAUDADE

Hoje Maria Luíza Araújo faria 127 anos. Foi minha mãe e minha avó e continua até hoje sendo  minha referência. Uma pessoa forte e extraordinária que me proporcionou uma ótima educação e deixou muita saudade.
 

sábado, 20 de junho de 2020

JORNAIS E A GRIPE ESPANHOLA


Dois grandes jornais brasileiros foram seriamente afetados pela gripe espanhola que assolou o mundo e no Brasil teve quatro ondas mortais entre 1918 e 1920: JORNAL DO BRASIL e O ESTADO DE S. PAULO. A gripe espanhola (influenzavírus H1H1) desembarcou literalmente no Brasil em setembro de 1918, quando o navio inglês Demerara deixou passageiros doentes nos portos de Recife, Salvador e Rio de Janeiro. Em quinze meses a gripe infectou 500 milhões de pessoas em todo o mundo e, embora não haja números exatos, fala-se em 17 milhões de mortos e possivelmente 50 milhões.
Acervo: Câmara Municipal de Curitiba.

        O JORNAL DO BRASIL, do Rio de Janeiro, ficou vazio. As três únicas pessoas que não contraíram a gripe no prédio da empresa foram o jornalista Assis Chateaubriand (1892-1968), editor do jornal, e dois gráficos, que trabalharam sozinhos para pôr o jornal na rua.
Em São Paulo, não foi diferente. O corpo editorial do jornal O ESTADO DE S. PAULO contraiu a gripe. O primeiro a se afastar foi Nestor Pestana (1877-1933), seguido por Plínio Barreto (1882-1958) e Pinheiro Júnior. Monteiro Lobato (1882-1948) assumiu como editor-chefe, secretário e editor e garantiu a circulação do jornal.
Lobato, que nem era funcionário do jornal, lembraria mais tarde que “Enquanto na sala de espera seu Filinto* recebia gente, eu na sala do Nestor abria o famoso bauzinho da matéria e passava os olhos naquilo, selecionando o que tinha de sair no dia seguinte, podando excessos, baixando os adjetivos, rabiscando instruções. Depois zás! Metia a papelada no tubo pneumático que por baixo da terra levava tudo às oficinas de composição e impressão”.
*Provavelmente, José Filinto da Silva, gerente.























Fontes:
Chatô, rei do Brasil, de Fernando Moraes.
Monteiro Lobato: Furacão na Botocúndia, Carmen Lúcia de Azevedo e outros
Foto: Câmara Municipal de Curitiba

sexta-feira, 19 de junho de 2020

E O INVERNO A CHEGAR

O outono chegou em meio ao isolamento social decretado pelo Coronavírus-19, termina hoje e o isolamento continua... Longe das ruas e dos parques, o jeito é aproveitar o que temos e nada como “Tico-tico no fubá”, composição do paulista José Gomes de Abreu (1880-1935), mais conhecido como Zequinha de Abreu. O chorinho ganhou letra de Eurico Barreto e Alísio Azevedo e foi gravado por Carmen Miranda. É até hoje um sucesso internacional. Aqui, interpretado pela Orquestra Sinfônica de Gutemburg (Gothenburg Symphony), dirigida pelo maestro venezuelano Gustavo Dudamel Ramírez.
E viva o tico-tico!

Foto de Dario Sanches, Wikipedia.  Parque da Independência (Museu Paulista), São Paulo.




Há um vídeo com a Hércules Brass Ensemble, que vale a pena conhecer.

quinta-feira, 18 de junho de 2020

PERIGOS DA QUARENTENA

A descoberta da cozinha

Com o isolamento percebi que muitas pessoas descobriram que a cozinha não é um espaço mágico onde se materializam seus pratos preferidos, mas um lugar em que químicos chamados cozinheiros misturam as coisas mais diversas para obter delícias insuspeitáveis. E resolveram fazer experiências. É verdade que muitas vezes também podem acontecer desastres irremediáveis, mas é errando que se aprende, já diz o velho ditado.

Munidos de avental e colher de pau (uma versão da varinha mágica) invadiram a cozinha. Na culinária brasileira, herança portuguesa, miscigenada com a culinária de nativos, escravos e todos os imigrantes que aportaram por aqui ao longo de cinco séculos, arroz e ovo são as coisas mais simples de se preparar. Nas redes sociais, li a amargura de um amigo diante do arroz que teve que cortar com faca; outro lamentava o estado do ovo que preparou com tanto cuidado... Enfim, começaram a grande aventura da arte culinária.
Ovos...
"A velha cozinheira", de Diego Velázquez (1599-1660).
Pão
O padeiro Oost Waert e esposa, de Jan Steen (1626-1679).
E a família...
Fique em casa.
"A cozinha gorda" (1650/55), de Jan Steen. 










quarta-feira, 17 de junho de 2020

LIVROS, SEMPRE LIVROS.



