quinta-feira, 30 de novembro de 2023

PRAÇAS DE LISBOA

 

O dia amanheceu chuvoso, mas o sol vai rompendo as nuvens, prometendo uma agradável manhã de primavera. Pombos e gaivotas se confraternizam num banho matinal, na busca de alimento entre o lixo deixado pelos displicentes. Praça Martim Moniz.

Do outro lado da praça o velho bairro da Mouraria.

Na área histórica de Lisboa há um conjunto de praças amplas e próximas uma das outras muito agradáveis para se caminhar

Praça dos Restauradores, com um obelisco comemorativo ao final do domínio espanhol em 1640 e homenageia os restauradores da independência. O monumento de 30 metros de altura foi inaugurado em 1886.



A Praça D. Pedro IV é um tanto brasileira, pois o primeiro imperador do Brasil, D. Pedro I, após abdicação, assumiu o trono português com o título de D, Pedro IV. O monumento no centro da praça que representa o rei português coroado de louros empunhando a Carta Constitucional por ele outorgada. A escultura de autoria de Elias Robert foi inaugurada em 1870. Atrás da estátua encontra-se o Teatro Nacional Dona Maria II, obra em estilo neoclássico com capacidade para 950 pessoas. Foi inaugurado quando a rainha Dona Maria, filha de D. Pedro I e nascida no Rio de Janeiro, completou 27 anos.  O revestimento do piso também nos traz à lembrança os calçadões do Rio de Janeiro...

 


Até 1755, a área da Praça da Figueira era ocupada pelo Hospital de Todos os Santos, destruído pelo terremoto que arrasou a cidade. No período da reconstrução, o local transformou-se em um mercado até que em meados do século XIX construiu-se um mercado coberto, demolido na década de 1950.

O caminhante pode optar pela rua da Prata ou dos Dourados para chegar à grandiosa Praça do Comércio, à beira do Tejo, mas isso já foi outra história.

Fotos: Hilda Araújo.

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

ANTÔNIO RIBEIRO

 


ALÉM-BAR 

Antônio Ribeiro 

 

Me encosto num balcão de bar 
e se o mundo acabasse agora 
terei deixado um olhar torto 
sobre a superfície das coisas.

Não estou preso no meu corpo 
a minha luta é espiritual 
contra as potestades do alívio 
contra os espíritos da brisa.

Lá está ele entre Camões, Eça e Pessoa, sentado num banco, como se estivesse chamando cada um de nós para versejar, zombeteiramente, sobre a vida e as pessoas. Chamava-se Antônio Ribeiro (1520-1591), conhecido como o poeta do Chiado, bairro de Lisboa, onde ele viveu. Ribeiro nasceu em Évora, entrou para a Ordem dos Franciscanos que deixou sem, entretanto, abandonar o hábito que usou por toda vida, assim como manteve o celibato. Trocou Évora por Lisboa, onde se tornou uma figura popular por seu talento de improvisador e capacidade para imitar vozes e pessoas. A estátua em sua homenagem, criação do escultor Costa Motta, foi inaugurada em 1925. No Chiado, naturalmente.

sábado, 25 de novembro de 2023

VERDE E OCRE: COMBINAÇÃO PERFEITA

 


Se a Praça Jemaa el Fna não tem árvores, não faltam espaços verdes em Marraquexe. Nas praças, os bancos à sombra de árvores frondosas estão sempre ocupados e há sempre alguém rondando à espera de um lugar para descansar e se abrigar do sol. Às vezes, o cansaço vence...

Jacques Majorelle criou um tom de azul que recebeu seu nome.

Uma das principais atrações de Marraquexe é o Jardin Majorelle, uma herança do estilista francês Yves Saint Laurent (1936-2008) e seu sócio Pierre Bergé (1930-2017), mas foi criado por outro francês, o pintor Jacques Majorelle (1886-1962) em 1924, mas só começou a funcionar em 1947. Após um período de abandono, foi comprado e restaurado pelo Saint Laurent e Bergé.  Além da cafeteria e da loja, o espaço dispõe de um Museu de Arte Marroquina. Foto feita na viagem de 2010.

