domingo, 31 de março de 2019

COSIPA: 1966 , A INAUGURAÇÃO DA USINA INTEGRADA.

A Companhia Siderúrgica Paulista – COSIPA foi inaugurada há 53 anos pelo presidente da República marechal Humberto de Alencar Castelo Branco (1900-1967), que foi recebido pela diretoria da siderúrgica encabeçada pelo empresário e professor Iberê Gilson (1917-1996). A COSIPA foi constituída em 23 de novembro de 1953. O empresário e engenheiro Martinho Prado Uchôa, um dos fundadores da empresa, contou em depoimento que a ideia surgiu em 21 de abril de 1951, durante uma visita às instalações da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a primeira usina de coque do Brasil. 

O interessante da história é que a usina tinha nome e endereço quando ainda se encontrava no plano das ideias: ela seria em Cubatão e se chamaria Companhia Siderúrgica Paulista. A ideia dos empresários paulistas (entre eles Plínio de Queiroz, Alcides da Costa Vidigal e Herbert Levi) foi bem recebida: conseguiu apoio da Assembleia Legislativa e da imprensa. Foi percorrido um longo caminho para levantar os recursos necessários para criar a empresa, comprar a área, realizar o projeto e começar as obras. Passo importante foi a compra do terreno de aproximadamente 70 alqueires (cerca de 4,1 milhões de m²), em Piaçaguera, Cubatão, de propriedade de Adelino da Rocha Brites.
        Aos poucos a siderúrgica, formada com capital privado, federal e estadual, começou a se tornar realidade. No dia 4 de março de 1959, o presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira (1902-1976) e o governador Carvalho Pinto (1910-1987) participaram da cerimônia de início das obras, acompanhados pela diretoria da empresa, presidida por Teodoro Quartim Barbosa (1896-1968).
DINHEIRO
JK INAUGURA OBRAS DA COSIPA EM CUBATÃO
O presidente Juscelino Kubitschek presidiu ontem, em Cubatão (SP), as solenidades de inauguração das obras da Cosipa (Companhia Siderúrgica Paulista). Estiveram presentes o presidente da companhia, Teodoro Quartim Barbosa, e o governador paulista, Carvalho Pinto.  ("Folha da Noite", 4/3/1959)
   À medida que os setores da usina eram concluídos, faziam-se as inaugurações: em 18 de dezembro de 1963 o presidente João Goulart (1918-1976) inaugurou a Laminação a Quente; em 15 de outubro de 1964, a Laminação a Frio foi iniciada e a festa teve participação do presidente da França Charles de Gaulle (1890-1970). O Alto-Forno 1, unidade central de uma siderúrgica e considerado o maior do Brasil, começou a funcionar em 28 de outubro de 1965 com a presença do General Edmundo de Macedo Soares (1901-1989). Em março de 1966, quando os conversores da Aciaria e as bias de Coque começaram a operar, a usina tornou-se uma siderúrgica integrada, operando as três etapas produtivas do setor: transformação do minério em gusa, a gusa em aço e o aço em produtos planos.
           Depois de uma presença muito importante na Baixada Santista, gerando empregos e empreendimentos a história da Usina José Bonifácio de Andrada e Silva da Companhia Siderúrgica Paulista mudou. Na década de 1990, o governo Collor a colocou na lista de privatização por causa dos problemas financeiros e em 1993 a empresa foi privatizada. Apesar das medidas tomadas pelos novos donos, a situação não melhorou. Em 2005 a Cosipa se tornou subsidiária da USIMINAS, que em 2008 iniciou o procedimento de incorporação da siderúrgica paulista tendo como ”finalidade a busca de maior sinergia administrativa e operacional, além de redução de custos e otimização de recursos no processo de produção do aço“. (Editado.)

sábado, 30 de março de 2019

LEMBRANÇAS DE VIAGEM


A falta de educação e o desrespeito ao patrimônio público atingem, especialmente, os monumentos que homenageiam figuras históricas e as esculturas que enfeitam as ruas, praças e avenidas dos municípios brasileiros. O fato causa um sentimento de imensa tristeza quando você caminha pelas cidades de outros países e encontra o patrimônio cultural preservado através dos séculos. Um dia não resisti ao encanto de uma pequena fonte de uma cidade alemã e a fotografei. Desde então sempre que tenho oportunidade registro monumentos e esculturas que encontro no caminho. Selecionei algumas da Alemanha (Berlim, Koblenz, Bonn e Remagen) para este sábado outonal cheio de sol. Data: outubro de 2006.

Descuido da mãe e o garoto se diverte.
 
Boon: homenagem a Bethoveen, o filho genial. 
Cena de baile em praça de Koblenz.
Leitora, figura de monumento em Berlim.