Não gosto da pergunta que geralmente fazem sobre o melhor livro que você já leu, o melhor filme que assistiu, a melhor música... E assim por diante. Como eu costumo dizer todo livro contribui de alguma forma para a sua formação. Não sou amante de poesia, mas amo Luís de Camões e Fernando Pessoa.
Aos sete anos fui para a Escola Portuguesa, em Santos, onde aprendíamos um pouco de história e poesia portuguesas, tudo adaptado para a idade do público. Seria mentira dizer que foi naquela época que aprendi a gostar do poeta. Acho que nem entendia, mas guardei a história de Inês de Castro que muito mais tarde me levou a ler Camões. Fernando Pessoa foi amor à primeira vista a ponto de deixar de comprar um vestido maravilhoso para adquirir a obra completa que um vendedor de livros me ofereceu... Sem arrependimento. O vestido teria saído de moda, os livros tenho até hoje bem manuseados.
Na continuidade dessas memórias literárias, angustiante separar alguns títulos quando há tantos e tantos livros maravilhosos lidos e relidos ao longo desses anos.
Monteiro Lobato me apresentou à mitologia Greco-romana e foi um passo para explorar os clássicos como a “Odisseia’ de Homero, uma edição infanto-juvenil que infelizmente se perdeu em algum momento”. Quantas tardes lendo Charles Dickens ‒ Grandes Esperanças, David Copperfield e Oliver Twist...
“Três tristes tigres”, do cubano Guillermo Cabrera Infante, foi uma indicação da professora de espanhol. Numa linguagem muito peculiar revela através de personagens inesquecíveis a vida e a cultura cubana pré-revolução. O primeiro livro de Eça de Queirós, se não me falha a memória, foi “A Cidade e as Serras”, leitura obrigatória para o vestibular (naquela época era redação, nada de múltipla escolha), li outros e entre estes amei “A relíquia”.  
Um livro fascinante? “Outra volta do Parafuso”, de Henry James, provavelmente indicado por algum amigo. Nas aulas de espanhol, um texto selecionado pela professora, uma argentina maluca, chamou minha atenção e ela recomendou o livro  “Três Tristes Tigres”, do cubano Guillermo Cabrera Infante. Da professora mal lembro nome (Liliana?), mas a obra, inesquecível.  
Não podia deixar de fora o mineiro Guimarães Rosa e seu maravilhoso “Grande Sertão: Veredas”. E chegando outra vez ao fim da brincadeira proposta, novamente, o sofrimento da escolha. Qual? Shakespeare? George Orwell, Sófocles? Semprún? Doris Lessing? Albert Camus? Machado de Assis? Mário de Andrade e seu Macunaíma? Mishima? Então escolhi “Os Caminhos da Liberdade”, trilogia de Jean-Paul Sartre (“A Idade da Razão”, “Sursis” e “Com a Morte na Alma”). A obra narra os conflitos íntimos de um professor num período conturbado da História, suas decisões pessoais, o seu envolvimento involuntário em situações que lhe são indiferentes e a mudança de atitude, comprometendo-se com a luta pela liberdade.  
A brincadeira do desafio literário não tem fim. E saio dela decidida a ler “Avalovara”, do Osman Lins, sempre adiado, e conhecer Campos de Carvalho e sua “Vaca de Nariz Sutil”, que meu amigo Nilton ama.








segunda-feira, 15 de junho de 2020

O CARROSSEL NA FRANÇA


Nas andanças pela França, observei que em quase todos os lugares há um carrossel em pleno funcionamento e resolvi registrar alguns que encontrei pelo caminho. Não é muito difícil adivinhar a origem deste brinquedo: a atafona, o moinho movido manualmente ou por tração animal tão antigo quanto a agricultura. O cavalo (burro, camelos, cães ou bovinos) atado a uma corda circula por uma trilha fazendo a mó funcionar.  