O Jardim de Menara é tão antigo quando Marraquexe: começou a ser formado por volta de 1.130 pelo califa* Almumine, nas proximidades da cordilheira do Alto Atlas, a partir de um olival, de hortas e pomares. Para irrigação das plantações ganhou um lago artificial cuja água é trazida das montanhas por meio de um antigo sistema de canais subterrâneos. Ali, teria sido lugar de pouso de viajantes que chegavam do deserto. No século XVI, o espaço ganhou um pavilhão, que se tornou um lugar de lazer dos sultões. Atualmente, pode- se descansar às margens do lago, comer um lanche e dar migalhas para carpas enquanto se observa o olival – afinal as oliveiras são árvores muito especiais não apenas pela produção de azeitona e azeite, mas por estarem ligadas à história, religião e cultura de muitos povos. 

O Complexo de Artesanato merece uma visita para se admirar o trabalho de ótima qualidade dos artesãos marroquinos – em alguns espaços até observá-los trabalhando. Especial atenção para tapetes e objetos de couro (sapatos, bolsas, cintos, jaquetas etc.). A cerâmica encanta os olhos, assim como a joalheria. O prédio em que funciona o complexo tem atrações especiais – como portas de madeira entalhada ou a beleza da decoração de azulejos. No final da visita, um café num pátio gracioso.





O Museu do Patrimônio Imaterial Jamaa El-Fna, instalado na antiga sede do banco Al Maghrib, inaugurado em fevereiro deste ano, foi “concebido como uma extensão do coração pulsante da cidade ocre” – Marraquexe. O visitante percorre a história da cidade e da praça e conhece também seus personagens e a manifestação de sua cultura. Uma delas é o halqa – uma versão de rua do teatro de arena grego pelo que entendi. O público forma uma roda na praça no centro da qual os artistas se apresentam. Conceito associado à cultura marroquina de música, dança, canto e contação de histórias. No espaço das artes plásticas, há pinturas dos principais artistas marroquinos, como Jacques Majorelle (1886-1962) e Abbes Saçado (1950-1992).




Fotos: Hilda Araújo.

*Califa título do chefe de estado de uma comunidade muçulmana.

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

CAMINHAR EM MARRAQUEXE

 Conhecida como “cidade vermelha” porque todas as construções têm a mesma cor de terracota, Marraquexe conquista o visitante à primeira vista. Estive lá em 2010 e retornei porque um dia é muito pouco para desfrutar da cidade, do povo, da comida, do artesanato e da paisagem... E desta vez (sem saber) escolhi um hotel em plena Almedina ou Medina, em árabe significa a cidade antiga, que em nada se parece com as cidades antigas europeias. Imagine um grande labirinto de ruas estreitas com lojas de todos os tipos e fervilhando de pessoas comprando, vendendo, passeando, observando, conversando, trabalhando à porta dos estabelecimentos. Como não há espaço para carros, é preciso estar atento às bicicletas e motos velozes e, às vezes, até burros carregados de mercadorias.  

            Com pouco mais de 800 mil moradores, Marraquexe é também uma cidade caminhável. Sempre é bom sair sem destino. Por uma questão de conveniência, começo pela Praça Jemaa el Fna – o coração da cidade, Patrimônio Cultural Imaterial da Unesco. O nome, me explicam, pode ter duas interpretações: a primeira – “lugar da mesquita desaparecida”, referindo-se a uma a mesquita do tempo da dinastia berbere (1040-1147) que foi destruída; a segunda – “assembleia dos mortos”, pois era naquele espaço que os criminosos eram executados e onde suas cabeças ficavam expostas. Histórias do passado e, possivelmente, as duas estejam certas, pois a mesquita Cutubia (Koutoubya), com o minarete de 69 metros de altura, data de 1147. É o maior prédio da cidade e domina a praça imensa.