Bonn: as cabeças dos santos Cássio e Florêncio.

quinta-feira, 28 de março de 2019

E POR FALAR EM SACI


É muito importante a preservação da cultura popular e cabe a cada um de nós essa tarefa que é bem simples e agradável: contar histórias do folclore nacional, regional e local para os filhos e netos. Nas escolas os professores podem valorizar mais as lendas brasileiras. Essas lendas são resultado da mistura de várias culturas e uma influencia a outra, o que gera variações em cima do mesmo tema. No caso do Saci, por exemplo, dependendo da região do Brasil, o nome do garoto sapeca varia: Saci-Cererê, Saci-Trique, Saçurá, Mati-taperê, Matiaperê, Matim Pererê, Matintaperera, Capetinha da Mão Furada etc. Conta-se também que ele costuma se transformar em passarinho como o Mati-taperê ou Sem-fim – conhecido no nordeste como Peitica. 
O fato de se preservar o folclore nacional, entretanto, não significa que se deve condenar a cultura popular de outros países, afinal, vivemos num mundo quase totalmente interligado com diferentes sociedades, mas as preocupações que as lendas revelam são quase sempre comuns aos povos. Os personagens de Perrault e dos irmãos Grimm convivem muito bem com os personagens de Walt Disney; não vi nem li nada de Harry Potter, mas estou certa que as histórias fazem a alegria de crianças e adultos, assim como super-heróis. O Saci, a Cuca, o Boitatá e a Iara podem se unir ao grupo sem nenhum problema. Afinal, são seres mágicos.
Quem é o Saci? Um brasileiro, acima de tudo. Negrinho com nome indígena. Ele é um garoto e tem uma perna só, fuma cachimbo e usa uma carapuça vermelha que lhe dá poderes mágicos, como o de aparecer e desaparecer aonde quiser. Nem é preciso dizer que é travesso como toda criança. Adora assobiar e pregar peças nas pessoas. (O fumo hoje é um problema, mas cabe aos responsáveis o esclarecimento sobre os riscos do tabaco.)
Nas palavras de Monteiro Lobato: “O saci é um diabinho de uma perna só que anda solto pelo mundo, armando reinações de toda sorte e atropelando quanta criatura existe. Traz sempre na boca um pitinho aceso, e na cabeça uma carapuça vermelha. A força dele está na carapuça, como a força de Sansão estava nos cabelos”. Ele conta que o Saci faz tantas reinações quanto pode: “azeda o leite, quebra pontas das agulhas, esconde as tesourinhas de unha, embaraça os novelos de linha, faz o dedal das costureiras cair nos buracos, bota moscas na sopa, queima o feijão que está no fogo, gora os ovos das ninhadas. Quando encontra um prego, vira ele de ponta pra riba para que espete o pé do primeiro que passa. Tudo que numa casa acontece de ruim é sempre arte do saci. Não contente com isso, também atormenta os cachorros, atropela as galinhas e persegue os cavalos no pasto, chupando o sangue deles. O saci não faz maldade grande, mas não há maldade pequenina que não faça”.
O relato faz parte do livro O Saci, em que o autor envolve Pedrinho, Narizinho e Emilia em aventuras com vários personagens do folclore brasileiro, como a Cuca, o Boitatá e a Iara.
O Saci já frequentou até a página do Ministério da Cultura em 2005, quando se realizou um manifesto de apoio a dois projetos de lei para a criação do Dia Nacional do Saci, em tramitação conjunta na Câmara dos Deputados, com aprovação na Comissão de Educação. Não passou daí. Bom mesmo é que o Estado de São Paulo e a própria cidade de São Paulo, tão cosmopolita, já comemoram em 31 de outubro o Dia do Saci, assim como São José do Rio Preto e Vitória do Espírito Santo.
"Conhecimento", de Maria Graziela de O., de
 Barueri.
São Luis de Paraitinga, no interior de São Paulo, é sede Sociedade dos Observadores de Saci (SOSACI). E imaginem que a Associação Nacional dos Criadores de Saci – ANCS, com sede em Botucatu há mais de 20 anos, mantém uma fazenda de criação de saci, segundo o presidente e fundador José Oswaldo Guimarães. O município de Barueri, ao promover o concurso nacional e a exposição de artes plásticas sobre o “Saci: 100 depois do Inquérito” – inclusive com aquisição de obras –, contribui para a valorização do nosso folclore. 
A exposição está no Centro Cultural dos Correios, Avenida São João, s/nº - Vale do Anhangabaú, Estação São Bento do Metrô. 

quarta-feira, 27 de março de 2019

BARUERI E O SACI


Hoje fui a Barueri de trem procurar Saci. A cidade completou 70 anos de emancipação ontem (26/03). A viagem começou na Barra Funda de onde parte o trem (linha 8 – Diamante) com destino a Amador Bueno. Vagões limpos, bancos em boas condições, ar condicionado e pouca gente por causa do horário.
A paisagem lá fora não é de arrebatar; dá uma visão das diferenças sociais do país. Os nomes das estações também chamam atenção: a Imperatriz Leopoldina está entre dois dirigentes do Estado de São Paulo – Domingos de Moraes e Presidente Altino (Arantes). Não faltam Santa Rita e Santa Terezinha, sem contar a estação Sagrado Coração. O bairro Antônio João surgiu da Fazenda Militar Antônio João que era responsável pelo abastecimento das unidades militares da região.
Chego ao terminal rodoferroviário – típico de uma boa cidade interiorana. Barueri tem cerca de 240 mil habitantes. No quiosque de informações (fechado) leio “BARUERI, CIDADE INTELIGENTE”. Deve ser – tem 11 bibliotecas e um Clube de Leitura cujo bordão é “Quem lê sabe mais”.
Sem destino caminhei até a Avenida Henriqueta Mendes Guedes – que em vez de um modesto canteiro central tem um amplo calçadão com bancos para namorados (havia pelo menos um casal arrulhando em um deles) e onde ocorrem diversas atividades. Descobri que o outro lado da rua tem nome diferente – Avenida Vinte e Seis de Março!
Avisto a igreja de São João Batista (1997) que foge dos padrões tradicionais e é muito bonita. Fica do lado da Avenida Henriqueta Guedes. As paredes laterais são de vidro, garantindo iluminação natural e permitem a integração do jardim com o interior da igreja. Na parte superior, destacam-se bonitos vitrais. 


