sábado, 30 de novembro de 2019

DEZEMBRO CHEGANDO


Brasília, 29 de novembro de 2019. Quando cheguei à Ermida Dom Bosco, o funcionário montava a árvore de Natal. No chão, as figuras do presépio estavam dispostas de tal modo que pareciam observar o trabalho do homem e aguardar o momento de serem reunidas no estábulo junto à árvore.

domingo, 24 de novembro de 2019

PARA NÃO ESQUECER


A revolta paulista de 9 de julho de 1932 foi bancada pela arrecadação de fundos obtidos por meio de doações, venda e leilões de objetos e campanhas de arrecadação de dinheiro entre a população. “Ouro para o bem de São Paulo” foi uma das campanhas mais famosas porque a população se mobilizou como pôde para contribuir. Quem não tinha recursos colaborou doando a aliança de casamento. Quando o conflito terminou em 4 de outubro de 1932, todo o dinheiro em caixa foi doado para a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. A entidade contratou a Cia. Construtora Camargo & Mesquita, mandou construir na Rua Álvares Penteado um prédio muito especial: a fachada representa a bandeira paulista tremulando e cada andar corresponde a uma das treze listras da bandeira. O projeto é de Severo & Villares. A obra foi concluída em 1939. O prédio chama-se Ouro para o bem de São Paulo.
Rua Álvares Penteado, 23.






quinta-feira, 21 de novembro de 2019

POR AQUI E POR ALI

São Paulo é uma cidade verde: basta tentar tirar uma foto de um prédio, por exemplo, que as árvores aparecem para dar o ar de sua graça.  


A banca muito chique, na Avenida São Luís com Praça Dom José Gastar.

Quem nunca fez um lanche no Bar ESTADÃO?


Muito bom caminhar por essas calçadas.


Mural da Fundação para o Desenvolvimento da Educação. Avenida S.Luís.

Ditado bom... Folheto colado atrás de uma placa de trânsito. (Praça da República)


quarta-feira, 20 de novembro de 2019

CONVERSA FIADA


"Quem avisa, amigo é" pede passagem.
Essas caminhadas pelo Centro Novo têm sido muito interessantes. Logo na primeira tarde, na Rua Barão de Itapetininga, um gaiato já foi me alertando para o perigo de tirar fotos “no pedaço”. Com um muxoxo fui dizendo que, se fosse assim, não se faria nada na vida. Recebo apoio do vendedor da loja que me observava. 
Mais adiante perguntei ao zelador do prédio o nome da Galeria dos Brinquedos ‒ já que essa evidentemente não é a denominação oficial. EDIFÍCIO CLAUDINA, responde, apontando para uma placa acima de nossas cabeças. “Não está escrito lá”. Ele ficou surpreso, mas garantiu que esse era o nome e me encaminhou para a outra portaria, onde a funcionária confirmou, mas disse que também era conhecida como GALERIA ITAPETININGA. O problema foi resolvido mais tarde: “ela foi construída pela junção de dois edifícios independentes, interligados por um terceiro bloco”, segundo dissertação de metrado de Cynthia Augusta Aleixo (USP/São Carlos), que consultei.
Distraída como sempre, entro no EDIFÍCIO GUILHERME GUINLE que julgava ser a antiga sede dos Diários Associados para confirmar. Os funcionários já sabem de cor a história do prédio, contaram alguns “causos” e me avisaram que havia uma pequena placa na fachada sobre a importância do edifício. Lembro que para saber mais das estripulias de Chateaubriand devo consultar o livro de Fernando Moraes.
Avenida São João. Tenho vaga lembrança de que a COSIPA teve escritório no EDIFÍCIO OLIDO. Há uma banca em frente ao prédio, vejo que o dono é idoso e pergunto sobre a COSIPA. Fala dos bons tempos, dos presidentes da companhia que frequentaram a banca e garante que ainda mantém contato com Plínio Assmann. Ele conta algumas histórias e nos despedimos. Parece triste com as lembranças dos “bons tempos”.
Pedaços de metal, embalagens de papelão e toda a quinquilharia imaginável com valor no comércio do ferro-velho ou mercado de recicláveis, eles carregam em seus carrinhos toscos. Desde cedo são vistos pelas ruas da cidade, sem se preocupar com trânsito ou ladeiras, sol ou chuva. Geralmente, acompanhados por um ou dois cães. Às vezes tentam se fazer ouvir em meio ao caos. 
 “Os catadores sempre fizeram muito mais do que todos os ministros do meio ambiente.” É o que diz a inscrição na carroça politizada.