            Durante o dia há de tudo na Jemaa el Fna: encantadores de serpentes – os ofídios ficam acomodados em cestinhos entre uma apresentação e outra; macacos adestrados, músicos locais (as apresentações ocorrem apenas quando o curioso se aproxima) e vendedores ambulantes. Nas barracas de toldos azuis vendem-se frutas, comida, roupas, sapatos, artesanato, objetos de decoração etc.; entretanto, é à noite que ela se transforma em um imenso restaurante ao ar livre onde se reúnem os locais e os turistas para degustar as delicias marroquinas. É bom lembrar que muçulmanos não tomam bebidas alcoólicas. Apenas alguns restaurantes têm licença para vender bebidas alcoólica.

         

A mesquita Koutoubya.


A Praça Jemaa el Fna ao meio dia.


O contemporâneo e o tradicional – Ao fundo são vistas duas mulheres, uma pilotando moto de vestido, turbante e salto alto, enquanto a outra usa o véu, a túnica e sob ela a calça larga. Sob os guarda-sóis, os encantadores de serpentes.


Para quem gosta de passeio de charrete há uma praça lotada de veículos enfeitados à espera de turistas.  

Em meio a um jardim está a tumba branquinha de Fátima Zohra, que teria sido filha de um rei (xeque) do século XVIII; conta a lenda que ela assumia a forma de uma pomba, fazia milagres e as mães costumavam levar as filhas para serem abençoadas. 

Fotos: Hilda Araújo.

terça-feira, 21 de novembro de 2023

JORNAL DA ORLA FAZ 50 ANOS

 

O jubileu de ouro do JORNAL DA ORLA (Santos/SP), comemorado no último dia 18, deve ser motivo de orgulho para Santos. O segredo do sucesso do semanário santista é o profissionalismo e a qualidade da informação. Eu e minha grande amiga Sônia Regina Fernandes da Costa fizemos parte da primeira equipe do JO, junto com Kiko Caldas, que infelizmente já nos deixou. Atualmente, a equipe é comandada pelo jornalista Edson Carpentieri. A todos parabéns. Longa vida ao JORNAL DA ORLA!







domingo, 19 de novembro de 2023

DIA DA BANDEIRA

 


Símbolo da pátria

“Em teu seio formoso retratas
Este céu de puríssimo azul
A verdura sem par destas matas
E o esplendor do Cruzeiro do Sul” (...)

 Hino à Bandeira.- Compositores: letra de Olavo Bilac (1865-1918) e música do maestro Francisco Braga (1868-1945).


Enquanto a poluição degrada o puro o azul do céu, as matas vâo sendo abatidas sem restrições. Só nos resta o esplendor do Cruzeiro do Sul, a esperança...

sexta-feira, 17 de novembro de 2023

MESQUITA HASSAN II

A mesquita Haçane II ou Hassan II, com o minarete de 210 metros de altura, domina a orla marítima de Casablanca pela elegância e beleza de sua arquitetura. O minarete é o maior do mundo (há divergências). Diz o Corão que "O trono de Deus encontrava-se sobre a água" e foi essa passagem do livro islâmico sagrado que teria inspirado o rei Hassan II (1929-1999) a construir a mesquita junto ao mar. O projeto é de autoria do arquiteto francês Michel Pinseau (1926-1999). As obras estenderam-se de 1985 a 1993, envolveram 2.500 pessoas e cerca de dez mil artesãos marroquinos foram responsáveis pelos trabalhos decorativos em madeira, mosaicos, granito, mármore entre outros materiais. O resultados é uma maravilha para os olhos.

O luxo unido à tecnologia de ponta tem seu preço: 600 milhões de euros. O minarete tem no topo um sistema a laser direcionado para Meca e pode ser visto a quilômetros de distância; a mesquita é dotada de resistência a abalos sísmicos; o teto é retrátil; as portas, movidas a eletricidade e o chão é aquecido.   A mesquita pode acolher cem mil fiéis – 25 mil na sala de orações e 85 mil no pátio.

Há ainda uma escola corânica – a madrassa, salas de conferências, hamanes (área para ablução ou lavagem do corpo) e biblioteca especializada.