Esqueci-me do Saci e fui almoçar num restaurante muito simpático que fica no meio de uma ladeira. Então bateu a preguiça e nem fui olhar o rio Tietê...






segunda-feira, 25 de março de 2019

TODO DIA É DIA DE SACI

Volta e meia os idiotas de plantão querem censurar José Bento Monteiro Lobato (1882-1948), mas agora parece que querem reescrever a obra do escritor! Não sei nem quero saber o pretexto para esse crime – sim, porque em minha opinião, é crime. Monteiro Lobato sempre foi polêmico. Gostava de incomodar os bem instalados. Quem não concordar com as ideias ou as histórias de Lobato deve escrever livros e artigos, teses embasando suas opiniões e divulgá-las. Fácil tentar mudar o passado, quando há tanta coisa importante para ser resolvida no presente.
A questão me ocorreu ao visitar a exposição do Centro Cultural Correios “Sacy-Pererê – 100 anos após o inquérito” que aborda uma iniciativa pouco conhecida do escritor. Em janeiro de 1917 Monteiro Lobato iniciou uma pesquisa entre os leitores e assinantes do jornal O Estado de S. Paulo sobre o Saci Pererê. O objetivo era colher informações sobre a figura folclórica mais conhecida pela tradição oral e citada por poucos escritores. Em pouco tempo conseguiu “83 depoimentos escritos narrando ‘causos’, relatos, poesias e partituras de cantigas”, envolvendo o garotinho de uma perna só e seu cachimbo.
O participante pouco lembrado, mas fundamental no projeto de Lobato, foi o Serviço Postal dos Correios, coletando e entregando as correspondências para a enquete.
Lobato complementou o projeto com um concurso de artes plásticas que resultou em uma exposição sobre o Saci Pererê na Rua Líbero Badaró, 111 (local onde anos mais tarde a pintora Anita Malfatti faria a exposição que tanto desagradou Lobato).  
A pesquisa gerou o livro “Sacy Pererê: Resultado do Inquérito” (1918). Foi o primeiro livro de Monteiro Lobato e o primeiro dedicado exclusivamente ao personagem folclórico. A edição teve uma tiragem de dois mil exemplares e foi impressa na Gráfica do jornal Estado de S. Paulo. Os recursos vieram dos anúncios ilustrados por Volttolino (João Paulo Lemmo Lemmi – 1884/1926)  em que o Saci apresentava e recomendava vários produtos. Lobato não assinou a obra porque considerou que seu papel foi de organizador e editor dos textos recebidos. Em 1998 foi lançada uma edição fac-similar e em 2008 o livro foi relançado pela Editora Globo com a atualização ortográfica.   
A mostra do Centro Cultura Correios (SP) é o resultado de um concurso temático de artes visuais, promovido pela Prefeitura de Barueri (SP) para comemorar o centenário da mostra paulistana. Os sete melhores trabalhos foram premiados e adquiridos pela Pinacoteca Municipal de Barueri.


domingo, 24 de março de 2019

CONSELHO ATEMPORAL

Jardim Botânico de Glasgow, Escócia, 2015. 

“Que ninguém hesite em se dedicar à filosofia enquanto jovem, nem se canse de fazê-lo depois de velho, porque ninguém jamais é demasiado jovem ou demasiado velho para alcançar a saúde do espírito. Quem afirma que a hora de dedicar-se à filosofia ainda não chegou, ou que ela já passou, é como se dissesse que ainda não chegou ou que já passou a hora de ser feliz. Desse modo, a filosofia é útil tanto ao jovem quanto ao velho: para quem está envelhecendo sentir-se rejuvenescer por meio da grata recordação das coisas que já se foram, e para o jovem poder envelhecer sem sentir medo das coisas que estão por vir; é necessário, portanto, cuidar das coisas que trazem a felicidade, já que, estando esta presente, tudo temos, e, sem ela, tudo fazemos para alcançá-la.” 
Carta sobre a Felicidade (a Meneceu), de Epicuro (341 a. C.-270 a. C.).

sábado, 23 de março de 2019

NUVEM


Rondel
No céu em que banho meu ser,
E meu olhar longo espaireço,
De uma só nuvem o tropeço
Obriga a cisma a se deter...

Por que de tão fundo querer
Me para a nuvem o arremesso
No céu em que banho meu ser
E meu olhar longo espaireço?

Aonde irias tu bater
Oh! pensamento meu travesso,
Se não acharas esse espesso
Floco de arminho se mover
No céu em que banho meu ser?...

José Maria Goulart de Andrade(1881-1936). 