Domingo, Avenida São João: carroça bem estacionada e Português bem razoável.

terça-feira, 19 de novembro de 2019

"LINDO PENDÃO DA ESPERANÇA"


"Hino da Bandeira", quadro (1940) de Eliseu Visconti (1866-1944) que tem como fundo a Escola Hygino da Silveira, de Teresópolis.



Dia da Bandeira, 19 de novembro.
O hino foi composto por Francisco Manoel da Silva e a letra é de Osório Duque Estrada.

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

UMA PRAÇA DE MUITOS ESTILOS: REPÚBLICA.


Edifício São Nicolau.
Um dos meus caminhos usuais passa pela Praça da República. Um espaço verde com espelhos d’água que parece o lugar ideal para exibir variados estilos de arquitetura. O prédio em estilo eclético do antigo Colégio Caetano de Campos (1894) domina a paisagem. Projetado por Ramos de Azevedo e Francisco de Paula Souza, ali atualmente funciona a Secretaria Estadual de Educação. Atrás do colégio encontram-se os meus prédios preferidos na praça: SÃO NICOLAU, na esquina com a Rua Araújo; o INTERCAP no meio e o SÃO LUÍS, na esquina com a Avenida Ipiranga. 





O Edifício SÃO NICOLAU, projetado pelo engenheiro Fortunato Ciampolini em estilo art déco, tem dois apartamentos por andar com 134 m² (dois quartos e uma ampla sala com sacada e vista para a praça). Foi concluído em 1948. Vale a pena parar e erguer o pescoço para admirá-lo. Praça da República, 123.


No meio, está o INTERCAP, um nome que engana, pois dá impressão de que se trata de um prédio comercial, já que INTERCAP era um banco de títulos de capitalização da família Mendes Caldeira, criadora também da Bolsa de Imóveis de São Paulo. Eles encomendaram o projeto do edifício ao polonês Luciano Korngold (1897-1963) e bancaram a obra que foi concluída em 1951. Praça da República, 107. 
Chegamos ao Edifício SÃO LUÍS. O projeto em estilo neoclássico, assinado por Jacques Pilon (como ele trabalhou!), é da década de 1940. São 22 apartamentos com lareira e área variando de 145 a 245 m². Um detalhe: os banheiros são revestidos de mármore italiano. Uma curiosidade: o prédio tinha até abrigo antiaéreo que foi transformado em caixa d’água. Um dos moradores foi o banqueiro e empresário imobiliário Otávio Frias de Oliveira (mais tarde um dos sócios do Grupo Folha). O edifício é tombado. Praça da República,77. 