O oceano Atlântico, a mesquita e o homem a ver navios.


Todos descalços: os sapatos são guardados nas sacolas verdes.

O
O balcão destinado às mulheres.



 

 Endereço: Boulevard Cide Maomé ibne Abedalá, Casablanca, Marrocos.

Visitas guiadas. Ingresso: MDA 130,00 ( cerca de 7 euros). Inclui visita ao pequeno museu.

Às sextas-feiras, dia sagrado do Islã, não há visitas.  

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA

Proclamada a república, banido o velho imperador, o presidente provisório resolveu arrumar a casa (obra em andamento) e promoveu um concurso para substituir o hino e os símbolos nacionais. A ideia resultou em calorosos debates e o vencedor, composição de Medeiros e Albuquerque (letra) e Leopoldo Miguez (música), se tornou o Hino da República, mantendo-se como o Nacional a obra de Osório Duque Estrada e Francisco Manuel, composta após a abdicação de D. Pedro I em 1831. Dessa vez o Império venceu. Vitória que acho justificável: nas aulas de música do Liceu Feminino Santista, aprendemos a cantar todos os hinos brasileiros e o da República causava mais sono do que entusiasmo... 

Hino da República, fundo da Câmara Municipal, Praça da Bandeira.com rua Santo Antônio.

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

ARQUIVO X

 



“Arquivo X” (1993-2002) foi uma série americana que fez muito sucesso, ganhou prêmios e tem fãs até hoje no mundo todo. Vi alguns episódios na época e não gostei. Não simpatizei com os atores – David Duchovny e Gillian Anderson–, e achei as histórias pouco convincentes. Ontem, deparei com a série no Prime e resolvi dar uma espiada. Nada mudou para mim. Parece que os extraterrestres só se manifestam à noite e adoram florestas. Assisti com má vontade a dois episódios, mas lembrei que talvez haja uma explicação para eu não gostar da série. Voltemos à infância em Santos. 

Anos 1950. Minha família era muito religiosa. Nossa casa tinha muitas imagens de santos e entre eles minha avó acrescentara gravuras de Izildinha, Maria Goretti e Antoninho da Rocha Marmo, santos populares não reconhecidos pela igreja. Nunca dei muita importância ao quadro do menino que ficava pendurado numa parede do meu quarto, meio escondido por uma estante. Um dia a situação mudou. Devia ter uns dez anos porque já sabia ler, quando a revista O CRUZEIRO começou a publicar uma série de reportagens sobre o aparecimento de discos voadores na Califórnia. Os entrevistados eram pessoas que tinham tido contato com os extraterrestres; havia até relatos de viagens em discos voadores. As histórias eram fascinantes, a curiosidade superava o medo dessas pessoas estranhas que vinham do espaço e apareciam em qualquer lugar (na verdade só no Monte Palomar); porém, ao ver a foto de um ET, que um entrevistado “conseguira”, fiquei aterrorizada. Ele era igualzinho ao Antoninho. Corri para minha avó e reivindiquei a retirada do quadro do meu quarto e expliquei o motivo. Ela não se convenceu. Disse que era bobagem. “Antoninho da Rocha Marmo é um santo, não é de outro planeta. Você anda lendo muita bobagem” – garantiu vovó, que sempre me incentivou a ler e nunca censurou nada. Levou algum tempo para eu superar o medo. Abandonei as leituras sobre discos voadores, mas o quadro permaneceu lá até o dia em que nos mudamos para outra casa. Vovó estava certa. Era pura bobagem.

Esqueci do fato até que vi o nome dele entre os personagens mais visitados do cemitério da Consolação e soube que tramita na igreja um processo de canonização de Antoninho da Rocha Marmo. Em São José dos Campos há um hospital Antoninho da Rocha Marmo, inaugurado há 70 anos.

