sexta-feira, 30 de abril de 2021

AS VIAGENS POSSÍVEIS

 

Terminei de ler “Viagem ao redor do meu quarto”, adquirido recentemente. Gostei muito e sinto-me muito mais experiente no assunto do que Xavier de Maistre porque, depois de mais de um ano andando pelo apartamento, os 42 dias de confinamento disciplinar do militar parecem brincadeira de criança. Creio que eu tenha no meu apartamento mais lugares para visitar do que ele, restrito ao quarto, sem contar que disponho de uma janela muito especial que se abre para o mundo a qualquer hora, graças às tecnologias digitais. Ele, por sua vez, contava com uma amiga muito especial e fantástica: a imaginação. O confinamento permite um olhar mais apurado aos objetos que nos rodeiam, despertando lembranças de momentos especiais e promovendo o reencontro com sentimentos antigos e coisas que pareciam esquecidas em caixas, gavetas ou prateleiras.      

        Finda a aventura com Maistre, agora me divirto com a releitura de “Viagens com minha tia”, de Graham Greene (1904-1991). Reencontrei o livro enquanto arranjava espaço na estante para guardar novos amigos. Greene, que foi espião de Sua Majestade, é um autor que li nos anos de 1980 ‒ meus preferidos são “O Americano Tranquilo”, “O Cônsul Honorário”, “Nosso Homem em Havana” e “Viagens com Minha tia”. Este é um livro bem humorado sobre um gerente de banco aposentado, homem de hábitos conservadores, que narra a mudança que se opera em sua vida pacata com a morte da mãe e o reencontro com uma tia que não via desde criança.

Tia Augusta está com 75 anos quando irrompe na vida do sobrinho e fica indignada quando ele se refere a ela como idosa. À medida que ele narra os acontecimentos percebe-se que tia Augusta se encaixaria muito bem no século XXI. As viagens não têm roteiro, incluem um passeio por Brighton e uma viagem a Istambul no Expresso Oriente já em decadência. As histórias que ela conta não têm uma sequência, são interrompidas por um acontecimento ou mesmo pelo esquecimento momentâneo e continuam em outros capítulos em outras situações ou a pedido do sobrinho. Depois de tantos anos, a história continua muito divertida. A obra é de 1969. 

(Fotos: Istambul, 2019. Estação Ferroviária de Sirkeci, ponto final do famoso trem e o restaurante da estação.)




O primeiro livro escrito por Greene foi “Expresso do Oriente”, lançado em 1932. 

domingo, 25 de abril de 2021

NOVOS E VELHOS CONHECIDOS

 

Eu tenho péssima memória para nomes. Soma-se ao problema, a dificuldade de guardar fisionomias. Juntar nomes a fisionomias causa-me sérios transtornos. O lado bom é que me aprimoro em expedientes para evitar constrangimentos. É verdade que há nomes mais fácieis de guardar. Tempos atrás fui apresentada à Lolita, recém-chegada ao prédio. Na hora, veio o impulso de perguntar se a inspiradora era a Rodrigues ou a de Vladimir Nabokov, mas o Grilo Falante interferiu na hora e me limitei a um sorriso. Quase sempre encontro Olga. Graciosa e delicada. Sempre atenciosa comigo. Nas minhas idas e vindas pelo bairro, acabei formando um bom número de conhecidos, como a  Chica ‒ acho que é parente da Lolita, mas não é da minha conta. Quase sempre encontro Filipe quando passo nas imediações da Praça General Polidoro, mas ele frequentemente não me cumprimenta. Tudo isso porque ontem fui apresentada à Maria Eduarda. Caminha sem pressa, com tranquilidade quase majestosa, indiferente aos olhares que atrai. E já tem certa idade. Soube que ela adora ir à farmácia. Hipocondríaca, pensei, mas parece que ela tem uma quedinha pelo dono da farmácia que a recebe sempre com uma guloseima. Nos despedimos por causa da garoa que começa a cair. Maria Eduarda é muito parecida com Sam, que conheci há alguns anos na banca de jornal. O dono da banca fez as apresentações: Este é o Sam. Na hora lembrei do Sam de “Casablanca” e não me contive: Sam? Então ele se lançou sobre mim e me sapecou um beijo na boca. Recuei e tratei de pegar o lenço para esfregar o rosto enquanto a dona se desculpava pela audácia de Sam, um golden retrieverClaro que se trata da cachorrada do bairro. Há cães muito bonitos por aqui e os meus preferidos, além do golden retriever são um pastor-branco-suíço, um galgo (lindo) e os collies.

