sexta-feira, 27 de maio de 2022

O IMPOSTOR

LEMBRANÇAS  Faltam 103 dias para a reabertura do Museu Paulista da USP. Fiz várias reportagens para o JUSP e alguns cursos de extensão no Museu, mas houve uma ocasião muito embaraçosa que tornou menos plácidas as margens do riacho do Ipiranga. A pauta foi sugerida por um pesquisador do museu e o conteúdo – os significados dos elementos decorativos do prédio inaugurado em 1890 – entusiasmara a equipe do jornal. No dia e hora marcados já nos esperava em frente ao prédio onde nem entramos, pois ele começou imediatamente a nos mostrar suas descobertas. Em menos de dez minutos uma funcionária do museu acenou para mim do alto da escadaria. Como o entrevistado estava às voltas com o fotógrafo, fui até lá. Nós nos conhecíamos de outras reportagens, mas ela estava simplesmente transtornada porque aquela pessoa não pertencia aos quadros da universidade, não era professor e já causara uma série de problemas para instituição. Fiquei pasma. Como assim? Uma das proezas do “pesquisador” fora se passar por paleógrafo numa reportagem anos antes. Imediatamente lembrei que o autor da matéria era um colega, excelente repórter, que nunca se recuperara do constrangimento. Pedi que ela ligasse para o jornal e explicasse o que estava se passando. Da minha parte, me comprometi a não fazer a matéria, mas para evitar mais embaraços, continuaria com a entrevista apenas na parte externa e iríamos embora. As fotos não eram problema, porque poderiam ser usadas em outras reportagens. Voltei para onde estava o “pesquisador”, expliquei que tínhamos que abreviar o trabalho, pois precisávamos voltar para a redação porque surgira um imprevisto e entraríamos em contato para concluir a reportagem. Pior mesmo foi o repórter fotográfico querendo saber o que estava acontecendo no Butantã. O pretenso pesquisador concordou em abreviar a entrevista e ainda demos uma carona para ele. 

     Ele era um senhor simpático, mas sem dúvida mitomaníaco. Jornais constituem um ambiente atrativo para essas pessoas que mentem compulsivamente, melhorando sua realidade ou tentando viver seus sonhos, que no caso dele era, sem dúvida, fazer parte da Universidade de São Paulo. Paleógrafo? Por que ele teria escolhido essa área? A paleografia estuda “a origem, a forma e a evolução de manuscritos” antigos. Talvez porque fosse difícil para o entrevistador perceber falhas em suas interpretações...A paleografia estuda “a origem, a forma e a evolução de manuscritos” antigos. A Revista de História da Biblioteca Nacional tinha uma seção de paleografia que funcionava como quebra-cabeça.

Museu Paulista da USP, projeto do arquiteto italiano Tommaso Gaudenzio Bezzi. 



Carta de Pero Vaz Caminha, 1500.


quinta-feira, 26 de maio de 2022

COISAS DO JORNALISMO

 

LEMBRANÇAS DO JORNAL DA USP – Uma das missões do Jornal da USP é divulgar o trabalho de professores e pesquisadores das unidades, por meio de entrevistas, reportagens artigos encaminhados espontaneamente pelos membros da comunidade acadêmica. Evidentemente, é necessário o uso de uma linguagem clara de forma que todos entendam o que, por exemplo, físicos, filósofos ou engenheiros entre tantos outros especialistas fazem. Tudo isso para eu contar uma experiência bem estranha. Certa ocasião um pesquisador enviou um artigo para publicação absolutamente incompreensível para leigos. Alguns cientistas têm dificuldade de explicar para o leigo os avanços da ciência e da tecnologia sem se apoiar em uma linguagem científica/tecnológica e minha tarefa era fazer uma entrevista sobre o trabalho que ele pretendia divulgar. Não me lembro da área em que ele atuava, apenas que se parecia com o Dr. Silvana (vilão do Capitão Marvel). Fui bem diplomática, porém, ele foi incisivo: “Está tudo no artigo”. Com muito tato, expliquei que as pessoas leigas não entenderiam o conteúdo do artigo, seria muito bom se... Ele me interrompeu com rispidez: “Nada tenho a acrescentar.” Percebi que perdia tempo. Nunca gostei de voltar para a redação de mãos abanando, mas naquele dia não teve jeito. A postura do pesquisador gerou outra pauta, desta vez sobre a importância de traduzir a linguagem científica para o público leigo, incluindo-o no universo do conhecimento. Esse é o papel do jornalismo científico, que difere das publicações científicas (Lancet, Science, Nature). E dar entrevistas era algo que professores como Isaias Raw (Instituto Butantã), Crodowaldo Pavan (geneticista), Ivan Cunha Nascimento (físico), Vicente Amato (médico), Walter Colli (químico), Carolina Bori (psicóloga), Masayoshi Tsuchida (IAG) ou Francisco Landi (Poli) entre tantos outros faziam com muita facilidade, tornando um assunto às vezes árido em algo muito atrativo. Um ótimo exemplo são os cursos de extensão do Instituto de Astronomia (IAG/USP) para a terceira idade cujas vagas são muito concorridas. A matéria do JUSP foi citada pelo boletim da Associação Brasileira de Jornalismo Científico (ABJC), que publicou algumas das entrevistas. Felizmente, encontrei poucos pesquisadores como aquele. Espero que o artigo tenha sido publicado por algum periódico científico.

