quinta-feira, 24 de agosto de 2023

AH! ESSES PASSARINHOS!

Abro as janelas e elas logo aparecem. Algumas medrosas, outras mais ousadas. São estas que me observam e, quando se acham seguras, entram para inspecionar a cozinha e a área de serviço. São as rolinhas-caldo-de-feijão. Às vezes preciso ajudá-las porque não encontram a saída, o que já me causou muita canseira – e algumas bicadas – para pegá-las e colocá-las para fora.

Passarinho é o que não falta no meu bairro. Se a rolinha é curiosa, o bem-te-vi é um intrigante que vive ameaçando a vizinhança com sua cantilena. E já começa o dia avisando a todos “bem-te-vi”. Felizmente, não ficamos sabendo o que ele anda vendo por aí. Os periquitos, que moram lá por perto do parque, adoram excursionar pelas praças numa algazarra ensurdecedora. Outro dia um se desgarrou e veio me visitar, mas logo foi se juntar ao bando colorido e barulhento.

Pardais? Nunca os vi por aqui, mas lembro-me da bela “sinfonia de pardais, anunciando o anoitecer”, na Praça Mauá em Santos... A delicadeza fica por conta dos beija-flores. Há poucos por aqui já que não há muitas flores, especialmente as vermelhas de que eles gostam muito. Os visitantes são atraídos por alguns moradores que colocam néctar em locais estratégicos. Morador barulhento? Não falta, naturalmente. Nunca o vi, mas ele marca presença procurando comida nas árvores: o pica-pau.

Há um boêmio, que no início da primavera e no final do verão faz serenata nas madrugadas paulistanas. É o sabiá-laranjeira, um passarinho arisco que caminha com elegância pelos jardins e calçadas. Mimado pelos moradores, tem “bandeja” de frutas na praça e no parque. Sinto a ausência do passarinho trabalhador, o joão-de-barro, e dos tico-ticos, frequentadores da Praça João Mendes.

No início da década de 1990, recebi uma pauta que pedia, entre outras coisas, entrevistas com especialistas em meio ambiente para saber se havia uma relação direta entre melhoria das condições ambientais e o aumento de passarinhos na cidade de São Paulo. Respostas preocupantes. A presença das aves aumenta por causa da destruição do seu habitat e elas encontram na área urbana comida, especialmente no lixo mal acondicionado e jogado pelas ruas, jardins, rios etc. 

"Tico-tico no fubá" (1917), composição de Zequinha de Abreu (1880-1935). 

https://www.youtube.com/watch?v=fID_SMIkoH0



Flagrante: rolinhas-caldo-de-feijão na área de uma residência no bairro da Bela Vista.


quarta-feira, 23 de agosto de 2023

CONCERTO NO CENTRO

 Início da tarde de terça-feira com CONCERTO NO CENTRO, promovido pelo SESC- Carmo, na igreja de Santo Antônio (Praça do Patriarca). Desta vez o convidado foi o Trio Triz, formado pelos músicos Daniel Oliveira, Diogo Maia e Luca Raele, que apresentou "A versatilidade do clarinete de Bach ao século XXI". Um belo concerto com peças de Bach, Mozart, Debussy entre outras. Igreja repleta. Público atento. Por meio do projeto Concerto no Centro o SESC-Carmo realiza apresentações musicais mensais em igrejas do centro histórico, “evidenciando o patrimônio histórico de São Paulo”. A igreja de Santo Antônio é a mais antiga da cidade. Foi fundada no final do século XVI e ao longo de sua existência passou por várias reformas – a fachada foi reinaugurada em 1919.



segunda-feira, 21 de agosto de 2023

CONSOLAÇÃO E A ARTE TUMULAR

O Diário Nacional começou a circular em julho de 1927 e em sua curta existência contou com a colaboração de Mário de Andrade, que escrevia críticas sobre arte em geral e literatura. Críticas que muitas vezes têm sabor de crônica, quase sempre com a irreverência bem-humorada característica dos modernistas. Ao ler lembrei de Stanislaw Ponte-Preta (Sérgio Porto: 1923/1968). 

Mário estreou no novo jornal paulistano em agosto de 1927, com um tema exótico: arte tumular. O crítico de arte mostra aí seu lado repórter: aproveitou a inauguração do monumento feito por Victor Brecheret para o túmulo de Inácio Leite Penteado (1865-1914) e criticou a arte exposta no Cemitério da Consolação. Inácio era primo e tinha sido marido da mecenas paulista Olivia Guedes Penteado, grande amiga do escritor.