Nuvem passageira: Filadélfia (EUA), 2013.


sexta-feira, 22 de março de 2019

A PAUTA DOS SONHOS

Nunca me preocupei em saber se um escritor pertencia ou não à Academia de Letras. Nem o fato de ser enaltecido como acadêmico me motivou a ler algum autor. Além de saber que Machado de Assis foi o primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras, não saberia apontar nenhum membro. Com o tempo e o falatório em torno de certas eleições contemporâneas, fiquei decepcionada com o viés político que a instituição demonstrava sem pejo. José Sarney, escritor? Deixou um rastro na história nacional lamentável. Getúlio Vargas que, provavelmente, não escrevia os próprios discursos, também é acadêmico. Paulo Coelho? Por ser o escritor brasileiro que mais vendeu livros (210 milhões de exemplares)? Quantidade nunca foi sinônimo de qualidade. 
A Academia despertou meu interesse no ano passado, quando vi na livraria da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo um livro do premiado professor, escritor e jornalista Adelto Gonçalves sobre o poeta Tomás Antônio Gonzaga. A obra faz parte da série ESSENCIAL que “se propõe a oferecer informações básicas sobre cada um dos ocupantes das 40 cadeiras” da Academia ao longo de seus 122 anos de existência. Os trabalhos incluem ainda uma pequena antologia dos acadêmicos. Cada livro no formato de bolso tem pouco mais de 60 páginas.
Autores variados, textos leves e agradáveis que convidam a continuar a leitura. Já li vários livros, começando por escritores que foram esquecidos como Humberto de Campos e Raimundo Correia e que li na adolescência. Entre os primeiros selecionados estão naturalmente Vicente de Carvalho e Ruy Barbosa. Foi uma surpresa encontrar entre os membros da Academia Oswaldo Cruz, Santos Dumont e Felix Pacheco.
Ou então encontrar histórias saborosas de acadêmicos misturadas. Caso do jovem jornalista DOMÍCIO DA GAMA (1862-1925), novato da Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro. Ao ser chamado pelo diretor para cobrir uma exposição, Domício quis saber se era no Centro do Rio, contudo a tarefa seria mais longe: Paris, onde se realizava a Exposição Internacional de 1889 que coincidia com a comemoração dos 100 anos da Revolução Francesa. Em Paris, o foca foi entregar a carta de recomendação a ninguém menos que EDUARDO DA SILVA PRADO (1860-1901), no apartamento na Rua de Rivoli, importante centro intelectual. A chegada de Domício interrompeu o chá de Eduardo Prado com JOSÉ MARIA DA SILVA PARANHOS JÚNIOR (1845-1912), o Barão do Rio Branco. Aquele encontro marcou o início de uma grande amizade entre o Barão e Domício da Gama, que trocou o jornalismo pela diplomacia e chegou a ser Ministro das Relações Exteriores do Brasil (1918-1919) e embaixador em Londres (1920-1925). A obra literária restringiu-se ao período do jornalismo. Foi eleito membro da ABL em 1887, ocupando a cadeira de Raul Pompeia.

DOMÍCIO DA GAMA: cadeira 33, ocupante 1. Ronaldo Costa Fernandes. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2011.
TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA: cadeira 37, patrono. Adelto Gonçalves. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2012.
EDUARDO DA SILVA PRADO: cadeira 40 ocupante 1 (Fundador). Benício Medeiros. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2016.

quarta-feira, 20 de março de 2019

VERÃO 2019...

São Vicente, verão de 2019.

Mais um verão vai chegando ao fim. Dias de céu azul. Dias mais adequados à preguiça, à sombra e água fresca, à observação de nuvens esgarçadas deslizando preguiçosamente ao sabor de brisas. E ao se aproximar o final desses dias que nos chamam para fora de casa resta uma terna nostalgia que vai se afogando nas águas de março.  Os dias azuis vão se acinzentando com o passar das horas e no fim das tardes as nuvens negras se desfazem em lágrimas, precedidas por raios que riscam os céus em desenhos futuristas e desaparecem antes que se ouça o som retumbante dos trovões. As noites chegam prometendo mais chuva ou simplesmente uma lua esplendorosa.

O PESTANA ERRADO

O SESC Carmo (SP) promove concertos nas igrejas do centro paulistano na hora do almoço. O projeto procura divulgar a música erudita e promover o conhecimento do patrimônio artístico das antigas igrejas da cidade. Há alguns anos me programei para um concerto de órgão na Catedral Evangélica de São Paulo. Adoro órgão e não conhecia a catedral. No dia aprazado, peguei o ônibus desci na Praça João Mendes e me embarafustei pela antiga Ladeira do Carmo que, aparentemente, acaba num imenso viaduto. Indaguei pela igreja e me apontaram a Igreja Nossa Senhora do Carmo. Não. Eu procurava uma igreja evangélica, que ninguém conhecia, mas informaram que a Avenida Rangel Pestana continuava após o viaduto. Sob o sol do meio-dia de um verão especialmente quente, atravessei heroicamente o viaduto e me vi outra vez na avenida. Bem adiante vislumbro a Igreja do Bom Jesus do Brás, que também não conhecia, mas nenhuma outra igreja à vista. A essa altura o concerto já devia ter começado e me contentei em visitar o templo católico. Vazio. Silencioso. Voltei de metrô para casa. Inconformada, consultei o programa que havia esquecido em casa.
Oh! Céus! Erro de pestana. A Catedral Evangélica de São Paulo fica na Rua NESTOR Pestana na Consolação! Um carioca, outro paulista. Ambos jornalistas. Francisco RANGEL Pestana (1839-1903), o carioca, formou-se pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco e na mesma época iniciou a carreira jornalística na cidade. NESTOR Pestana (1877-1933) começou no jornalismo muito jovem e antes de ingressar em “O Estado de S. Paulo”, que dirigiu após a morte de Júlio de Mesquita, fundou um matutino em Santos com o poeta Vicente de Carvalho.  
USP Imagens. Foto: Marcos Santos.
Enfim, em breve conhecerei a Catedral Evangélica de São Paulo porque o novo órgão cedido pela Universidade de São Paulo à Catedral será inaugurado sexta-feira (22) com um concerto para convidados; mas a programação aberta ao público continua às sextas-feiras, sábados e domingos até o mês de junho. O órgão, fabricado pela empresa Gerhard Grenzing, é composto de cinco corpos, 3.400 tubos de metal e 175 tubos de madeira.
Catedral Evangélica de São Paulo: Rua Nestor Pestana, 136/152 (Metrô República).