Trabalhei no Jornal da USP entre 1989 e 1994, retornando em 1995/1996. 

Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira.


terça-feira, 24 de maio de 2022

PASSEIO DE OUTONO

 

Fazia tempo que estava planejando uma caminhada da Aclimação até o Parque da Independência. Dia perfeito: azul e com temperatura amena. Outono. Na verdade, já havia feito a "peregrinação" há muitos anos, incentivada por Calixto, assíduo frequentador dos eventos do Museu Paulista, aonde ele ia a pé. Desta vez consultei o mapa e o melhor caminho me pareceu a Rua Coronel Diogo – afinal, entre dois pontos prefiro sempre uma reta (no caso, mais ou menos). O desafio: as ladeiras íngremes e as calçadas com degraus. Quando estava chegando à avenida Ricardo Jafet e vi a ladeira onde está encarapitado o Hospital São Camilo, tratei de indagar numa loja a distância da estação Santos-Imigrantes. Como não havia clientes, acabou se formando um conselho para me orientar: muito longe, melhor pegar um ônibus até lá, são dois quilômetros e pouco como acentuou um jovem que faz o percurso todos os dias... Pelo menos é um caminho plano, comentei, e se cansar, pego o ônibus. Agradeci e fui para o metrô. Caminho mais movimentado com várias lojas de veículos, supermercados, uma igreja muito bonitinha (Santa Cândida), restaurantes – Novilho de Prata? Não apetece. Ah! Passei por um McDonald às moscas e um burguer da vida... Os bichos de estimação por ali estão bem servidos – há de tudo para os bichinhos. E chego à Estação do metrô. Uma hora e quarenta minutos de caminhada. Hora do almoço, hora tão feliz! É verdade que não cumpri a meta, mas daqui a alguns dias farei outro trajeto até o Parque da Independência. 

PS: infelizmente, Calixto faleceu há uns dois anos.

O riacho do Ipiranga e a igreja de Santa Cândida.

Um trecho bonito da Av. Ricardo Jafet, perto da Rua Piquete.

segunda-feira, 23 de maio de 2022

UMA VALSA E O UNIVERSO

Eis um vídeo muito especial não só pela beleza, mas pelas reflexões que ele incita. O cenário deslumbrante formou-se há 14 bilhões de anos e a protagonista é a Terra, que tem 4,5 bilhões de anos e segue sua trajetória guiada, como todos os astros participantes, pelas leis da Física. Nesse palco infinito em que todos giram, giram, giram, a trilha musical só poderia ser mesmo uma valsa do vienense Johann Strauss Jr., ideia original do cineasta americano Stanley Kubrick em sua obra-prima “2001 – uma odisseia no espaço” de 1968.

Nesse baile sideral segue o bicho Homem que apareceu a bordo há meros 2,5 milhões de anos, mas só começou a voar mesmo há pouco mais de um século e há apenas 61 anos iniciou a exploração do espaço exterior, graças à curiosidade e aos esforços de um punhado de cientistas e à coragem dos eleitos, como o jornalista e escritor americano Tom Wolfe  tão bem denominou os astronautas.

Parabéns ao autor da edição do vídeo.

John Strauss Jr. – compositor austríaco (1825-1899).

Stanley Kubrick (1928-1999).

Yuri Gagarin (1934-1968).

Tom Wolf (1930-2018).


sábado, 21 de maio de 2022

UMA BELA HISTÓRIA DE VIDA E DETERMINAÇÃO

  

Maria do Carmo Mendonça Silva é uma pessoa que vive plenamente cada fase da vida e, quando se aposentou do magistério, redescobriu-se sem, contudo, deixar de lado a sua história pessoal. Mulher sábia, agregou novas experiências à vida com determinação e coragem para enfrentar situações que lhe eram desconhecidas. Carminha, como todos a chamam, tornou-se atleta, poeta e escritora e acaba de lançar seu primeiro livro “Meus escritos  Estilo de Vida”. Carminha é maranhense. Nasceu em 1957 em Cajari, morou em Pindaré-Mirim, fez o curso normal no Liceu Maranhense em São Luís e ingressou no magistério. Aos 49 anos concluiu o curso de Pedagogia na Universidade Federal do Piauí. Realizou-se na vida pessoal: encontrou o amor da sua vida, casou-se, teve três filhos e é avó de cinco netos. Então aposentou-se.  