Meu problema com extraterrestres começaram um pouco antes. Eu devia ter uns seis ou sete anos, quando minhas tias me levaram para assistir ao filme “O Dia em que a Terra parou” (1951). Evidentemente, não tinha idade para entender que o mundo mergulhara na guerra fria e o filme tinha uma mensagem pacifista. Aquela espaçonave e o robô me apavoraram. E o filme de ficção científica se tornou meu primeiro filme de terror, mas não tire conclusões precipitadas. Se alguém perguntar qual o melhor filme a que assisti até hoje, não tenho dúvida: “2001 – uma odisseia no espaço” (1968), de Kubrick.
Durante a pandemia resolvi assistir (acho que a primeira vez não valeu) a “O Dia em que a Terra parou”, de 1951, e gostei bastante. 

 



domingo, 12 de novembro de 2023

ARTES DECORATIVAS

 

Um calor inusitado para outono e a Alfama fervilha de turistas que o elétrico (bonde) 28 deixa no meio do caminho porque algumas ruas estão fechadas por motivo que ignoro. Meu destino é o Palácio da Azurara, que abriga o Museu de Artes Decorativas e a Fundação Ricardo Espírito Santos Silva.  

O palácio do século XVII fica no alto da muralha da Cerca Moura, no Largo Portas do Sol. Fico sabendo que João Antônio Sálter de Mendonça (1746-1825), o primeiro visconde de Azurara, flanou com a família real pelo Brasil, onde foi desembargador da Relação do Rio de Janeiro, encarregado dos Negócios da Fazenda e do Reino e guarda-mor da alfândega do Rio. O palácio foi adquirido em 1947 pelo banqueiro e colecionador de arte Ricardo Ribeiro do Espírito Santo Silva ( – ), que promoveu o restauro de prédio para transformá-lo em uma casa senhorial do século XVIII a fim de abrigar suas coleções – pintura, mobiliário, tapeçaria, faiança, cerâmica e ourivesaria. Em 1953 criou a Fundação que leva seu nome e doou ao governo português.

Tudo muito bonito e elegante. A luminosidade e a ventilação dos aposentos do palácio chamam atenção. Como as visitas são guiadas, pode-se ouvir muitas histórias tanto do casarão quanto das peças expostas. Há muito o que ver: salão nobre, sala central, sala de jantar, sala de música, sala D. João V, quarto do século XVII, sala das vitrines, sala das miniaturas e sala dos presépios entre outros ambientes.

O ingresso custa € 4,00. Endereço: Largo das Portas do Sol, 2. 












sábado, 11 de novembro de 2023

CALOUSTE GULBENKIAN

Nem sempre é possível ver tudo o que se deseja durante a visita a uma cidade, mas desta vez a prioridade era conhecer o Museu Calouste Gulbenkian, que reúne mais de seis mil peças de arte antiga e moderna. Calouste Gulbenkian (1869-1955) nasceu Üsküdar (Turquia), numa família armênia abastada; estudou na França (Marselha) e Inglaterra (Londres), formou-se em engenharia do petróleo, ramo em que atuou com grande sucesso. Com a fortuna que acumulou formou uma das mais completas coleções de arte – a sua grande paixão.

            Caminhar pelas diversas salas do museu é um prazer para os olhos. Dizem que foi a beleza dos objetos que induziu as aquisições de Gulbenkian e as obras abrangem desde a Antiguidade até o início do século XX. Fácil de se acreditar. Pinturas, esculturas, tapeçaria, cerâmica, manuscritos, mobiliário, joalheria, numismática... É bom ir sem pressa para apreciar toda a beleza ali reunida.

            O museu, projeto dos arquitetos Alberto Pessoa, Pedro Cid e Ruy de Athouquia, foi aberto em 1969. Um imenso jardim com lagos envolve o museu. Projeto dos paisagistas Ribeiro Telles e Antônio Viana Barreto. O anfiteatro situa-se nesse espaço.

Durante a II Guerra, Gulbenkian mudou para Lisboa, onde se instalou em um hotel com a família. Gostou tanto do país que resolveu ficar, aliás, permaneceu no mesmo hotel (que não existe mais) até a sua morte em 1955.      