Dizem que o uso como divertimento começou no Império Bizantino (330 D.C.-1453) e os animais de verdade só foram substituídos pelos de madeira quando surgiram as máquinas a vapor no século XIX. O carrossel foi usado na Itália no século XVI como espetáculo militar para substituir jogos mais violentos. (Não achei maiores explicações sobre o assunto.)
Foi na França que se popularizou sob o reinado de Henrique IV (1553-1610) e o primeiro é de 1605. O mais antigo ainda em funcionamento é de 1895 e se encontra instalado no Parc Letna em Praga, República Checa.
Paris, Montmartre, 2012.
Lyon, 2012. 

Um domingo de 2012 em Aix en Provence (Côte d'Azur), cidade do pintor Paul Cézanne. 
Tours, 2012.
E como diz Vinicius de Moraes, “Roda, roda, roda / Carrossel / Roda, roda, roda / Rodador”. ( O Girassol).  

domingo, 14 de junho de 2020

UM BANHO DE CINEMA

Musical da Warner “Belezas em revista” foi realizado em 1933. A direção é de Lloyd Bacon e James Cagney e Joan Blondell encabeçam o elenco.  




sábado, 13 de junho de 2020

USE O BOM SENSO


Para mim o que marcou esse período de isolamento foi o silêncio. Silêncio quebrado de manhã por bem-te-vis e outros passarinhos e na hora do almoço pelos sinos da igreja do bairro. Adoro som dos sinos, tão cheio de histórias que se perdem no tempo. Tudo porque não havia trânsito de veículos e as três linhas de ônibus circularam a intervalos maiores, ruas quase vazias. Há quase três meses não uso transporte público. A todos os lugares que preciso ir vou a pé e aproveito o sol. Nos poucos dias de chuva, não saí. Nesta semana que acaba, notei algo estranho e fui até a janela conferir. Havia algo mais que pombos e passarinhos no ar: um helicóptero.
Nossa Senhora do Carmo da Aclimação, 2016.
Quinta-feira quase no final da tarde tive que procurar uma óptica nas imediações do Largo Ana Rosa, onde as lojas já estavam abertas. Eu, que não gosto de ver vitrines, gostei muito de ver o colorido estampado ao longo das calçadas. E de passagem notei que todas as lojas, exceto as de alimentação, estavam vazias. As ruas mais movimentadas não tinham aglomerações, entretanto, muitos teimosos continuam sem máscaras, que levam penduradas no peito. Achei a óptica onde estavam apenas o dono e uma funcionária. Enquanto aguardava o reparo da armação, aproveitei para observar o entorno. No retorno para casa, ao passar pelo terminal de ônibus praticamente vazio, vejo uma idosa aboletada no banco da frente de um coletivo sem máscara!!! E lá vou eu descer as ladeiras rumo de casa.
Parece que a região é uma exceção pelo que acontece, por exemplo, na Rua Vinte e Cinco de Março e arredores. Espantoso! Eu continuarei em casa embora sinta falta das livrarias, das minhas andanças e de um expresso. Ah! O silêncio começou a diminuir.

Rua Vinte e Cinco de Março, dia 10 de junho, após três meses fechada. Foto;: Paulo Pinto, IG.

quarta-feira, 10 de junho de 2020

JEITO BOBO DE MORRER

Assisti a vídeos e li reportagens encaminhadas por amigos da região sobre o dia em que o comércio da cidade de São Vicente abriu após o período de isolamento. Uma multidão nas ruas. Pessoas aguardando calmamente para entrar no shopping. A prefeitura local ignorou o critério estadual que a coloca em alerta máximo (alerta vermelho) e autorizou a abertura do comércio.
Espantoso! O que será tão urgente e necessário para comprar a ponto de arriscar a saúde ‒ a própria e a dos outros? Não acreditam na letalidade do Coronavírus 19, mas levam a sério notícias falsas. Será mesmo que as pessoas vão mudar após a pandemia? 

terça-feira, 9 de junho de 2020

TEMPERAMENTAL, MAS ENCANTADOR.

Acho que ele faz parte do mundo das fábulas: é um pato com características muito humanas. Hoje ele está comemorando 86 anos e, se o tempo não lhe deixou marcas nessas oito décadas com certeza ele marcou a vida de várias gerações de crianças do mundo todo. Donald Fauntleroy, o nome completo do Pato Donald, é o meu personagem preferido do Disney.