terça-feira, 19 de março de 2019

A MEMÓRIA SE APAGANDO


Em Santos, depois de um cafezinho no Museu do Café  com uma amiga, descemos a Rua XV e viramos na Rua do Comércio. Ali, uma surpresa desagradável: o velho restaurante Alvorada fechou. Estava longe de competir com o Paulista, na esquina com a Praça Ruy Barbosa, mas era um ponto de encontro dos jornalistas apressados que paravam para um sanduíche, um café, cervejas sem conta no final de mais uma edição do matutino. Um papo com o Pepe ou com o Joaquim, donos do Alvorada nos anos 1970, parceiros nas fofocas e sempre interessados nas notícias de primeira mão. Um sério, outro mais risonho. Aquela porta fechada abriu um mar de boas lembranças e saudade de muitos amigos que se foram para sempre.


segunda-feira, 18 de março de 2019

VERÃO (2)

Cabo da Roca, Sintra, Portugal, 2010.

(...)
Para cada hora
uma palavra nova
Aprender com o mar
a forma perfeita
De repetir sem cansar
partindo de um ponto
obscuro além
da linha do horizonte
em navegação permanente
chegar neste remanso
e compor outra história
no estilhaço das ondas
São coisas para aprender
com o mar
em sua linguagem cifrada
recém inaugurada
sempre.

“O mar e sua linguagem”
Narciso de Andrade (1925-2007), paulistano radicado em Santos.


domingo, 17 de março de 2019

VERÃO

"A primeira vez que vi o mar,
não me esqueço. Parece que isso
ficou dentro de mim como uma
necessidade permanente do meu ser.
Teria uns 10 anos (...) foi de chofre,
o mar, uma grandeza longínqua, enorme,
fiquei doentio, não ia, me levavam."
Mário de Andrade (1893-1945). O mar em Santos.


Ilha Urubuqueçaba, Santos (SP), 30 de janeiro de 2019.
"Vento e Sol", tela de Dame Laura Knight (1877-1970).


sábado, 16 de março de 2019

"SELFIES" PRECIOSAS












Os grandes pintores mundo afora não resistiram à tentação de registrar sua imagem para a posteridade. Obras inestimáveis até por nos dar uma ideia de como eram esses maravilhosos artistas. Ou pelo menos como se viam.
Da esquerda para direita a partir de cima:
Rafael di Sanzio (1483-1520) - italiano. 
Peter Paul Rubens (1577-1640) - flamengo.
Diego Velázques (1599-1660) - espanhol.
Nicolas Poussin (1594-1665) - francês.
Rembrandt (1606-1669) - Países Baixos.
Henri Toulouse-Lautrec (1864-1901) - francês. 

quarta-feira, 13 de março de 2019

UM ÓTIMO PROGRAMA


Johann Baptist von Spix (1781-1826), médico, e Carl Friedrich Philipp von Martius (1794-1868), médico, botânico e naturalista não são exatamente nomes populares. Ambos percorreram o Brasil durante três anos. O resultado foi a produção de uma obra extraordinária: catalogaram 6.500 espécies vegetais e criaram um herbário de 20 mil exemplares prensados e centenas de espécies vivas. Entre a fauna, classificaram 85 espécies de mamíferos, 350 de aves, 116 de peixes, 2.700 de insetos, 50 de aracnídeos e 50 de crustáceos, além de minerais e fósseis. Os desenhos são extraordinários. Von Martius escreveu até uma obra de ficção: “Frey Apollonio – Um romance do Brasil”. Um esboço dessa grande aventura pode ser visto na exposição Viagem de Spix e Martius pelo Brasil, na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM) da USP: Rua da Biblioteca, 21, Cidade Universitária, em São Paulo. De segunda a sexta feira, das 8h30 às 18h30 até 26 de abril.  