Não foi fácil, mas ela encarou os esforços necessários para a prática do esporte e se tornou uma atleta vitoriosa. “Com a prática de exercícios me proporciono bem-estar, rejuvenescimento, saúde” – conta em seu livro “Meus escritos – Estilo de vida” (Size Editora). Carminha escolheu a poesia para narrar seus desafios, conquistas e superação e, por meio de seus versos, vamos conhecendo um pouco dessa pessoa especial que é exemplo para todos. Se fica feliz quando ouve os elogios, sente-se também responsável à medida que incentiva as pessoas a praticar esporte. 

O esporte proporcionou a Maria do Carmo, qualidade de vida, vitórias, novos amigos, viagens, alegrias e também muitas lágrimas por contusões que só a incentivam a continuar a correr. E como ela diz:

 DIAS

Os dias passam depressa!

Muitas tarefas para realizar.

Fico aqui, costurando sonhos,

Bordando a minha história.

E tentando,

Os nós desatar,

Para deixar meus dias,

Prazerosos, significantes

Esplêndidos e relaxados.

 

terça-feira, 17 de maio de 2022

DIA INTERNACIONAL DOS MUSEUS

 

Museu Paulista (USP), reabrirá para comemorações dos 200 anos de Independência do Brasil.

 Museu Nacional do Ar e Espaço de Washington (2013).

Independence Seaport Museum, Pensilvania (EUA),2013.


Museu Nacional de História, Atenas, 2019.


Palácio Dolmabahçe, século XIX, em Istambul, 2019.


Versalhes, 2010.

domingo, 15 de maio de 2022

ARTE SACRA

 


Nuremberg, Alemanha, igreja de S. Lorentz, 2010. A maioria das imagens que representam Maria e o menino Jesus mostra uma mulher séria, compenetrada de seus deveres de esposa e mãe. Esta é uma rara imagem em que o escultor escolheu um momento de prazer e diversão entre mãe e filho. Como a igreja estava com as luzes apagadas e o flash sempre é um problema, comprei o postal na sacristia,

sábado, 14 de maio de 2022

SIR MICHAEL CAINE: 90 ANOS

 

Sir Michael Caine completou 90 anos em março. O ator britânico, que se aposentou há dois anos, atuou em mais de cem filmes (dizem que 160), ganhou vários prêmios ‒ tanto Oscar (dois) quanto Framboesa de Ouro (1), sendo este como pior ator em 1981 por seu desempenho em “The Island”. Assisti a vários filmes com ele e vários são memoráveis como Zulu (1964), direção de Cy Endfield; O homem que queria ser rei (1975), dirigido por John Huston; A águia pousou (1976), direção de John Sturges; Vestida para matar (1981), Brian di Palma; O cônsul honorário (1983), dirigido por John Mackenzie; Hannah e suas irmãs (1986), dirigido por Woody Allen e que lhe valeu o primeiro Oscar; Os Safados (1988), de Frank Oz ‒ Oscar. Com Laura, a voz de uma estrela (1998), diretor Mark Herman, Caine ganhou o Globo de Ouro; e com Regras da Vida (1999), de Lasse Hallström recebeu o segundo Oscar. Sem contar a trilogia de Batman (2005-2012) como o mordomo do super-herói: Batman Begins, o Cavaleiro das Trevas e o Cavaleiro das Trevas Ressurge. Em 2021 participou de Best Sellers, quando deu por encerrada a carreira de ator.

         Ele continua bonito e muito simpático. A vida pessoal de artistas raramente me interessa, mas a de Caine é, no mínimo, curiosa. Ele contou em entrevista há alguns anos, que raramente assistia a programas de TV, contudo uma ocasião na companhia de um amigo viu uma jovem em um anúncio e se apaixonou instantaneamente. “Amanhã vamos para o Brasil porque quero conhecê-la” ‒ informou ao amigo, que riu e achou que era brincadeira. Mais tarde encontraram-se com outro amigo que se espantou com a viagem que Michael anunciou e o outro explicou o que havia acontecido. O recém-chegado quis saber em que anúncio a garota aparecia e, por coincidência, a empresa era cliente da agência de publicidade em que ele trabalhava e ele explicou ao rapaz apaixonado que a moça era da Guiana (Britânica) e morava em Londres há poucas quadras dali. Enfim, Michael Caine encontrou-se com a moça cuja única ligação com o Brasil era o anúncio sobre o café que ele vira. De família indiana e muçulmana, ex-Miss Guiana, Shakira (75) fora para a Inglaterra onde trabalhava como modelo e atriz. Ela levou algum tempo até ser conquistada pelo ator e o casamento aconteceu em 1973. Quase cinquenta anos juntos e nada mudou: ele é católico e ela muçulmana.