No seu estilo inconfundível, diz que o cemitério tem poucas obras de arte tumular “a não ser por algumas discutíveis deidades assinadas por escultores, e dum mundo de capelinhas sorridentes, sem nenhum caráter funerário, porém de característica nacionalidade ítalo-tapuia, o que a gente encontra naqueles vergéis marmóreos são enxames de anjinhos, anjos e anjões suficientes para tornarem para sempre desconvidativos os apartamentos do céu”.

Mário de Andrade continua: “Na Consolação tem de tudo: carrocinha de nugá, barracas de feira, florista, bolo de noiva, sentinas e colunas quebradas”. Logo adiante o crítico demonstra seu alívio porque agora o cemitério “possui um túmulo: Pietà que Brecheret ergueu sobre os despojos de Ignacio Penteado”. Na verdade, o monumento chama-se “O sepultamento” e abriga também os despojos de Olívia Guedes Penteado, que faleceu em 1934 com 62 anos.

Não tenho ideia de como era o cemitério da Consolação há quase cem anos, mas em um domingo de abril de 2018, aproveitei para dar uma espiada por lá. Não conhecia esse texto de Mário de Andrade, mas por acaso fotografei um anjo (há realmente uma legião de anjos por lá) no túmulo da marquesa de Santos, Domitila de Castro, a coluna quebrada do jazigo da família Santos-Dumont, e naturalmente o “Sepultamento”, do Brecheret.

            A passagem do tempo muda bastante a perspectiva das pessoas. O cemitério da Consolação faz parte do roteiro turísticos da cidade: por ser o mais antigo da cidade (inaugurado em 1858), reúne o maior número de jazigos de famílias ricas e importantes e campas de personalidades ilustres. 

                

A Marquesa de Santos contribuiu com dinheiro para a instalação do cemitério.


Jazigo da família Santos Dumont. O corpo do aeronauta foi sepultado no Rio de Janeiro.

O "Sepultamento", obra de Brecheret.

domingo, 20 de agosto de 2023

PRIMAVERA PRECOCE

Mudanças climáticas interferem nos ciclos de vida... Creio que sim. Em São Paulo pode-se observar que a primavera se antecipou e dá um colorido delicado às ruas arborizadas. Os sabiás, passarinho boêmio, já estão cantando a pleno pulmões. Essas duas maravilhas adornam minha rua, na Aclimação, e tornam nossas caminhadas mais suaves.





A primavera começará na madrugada de 23 de setembro.


sábado, 19 de agosto de 2023

DIA DO CICLISTA

 

O Dia Nacional do ciclista foi criado em memória do ciclista brasiliense Pedro Davison (25 anos) que morreu atropelado em Brasília, no dia 19 de agosto de 2006. 

Estudos publicados em 2021 mostravam que há em São Paulo 1,6 milhão de bicicletas, mas dados da Companhia de Engenharia de Tráfego indicam que apenas nove mil circulavam todos os dias. Em 2020, segundo a Associação Brasileira do Setor de Bicicletas, houve um aumento de 66% nas vendas de bicicleta em relação a 2019 (provavelmente em decorrência da pandemia iniciada em março daquele ano). No início deste ano, várias entidades fizeram parceria para a realização da contagem de ciclistas da cidade.

A Capital contava em 2021 com a maior malha cicloviária (ciclovia, ciclofaixa e ciclorrota) do país de acordo com a prefeitura: 681 km de extensão. É sempre bom lembrar que quantidade não significa qualidade. Algumas são vergonhosas. (Fontes: G1, vadebike.org, mobilize.org, prefeitura.)




Ilustração: “Roda de Bicicleta” (1913), do artista plástico Marcel Duchamp (1887-1968), criador do conceito readymaker – que inclui objetos de uso cotidiano na obra de arte. Acervo: Museu de Arte Moderna de Nova York.


sexta-feira, 11 de agosto de 2023

PONTO DE ÔNIBUS

Foto: SPTrans.


Pior do que esquinas para ser emboscado por um chato só mesmo um ponto de ônibus. Como passei a maior parte da vida usando transporte público, tenho alguma experiência no assunto. Para começo de conversa eles fazem parte do que as prefeituras chamam pomposamente de mobiliário urbano – e esse mobiliário em São Paulo pode variar de um simples poste a uma estrutura de metal com uma pintura marrom e o desenho de um ônibus. Locais mais nobres merecem um abrigo de acrílico e banquinho. Num dos suportes da cobertura há um papel com informação sobre os ônibus que passam por ali e um mapa com a sua localização (caso você esteja perdido).

Na rua Domingos de Moraes, há um ponto bem interessante. Ali para um ônibus (não sei qual é a linha) com periodicidade de cometa – passa, mas é possível que não se sobreviva até a passagem dele. É um desses cobertos com acrílico e atrai muitos idosos. Invariavelmente, os vejo acomodados no banquinho sem conforto, batendo papo ou apenas observando o movimento em torno, sempre intenso. E me pergunto se eles esperam ônibus ou aproveitam para espantar a solidão...