terça-feira, 12 de março de 2019

LEITURAS DE VERÃO

Enquanto o sol incendiava a cidade com um calor acima do normal, eu me refresquei com leituras bem agradáveis. Terminei o ano lendo a história dos aventureiros nos polos Norte e Sul; em janeiro passei para as “21 lições para o século 21”, de Yuval Noah Harari – sempre instigante.  Em seguida foi a vez de “Cinco Antônios e duas cidades” - de Margarida Cintra Godinho, que traçou a trajetória da família Prado desde século XVIII, quando o Antônio português chegou ao Brasil em busca de ouro. Um livro para ler e ver – belas ilustrações. Então me enredei pela “Cinelândia – breve historia de um sonho”, obra de João Máximo, muito bem editada (Salamandra). Fotos antigas maravilhosas. Vontade de arrumar a mala e ir passear no Rio de Janeiro, mas perambulando pela livraria da UNESP encontrei “O coração da Pauliceia ainda bate”, uma joia de autoria do professor José de Souza Martins. Devorei num fim de semana. Na discoteca Oneyda Alvarenga (CCSP) achei “Os sons que vêm da rua”, do músico e pesquisador José Ramos Tinhorão (1928) – como quase todo mundo agora anda conectado nos celulares as pessoas não devem ouvir o que se passa ao redor. Comprei (e já li) “O teatro à moda”, uma obra satírica de Benedetto Marcello (1686-1739), magistrado e músico diletante. A leitura do momento é “Madame Pommery”, obra satírica de Hilário Tácito, pseudônimo de José Maria de Toledo Malta (1885 - 1951). A obra mostra São Paulo do início do século XX, quando chega à cidade a cafetina polonesa e descobre o poder do café na sociedade emergente paulistana. 


sábado, 9 de março de 2019

CABRAL – O COMEÇO.

Marco do Descobrimento, Lisboa: 2010.


Há 519 anos o capitão-mor português Pedro Álvares Cabral, 33 anos, partiu de Belém, Lisboa, no comando de uma frota de treze navios e mil e quinhentos homens com destino à Índia. Uma grande festa, no dia anterior com a presença do rei D. Manuel I (1569-1621), marcou o evento. A expedição que, oficialmente, tinha caráter comercial era composta por soldados, aventureiros, religiosos e negociantes. Havia até um bom redator, Pero Vaz de Caminha (1450-1500) encarregado de relatar os fatos ao monarca português.


Se Cabral não tinha experiência em navegações de longo curso, lá estavam para assisti-lo Bartolomeu Dias, Diogo Dias e Nicolau Coelho, o que não impediu o “estranho” erro de rota, afinal em vez de desembarcar na Índia eles vieram dar com os costados em Pindorama 44 dias depois. Aliás, Pindorama já pertencia a Portugal que, prevenido, cuidara de assinar com a Espanha o famoso Tratado de Tordesilhas (1494) que definia a divisão de territórios que os dois países viessem a “descobrir”. Cabral apenas tomou posse em nome do rei. Enfim, o destino dos habitantes do Novo Mundo estava traçado antes mesmo que caravelas aportassem por aqui.
Tejo, porto de onde partiu a expedição de Cabral em 9 de março de 1550. (Lisboa, 2010)


sexta-feira, 8 de março de 2019

RESPEITO

 Não caiam nas armadilhas do oportunismo comercial em que o dia da mulher se transformou rapidamente. O objetivo da data, criada pela Organização das Nações Unidas, não é comemoração, mas reflexão sobre a violência e a discriminação que as mulheres sofrem (assim como os homens) ao redor do mundo em todas as culturas, independentemente de classe social. Em vez de se discutir a questão a sério a data virou perfumaria com farta distribuição de brindes, cumprimentos e elogios baratos, divulgação de poemas e músicas.
É melhor refletir sobre o quadro divulgado pela ONU em 2017: anualmente cerca de 50 mil mulheres são vítimas de homicídio – ou seja, 137 mulheres assassinadas por dia! Na maioria dos casos, os companheiros, ex-maridos ou familiares são os responsáveis pelo crime. O relatório elaborado pela ONU revelou que 58% dos casos foram cometidos por familiares. A conclusão é assustadora porque indica que a casa é o lugar mais perigoso para as mulheres.
Em vez de flores e palavrório, mais educação, esclarecimento e respeito. Hoje e todos os dias.

Existe apenas uma verdade universal, aplicável a todos os países, culturas e comunidades: a violência contra as mulheres nunca é aceitável, nunca é perdoável, nunca é tolerável” – Ban Ki-Moon, Secretário-Geral da ONU, 2007 –2017.
Nebulosa da Lagoa, imagem NASA.

quarta-feira, 6 de março de 2019

AGORA É CINZA

"Agora é cinza,
Tudo acabado e nada mais!"

(Agora é cinza, samba de 1934. Composição de Alcebíades Maia Barcelos (Bide)  e Armando Vieira Marçal. Gravação de Mário Reis.

“A luta entre o Carnaval e a Quaresma”, óleo sobre tela de 1559 de Pieter Bruegel, o Velho (1525-1569), pintor dos Países Baixos. Museu de História da Arte de Viena.

terça-feira, 5 de março de 2019

VELHOS CARNAVAIS


Carnavais esquecidos: final dos anos 1940 e início dos anos 1950.