Entre as ruas Araujo e Marquês de Itu, um monstrengo de 22 andares parece querer abraçar a Praça da República. Trata-se do EDIFÍCIO EIFFEL, inaugurado em 1956; foi o primeiro projeto de moradias de luxo de Oscar Niemeyer para São Paulo, com colaboração de Carlos Lemos. Explicam-me que o prédio tem um formato de livro semiaberto, mas não consigo enxergar essa imagem. O prédio tinha algumas inovações para a época, como apartamentos duplex, com entrada pelo andar superior onde ficam sala e cozinha e no piso inferior, os quartos. Não duvido que seja muito confortável, mas bonito externamente não é. Pelo menos para mim. Dizem que Niemeyer também não gostou do resultado e até quis repudiar a criatura, mas... 
O Edifício SÃO THOMAZ de linhas neoclássicas foi construído na primeira metade da década de 1940 e não segue o alinhamento comum: está voltado para a Praça, com os fundos para a Avenida São Luís. Além da beleza, a posição o faz distinguir-se entre os vizinhos ‒ os edifícios Itália e Esther. O projeto é de Wilson Maia Fina.
E por falar no EDIFÍCIO ESTHER... O prédio foi projetado pelos arquitetos Álvaro Vital Brasil (1909-1997) e Ademar Marinho (1909-?) para ser o novo escritório da Usina de Açúcar Esther (Cosmópolis/SP) do empresário Paulo de Almeida Nogueira, mas dispondo também de unidades comerciais e residenciais. Concluído em 1938, agradou muito a Mário de Andrade e não poderia ser diferente já que o Esther era o primeiro prédio moderno da pauliceia. Enquanto a cobertura mantinha o “Jardim de Rosas”, o subsolo estava mais para mariposas, que adejavam na boate Oásis. A novidade atraiu os de sempre ‒ artistas e intelectuais, mas principalmente pessoas com dinheiro. O Instituto dos Arquitetos tinha escritório no Esther, assim como o arquiteto Rino Levi (1901-1965); o pintor Emiliano Di Cavalcanti (1897-1976) morou lá e o cronista social Marcelino de Carvalho (1905-1978) viveu no apartamento da cobertura. O prédio entrou em decadência a partir da década de 1970. É tombado pelo CONDEPHAAT. Recentemente, despertou interesse de um grupo francês que abriu um restaurante na cobertura, enquanto na loja funciona o “Mundo Pão de Olivier” (Anquier).      .
A partir da direita os edifícios Esther, São Thomaz e o Itália (este é outra história).
Há dois prédios bem interessantes na praça, ambos projetados por Jacques Pilon. Um deles é o EDIFÍCIO CHRYSLER (1948/1949) de treze pavimentos com acabamento em pastilha cerâmica. Ele ocupa toda a Rua Joaquim Gustavo entre a Praça da República e a Rua Aurora. República, 497. O outro é o SANTA MÔNICA (1947/1950), homônimo do edifício do Anhangabaú, é um prédio de escritórios. República, 162.
Moderno é um termo bem genérico, significa atual, contemporâneo. Nada mais contemporâneo que o prédio do Banespa (Santander) na esquina com a Rua Marquês de Itu. Década de 1980, projeto de Carlos Bratke (1942-2017).

A era do vidro. Prédio do Banespa (Santander), anos de 1980. arquiteto Carlos Bratke. Praça da República, 294.

domingo, 17 de novembro de 2019

DOMINGO, DIA DE TEATRO, MÚSICA E CINEMA.


João Crispiniano Soares (1809-1876) foi professor da Faculdade de Direito, delegado de polícia e político. Quando começou a Guerra do Paraguai, organizou o batalhão de voluntários paulistas (7º Batalhão) para o combate. A cidade o homenageou em 1916, atribuindo o nome dele a uma pequena, mas importante rua do Centro Novo: Conselheiro Crispiniano.
Infelizmente, a Rua Conselheiro Crispiniano vem sendo emporcalhada pela ação insana dos pichadores, muito ativos no Centro Histórico. Ela foi um reduto do comércio de material fotográfico em geral ‒ filmes (ah!), máquinas e acessórios fotográficos etc. Quem não se lembra da PITER, uma loja de roupas, que funcionou na esquina com a Praça Ramos de Azevedo nas décadas de 1970/1980? Hoje o prédio transformou-se numa grande garagem.
Quem se admira com o Theatro Municipal, deve caminhar um pouco mais para conhecer o PAÇO DAS ARTES, uma extensão moderna do teatro e que engloba o antigo Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. O projeto do Paço é do arquiteto Marcos Cartum em parceria com o escritório paulistano Brasil Arquitetura, de Francisco Fanucci e Marcelo Ferraz. Ganhou os prêmios APCA e ICON AWARDS. A Sala do Conservatório é sede oficial do Quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo e também recebe diversas apresentações de música de câmara, contemporânea, pequenas orquestras e corais.
Ao lado, esperando a vez para ser restaurado, o memorável Cine Marrocos, que em 25 de janeiro de 1951 era “o melhor e mais luxuoso da América do Sul”, como dizia o seu anúncio. Capacidade para duas mil pessoas; tela de vidro; sala de espera revestida de espelhos, enquanto o átrio tinha uma fonte luminosa. Um bar com mesas e cadeiras era um lugar aprazível para aguardar o início da sessão tomando café ou para esperar amigos. Projeto de João Bernardes Ribeiro. Inaugurado com o filme “Memórias de um médico” (1949), dirigido pelo russo Gregory Ratoff (1897-1960) e elenco encabeçado por Orson Welles (1915-1985).

