domingo, 30 de janeiro de 2022

PANDEMIA: 2 ANOS INTERMINÁVEIS

 

exatamente dois anos a Organização Mundial de Saúde declarou que o surto do novo Coronavírus (ESPII) constituía uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional, o nível de alerta mais alto da OMS, e em 11 de março por sua distribuição geográfica a OMS caracterizou o COVID-19 como uma pandemia, pouco mais de cem anos da Gripe Espanhola (1918).

Esse perigo invisível mudou a vida das pessoas mundo afora. Até o final do ano passado, de acordo com a Universidade John Hopkins, registraram-se mais de cinco milhões mortos pela infecção. O número de contaminados, recuperados ou sem sintomas, é algo assustador. Infelizmente, muitas pessoas não se sensibilizam.

        No Brasil, autoridades não enxergaram (ou não quiseram) enxergar a gravidade da situação e assim veio o Carnaval, mas o primeiro caso registrado no país foi de um empresário que retornara São Paulo após uma viagem à Itália entre 9 e 20 de fevereiro de 2020. O resto faz parte de uma história trágica com que muitos preferem não se confrontar. Uma “gripezinha” que resultou em 627 mil mortos em dois anos. Para se ter ideia das perdas, o município de Sorocaba (SP) tem 695 mil habitantes. E como diz a sabedoria popular, o pior cego é aquele que não quer ver.

Na cidade de São Paulo a prefeitura providenciou cartazes informativos sobre o vírus e as medidas básicas para evitar contágio em ônibus urbanos e logo em seguida o governo do estado decretou o isolamento social (Decreto Nº 64.881, de 22/3/2020). Minha última aventura pela cidade foi a visita anual ao dentista num ônibus vazio. Nas ruas, apenas aqueles que trabalham em setores essenciais e os que, sem vínculo empregatício, tiveram de se arriscar pelo sustento próprio e da família.


O silêncio desabou sobre a metrópole de 12 milhões de habitantes. O esvaziamento das ruas e a diminuição dos transportes públicos deram à cidade um aspecto surrealista. Novas medidas foram adotadas ao longo do isolamento; máscaras, álcool 70° e desinfetantes entraram no cotidiano da população.  

Claro, logo apareceu a turma do professor Pangloss (ou da Poliana), que acreditava que a pandemia mudaria as pessoas, que elas se tornariam melhores, mais compreensivas e o mundo não seria o mesmo após a pandemia ‒ naturalmente não seria. Em nenhum momento acreditei nisso. Infelizmente, estava certa. Se no Natal de 2020, as pessoas em todo o mundo ansiavam pela descoberta de uma vacina, um ano depois tínhamos vários tipos de vacinas disponíveis, mas para a surpresa de Polianas, quase vimos se repetir no Brasil a Revolta da Vacina, ocorrida no Rio de Janeiro em 1904.

Ciência e tecnologia estão ajudando a superar a pandemia que, além de vidas preciosas, atingiu a economia violentamente. Os críticos do isolamento social, do fechamento de todo comércio e serviços não essenciais, não percebem que essas medidas têm um ônus extremamente pesado para o Estado que, sem arrecadar impostos e tributos, enfrenta sérias dificuldades.

A Internet teve um papel importante nesse momento crucial porque possibilitou que as pessoas continuassem a se ver, conversar, discutir, brigar, fazer as pazes e até amar à distancia. É verdade que os irresponsáveis a usaram para disseminar as falsas notícias. A imprensa em geral, ao tentar mostrar os vários lados dos fatos, ajudou na desinformação. Exemplo: o debate sobre que remédio tomar ou não deve ser, na minha opinião, travado entre médico e paciente. Quem não concorda, procura segunda opinião, ou terceira ou... Museus e galerias do mundo inteiro abriram suas portas para visitas virtuais. Entidades promoveram cursos e eventos on line.

A pandemia ainda não terminou. A nova variante, altamente contagiosa, não é tão letal graças à vacinação em massa. Todo cuidado é pouco.

Metrô: 16 de março de 2021 às 11h57. 

Metro: quarta-feira, 7 de abril de 2021 às 11 h 15.


Novo Vale do Anhangabaú: segunda-feira, 18 de janeiro de 2021; 12 h. 