Todo mundo conhece o Pluto (Disney), assim aí vai o Snert, o cãozinho de estimação do Hagar.




sábado, 24 de abril de 2021

FINAL DE MAIS UMA SEMANA

Embora não ache as noites de sábado solitárias, uma das minhas músicas preferidas é “Saturday night (is the loneliest night in the week)”, interpretada por Frank Sinatra, naturalmente. E como hoje é sábado, o último deste mês de abril...  A composição é de Jule Styne / Sammy Cahn.

quinta-feira, 22 de abril de 2021

ADOLFO, ALTAIR, CLEMENTINA...

O Estado de São Paulo tem 645 municípios E cerca de 45 milhões de habitantes. Em tempos de pandemia qualquer coisa me distrai. Prestes a me desfazer de uma agenda antiga, observei numa relação de municípios paulistas que vários deles têm nomes de pessoas ‒ pessoas que devem ter sido importantes para receberem essa homenagem das cidades. Exceção aos presidentes, professores, poetas e literatos, alguns nomes me são totalmente desconhecidos.  

Desconfiava que eles fossem os fundadores das cidades ou políticos regionais. Quem foram eles? Adolfo (1959), que abre a lista de 73 nomes próprios, recebeu essa denominação para se por fim a uma pendenga entre católicos e protestantes, cada um querendo batizar a cidade com o nome da sua igreja. Como o proprietário das terras onde a cidade de desenvolveu chamava-se Adolfo do Amaral Mendonça, nada mais natural do que batizá-la de Adolfo. E não é que o primeiro prefeito chamava-se Adolfo Moreira Filho? O município de Adolfo tem cerca de 3.600 habitantes, os adolfinos. Região Norte do estado.

Clementina era o nome da filha do fundador da cidade João Francisco Vasques. O patronímico dos nascidos lá é clementinense. Região Centro-Oeste. População: 8.757. Lavínia, por sua vez, era o nome da mulher do fundador da cidade: Lavínia Dauntre Salles de Mello. Nascidos em Lavínia são lavinenses. Região Oeste. População: 12.285.

Várias cidades têm seus nomes ligados às estações ferroviárias, que eram conhecidas pelas denominações dos pontos de parada. E muitas mantiveram o nome da estação ‒ como Castilho (1944). Em meados dos anos 1930 chegou à Vila Cauê o engenheiro da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil Alfredo Castilho. A estação ficou conhecida como Alfredo Castilho e quando se formou o povoado o nome já existia desde 1944. E viva os castilhenses! Região Oeste. População: 21.270 habitantes.

Altair pode nos enganar, pois o nome foi sugestão do fundador da cidade e refere-se à estrela Altair que faz parte da constelação da Águia. A vila foi fundada em 1929, tornou-se distrito de Olímpia em 1939 e emancipou-se em 1959.  Norte do Estado. População: cerca de 4.200 habitantes. Altairense é o nome dos nascidos na cidade.

O agricultor mineiro Antônio Zacarias mudou com a família para São João do Marinheiro (Distrito de Cardoso) nos anos 1940. Uma vida de muito trabalho, muito empenho até que se formou o povoado de Zacarias. O povoado se tornou distrito de Planalto em 1948. A luta pela autonomia político-administrativa coube ao filho Lourenço, agropecuarista e político, e levou anos até a vitória em 1991. População em torno de 2.500. Os nascidos na cidade da região noroeste são zacarienses.  

Igreja Matriz de São José. Foto: site do município de Adolfo. Não creditada.


terça-feira, 20 de abril de 2021

UM ESPETÁCULO AÉREO.

Na Aclimação acontece de tudo. Há alguns anos "nevou"* (18/05/2014). Recentemente, houve um terremoto ‒ 5,2 graus de magnitude na escala Richter. Só soube pelo noticiário. Nessa época do anos temos espetáculos de acrobacias aéreas quase todas as tardes. Voos rasantes cheios de volteios, muito elegantes e alegres. São as andorinhas, pequenas e graciosas. Elas parecem se divertir voando de um lado para outro, para cima e para baixo, passando rente às varandas dos prédios, indiferentes ao trânsito da rua. Dizem que elas são turistas ou veranistas e vêm do Hemisfério Norte, fugindo o inverno e em breve partirão. 