        A aposentadoria deveu-se a problemas de saúde. Agora Michael Caine dedica-se a escrever. É autor de vários livros (What's it All About? (1993), The Elephant to Hollywood (2010) e Blowing the Doors Off (2018), que venderam bem, segundo ele.  


sexta-feira, 13 de maio de 2022

SEMANA DE CINEMA

E para encerrar Aposentados e perigosos (2010), dirigido pelo alemão Robert Schwentke (1968). Elenco encabeçado por três estrelas: John Malkovich (1953), Morgan Freeman e Bruce Willis (1955). O filme é uma adaptação dos quadrinhos de Warren Ellis e Cully Hammer. Não vi o filme nem conheço os quadrinhos, mas fiquei curiosa para assistir a essa comédia de ação que já teve continuação. Alguns amigos também recomendaram. John Malkovich (1953), Morgan Freeman são dois motivos fortes para aumentar minha curiosidade.



John Malkovich. Foto: Petr Novák (https://commons.wikimedia.org).  


quinta-feira, 12 de maio de 2022

SEMANA DE CINEMA

Amigos inseparáveis (2012), dirigido por Fisher Stevens (1963), é a quarta comédia da semana e reúne Al Pacino (1940), Alan Arkin (1934) e Christopher Walken (1943). Dois amigos se reencontram depois de 28 anos de separação. Motivo? Um deles acabou de sair da prisão e o outro foi esperá-lo, mas em vez de sair regenerado, o ex-presidiário já tem planos para o futuro: vingar a morte do filho. A idade deles parece não ser problema e o filme é cheio de ação. Ainda não vi, mas está na minha lista.



Alan Arkin, um ótimo ator. 


quarta-feira, 11 de maio de 2022

SEMANA DE CINEMA

DESPEDIDA EM GRANDE ESTILO (2017) reúne um trio de primeira qualidade: Morgan Freeman (1937), Michael Caine (1933) e Alan Arkin (1934). A direção é de Zach Braff (1975). Viver de aposentadoria é difícil, caso não se tenha um pé de meia, e piora bastante se houver um banco no caminho, ávido pelos parcos dólares de pensões dos desprevenidos. Neste cenário, três amigos resolvem enfrentar (apesar das mazelas da idade) o banco do pior modo possível ‒ via roubo. Um filme leve e divertido.  

Foto Morgan Freeman: Georges Biard, CC BY-SA. https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=72580707





terça-feira, 10 de maio de 2022

SEMANA DE CINEMA

IDOSA MALVADA

O segundo filme escolhido é de 1984 e chama-se Grace Quigley, dirigido por Anthony Harvey (1930-2017). O elenco é encabeçado por Katharine Hepburn (1907-2003) e Nick Nolte (1941). Uma história banal: mulher idosa, viúva e falida sente-se vencida pelo infortúnio e tenta se suicidar duas vezes; entretanto, não desiste. E do banal a história salta para o original. Ela resolve contratar um bandido para matá-la, mas a situação muda completamente quando o carrasco e a vítima se encontram e descobrem uma atividade muito lucrativa. Parece que há duas refilmagens, mas não conheço. Katharine Hepburn estava com 77 anos e em plena forma quando fez o filme. Humor negro, claro.




segunda-feira, 9 de maio de 2022

SEMANA DE CINEMA

Semana dedicada aos velhinhos transgressores do cinema. Selecionei alguns filmes de épocas diferentes em que idosos por motivos variados ingressam na marginalidade, com resultados hilariantes.

E o primeiro filme que me ocorre é de 1944: “Este mundo é um hospício”, dirigido por Frank Capra (1897-1991) e estrelado por Cary Grant (1904-1986). O enredo é simples: Grant é um crítico de teatro que, às vésperas do casamento, vai visitar suas tias e descobre o segredo das velhinhas, interpretadas por Josephine Hull (1877-1957) e Jean Adair (1873-1953). No elenco, também Peter Lorre (1904-1964). Diversão garantida para todas as idades. 


Um dos meus atores preferidos.



domingo, 8 de maio de 2022

MOMENTOS

Ilustração de Stevan Dohanos (1907-1982).

 
Capa do POST de 1955, assinada por Richard Sargent (1911-1978).


Constantin Alajálov (1900-1987). Capa do POST de 10 de maio de 1947.