O antigo Cine Metro (Avenida São João, 791) tem uma saída pela Rua Timbiras, um prédio branco que logo identifiquei como um cinema. Soube que era o Metro, inaugurado em 1938, como o filme “Melodia na Broadway”, com Judy Garland. Na época, era um dos cinemas mais luxuosos da cidade; os técnicos da Metro Goldwyn vieram a São Paulo para instalar os projetores e os amplificadores de som; a sala dispunha de 1605 lugares e as poltronas eram de couro. Fechou em fevereiro de 1997. Atualmente, no local funciona uma igreja evangélica.

sábado, 16 de novembro de 2019

ESTE É O SENHOR DO VALE



Ele é o senhor do vale desde 1954, quando foi inaugurado. Bom, pelo menos é o que o nome dele significa: Jaraguá. O Grupo O Estado de S. Paulo (o jornal, a rádio e o estúdio Eldorado) dividiu por anos o prédio com o Hotel Jaraguá: enquanto o jornal se instalou nos oito primeiros andares, os 15 restantes foram ocupados pelo Hotel Jaraguá, do empresário José Tjurs, argentino radicado no Brasil. O Hotel Jaraguá (164 apartamentos e 22 suítes de luxo) logo se tornou famoso, pois no mesmo ano foi palco do I Festival Internacional de Cinema. Se você tem mais de 60 anos, vai entender o que representava hospedar Edward G. Robinson, Erich Von Stroheim, Walter Pidgeon. Isso foi só o começo. Lá dormiram a rainha Elizabeth II, Robert Kennedy e Yuri Gagarin; artistas tão expressivos como Federico Fellini, Ella Fitzgerald, Edit Piaf e Mick Jagger. E muito mais artistas, muito mais. Entretanto, os tempos mudaram e após duas décadas difíceis, fechou em 1998, mas foi comprado e reformado para ser novamente um grande hotel. Desde 2004 passou a ser administrado pelo Accor Hotels e chama-se Novotel Jaraguá São Paulo Conventions, ocupa os 23 andares e dispõe de 415 apartamentos, estrutura para eventos, teatro, academia, dois restaurantes e um bar. Destaques do prédio: o painel de Di Cavalcanti e o mural de Clóvis Graciano. Projeto do arquiteto alemão Franz Heep (1902-1978) que atuou em São Paulo entre 1950 1960. O relógio continua marcando o tempo do paulistano. 
 Rua Martins Fontes, 71.
Painel de Di Cavalcanti na fachada do hotel. 




O HOMÔNIMO: O outro Edifício Jaraguá, na Rua Barão de Itapetininga, 93, foi um dos muitos projetos do escritório Pilon & Matarazzo Ltda., em São Paulo. Simples e elegante, o prédio de doze andares é de 1939. 

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

ESPAÇO DE CULTURA

R. Xavier de Toledo: ao fundo o painel de Tomie Ohtake.
Na Rua Xavier de Toledo, os prédios formam um paredão pouco atraente, exceto pelo simpático Hotel Amália e o prédio da Previdência Social. Privilegiado mesmo é o Edifício Santa Mônica que é suporte do painel de Tomie Ohtake (1913-2015) de 55 metros de altura por 22 metros de largura. Obra de 1984, executada pelo arquiteto José Roberto Graciano (EMURB) com patrocínio do extinto Banco Nacional. Xavier de Toledo 161, junto à Estação Anhangabaú do metrô. Ou como querem outros, Ladeira da Memória.
Nesse ponto, há vários caminhos a seguir. A Rua Xavier de Toledo termina na Rua Bráulio Gomes e começa a Rua da Consolação. E não poderia começar melhor: ali se localiza a Biblioteca Mário de Andrade, projeto original do arquiteto Jacques Pilon (1905-1962), alterado pelo Prefeito Prestes Maia. Ela é a segunda maior biblioteca brasileira com um acervo de
O prédio de 1942 tem o poeta português Luís de Camões como guardião impávido na frente do jardim que rodeia o edifício e, não fosse a grade, se confundiria com o jardim da Praça Dom José Gaspar ‒ esta, povoada de figuras do mundo literário e até musical: Miguel Cervantes, sentado, observa o transito alucinado da Consolação. (Os tempos de Rocinante se foram.) Dante Alighieri parece perdido no jardim, talvez procurando a sua Beatriz. São homenageados também Johann Wolfgang von Goethe e o compositor polonês Frédéric Chopin*.
  