Infelizmente, perdi o nome do veículo que publicou a charge. Ótima.  

sábado, 29 de janeiro de 2022

PARA LER DE UM FÔLEGO SÓ

 

Eu teria lido o livro num único dia, uma prosa coloquial que se tem em ambientes aconchegantes onde as lembranças de outras pessoas se acomodam às nossas e despertam aqui e ali fatos aninhados num baú invisível e precioso. Lembranças alheias que nos enriquecem; entretanto, resolvi estender o prazer desse livro a mais um dia. Assim, terminei ontem de ler “Vida e Morte e outros detalhes”, o livro mais recente do professor Boris Fausto (Companhia das Letras, 2021). Muitos personagens já conhecia desde “Negócios e Ócios” (1997) em que ele narra a saga familiar, mas desta vez o professor traz reminiscências, fatos corriqueiros que marcam a vida de todos nós ‒ como os adágios com que a tia arrematava conversas, a briga de turcos ou visitas ao cemitério, a sensação de que o tempo não passa durante o período de isolamento social, mas como não poderia deixar de ser o historiador acaba aflorando em alguns capítulos.

        O livro é resultado da experiência do isolamento quando, trancado em casa, as lembranças familiares fizeram-lhe companhia e a morte fulminante do irmão o levou a refletir sobre vida e morte. O livro, entretanto, não é triste, muitas histórias revelam bom humor. Enfim, aguardo novo livro do professor Boris Fausto para se juntar a “Revolução de 1930”, “O Crime do Restaurante Chinês” e “O Crime da Galeria Cristal”. Li outros emprestados da BMA.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

AMADEUS MOZART

Nada como iniciar o dia com a música de Mozart que nasceu em Salzburg, Áustria, em 27 de janeiro de 1756. O nome de batismo é Johannes Chrysostomus Wolfgangus Theophilus Mozart, mas por volta de 1770 ele incluiu Amadeus ao nome, assinando Wolfgang Amadeus Mozart. Mozart morreu aos 35 anos em Viena, provavelmente de febre reunática.


quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

ANIVERSÁRIO DE SANTOS

 Passei praticamente metade da vida em Santos e as ligações com a cidade permanecem mais fortes do que nunca. Minhas recordações mais antigas são dessa cidade. Ah! O cheiro do café torrado que se infiltrava pelas ruas centro antigo e na praia o perfume da maresia após as chuvaradas de verão... Parabéns pelo aniversário. As fotos fiz em épocas diferentes.


Praia do José Menino.

Canal 1: Avenida Pinheiro Machado.

Ponta da Praia.

Praia do Gonzaga.

Rua XV de Novembro, Centro.

Rua Amador Bueno, onde cresci.

Praça José Bonifácio, o caminho da Escola Portuguesa.



terça-feira, 25 de janeiro de 2022

POTRANCA CHUCRA

  

São Paulo do alto do Edifício do Banespa, atual Santanter.

"O menino sorvia tudo. Já se enamorava daquela cidade. Visitar o Museu do Ipiranga aos domingos. Como me sentia pequeno ao lado do monumento, ouvir as histórias da nossa independência ali. E fora ali mesmo que a coisa aconteceu ‒ emoção.

Os passeios de bicicleta. A vila Mariana. A casa era bonita. Revivi cena por cena. Lembrei-me das salas, dos quartos. Na janela de uma delas havia uma bala cravada. Fora a Revolução de 24.

A casa não existe mais. Passei há pouco em frente quando era demolida. Comprei muita coisa. Tinha raízes lá. Trouxe várias peças comigo. São minhas.

A cidade termina logo ali adiante. O bonde “Vila mariana” ia até o fim. Fazia uma curva e voltava. Era lá a casa de dona Adelaide Borba. Depois tudo era mato. Um bondinho, entretanto, ia adiante. O “Bosque da Saúde”. Seguia nele, era como desbravar o desconhecido. Lá longe havia um grande restaurante dentro de um parque. Lembro-me bem.

E os lampiões. Ao anoitecer vinha o homem. Trazia um bastão para acender. Que luz bonita!

(...)

O passado impregnou meu pensamente.

(...)

Lembrei-me do ginásio. O colégio Rio Branco. O São Bento. A turma dos cem. Como é bom rever os colegas do ginásio! Foi ontem e, no entanto, há quanto tempo...