Outro dia na Aclimação aguardava o ônibus calmamente, quando parou uma camionete em frente ao ponto, desceram dois jovens pressurosos, pediram licença aos passageiros potenciais, colocaram uma fita em torno da estrutura metálica (cena de crime?) e pegaram na caçamba do carro balde, esfregão e mangueira, dando início à limpeza do “ponto”.  A operação levou uns dez minutos – período em que o ônibus não se materializou. Não esqueceram de trocar o papel com o mapa e as linhas locais. Limpeza feita (mais ou menos), pegaram os petrechos e foram embora. Foi no ponto em frente a esse que vislumbrei, saindo do salão de beleza, as duas beldades “produzidas” com esmero. Altas, caminhavam meio assustadas e pareciam lhamas vestidos de branco ou caneiros anoréxicos, mas eram só poodles.

Um ponto de ônibus animado é o que fica no começo da Conselheiro Rodrigues Alves e atende a várias linhas. Descarregam ali passageiros com destino ao metrô e carregam outros para várias plagas da cidade. Difícil entediar-se ali: há curiosos, abelhudos, metidos a galã, malucos e velhinhos de todos os tipos loucos para contar suas histórias. Os malucos incluem os que descem do ônibus e atravessam a rua no meio trânsito sem se importar com o semáforo alguns metros à frente. As senhoras aproveitam para namorar sapatos na vitrine da esquina; as moças quase sempre estão perdidas no celular; o cardápio do dia anotado em quadro negro é também motivo de consulta e alguns caem na tentação de uma feijoada ou rabada com polenta.

Problema mesmo é aquela pessoa que faz uma pergunta, você responde educadamente e de repente ela está contando sua vida ou, o que é pior, suas doenças. Foi num desses pontos que o homem magro, roupas surradas, higiene muito a desejar, começou a me contar suas agruras. Não o incentivei a prosseguir, mas isso não o afetou. Quando disse que tinha lutado na II Guerra e voltara com problemas psicológicos (nisso eu acreditei), demonstrei simpatia, mas me arrependi assim que ele me disse que se reformara como general!!! Felizmente, o ônibus chegou logo e me despedi do general, que nem da banda era já que a patente pertencia a Otávio Henrique de Oliveira, o querido Blackout (1919-1983).


terça-feira, 8 de agosto de 2023

A LUA, O LUAR E DOIS POETAS.

 

O poema mais conhecido do mineiro Alphonsus Guimaraes (1870-1921) é “Ismália”, que fazia parte da antologia de poetas brasileiros adotada pelo Liceu Feminino Santista, lá pelos idos de 1960. A professora só não ensinou que em grego o nome da personagem significa desejo de amor.

ISMÁLIA

Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar…
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar…
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar…

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar…
Estava perto do céu,
Estava longe do mar…

E como um anjo pendeu
As asas para voar…
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar…

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par…
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar…

 

No centenário de nascimento de Alphonsus Guimaraes, Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) escreveu “Luar para Alphonsus” em homenagem ao conterrâneo.

 

LUAR PARA ALPHONSUS

Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)

 

Mas não é para soltar foguete nem fazer
os clássicos discursos ao povo mineiro
dando ao espectro do poeta o que faltou ao poeta
numa vida banal sem esperança.

É para sentir o luar
extra que envolve
Ouro Preto, Mariana, Conceição
filtrado suavemente
da poesia de Alphonsus, no silêncio
de sua mesa de juiz municipal
meritíssimo poeta do luar.

Algum estudante, sim, espero vê-lo
debruçado sobre a Pastoral aos crentes
do amor e da morte, penetrando
o cerne doceamargo
de um verso alphonsino cem por cento.
Algum velho da minha geração,
uns poucos doidos mansos, e quem mais?
Onde o poeta assiste, não há cocks
autógrafos, badalos, gravações.
Está cerrado em si mesmo (tel qu’en lui-même
enfin l’éternité le change
…)
e descobri-lo é quase um nascimento
do verbo:
cada palavra antiga surge nova
intemporal, sem desgaste vanguardista, lua
nova, na página lunar.

E essa lua eu peço: aquela mesma
barquinha santa, gôndola
rosal cheio de harpas
urna de padre-nossos
pão de trigo da sagrada ceia
lua dupla de Ismália enlouquecida
lua de Alphonsus que ele soube ver
como ninguém mais veria
de seus mineiros altos miradouros.

O poeta faz cem anos no luar.