Ainda na Rua Bráulio Gomes há o Edifício Thomas Edson, de linhas sóbrias e elegantes, também tem muita história para contar. Ali, foi um reduto de três italianos que mexeram com a paisagem urbana paulistana e deram uma importante contribuição para a vida cultural da cidade. Em 1948, Pietro Maria Bardi (1900-1999), a esposa Lina Bo Bardi (1914-1992) e Giancarlo Palanti (1906-1977) instalaram o “Studio de Arte Palma”, inspirado no estúdio que Pietro Maria Bardi tivera em Roma e do qual fora presidente antes da aventura brasileira. O casal Bardi chegou ao Brasil a negócios em 1946 e foi cooptado por Chateaubriand logo ao desembarcar no Rio de Janeiro. Quanto a Palanti, que era arquiteto como Lina, desembarcou em Santos como imigrante em 1946. Ele desenhou vários projetos de arquitetura, inclusive o do Edifício Chipre-Gibraltar (Avenida Paulista, 2494, esquina com a Rua da Consolação). O prédio de 1955 tem dois blocos de 12 pavimentos e uso misto.
Fotos: Hilda Araújo.

Rua Bráulio Gomes, 66

*Autores: Camões (1946), obra de José Cucê;Cervantes (1947), obra de Rafael Galvez; Dante (1955), Bruno Giorgi; Goethe (1976), de Tao Sigulda; e Frédéric Chopin (1954), autor desconhecido.

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

SOBRE SANDUICHES, CHAPÉUS E REZAS.


 Eu não me canso do Centro de São Paulo. O Largo do Paissandu, por exemplo, parece uma praça do interior, com os postes de ferro antigos. A igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos (1906) com o seu tom ocre encontra-se numa das pontas da praça e na lateral está a estátua da Mãe Preta, do artista Júlio Guerra (1912-2001). Na calçada em frente outro ponto de referência de Sampa, palco de muitas histórias envolvendo acontecimentos políticos importantes da cidade e do país e berço do “bauru”,  tradicional sanduiche paulista. Durante a Semana de Arte Moderna em 1922, a cidade ganhou um novo restaurante: o PONTO CHIC no Largo do Paissandu. A casa atraiu os modernistas que se tornaram assíduos frequentadores.
Na esteira dos artistas e intelectuais vieram os estudantes do Largo de São Francisco. Em 1937 um deles, Casimiro Pinto Neto (1914-1983), natural de Bauru, pediu ao garçom um sanduíche no pão francês, com fatias finas de rosbife, rodelas de tomate e pepino em conserva e uma mistura de quatro queijos fundidos (prato, estepe, gouda e suíço) em banho-maria. Foi um enorme sucesso e popularizou-se com o apelido do criador que, naturalmente, era Bauru. Até hoje o Ponto Chic tem em seu cardápio a receita original do bauru. Casimiro Pinto Neto tornou-se jornalista e trabalhou na Rádio e TV Record. 
A Chapelaria Paissandu é outra casa tradicional do Largo (88), na esquina com a Rua Capitão Salomão, que desce em direção ao Vale do Anhangabaú, desembocando na Praça Pedro Lessa (mais conhecida como Praça do Correio). O largo é endereço ainda de casas de comida árabe e uma pastelaria. 
Na esquina do Largo com a Rua Abelardo Pinto, encontram-se os prédios do Cine Paissandu e do Piolin Palace Hotel, ambos em bom estado de conservação. O espaço do antigo cinema mantém-se fechado. Vale a pena caminhar em direção à Avenida Rio Branco para conhecer a Igreja Evangélica Luterana de São Paulo, Paróquia Martin Luther, construída em 1908 em estilo neogótico. Ela foi seriamente atingida pelo incêndio seguido de desabamento do prédio Wilton Paes de Almeida.
A Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos no centro e à esquerda, no fundo, a Igreja Luterana de S. Paulo.

Fotos: Hilda Prado Araújo.