A Leiteria Pereira. Meus colegas tinham licença dos pais para lá tomarem seus lanches. Eu não tinha. Comia meus sanduiches no recreio.  

(...)

De um momento para o outro o menino se transformara em rapaz. Depois a decisão. Ser engenheiro. A Politécnica. Meu pai se formara lá. Uma responsabilidade. (...)

O esporte. Nadar no Tietê. Como foi isso possível? Não era esgoto ainda.

Vi-me nos salões do Trianon, nos festivais dançantes de Madame Poças Leitão. Exatamente no Trianon, naquele local onde eu muito mais tarde realizaria a obra de que tanto me orgulho.

Como a cidade tinha sabor. Havia de tudo. Sobrava doçura, encanto.

(...)

Um pensamente contundente me atingiu.

Vi-me prefeito. Como gostaria de devolver a São Paulo seus encantos de outrora. Reconstruir seus jardins. Fazer outros, muitos outros. Sem ruídos, remover a poluição. Propiciar à infância de hoje aquilo que tive. Não permitir que o passado da cidade seja eliminado. 

Como cresceu! Que cidade enorme. Parece bravia, incontrolável. Lembra uma potranca chucra. Mesmo assim é bela, altiva. É preciso domá-la aos poucos... Nada de violências. Ela pega marcha. Uma simples questão de tempo." 

 

Excertos da crônica “São Paulo, Fragmentos de Memórias” de João Carlos de Figueiredo Ferraz (1918-1994), publicada no jornal O ESTADO DE S. PAULO em 23 de janeiro de 1972. Figueiredo Ferraz foi professor titular da Escola Politécnica da USP e lecionou em outras universidades; foi ainda Secretário de Obras de São Paulo e Secretário de Transportes do Estado de São Paulo e prefeito de São Paulo (1971-1973). Figueiredo Ferraz era campineiro. (URBIS NOSTRA, de J. C. Carlos Figueiredo Ferraz. EDUSP: PINI, 1991)


Praça da República.

Pátio do Colégio


Mercado Municipal.

Vale do Anhangabaú.

sábado, 22 de janeiro de 2022

POR AQUI E POR ALI

 

Riacho do Ipiranga, dezembro de 2021.

O sol está de volta. Agora as pessoas em vez de reclamar da chuva se queixam do calor. Uma senhora vem correndo em minha direção resmungando. Fico imaginando o motivo da pressa, mas não por muito tempo porque ao passar por mim sorri e diz que o sol está “pinicando” a pele. Ele está quente como deveria estar na manhã de um quinta-feira de verão. Lembro-me de Henfil que uma vez comentou que vivíamos época triste em que o sol se tornara remédio prescrito por médicos com direito a posologia ‒ adoro esta palavra. A dosagem varia de dez a vinte minutos por dia.

       Um rapaz, encostado à porta de um prédio, carrega um cãozinho shih tzu que está fazendo um escândalo. Sem graça ele explica que é dia de o amigo tomar banho, coisa que ele não gosta. Mais adiante há uma barbearia decorada para parecer antiga (fake?). As duas cadeiras estão ocupadas e nelas os dois ou clientes miram-se satisfeitos no espelho que reflete os topetes coloridos que lhes dá um ar de aves-do-paraíso. Ah! A moda... Outro dia uma vendedora desesperada percebeu que eu olhara a vitrine e me convidou para entrar e ver as novidades. Agradeci. “Estou com pressa.” Na verdade, a vitrine só tinha calças jeans rasgadas e desfiadas. A mais velha que tenho parece nova perto dessas aberrações. Se a moda os faz feliz...

        Allons les enfants de la patrie!” Não, os dias de glória ainda não chegaram, mas eu cheguei à Rua Marselhesa. Uma rua pequena com pouco mais de quinhentos metros. Volto pela Rua Dr. Diogo de Faria. Ruas que têm nomes de pessoas deveriam ter na placa alguma informação sobre o homenageado, caso contrário, com o passar do tempo ele vira um anônimo. Diogo de Faria (1867-1927) foi um sanitarista fluminense, que atuou no combate à febre amarela em São Paulo e mais tarde trabalhou na Santa Casa de Misericórdia, onde sucedeu a Arnaldo Vieira de Carvalho; promoveu inúmeros melhoramentos no hospital. Foi também presidente da Academia de Medicina de São Paulo. Não sabia nada disso, fui procurar a informação.