Donald é uma criação de Walt Disney, Dick Lundy e Fred Spencer e apareceu pela primeira vez em 9 junho de 1934, mas só ganhou vida própria em 1937, quando surgiram seus sobrinhos Huguinho, Luizinho e Zezinho, criados pelo desenhista Al Tagliaferro. Ele é filho de Quackmore MacDuck, filho da Vovó Donalda, e Hortense Duck, irmã do Tio Patinhas. E tem até uma irmã gêmea, Dumbella, que é mãe d Huguinho, Luizinho e Zezinho.
Tudo isso de acordo com o cartunista Don Rosa, autor da “Saga do Tio Patinhas”, baseada na obra de Carl Barks. Donald mora na Rua das Flores, 13, e tem um modelo conversível vermelho do carro Bantam Roadster, 1938. Pareceu lógico a Walt Disney que, se patos vivem na água, a roupa e a boina de marinheiro seriam adequadas ao Donald, de acordo com a pesquisadora G. Nader.
Quanta cultura (?) inútil, porém, divertida. O Pato Donald é o retrato daquelas pessoas que não desistem. Ele não tem emprego fixo e como chefe de família (é o responsável por três sobrinhos) está sempre procurando emprego, fazendo bicos ou tendo ideias mirabolantes para conseguir dinheiro. Só não canta, porque sua voz de taquara rachada é célebre. Não é à toa que vez por outra tenha acessos de mau humor. Tão violentos quanto rápidos.  
Às vezes a preguiça ou o desânimo batem, mas logo ele enxerga uma oportunidade e se torna um empreendedor de coragem, embora o sucesso quase sempre seja fugaz. Ele estrila, perde a cabeça, aceita as “oportunidades” que o bilionário Tio Patinhas lhe oferece (ou melhor, ele não oferece nada, tudo sempre faz parte de uma tramoia financeira em vista) e muitas vezes o barato sai muito caro para o parente muquirana.
A pata da vida dele é a Margarida, mas nunca casaram o que não a impede de dar ordens na casa dele e mantê-lo nos trilhos. Donald e Margarida superaram com galhardia os preconceitos dos namoros longos, mal vistos nos tempos em que se namorava para casar; eles são precursores dos casais contemporâneos que vivem felizes em casas separadas.  
        No aniversário de setenta anos, Donald ganhou uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood, em Los Angeles (EUA). No Brasil, o Pato Donald circula desde 1950 quando a Editora Abril lançou a revista que logo se tornou um enorme sucesso de vendas. 









segunda-feira, 8 de junho de 2020

DIA MUNDIAL DOS OCEANOS

“Inovação para um oceano sustentável" é o tema deste ano que marca o Dia Mundial dos Oceanos, criado em 1992 durante a conferência do Rio sobre Meio Ambiente. Na minha opinião, a primeira grande “inovação” é bem simples: preservar as praias do lixo por meio de educação (muito em falta).
CABO DA ROCA, CASCAIS, PORTUGAL. 

PÔR DO SOL EM SANTOS (SP). Foto: N. Tuna.
ENTARDECER EM HONOLULU, HAWAII.


RIO DE JANEIRO, O FORTE DE COPACABANA E O ATLÂNTICO.
MAR EGEU, GRÉCIA.
 Fotos: Hilda P. Araújo.

domingo, 7 de junho de 2020

DEPOIS DA TEMPESTADE, A BONANÇA...

Depois da tempestade de vento e granizo de sábado à noite, Johann Strauss (1825-1899) para animar mais um domingo de isolamento social. 

sábado, 6 de junho de 2020

LIVROS PARA RELER SEMPRE


Desafios inteligentes no Facebook são sempre bem-vindos. Assim, em pleno isolamento social, me pedem uma lista de oito livros que amei. Um desafio e tanto, já que passei boa parte dos quase 75 anos lendo. Lendo sem receios, sem preconceito, sem pressa. Li tanto a Bíblia e o Corão como o Marquês de Sade e Santo Agostinho; leio livros de filosofia e arte, física e arqueologia... Há alguns anos tenho me concentrado em História. Todo livro, por pior que seja sempre tem um ensinamento: os ruins nos incentivam a buscar os bons livros. Assim, foi difícil escolher oito livros que amo.
A MONTANHA MÁGICA
Thomas Mann (1875-1955) é um dos meus escritores favoritos. Difícil escolher entre os seus livros. “A Montanha Mágica” (1924) tem como cenário um sanatório nos Alpes suíços para tratamento de pessoas tuberculosas. Ali, isolado da sociedade e em um ambiente em que morte tem presença contínua, o personagem tem tempo para refletir e adquirir uma nova perspectiva da vida.