         Em matéria de passarinho, a praça está bem servida: sabiá-laranjeira, bem-te-vi, sanhaço, pica-pau e rolinhas. Recentemente, os periquitos que viviam na outra quadra mudaram para cá e fazem uma algazarra pela manhã e no final da tarde. Motivo da preferência: as árvores frutíferas: jaqueira, mangueira, mamoeiro e até um pé de romã... Sem contar outras frutas com que alguns moradores as presenteiam. 

    Há alguns anos a revista britânica “Nature” publicou um estudo mostrando que a poluição sonora afeta o modo como os pássaros cantam para atrair as fêmeas. O trabalho de pesquisa foi feito nos Países Baixos com o chapim-real (Parus major) e foi importante porque pela primeira vez mostrou-se que uma alteração ambiental promovida pelo homem influencia os sinais de comunicação de uma espécie selvagem de ave.  

*A “neve”, na verdade, foi uma chuva intensa de granizo que cobriu as ruas do bairro depois que a temperatura caiu de 25°C para 16°C em menos de três horas. 

segunda-feira, 19 de abril de 2021

MAIS UM DIA DE FEIRA

O dia de São Sebastião é comemorado em 20 de janeiro. Inverno na Europa, mas no século XVI, parece que a feira de São Sebastião era bem animada nos Países Baixos. Pelo menos é o que o pintor neerlandês Jacob Savery (1503-1606) registrou em 1598 no quadro, que atualmente faz parte do acervo do Mauritshuis em Haia.  

        O estandarte vermelho do santo se destaca bem no centro da tela, que reproduz a população de um vilarejo dividida entre o sagrado e o profano ‒ e é o profano que se sobressai. A procissão que se encaminha para a igreja é vista à direita no alto da tela, quase um detalhe depois das barraquinhas, enquanto o lado profano domina praticamente toda a tela, mostrando homens, mulheres e crianças se divertindo, aos beijos e abraços e até envolvidos em brigas. Ah! Não falta sequer um ladrão em ação.

Mesmo quem não foi à feira e preferiu assistir das janelas tratou de arranjar companhia, como se pode observar na casa à esquerda, que pode ser uma taberna ou hospedaria. Sob o telheiro um grupo animado: alguns bebem, outros conversam ou namoram. Na mesa não há comida. Duas mulheres conversam agachadas atrás do tocador de gaita e o assunto, provavelmente, é a vida alheia.

É um dia de folga do trabalho duro. Há música, dança e jogos. No centro da tela, chega uma carroça apinhada de gente. Atrás do coringa, um velho vendedor ambulante, enquanto abaixo no canto esquerdo um homem maltrapilho vende castanhas assadas.  

No alto da tela, perto da Igreja, há outro grupo reunido em torno de uma mesa vazia... É um quadro cheio de vida, movimento. Homens e mulheres ‒ que não me parecem oprimidas, jovens e velhos, aproveitam o momento. É um quadro à la Pieter Bruegel, o Velho, para ficar olhando descobrindo, imaginando coisas...

Fair in S. Sebastian's Day.


sexta-feira, 16 de abril de 2021

ETIQUETA PARA USO DO WHATSAPP

A ideia era compartilhar uma matéria do Instituto de Engenharia sobre boas maneiras ou etiqueta para usar o WhatsApp, mas não encontrei o mecanismo e então copiei o texto. Eu tenho sérios problemas com o aplicativo porque sou distraída, impaciente e não gosto de ler e escrever em celular e para isso uso o computador. Assim, mando mensagem para pessoas erradas, esqueço-me de responder ou não tenho o que responder. Costumo enviar material específico para umas poucas pessoas. Segue a matéria publicada no site do Instituto de Engenharia.


 O WhatsApp realmente veio para facilitar a vida das pessoas, porém, com um comunicador à mão capaz de conectar qualquer um em tempo real, é fácil cometer deslizes. As mesmas regras de etiqueta e bom senso da vida real e virtual valem também para o aplicativo, portanto, fique atento para não ser invasivo ou excessivo e acabar sendo mal visto pelos contatos.