        São Paulo tem quase 50 mil ruas e se for falar sobre cada uma por onde passo... Hora de voltar. Então desço a Rua Santa Cruz até o riacho do Ipiranga (coitado), continuo pela Avenida Ricardo Jaffet (tão feiosa) até a estação Santos-Imigrantes. Ao contrário do Hagar, gosto de todos os dias da semana.



sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

RUA SÃO BENTO

 

Rua São Bento pré-pandemia, quando se andava à vontade e aglomerações faziam parte do cotidiano.

Triângulo.

Há navios de vela para os meus naufrágios!

E os cantares da uiara rua de São Bento...

 

Entre estas duas ondas plúmbeas de casas plúmbeas,

as minhas delícias das asfixias da alma!

Há leilão. Há feira de carnes brancas. Pobres arrozais!

Pobres brisas sem pelúcias lisas a alisar!

A cainçalha... A Bolsa... As jogatinas...

 

Não tenho navios de vela para mais naufrágios!

Faltam-me as forças! Falta-me o ar!

Mas qual! Não há sequer um porto morto!

“Can you dance the tarantella” — “Ach! Ya”.

São as califómias duma vida milionária

numa cidade arlequinal...

 

O Clube Comercial... A Padaria Espiritual...

Mas a desilusão dos sombrais amorosos

põe majoration temporaire, 100% nt!...

 

Minha Loucura, acalma-te!

Veste o water-proof dos tambéns!

Nem chegarás tão cedo

à fábrica de tecidos dos teus êxtases:

telefone: Além, 3991...

Entre estas duas ondas plúmbeas de casas plúmbeas,

vê, lá nos muito-ao-longes do horizonte,

a sua chaminé de céu azul!


Mario de Andrade, "Pauliceia Desvairada"

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

SOBRE ELEFANTES, PREGUIÇAS E OUTROS BICHOS

Ele é novinho e está correndo do jeito que toda criança corre depois de uns dias de chuva presa em casa. A mãe, grandalhona e de maus bofes, segue atrás da filha e ameaça a parentalha que tenta se aproximar da pequena, que continua o passeio muito feliz da vida. Na verdade, trata-se de um rinoceronte e sua cria de algumas semanas, esta sendo apresentada pela mãe à manada de um zoológico americano. O conceito de zoológico mudou muito. Atualmente, sem jaulas, eles dedicam-se à educação ambiental, preservação de espécies ameaçadas e prestando cuidados médicos a animais doentes ou maltratados pelos “racionais”. Os bichos vivem em espaços amplos onde se reproduzem os habitat de cada um.

Os animais que serão reintroduzidos na natureza têm tratamento diferenciado: não ganham nomes nem têm um contato mais estreito com os tratadores. Os que ficam para reprodução e programas educacionais às vezes participam de projetos de pesquisa. Um desses projetos tentou saber se os elefantes podem agir em parceria. Os pesquisadores usaram uma prancha sobre rodas com uma corda de cada lado e sobre ela duas vasilhas com comida. O cenário consistia em uma cerca com dois elefantes de idades e tamanhos diferentes de um lado e do outro a prancha com a comida. As cordas ficariam próximas à cerca, mas do lado da prancha. Como agiriam os elefantes? E para surpresa geral, esticaram a tromba, apanharam a corda e a puxaram juntos, o que lhes deu direito à recompensa ‒ a comida nas vasilhas. A “brincadeira” foi repetida dez vezes e só não conseguiram uma ou duas vezes e assim mesmo porque o maior não tinha a rapidez do menor.

Animais em cativeiro vivem muito mais e por isso acabam desenvolvendo várias doenças geriátricas. Caso de um simpático elefante idoso que passou a sofrer de artrite nas pernas. O tratamento incluiu caminhadas, exercícios e acupuntura. Muito comportado, ele se encostava na parede e a técnica subia numa escada para aplicar as agulhas. Ele se mostrou um ótimo paciente. Durante os procedimentos saboreava uma porção de frutas ‒ as preferidas dele.