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

PINACOTECA DA ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA

 

Nas caminhadas pelo Centro, há algumas semanas fui conhecer a Pinacoteca da Associação Paulista de Medicina, inaugurada em 1951, mas que começou a ser organizada no final da década de 1940 e ao longo dos anos foi ampliada com o apoio das novas diretorias. O acervo reúne obras de Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Lasar Segall, Portinari, Francisco Rebolo, Tarsila do Amaral e Alfredo Volpi entre outros artistas. “O propósito maior de sua existência, bem como desta exposição, é reforçar a cultura e reiterar o apreço que a Associação Paulista de Medicina nutre pelas artes plásticas em geral e, em particular pelos artistas, imortais em suas obras, que serão vistas, apreciadas e comentadas hoje e nos anos que hão de vir” - explica o cartaz assinado pelo curador Guido Arturo Palomba.
A Pinacoteca está situada no 8º andar do prédio da Avenida Brigadeiro Luís Antônio, 278, sede da APM, e tem duas salas: Ernesto Mendes e Contemporânea. Funciona de segunda à sexta-feira das 10 Às 19 horas. Entrada gratuita.

terça-feira, 12 de novembro de 2019

ENTRE O ROCK E O REGGAE


E por falar em Maria Berdelli e Ermanno Siffredi, eles fizeram em 1963 o projeto do Centro Comercial Grandes Galerias, que há alguns anos todo mundo conhece como a GALERIA DO ROCK.  Na minha modestíssima opinião, a mais bonita de todas. Uma claraboia garante a entrada de luz natural através de espaços ovais entre os andares. O piso nas cores cinza, marrom e rosa claro, criado por Bramante Buffoni, tem um papel de destaque no conjunto: o desenho muda a cada andar, formando um jogo para quem observa a galeria do último piso. Melhor do que ler uma descrição, é ir conferir pessoalmente, sem contar que o espaço reúne pessoas de todas as idades e diferentes tribos. Há 37 anos em Sampa nunca tinha ido lá. Amei.



Avenida São João, 439/ Largo do Paissandu.
Rua Vinte e Quatro de Maio.

E lá fui eu conhecer a GALERIA PRESIDENTE ‒ Centro Comercial Presidente, outra criação do casal Maria Berdelli e Ermanno Siffredi. O espaço também é conhecido como Galeria do Reggae. Se não é tão bonita quanto a vizinha, ainda é bastante moderna e cheia de charme. Ela também tem duas entradas. Abaixo à esquerda a entrada da Rua Vinte e Quatro de Maio em que os pisos da galeria invadem a parte superior da calçada e as lojas envidraçadas no vão central têm forma arredondada; e à direita a entrada pela Rua Dom José de Barros, que inverte o conceito. O acesso dos dois lados também é por rampas. No interior novamente o uso da claraboia para a iluminação natural e as escadas rolantes acabam funcionando também como elemento decorativo. A Galeria do Reggae é um reduto multicultural, com comércio bem variado, mas destacam-se as lojas de cabelos naturais, disco, roupas, tênis e cosméticos. (Depois de visitar e fotografar a galeria sem problema, na saída resolvi fazer uma foto e dois seguranças me abordaram, avisando que era proibido tirar fotos. Da rua não havia problema. Um passo atrás e fiz a foto final.)
Fotos: à esquerda a entrada da Rua Vinte e Quatro de Maio e à direita a da Dom José, bastante prejudicada pelos pichadores, que se esforçam para sujar os prédios da rua. 

 
Fotos: Hilda Prado Araújo.

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

DOMINGO, DIA DE CINEMA.



Ao passar pela abandonada Rua Dom José de Barros, o prédio chamou atenção por estar com pintura nova, mas de perto as coisas mudam porque o térreo está inteiramente pichado. Eu já ia perguntar ao zelador de um prédio, que me olhava desconfiado, o que funcionava ali, quando vi o cartaz de “Filmes adultos”. Parece que nesse prédio funcionou a sede central do Clube Pinheiros até que em 14 de dezembro de 1951 deu lugar ao Cine Jussara, inaugurado com o filme “Conflitos de Amor”, de Max Ophuls. Em julho de 1967 passou a se chamar Cine Bruni e, finalmente, em 1976 se tornou o Dom José.  
Rua Dom José Gaspar, 306.





Neste belo prédio, foi inaugurado em dezembro de 1957 o CINE PAISSANDU com a exibição de “Guerra e Paz” (1956), de King Vidor. A sala dispunha de 2196 lugares ‒ plateia e dois balcões! Revestido de mármore, no saguão havia um painel de 15 metros ilustrado com danças típicas nacionais e o acesso ao balcão superior era também por elevador. 