Foto Moderna: Praça José Bonifácio, Santos.

segunda-feira, 4 de março de 2019

CARNAVAL E ARTE

“Eu mesmo... Eu mesmo, Carnaval...
Eu te levava uns olhos novos
Para serem lapidados em mil sensações bonitas.
Meus lábios murmurejando de comoção assustada
Haviam de ser puríssimo destino...
É que sou poeta
E na banalidade larga dos meus cantos
Fundir-se-ão de mãos dadas alegrias e tristuras, bens e males,
Todas as coisas finitas
Em rondas aladas sobrenaturais.”
  (Excerto de “Carnaval Carioca’”, 1923, de Mário de Andrade (1893-1945).

 Jean-Baptiste Debret (1768-1848): registrou o Entrudo no Rio de Janeiro.


Carnaval em Madureira, 1924, de Tarsila do Amaral (1886-1973) e Carnaval, 1960, de Cândido Portinari (1903-1962).

"Carnaval", 1965, de Emiliano Di Cavalcanti (1897-1976).


domingo, 3 de março de 2019

CURIOSIDADES DOS VELHOS CARNAVAIS (4)

“Tempo perdido” (1933), composição de Ataulfo Alves gravada por Carmen Miranda. Décadas depois a música ganhou uma gravação da banda americana Pink Martini formada em 1994. Um clássico de Ataulfo, que também fez sucesso com a banda Legião Urbana, criada em 1982. 






CURIOSIDADES DOS VELHOS CARNAVAIS (3)


Aurora conquistou os foliões no carnaval de 1941, na voz de Joel e Gaúcho. A marchinha é uma composição de Mário Lago (1911-2002) em parceria com Roberto Roberti. Carmen Miranda a incluiu em seu repertório e a música se tornou um sucesso internacional, recebendo 17 gravações só nos Estados Unidos. Aurora ganhou uma versão em inglês, gravada pelas Andrews Sisters (um trio vocal americano que fez imenso sucesso na primeira metade do século XX) e apresentada no filme Segure o Fantasma (1941) da dupla Abbot & Costello.







sábado, 2 de março de 2019

CURIOSIDADES DOS VELHOS CARNAVAIS (2)


“Chiquita Bacana” foi sim para a Martinica na voz da fantástica Josephine Baker (1906-1975) – a artista americana naturalizada francesa que conquistou a Folies Bergères, o grande cabaré parisiense da época. Por lá muito chique virou "Chiquita Madame". O cantor francês Ray Ventura (1908-1979) também gravou a composição de Braguinha  para o carnaval de 1949.
Josephine Baker (1906-1975) nasceu em Saint Louis, Missouri (USA). Foi artista de rua quando criança, mais tarde mudou para Nova York, onde atuou na Broadway. Em 1925 estreou no Théâtre des Champs-Élyséesem Paris. Fez um grande sucesso e decidiu mudar para a França, tornando-se a estrela do Folies Bergères. Naturalizou-se francesa em 1935. Durante a II Guerra Mundial participou da Resistência e foi condecorada posteriormente pelo trabalho realizado.

Ray Ventura (1908-1979), pianista e compositor francês de jazz. Esteve no Brasil durante a II Guerra Mundial e se apresentou com o cantor e compositor francês Henri Salvador, que viveu no Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, e fez sucesso no Cassino da Urca.






CURIOSIDADES DOS VELHOS CARNAVAIS

 Quem não sabe cantar “Mamãe eu quero” (Vicente Paiva e Jararaca), “Chiquita Bacana” (João de Barro e Alberto Ribeiro), “Amélia” (Mário Lago e Ataulfo Alves) ou “Aurora” (Mário Lago e Roberto Roberti)? Não conhecem? Então perguntem a seus pais e avós porque eles devem ter ótimas recordações dos bailes em que cantavam esses clássicos do carnaval. E essas músicas fizeram sucesso pelo mundo afora. 
Carlos Alberto Ferreira Braga pode ser que pouca gente conheça, mas Braguinha ou João de Barro é sinônimo de carnaval. Em 1937 ele compôs com Max Bulhões e Milton de Oliveira o samba “Não tenho lágrimas”, que se tornou um grande sucesso. Gravação: Patrício Teixeira (1893-1972). Gravada anos depois por Nat King Cole.

         Assim como “Touradas em Madri”, 1938. Composição de Braguinha e Alberto Ribeiro. Gravação: Almirante. Carmen Miranda gravou em 1939. Em 1940 ela a cantou no filme “Serenata Tropical” e gravou uma versão em inglês em 1947: “The Matador”. Vídeo com as Andrews Sisters.

"Carmen Miranda e The Andrews Sisters - The Matador (1947)
 / Touradas de Madrid".