Na verdade, todo treinamento dos animais é feito na base da recompensa: comida.  Alguns até se apaixonam por seus tratadores, caso de um pinguim e de um flamingo.

Gomez, por exemplo, teve dois problemas de saúde e foi levado ao veterinário. Aliás, a bicharada não gosta muito dessas visitas. Gomez, entretanto, não demonstrou muita rebeldia. Gomez é uma linda arara-canindé, que comeu frutas durante toda a reportagem. Foi transportado pelo tratador ao centro médico em um poleiro. Muito bem comportado. O veterinário sedou a ave, a examinou, fez o diagnóstico e passou o receituário para o tratador. Gomez ficou ótimo.

Lorenzo, por sua vez, está sendo preparado para um encontro às escuras. Os tratadores torcem para que tudo dê certo. Lorenzo é um bicho preguiça e a candidata ao casamento (por assim dizer) é Chloe. No primeiro dia, muito salamaleque de ambas as partes, mas parece que simpatizaram um com o outro e no dia seguinte já tomaram o café da manhã juntos. Não sei se o namoro deu certo, mas parecia bem encaminhado. Claro que nenhum dos dois tinha pressa alguma.

JOTALHÃO, o elefante verde, garoto propaganda de extrato de tomate.
(Acho que  com a idade mudou de cor.)


terça-feira, 18 de janeiro de 2022

PAULO BOMFIM

 SONETO XIII

Paulo Bomfim (1926-2019)


Ruas morrendo em mim subitamente.
Calçadas vêm descendo o meu destino,
Com casas onde sinto que termino
Na chuva dos beirais de antigamente.

Passos pisam de leve minha mente.
Alma das tardes longas, voz de sino
Entre lajes de sol onde germino
Dos gritos silenciosos da semente.

Ruas morrendo em mim, cheias de infância.
Árvores mortas com raízes na alma,
Deitando folhas verdes na distância...

E, à noite, este infinito que ainda medra:
A voz dos passos numa esquina calma,
A serenata nos violões de pedra.

 

Rua São Bento a.P. Foto: 2014.

O poeta paulistano Paulo Bomfim recebeu em 1947 o Prêmio “Olavo Bilac” da Academia Brasileira de Letras pelo seu primeiro livro “Antônio Triste”, publicado no ano anterior. Bomfim foi jornalista e começou  no Correio Paulistano em 1945 a convite de Assis Chateaubriand. Foi membro da Academia Paulista de Letras.

Rua Três Rios, Bom Retiro, 2014.

Foto Paulo Bomfim: Wikipedia, autor não identificado.

domingo, 16 de janeiro de 2022

"POSTAL DO BIXIGA"

 



POSTAL DO BIXIGA
 
Amaryllis Schloenbach

Do alto da escadaria

uma paisagem bizarra

se desnuda ante meus olhos.

Reflexo de meu fascínio

pelo bairro que tanto amo,

de onde retiro alimento

para os sonhos que sustento.

Como poeta solitária,

em um mundo tão povoado,

os fantasmas do passado

acalento entre meus braços.

Bixiga tradicional,

Por contraste, de vanguarda.

região de tantas luzes

e de sons alucinados.

De pureza e sedução,

de extravagantes pecados,

prostitutas, travestis,

parzinhos apaixonados.

De casais bem comportados,

de motéis sempre lotados.

De prédios ensolarados,

de becos, vilas, malocas,

de malandragens, macumbas,

de entusiastas do sambam

de paulistas de costado,

de imigrantes arraigados,

De pizza, macarronada,

de vinhos, queijos, salames,

de um chopinho bem gelado.

De feiras, festas e crimes.

teatros, bares, cantinas,

buzinas, vaga ocupada,

guarda-carros e ambulantes.

Da Aquiropita famosa,

de campanários e de fé.

Da via expressa, da pressa,

dos passeios demorados.

De encontros despreocupados,

de luar, de serenata,

de meus antigos cismares,

de meus projetos futuros,

Do meu fervor, do meu pranto,

do meu gáudio, do meu riso,

Bixiga do meu encanto!




Foto 1: H. Araújo, 6 de janeiro de 2016.

Foto2: H. Araújo, 25 de maio de 2019.

SÃO PAULO, 468.

 

Pintura de 1897, na Igreja da Glória, no Cambuci. Assinatura ilegível. Foto: Hilda Araújo, 2016.