1 -Imediatismo e risquinhos azuis
Ninguém é obrigado a responder mensagens assim que ler, portanto, ficar cobrando respostas só porque viu os risquinhos azuis de confirmação de leitura é um atestado de ansiedade. A outra pessoa realiza inúmeras atividades diárias que podem impossibilitar responder na hora. Se é urgente mesmo, faça uma chamada ou escreva que é urgente.

-Áudio
Escutar áudios em viva voz ou no aparelho requer intimidade, privacidade e tempo. Se é uma conversa longa, opte por fazer uma chamada, e sempre que possível prefira mensagens de texto, assim você não irá pressionar uma resposta ou irá lotar a memória do telefone da outra pessoa. As mensagens de voz devem ser curtas, concisas e reservadas para emergências, quando é mais fácil falar do que digitar.

3 -Emoticons
Os emoticons, ou emojis, devem ser usados com parcimônia, pois além de poluir visualmente a tela da conversa dão um tom informal e infantilizado à comunicação. Em mensagens empresariais não utilize estes ícones, pois passam a impressão de falta de profissionalismo.

4 -Fotos banais
Ninguém está interessado em ver a foto do seu almoço ou do seu cafezinho; reserve as fotos banais do dia a dia para outras redes sociais e não para lotar o celular dos seus contatos.

5 -Atenção para o conteúdo
Correntes, piadinhas, conteúdo de teor pornográfico, orações e conversas escritas palavra por palavra, mensagens motivacionais cansam qualquer um nos grupos. Ninguém merece abrir o aplicativo e ter trezentas mensagens não lidas sobre banalidades.

6 -Mensagens no grupo
Só escreva nos grupos o que for de interesse comum a todos e que estiver relacionado ao tema do grupo, da forma mais sucinta possível. A quantidade excessiva de mensagens acaba com a bateria dos participantes e as notificações na tela incomodam.

7 -Desviar do objetivo do grupo
É extremamente irritante entrar num grupo de estudos, profissional, ou até de algum tema específico e ver que todo mundo conversa sobre tudo, menos sobre o tema. Pior ainda quando as pessoas enviam vídeos que acabam com a bateria dos participantes e podem prejudicar as pessoas no ambiente profissional. Por incrível que pareça, existem pessoas que têm a cara de pau de vender produtos nos grupos.

8 – Adicionar todo mundo no grupo
Quando você adiciona alguém a um grupo sem consentimento, além de deixar a pessoa confusa quanto ao motivo, ainda acaba expondo seu número de telefone. É uma “sinuca de bico”, pois quando a pessoa decide sair do grupo, se não der satisfação aos participantes, acaba sendo vítima de rumores e fofocas.

9 – Checar mensagens
Em uma reunião profissional é de péssimo tom ficar checando mensagens do WhatsApp, primeiro porque é um desrespeito com os outros participantes e também passa uma imagem de desinteresse para a empresa. O mesmo vale para quando você está conversando pessoalmente com alguém – deixe para checar as notificações mais tarde.

10 – Bom dia, bom dia, bom dia
Nem todo mundo acorda empolgadão dando bom dia aos quatro ventos, pelo menos não na vida real. E quem abre o aplicativo de manhã e lê quinhentas mensagens de bom dia e suas variações, ou piora o mau humor ou acaba esvaindo a cota matinal de felicidade, ainda mais se receber essas mensagens às cinco da madrugada.

11 –Discussão nos grupos
Quando tiver um assunto pessoal com algum membro do grupo, lave a roupa suja por mensagem privada. Os outros participantes não merecem ficar assistindo o bate boca de camarote, exibido em diversas notificações na tela.

12 – Administrador de grupos
O administrador não é aquele que quer reunir os amigos para jogar conversa fora. Antes de formar um grupo, pense em um objetivo claro e de interesse comum a todos. AAo convidar as pessoas, explique o motivo do convite, a finalidade do grupo e quem são os novos participantes.

13 -Público ou privado
Quando te perguntarem algo por mensagem, responda no privado, e quando te perguntarem em um grupo, responda por ali. Também nunca fale de alguém do grupo como se a pessoa não estivesse lá – é uma tremenda falta de educação.