Ilustração: "Lua Cheia" (1919), de Paul Klee (1879-1940). 

domingo, 6 de agosto de 2023

SEMANA COM POESIAS

 

Para começar escolhi Alberto de Oliveira, poeta fluminense que nasceu em 1857 em Palmital de Saquarema e faleceu em Niterói em 1937. Ocupou a cadeira 8 da Academia Brasileira de Letras (fundador). “Nem todos cantam tudo; e o erro talvez da geração nova será querer modelar-se por um só padrão. O verso do Sr. Alberto de Oliveira tem a estatura média, o tom brando, o colorido azul, enfim um ar gracioso e não épico”, opinião de Machado de Assis, num ensaio de 1879.

 

Crescente de Agosto

Alberto de Oliveira

 

Alteia-se no azul aos poucos o crescente,

O ar embalsama, os cirros leva, o escuro afasta;

Vasto, de extremo a extremo, enche a alameda vasta

E emborca a urna de luz nas águas da corrente.

 

Na escumilha da teia, onde a aranha indolente

Dorme, feita de orvalho, uma pérola engasta.

Faz aos lírios mais branca a flor cetínea e casta,

Mais brancos os jasmins e a murta redolente.

 

Faz chorar um violão lá não sei onde... (A ouvi-lo

Na calada da noite, um não sei quê me invade)

Faz que haja em tudo um como estranho espasmo e enlevo;

 

Faz as cousas rezar, ao seu clarão tranquilo,

Faz nascer dentro em mim uma grande saudade,

Faz nascer da saudade estes versos que escrevo.

 

In: Poesias, Quarta série. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1928.

(Observação: ouso esclarecer o significado de duas palavras pouco usadas: cetínea – acetinada, e redolente, aromática.)


                                      "Estrada com cipreste e estrela", de 1890,8 Van Gogh. 

sábado, 5 de agosto de 2023

ANDANÇAS RECENTES

 

Andanças recentes pela cidade, aproveitando veranico sem fim.

Palácio Campos Elíseos – iniciado em 1890 e finalizado em 1899. Av. Rio Branco, 1269. Atualmente, Museu das Favelas.


Passagem subterrânea da estação Sé do metrô: gotículas de água da fonte externa formam uma delicada cortina. (A área foi recuperada após anos com um cheiro horrível.)

As escadarias de mármore do Tribunal de Justiça de São Paulo (Praça João Mendes). Projeto: Ramos de Azevedo; prédio inaugurado oficialmente em 1942, foi sendo ocupado aos poucos desde 1933.

Recepcionistas (por assim dizer) da Turquesa, uma loja com produtos variados - de bijuterias a coisas para decoração.

Parque do Carmo: fazia tempo que não via um bambuzal.

“Vem sonhar”, convite do circo Patati Patatá, no Tatuapé. Dá um colorido especial ao bairro. Pertinho do metrô Belém. Rua Uriel Gaspar, 149. 


sexta-feira, 4 de agosto de 2023

FLORAÇÃO DAS CEREJEIRAS

 

Elas não dão frutos, mas na primavera nos proporcionam o mais puro encantamento porque nada é mais delicado do que as flores das cerejeiras e seu colorido suave entre branco e rosa. Neste e no próximo final de semana, acontece a 43ª Festa da Cerejeira no Parque do Carmo, situado em Itaquera, Zona Leste de São Paulo. O Bosque das Cerejeiras fica próximo ao lago e, ao chegar, o visitante se vê entre 4 mil pés de cerejeiras floridas. O evento tem várias atrações – confira a programação no site da prefeitura.

Não há desculpa para perder a festa: o parque tem estacionamento, mas quem não tem carro pode ir de metrô (Linha vermelha) descer em Itaquera, onde há uma linha especial no terminal de ônibus que sai da Plataforma E: 4050/10 Metrô ItaqueraPq. do Carmo. Outra possibilidade para quem quiser ir mais cedo é a linha 3743/10 São Mateus no mesmo terminal.

Atenção para os horários diferenciados da linha.4050/10 Metrô Itaquera – Pq. do Carmo.

·         Dia 4 e 11 sexta-feira, das 12h às 18h.   

·         Dia 5 e 12  sábado, das 9h às 18h. 

·         Dias 6 e 13  domingo, das 9h às 18h. 

ônibus de outras procedências.

·         3027/10 CPTM Guaianases Shop. Aricanduva 

·         352A/10 Jd. Helena Terminal São Mateus 

·         3743/10 São Mateus Metrô Itaquera 

·         4002/10 Guaianases Term. Vl.Carrão

 


Organização da Festa das Cerejeiras do Parque do Carmo: Federação de Sakura e Ipê do Brasil.