Igreja da Glória, (1/9/2016). Avenida Lacerda Franco, 2.

A Igreja da Glória, situada no ponto mais alto do Cambuci, data de 1893. As obras foram realizadas com o apoio da família Assumpção e Silva, que doou o terreno à Mitra do Arcebispado de São Paulo. Durante a revolta tenentista ocorrida em 1924, quando tropas legalistas bombardearam a cidade, os revoltosos se abrigaram na igreja que foi alvo da artilharia aérea – a torre de ardósia e o altar foram atingidos e as paredes externas perfuradas pelos projéteis. Em consequência desse fato, em 1925, a igreja foi reformada e o revestimento da torre foi substituído por zinco que em 1968 foi trocado por alumínio.


quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

CHE BELLA COSA UNA GIORNATA DI SOLE!

Neste verão parece que o Sol resolveu sair de férias. Lá fora a chuvarada e a gripe ameaçadora ‒ o jeito é olhar pela janela enquanto a imaginação voa. Com o tempo nublado lembrei-me da canção centenária de Giovanni Capurro com música de Eduardo di Capua “Ó Sole mio” e achei este vídeo dos três tenores em momento muito descontraído e esbanjando talento em 1994.

Linda mesmo é “Estrada de Sol”, de Antonio Carlos Jobim e Dolores Durán, especialmente a gravação de Agostinho dos Santos. “E se quiser saber pra onde eu vou/ Pra onde tenha sol, é pra lá que eu vou” (“O Sol”, Jota Quest).  

   CHE BELLA COSA UNA GIORNATA DI SOLE!

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

CHUVA DE VERÃO

 

O mau tempo é famoso na região da Normandia (França). Em 1944, na II Guerra Mundial, a decisão sobre o desembarque Aliado na França esteve na dependência da previsão meteorológica. A população local encara com bom humor o tempo chuvoso. Neste verão com jeitão de outono, lembrei-me dos cartões que trouxe de Caen em 2012 em que a chuva era o tema. O sol pode ser um OVNI nos céus normandos e até naturistas usam capa e guarda-chuva. 




Enquanto se aguarda a chuva diminuir de intensidade sempre se pode arriscar um coquetel molotov normando: queijo Camenber e Calvados (destilado de maçã). 



quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

GUARDA-CHUVAS


Eu detesto guarda-chuvas. Claro que são fundamentais em dias chuvosos. Um estorvo naqueles dias (como hoje) em que nuvens ameaçadoras prometem água a qualquer momento e temos que carregá-lo para lá e para cá até esquecê-lo em algum lugar. Felizmente, os chineses tornaram-no um produto tão barato que pode ser adquirido em emergência em qualquer esquina do mundo. Sem qualidade, é verdade. Se tiver sorte pode ser que durem algumas tempestades. Tenho uma coleção, mas prefiro os tradicionais, mais duráveis e elegantes.        
Les Parapluies” (1881-86), de Pierre-Auguste Renoir. Acervo National Galery, Londress.


A sombrinha foi a precursora do guardachuva e surgiu na Mesopotâmia (Iraque) há cerca de 3.500 anos e era feita de plumas (que maravilha!), folhas de palmeira ou papiro. O invento ganhou popularidade e os egípcios a transformaram em objeto religioso, enquanto gregos e romanos consideravam-no um objeto feminino. Até o século XVIII, homens andavam na chuva. O inglês Jonas Hanway (1712-1786) teria sido o primeiro homem a usar um guarda-chuva, lançando a moda para o mundo masculino. No Japão o guarda-chuva (wagasa) surgiu um pouco antes do século X (via China) e era de uso exclusivo da família real. Era feito de papel (washi), barbante e bambu e uma camada de cera para impermeabilizar.

Lá pelos idos dos anos 1970, um dos frequentadores da redação do jornal era um rapaz de uns trinta e poucos anos que usava terno e gravatas impecáveis e portava sempre um indefectível guarda-chuva. Creio que queria parecer mais velho, mas o guarda-chuva... Acho que era leitor de um cronista paulistano, que dizia que o homem elegante devia levar sempre um guarda-chuva ‒ talvez substituindo a bengala que também teve seus momentos de enfeite e arma.  