14 -Grupos com profissionais da mesma empresa
Nos grupos profissionais vale a hierarquia da empresa real. Respeite os superiores, use um vocabulário adequado e deixe as questões mais pontuais para conversas olho no olho. Nem é preciso comentar que fazer fofocas ou falar mal de superiores é pedir para ser demitido.

15 – Seduzente
Por incrível que pareça, é cada dia mais comum profissionais abordarem clientes no aplicativo e mudarem a conversa para uma cantada, chegando ao ponto até de solicitarem fotos nuas ou as enviarem sem o consentimento. Alguns casos já viraram meme nacional, como funcionários de empresas de telefonia e a cabo que adicionavam o número dos clientes no aplicativo e, se achavam a foto da pessoa interessante, puxavam papo.

16 – Minúsculas
As mesmas regras para textos, e-mails, e redes sociais valem para o aplicativo. Só use “caps lock”, letras maiúsculas, se estiver enfatizando algo ou gritando com a pessoa; caso contrário, passará uma imagem grosseira e deselegante.

17 – Nome estranho
É muito chato ser abordado por desconhecidos, ainda mais quando usam um nick estranho ou só o número de telefone. Ninguém é obrigado a descobrir com quem está falando, portanto, se apresente ao adicionar alguém.

18 – Fotos comprometedoras e de acidentes
Não se engane: uma vez na rede, sua foto é pública. Portanto, muito cuidado com suas fotos pessoais e não compartilhe fotos comprometedoras dos outros. Também não tem nada mais indigesto do que receber fotos de acidentes, cirurgias, animais doentes e pessoas sendo decapitadas. Não seja essa pessoa deselegante com gostos mórbidos; não há motivo algum que justifique o compartilhamento de tragédia.

quarta-feira, 14 de abril de 2021

O CENTENÁRIO FUJÃO

Foi o título do filme que me atraiu: “O Centenário que fugiu pela janela e desapareceu” (2013). Que delícia de história! E quantas histórias na história, todas muito bem contadas. O filme é uma produção sueca franco-alemã, de 2013, dirigida por Felix Herngren (67 anos). Muita ação e diversão com gente comum que encontramos em nosso cotidiano seja na Suécia ou em que qualquer outro país. Como não dou a mínima para o Oscar nunca tinha ouvido falar do filme e resolvi arriscar ‒ foi indicado na categoria de maquiagem. Tinha começado uns segundos antes e cheguei exatamente após a escapulida do centenário, quando a responsável pelo asilo onde ele vivia dava queixa do desaparecimento dele à polícia.

        Impossível não relacioná-lo ao filme americano “Forrest Gump”, (1994), chatíssimo. Não consegui ver até o fim. Nem gosto de Tom Hanks. No filme sueco, as histórias que o centenário conta surgem naturalmente, à medida que as aventuras da escapada vão acontecendo. Um detalhe importante: a grande paixão do fujão é explodir coisas e graças a isso ele se “participou” de momentos históricos do século passado.

       No elenco Robert Gustafsson (64) que interpreta o centenário; Iwar Wiklander (81) e David Wiberg (73).  


segunda-feira, 12 de abril de 2021

CASAMENTO PERFEITO

Segunda-feira é dia de tutu de feijão ou virado à paulista. Em São Paulo não tem erro: quase todos os restaurantes abrem o cardápio com esse prato que reúne essa dupla imbatível: o feijão com farinha. Desde a primeira metade do século XVII, eles constituem um casamento perfeito. O feijão com farinha é considerado o mais nacional dos pratos, segundo Luís da Câmara Cascudo. O Cozinheiro Nacional, obra do século XIX, registrou a receita: “Feijão preto em tutu: ‘Coze-se uma porção de feijão, escorre-se e tempera-se com bastante gordura, sal, alho, cebola, pimenta-da-índia; ajunta-se o caldo de feijão, e uma porção de farinha de milho ou de mandioca; mexe-se bem sobre o fogo até a farinha ficar cozida e serve-se, deitando em cima umas rodas de linguiças fritas ou assadas e umas rodelas de batatinhas’”. Evidentemente, com o passar dos anos o prato foi ganhando novos acompanhantes conforme a região do Brasil.