sexta-feira, 1 de março de 2019

ALINHAVOS CARNAVALESCOS


Março este ano chega fantasiado, mais alegre, sem aquele jeito sério de ser, deixando as preocupações com o famigerado leão para mais tarde. Nem se precisa pedir que chova três dias sem parar, pois em março as águas sempre vão rolar. Foliões e celebridades de plantão não se importam. Com que roupa? Isso não é mais problema. Qualquer uma do guarda-roupa moderno. Pelas vitrines da vida percebo que é carnaval o ano todo. Ou se o corpinho estiver nos conformes, basta seguir o exemplo de Chiquita Bacana, lá da Martinica, que se vestia com uma casca de banana. Não sei bem se foi na fantasia da moça que o tal “nego” bebo escorregou e quase caiu. (Por que bebes tanto assim, rapaz?) Yes, nós temos bananas
Nem sei se está na moda comprar um pierrô de cetim, um pandeiro e um violão para alegrar o coração. Só se for um pierrô sentimental, um sonhador desmilinguido por Colombina e que acabou entrando num botequim bebeu, bebeu, saiu assim, assim e ainda foi tomar vermute com amendoim. Ah! Essa Colombina que acha o Pierrô cacete e o despacha para tomar sorvete com Arlequim... Mas no salão, repleto de palhaços, Arlequim chora pelo amor da Colombina.
É tempo de carnaval. Há sensualidade no ar. Languidez, voluptuosidade ou libertinagem. Talvez seja o verão, a lua cheia, a música... O erotismo parece envolver a natureza, pois até “o mar passa saborosamente a língua na areia (...)” e “por trás de uma folha de palmeira/ A lua poderosa, mulher muito fogosa/ Vem nua, vem nua/ Sacudindo e brilhando inteira”.
As musas são Maria, Mimi, Chiquita, Madalena, Filisbina, Pimpinella, Bráulia, Zazá, Aurora, Juraci, Florisbela, Júlia, Dedé, Amélia, Luzia e até Dona Balbina – que sem ser libertina, aprecia a orgia. Anda, Luzia, pega o pandeiro e cai no carnaval.
Os homens correm atrás de sereias nas praias e nos salões, avenidas e morros; choram seus desencantos em bondes e barcos e até acreditam que “mais difícil, muito mais é conjugar o verbo amar”. Loiras, morenas, ruivas não importa, a pergunta é a mesma: “viram meu amor por aí?” Vão atrás da paixão até de lambreta, se for preciso. Por aí desfila seu Cornélio, sempre o último a saber; já o João Pouca Roupa tem dinheiro no banco, meu bem. Hora de gritar me dá um dinheiro aí! Há ainda Edgard, Lourival, Zé Marmita e Gildo. O Rui, que teve a mulher roubada, preferiu calar suas mágoas já que sua desgraça era pública e notória. O problema dele era mesmo dinheiro!
         A tristeza da amada, entretanto, não impede o saçarico do amante: “tu andas tão triste/ somente a chorar/mas por isso eu não vou/me privar de dançar/ tu sabes que eu faço/ o passo na rua/ mas é pensando na imagem tua!”. Uma graça. Enquanto isso o velho saçarica na porta da "Colombo"...
         “E como ‘vaes’ você?" – perguntava Ary Barroso. E com ele respondo que “No mar desta vida/ Vou navegando/ Vou temperando”. Nessa folia, carecas, pernas-de-pau, tagarelas estão unidos mais do que nunca. Politicamente incorreto? “Desculpe-me, não me leve a mal. É carnaval”. Quase.
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A crônica foi baseada nas seguintes músicas de carnaval:

“Dona Balbina”, 1929. Composição de Josué de Barros. Gravação: Carmen Miranda.
Tempo perdido, 1933. Composição de Ataulfo Alves. Gravação: Carmen Miranda.
“Viram meu amor por aí?”, 1934. Composição de João de Freitas Ferreira (Jonjoca). Gravação: Jonjoca.
“Pierrô apaixonado”, 1935. Composição de Heitor dos Prazeres e Noel Rosa. Gravação: Joel e Gaúcho.
“Passado, presente e futuro”, 1935. Composição de Herivelto Martins e Francisco Senna. Gravação: Dupla Preto e Branco.
“Comprei uma fantasia de pierrô”, 1936. Composição de Lamartine Babo e Alberto Ribeiro. Gravação: Francisco Alves.
“Como 'vaes você'?”, 1936, composição de Ary Barroso. Gravação: Carmen Miranda.
“Manda embora essa tristeza”, 1936. Composição de Capiba. Gravação: Aracy de Almeida.
“Minha Companhia É a Colombina”, 1941. Composição: Lamartine Babo / Moacyr Araújo. Gravação: Orlando Silva.
“João Pouca Roupa”, 1942. Composição de Cinco Azes do Samba. Gravação: Os Bacharéis do Ritmo.
“Eu não posso viver sem mulher”, 1945. Composição de Roberto Martins e Mário Rossi. Gravação: Nelson Gonçalves.
Seu Cornélio, 1946. Composição de Marino Pinto e Eratóstenes Frazão. Gravação de Linda Batista.
“Chiquita Bacana”, 1949, composição de Braguinha e Alberto Ribeiro. Gravação: Emilinha Borba.
“Tomara que chova”, 1951. Composição de Paquito e Romeu Gentil. Gravação: Emilinha Borba.
“Tem nego bebo aí”, 1959. Composição de Mirabeau e Ayrton Amorim. Gravação: Carmen Costa. Ferreira – Homero, Glauco e Ivan. Gravação: Moacir Franco.
 “Máscara Negra”, 1967. Composição de Zé Kéti e Pereira Matos. Gravação: Zé Kéti.
“Yes, nós temos bananas”, 1967. Composição de João de barro e Alberto Ribeiro. Gravação: Caetano Veloso.
“Minha companhia é a colombina”, Composição: Lamartine Babo. Gravação: Orlando Silva.
 “Folia no matagal”, 1981. Composição de Eduardo Dusek. Gravação: Maria Alcina.