        Ou ele teria sido um adepto da Filosofia dos guarda-chuvas, que o escritor escocês Robert Stevenson (1850-1894) elaborou com muito bom humor? Diz ele: “Uma insígnia da Legião de Honra ou uma penca de medalhas pode provar a coragem de uma pessoa; um título de nobreza pode provar sua origem; uma cátedra na universidade, seu estudo e seus dotes intelectuais, mas é o porte habitual do guarda-chuva que é a marca da responsabilidade. O guarda-chuva tornou-se referência reconhecida de posição social”.

        Stevenson imaginou dois grupos de pessoas que adotaram primeiros os guarda-chuvas. No grupo 1- o hipocondríaco ou o avarento, este preocupado com as roupas; no grupo 2- o dândi, o tolo e o pavão. Ter um guarda-chuva era também sinal de posses. “Não é qualquer um que pode expor um bem que vale vinte e seis xelins a tantos riscos de perdas e roubos. (...) Quem leva consigo um guarda-chuva ‒ estrutura complicada, feita de osso de baleia, seda e bambu ‒ é necessariamente um homem de paz. Uma bengala, que custa apenas meia coroa pode ser usada na cabeça de um ofensor, no caso duma provocação moderada, mas uma seda de vinte e seis  xelins é um bem precioso demais para ser depredado nos embates da guerra”. 

       O escritor cita um amigo consultado sobre o objeto: “Não há em meteorologia nada mais bem estabelecido ‒ na verdade é o único consenso entre os meteorologistas ‒ do que o fato de que sair à rua com um guarda-chuva produz a dissecação do ar; ao passo que, se for deixado em casa, o vapor aquoso é amplamente produzido e logo cai na forma de chuva”. Concordo plenamente. 

“No boulevard” (1895), de Jean-Ggeorges Beraud.

"Mulher com sombrinha", de Claude Monet (1840-1926).

Wagasa. 


segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

VESTIDOS DE NOIVA

Outro dia assistia a um episódio de uma série em que a heroína (?) escolhia o vestido de noiva. Por acaso dias depois revi “Quatro casamentos e um funeral”, filme de que gosto muito, e não faltam vestidos de noiva. Particularmente, acho que casamentos deveriam ser eventos privados realizados com a presença apenas de familiares dos envolvidos. Fui a bem poucos casórios e testemunhei apenas dois (na verdade apenas um porque em um dos casos esqueci de assinar o livro do cartório).  

    Escolhi algumas imagens de filmes em que o “happy end” era a caminho do altar e encerro com uma música que há muitos anos chamariam de brega, mas hoje é um clássico comparada às composições atuais. O cantor é o inigualável Cauby Peixoto (1931-2016). 

À esquerda: “O pai da noiva” (1950), de Vincent Minelli, com Elizabeth Taylor e Spencer Tracy. E à direita Jane Russel e Marilyn Monroe em “Os homens preferem as loiras” (1953), direção de Howard Hawks. 


 



Flores de Aço” (1989), dirigido por Herbert Ross com Julia Roberts e Tom Kerrit.

“Quatro casamentos e um funeral” 

(1994), de Mike Newell. Com Andie MacDowell. 


 “Jogos Vorazes - Pegando fogo” (2013). Que dupla kitsch!

domingo, 2 de janeiro de 2022

REMINISCÊNCIAS...

 

“É incrível como as coisas atuais caducam depressa, como as novidades são velhas, como os fatos extraordinários são vulgares. E o nosso pobre mundo comum é todo assim, feito de mundinhos concêntricos, que se articulam sem se confundir. E nós ‒ ai de nós! ‒ ainda pretendemos viver ‘cosmicamente’.” Quem escreveu foi Amadeu Amaral (1875-1929), citado por Elias Thomé Saliba em “A dimensão cômica da vida privada na República” (História da Vida Privada no Brasil, volume 3.). Quase um século depois, continua atual.


As fotos do telefone, máquina de escrever e objetos domésticos foram tiradas nos Museus da Energia e do Tribunal de Justiça de São Paulo. O disquete e o CD/player copiados da Internet







MUSEU DA ENERGIA DE SÃO PAULO: Alameda Nothmann,184. Campos Elíseos.
MUSEU DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO: Rua Conde de Sarzedas, 100. Sé.