O metrô é a melhor opção para ir ao Museu – descer na estação São Sebastião (linhas azul e vermelha), saída pela Rua Antônio Augusto de Aguiar e caminhar até a avenida Berna.

Av. de Berna 45ª. 







Revestimento de chaminé, cerâmica siliciosa pintado sobre o vidrado. Turquia, Iznik. Período otomano.

Mashraba (recipiente para beber): a peça em jade branco tem no gargalo o nome e os títulos do astrônomo Ulugh Beg (1394-1449), cujo trabalho é reconhecido mundialmente pela comunidade científica.


quinta-feira, 9 de novembro de 2023

MEMÓRIAS DE MORADORES DE SAMPA

Um dos prazeres de frequentar uma biblioteca é passear entre as estantes, indiferente aos assuntos, lendo os títulos dos livros e descobrindo autores e temas atraentes. Foi assim que encontrei um livro recheado de histórias paulistanas narradas por antigos moradores da cidade. Todos puxaram do baú da memória recordações da infância e juventude – a casa e seus objetos, a rua, a família, a comida, os amigos, as brincadeiras, , a escola, os namoricos, as festas, os pontos de encontro... Um livro repleto de surpresas para quem já era adulta, quando chegou à cidade em 1982. 

            Como os depoimentos são pequenos e divididos por assunto, não é preciso ler em sequência. As histórias foram escritas para um site, mas acabaram reunidas em um livro de quase 360 páginas, publicado em 2008. Bom mesmo foi encontrar entre os narradores a amiga Neuza Guerreiro de Carvalho, professora aposentada, que nos relata os diversos tipos de fogões usados ao longo da vida na casa da família até os modernos. Lá estão o fogão a carvão, a lenha, a espiriteira, a gás até o fogão elétrico.

            Miguel Chammas, por exemplo, lembra de um sanduíche do Bar Municipal, na rua Barão de Itapetininga, onde se deliciava com um sanduíche de pão preto com gorgonzola, aliche e azeitona, um quitute só encontrado (em 2008) no Ponto Chic. Várias pessoas lembram o tempo das leiterias, predecessoras dos cafés e lanchonetes. A Ita, na rua do Boticário, na República, foi famosa, mas não recomendo se aventurar por essa rua em completa decadência. E por falar em comida, Carlos Alberto Gomes conta como foi marcante na sua infância (década de 1950) a visão de Silki, o faquir, na galeria do Vale do Anhangabaú. “Lá estava ele, num canto do corredor, enjaulado entre cobras, com a expressão de quem parou de viver para vencer seu desafio” – conta. Gomes diz que nunca mais ouviu falar a respeito de tal evento nem acreditava que tenha existido. Silki, pseudônimo de Adelino João da Silva (1922-1998), foi recordista mundial quatro vezes e da última vez ficou 115 dias sem comer.

            “Quem não dançou Blue Moon na Maison Suisse, Contigo en la Distancia no Palácio Mauá, Moonlight Serenade na Casa de Portugal, La Mer no Clube Holms ou Meu último desejo e as marchinhas juninas no Hispano-brasileiro na Mooca, e ao som das grandes orquestras da época: Sílvio Mazzuca, Orlando Ferri, Zezinho, Henrique Simonetti, André Penazzi e tantas outras?” Pergunta de Carlos Trindade, frequentador assíduo de “bailes inesquecíveis”. Como morava na Mooca, na volta tinha que fazer a maior parte do percurso a pé para pegar o ônibus 28 – Vila Bertioga, na Praça Clóvis, mas antes comia uma pizza brotinho, tomava uma vitamina no Gouveia, que ficava no térreo do edifício Mendes Caldeira, implodido em 1975. 

             

Clube Homs, na avenida Paulista.