Largo do Paissandu, 60. 










Impossível não parar para observar o prédio do CINE MARABÁ, inaugurado em 15 de maio de 1945 com o filme “Desde que Partiste” (1944), de David Selznick. Linhas elegantes e sóbrias, ele funcionou ininterruptamente por 63 anos. Era propriedade do empresário Paulo de Sá Pinto.  A Playarte, exibidora atual, investiu no restauro do cinema que, em vez da sala de 1695 lugares dos tempos da inauguração, agora tem cinco salas ‒ a maior com 430 assentos e as menores oferecem entre 122 e 176 lugares.
Avenida Ipiranga, 757. 




“Tarde demais para esquecer”, de Leo McCarey foi o primeiro filme exibido no CINE OLIDO, inaugurado em 13 de dezembro de 1957 com 1339 lugares. Foi o primeiro cinema a funcionar em uma galeria. Reformado em 1980, teve a sala única dividida em três, mesmo assim fechou em 2001. A prefeitura de São Paulo o restaurou e reabriu o cinema em 2004. OLIDO é o resultado da junção dos nomes do proprietário do prédio Domingos Fernando Alonso e de sua esposa Olívia. Domingos, imigrante espanhol, era proprietário de vários cinemas. No Edifício Galeria Olido funcionou a sede da COSIPA, Companhia Siderúrgica Paulista.
Edifício Domingos Fernando Alonso e Galeria Olido: Avenida São João, 473.
Edifício Olido.

Fotos: Hilda Prado Araújo.

domingo, 10 de novembro de 2019

UMA NOVA BARÃO


Oscar Niemeyer criou no final da década de 1950 o moderno Edifício Galeria Califórnia que mexeu com a Rua Barão de Itapetininga, mas na década seguinte, um casal de arquitetos italianos emigrados no período pós-guerra fez o projeto de outra galeria cujo charme continua intacto até hoje. A GALERIA NOVA BARÃO, inaugurada em 1962, funciona como uma via de ligação entre as Ruas Barão de Itapetininga e Sete de Abril. Ela foi criada por Maria Berdelli e Ermanno Siffredi, que deixaram a Itália para tentar a vida no Brasil. Começaram no Rio de Janeiro e mudaram para São Paulo, onde tiveram uma atuação importante e deixaram um belo legado.
A Galeria Nova Barão, propriedade particular, é a céu aberto e tem dois níveis. O acesso ao piso superior é por escada rolante coberta. O calçamento de pedras portuguesas formando ondas lembra as calçadas da Praça do Rocio em Lisboa que o Rio de Janeiro copiou. Comércio variado atrai o frequentador do Centro: lanchonetes, salão de cabeleireiro, relojoarias, joalherias, sebos, sapatarias, ópticas, lotérica etc. Do piso superior da galeria se pode observar com tranquilidade os pedestres apressados a caminho de algum lugar, os vendedores ambulantes, os prédios antigos e à direita o Theatro Municipal. Bancos estrategicamente colocados são um convite para uma pausa. Na entrada pela Rua Sete de Abril, há uma pequena fonte. Nas fachadas há um mural criado pelo artista plástico italiano Bramante Buffoni (1912-1989) ‒ o da entrada da Sete de Abril pode ser visto da Praça Ramos. O edifício, por sua vez, é baixo e está dividido em dois blocos de escritórios (Rua Sete de Abril) e dois, residenciais (Rua Barão de Itapetininga) e todos têm a frente voltada para a galeria.
Vale a pena caminhar em direção à Praça da República para visitar a Livraria Francesa, há mais de 72 anos no mesmo endereço: térreo do prédio 275 da Barão de Itapetininga. Ela foi fundada em 27 de julho de 1947 pelo engenheiro francês Paul Monteil, que veio com a família para o Brasil em 1937 para dirigir o setor têxtil da Rhodia. No final da II Guerra, ele deixou a empresa resolveu realizar o sonho de ser editor e livreiro. Atualmente, a livraria é dirigida por uma neta de Paul Monteil. Ele faleceu em 2005. Fotos: Hilda P. Araújo.



Fotos da Galeria Nova Barão: Rua Sete de Abril, 154 / Rua Barão de Itapetininga, 37.