E O VENTO LEVOU:
Embora o filme seja ótimo, o livro é muito melhor. Margareth Mitchell (1900-1949) não criou uma simples história de amor em meio da guerra de secessão e a reconstrução do Sul dos Estados Unidos. Através do par cemtral central (Butler e Scarlet) ela retrata a chegada do capitalismo ao sul rural dos Estados Unidos de forma tão sutil, que os leitores se prendem mais ao amor impossível de Scarlet por Ashley, enquanto também põe a nu o moralismo hipócrita da sociedade idealizadora da KKK. Li o livro na adolescência e vi o filme muitos anos depois e, embora raramente goste de adaptações de livros para o cinema, este é um dos poucos de que gostei.

OS MAIS BELOS CONTOS DE FADAS FRANCESES
Creio que esse foi um dos primeiros livros de história da minha infância. O francês Charles Perrault (1628-1703) resolveu escrever as histórias infantis que há séculos eram contadas de geração em geração e acabou popularizando o folclore europeu em todo o mundo. As histórias da Cinderela, do Chapeuzinho Vermelho e da Bela Adormecida entre outras eram narradas com simplicidade, tinham um encanto especial e davam asas à imaginação infantil. Princesas, fadas, bruxas, príncipes povoavam castelos, casebres e florestas misteriosas com animais falantes ou com poderes mágicos... A série de livros de contos de fadas russos, ingleses e alemães tinha capa dura colorida.
OS TRÊS MOSQUETEIROS

Alexandre Dumas (1802-1870) foi um autor importante para a minha formação. Eu devia ter uns doze anos quando ganhei “Os três Mosqueteiros” da minha avó Maria. Até aquela época eu sonhava com a Grécia antiga que Monteiro Lobato me apresentara. Fiquei intrigada com os personagens de Dumas que eram tão próximos de um rei de verdade (Luis XIII) e de um ministro (Richelieu) e fui consultar a enciclopédia da minha tia para saber o que era verdade naquilo tudo. E foi assim que descobri a França. Logo depois ganhei as sequências do livro: “Vinte anos depois” e “O Visconde de Bragelone”. A minha última aventura com Dumas foi bem mais tarde com “O Colar da Rainha”, outra obra muito instigante.

A ILHA DO TESOURO
O escocês Robert Louis Stevenson (1850-1894) escreveu a história em 1833. Fiquei encantada com as aventuras do menino. Já havia lido “Robinson Crusoé” (Defoe) e “A Ilha de Coral” (Robert Michael Ballantyne), mas foi Stevenson que me conquistou. Um texto dinâmico e uma história cheia de  surpresas. Vez por outra releio.



CRIME E CASTIGO 

Fiódor Dostoiévski (1821-1881) publicou “Crime e Castigo” em 1866. Um livro extraordinário que narra a história de um jovem que acredita poder cometer um crime perfeito, considerando-se acima do bem e do mal, e conseguir os recursos para realizar boas ações. O assassino só não sabia que tinha uma consciência e o leitor acompanha fascinado as lutas psicológicas, morais e mesmo de fé com que o personagem se defronta. Reli recentemente.Excelente.


D. QUIXOTE
Miguel de Cervantes (1547-1616) “engendrou” sua obra-prima durante um isolamento forçado (presão) em 1597, mas a publicação da primeira parte de “D. Quixote” ocorreu em 1605 e a segunda, só em 1615. A história de Dom Quixote é apaixonante. Ele era um fidalgo solitário e, nos momentos de ócio “que eram os mais do ano”, devorava livros de aventuras heroicas de cavaleiros andantes muito em voga em seu tempo. A paixão por essas obras levou Dom Quixote a relaxar seus deveres e a vender pedaços da propriedade para comprar livros. “Em suma, tanto naquelas leituras se enfrascou, que passava as noites de claro em claro e os dias de escuro em escuro, e assim, do pouco dormir e do muito ler, se lhe secou o cérebro, de maneira que chegou a perder o juízo.” E foi assim que saiu pelo mundo em busca de aventuras com Sancho Pança e se Rocinante.
SANTA EVITA
Eis um livro extraordinário. O argentino Tomás Eloy Martínez (1934-2010) começou a escrever a biografia de Eva Perón (1919-1952), a poderosa mulher do presidente Juan Domingo Perón (1895-1974) que, no curto período de tempo entre o casamento e a morte precoce, se tornou foi venerada pelo povo argentino. Entretanto, à medida que escrevia Martínez se viu diante de fatos, mitos, lendas que se entremeavam de tal sorte que ele percebeu que tinha material para uma história surrealista da própria Argentina. Em tempo: não tenho nenhuma simpatia por Eva Perón.