Silki, o faquir. Crédito: site Mondo Cane.


terça-feira, 7 de novembro de 2023

CASABLANCA

Casablanca é a maior cidade de Marrocos (cerca de 4 milhões de habitantes) e a capital econômica do país, já que concentra tanto o setor de negócios, comércio e indústria; o porto tem importância vital para o Marrocos. Impossível para pessoas da minha geração não aliar a cidade ao filme norte-americano que, 81 anos após seu lançamento, ainda fascina turistas e amantes do bom cinema. Se prestar atenção, poderá ver em diferentes pontos da cidade alguma referência ao filme, que foi totalmente rodado nos Estados Unidos porque, em 1942 em plena II Guerra Mundial, alemães ocupavam a Europa e o Marrocos era um protetorado francês e ligado a Vichy – sede do pretenso governo francês sob a égide da Alemanha.

            A história de Casablanca, entretanto, é muito mais interessante. Na antiguidade, chamava-se Anfa, nome que ainda mantinha no século XIV, quando já era um importante porto comercial e atraia piratas e corsários combatidos ferozmente pelos portugueses. Essas batalhas navais resultaram na destruição de Anfa. Das ruínas da cidade os portugueses construíram uma fortaleza em torno da qual nasceu a nova cidade, que eles chamaram de Casa Branca. Com a expansão árabe-muçulmana no Norte da África, Casa Branca tornou-se em Dar el Beïda. O terremoto que destruiu Lisboa também causou severos estragos na cidade, que atraiu muitos espanhóis no final do século XVIII e ela passou a ser conhecida como Casablanca. O tempo passa, como diz a canção do filme, o jeito cosmopolita ela ganhou no período do protetorado francês que se estendeu de 1907 a 1956, quando finalmente Marrocos se tornou independente.

            Cidades tem cores? Algumas têm – se Paris é cinza, Roma tem um tom de terracota, Marraquexe é cor de rosa e claro que Casablanca faz jus ao nome. Não se engane com o jeito europeu de Casablanca. Antes de se perder pelas ruas amplas, arborizadas e agitadas da cidade, pegue um táxi ou alugue um carro para descobrir a orla e os bairros principais antes de ir aos lugares históricos e depois às compras. Ah! antes de embarcar num táxi (muitos não têm taxímetro) procure saber se ele faz lotação, pois nesse caso a viagem pode se tornar um fantástico entra e sai de passageiros que, supostamente, estão na mesma rota. É bom também perguntar o valor da corrida.

          Para quem aprecia o mundo da fantasia, sugestão uma réplica do: Rick’s Bar, na Place du Jardin Public, 248 Boulevard Sour Jdid. A americana Kathy Kriger que reside tem Casablanca recriou o bar do filme numa mansão dos anos de 1930 que, como no filme, fica junto à Medina. Parece que é um sucesso: inaugurado em 2004 e jantar é preciso fazer reserva com pelo menos um mês de antecedência. 

         

Prédios modernos acompanham o estilo da cidade.





Porta do Bar Atomic, um espaço apenas para cavalheiros.

O calçadão que acompanha a orla e ao fundo o porto.


domingo, 5 de novembro de 2023

ARTE SACRA: SÉ

A Sé Patriarcal de Lisboa é o monumento medieval mais antigo da cidade: século XII. A construção começou no reinado de D. Afonso Henriques, primeiro rei português que governou de 1143 até 1185. Durante a Idade Média teve um papel relevante na vida de Lisboa não só do ponto de vista da religião, mas cultural e cívico. Fernando de Bulhões, nome de família do futuro Santo Antônio, frequentou a escola anexa à igreja. Afetada pelo terremoto de 1755 a que se seguiu um incêndio que destruiu parte da fachada, da torre sineira e da talha interior da igreja. A obra de reconstrução começou dois anos depois, mas se arrastou pelos séculos seguintes, o que acabou por incluir vários estilos arquitetônicos ao prédio e só foi concluída totalmente em 1940.

 


Esculturas tumulares esdrúxulas: as falecidas leem (Bíblia) na companhia de seu cãozinho de estimação, enquanto o cavalheiro repousa empunhando a espada sob a guarda de um cão simpático.




Endereço: Largo da Sé. Ingresso a partir de cinco euros. Para ir o ideal é o bonde (elétrico) 28 cujo ponto inicial é na Praça Martim Moniz (tem estação de metrô também) ou Campo de Ourique.