        Em casa só se consumia feijão preto e, quando minha avó não fazia o tutu de feijão, a farinha de mandioca era uma opção ocasional. O feijão preto é o meu preferido naturalmente. Não confie em que diz que basta cozinhar o feijão e caprichar no tempero; um feijão bem feito não pode ser aguado, tem que ter um caldo grosso, consistente. Nada de grãos boiando na panela. Aliás, a expressão boia significando a refeição (hora da boia) tem origem nos quartéis onde o “feijão servido, que por mal cozido, fica boiando”.

        Feijão com arroz? Outra dupla que faz parte da vida do brasileiro. É até sinônimo de coisa comum. Combina com quase todas as guarnições. (Confesso que adoro pão com feijão.) Lembro-me de um jovem político em início de carreira, que ao voltar de sua primeira viagem oficial à Europa, só conseguiu dizer aos jornalistas que sentira muita falta do feijão com arroz.

Como nada se perde, à noite era a vez da sopa de feijão, enriquecida com arroz ou couve ou macarrão ou o que mais houvesse. 

Eu diria que o feijão casa bem com muitas coisas, inclusive o macarrão. Feijoada? Já falei dela tempos atrás.

Os ameríndios já conheciam o feijão (e fava) e o arroz veio nas caravelas portuguesas, provenientes da Ásia (China), levado para a Europa pelos árabes. A origem do feijão não é certa, mas Cascudo diz que já era cultura muito antiga na África, citando autor do século XVI. 

         Hora do almoço... 

 FOTOS: Recanto Doce, Casa de Pães, na Aclimação. 12/04/2021. 

domingo, 11 de abril de 2021

DOMINGO, IDOSOS E BOAS LEMBRANÇAS.

Um dos ótimos momentos dos Beatles. A composição é de Paul McCartney e de John Lennon (1940-1980). Lançada em 1967, quando estavam na faixa dos vinte anos. Paul já passou dos 64 há vários anos: está com 78 anos. Ringo Star também: tem 80!!! E continuam no rock and roll.

sábado, 10 de abril de 2021

CIDADES ACOLHEDORAS

Caminhar é um prazer para mim. Sempre fui para a escola a pé; um costume que só mudou no período do colegial (bonde) e da faculdade (trólebus), que eram longe de casa. Vivíamos em Santos. O automóvel não teve uma participação muito grande em minha vida. Quando mudei para São Paulo, desisti do carro por causa do trânsito e da configuração difícil da cidade. Anos depois, já familiarizada com São Paulo, voltei a dirigir até que me aposentei e me livrei do carro. Na rua em que moro há três linhas de ônibus que atendem às minhas necessidades e há um ponto de táxi ao lado do prédio para eventualidades. Na aposentadoria, resolvi explorar a cidade de São Paulo caminhando, mas sem dispensar ônibus, metrô e trem, quando necessário, mas no último ano restringi minhas caminhadas ao bairro em que moro, ousando o metrô às vezes para ir um pouco mais longe por algum motivo importante. Faz mais de um ano que não uso ônibus. 

        Em viagem por outros países prefiro me instalar perto das minhas áreas de interesse e caminhar para observar os lugares e as pessoas em seu cotidiano. Nunca pensei em deixar o país, mas se tivesse que escolher outro lugar para viver, sem dúvida seria Itália e em Roma de preferência, onde andar é um imenso prazer. Quantas vezes saí com um roteiro definido e me perdia no caminho porque a paisagem, as ruas com seus monumentos, praças me desviavam do caminho e eu, enfeitiçada me deixava levar. Voltei várias vezes e não me canso de me perder nela. O poeta e escritor americano Anatole Broyard (1920-1990) tem uma definição perfeita para Roma: “um poema forçado a funcionar como uma cidade”.

Andei muito por Paris, Londres, Amsterdam, Nova York, Washington D. C. e Honolulu sem me cansar. Em todas usei transporte público quando o que me atraia era mais distante.

Tudo isso me ocorre porque comprei o livro “Cidade Caminhável”, de Jeff Speck, e no mesmo dia em que recebi a publicação, ganhei de um amigo o livro “Encantadoras Cidades Brasileiras: as pujantes economias alavancadas pela visitabilidade”, de Victor Mirshawka. Speck é um urbanista americano e Mirshawka, engenheiro e mestre em estatística brasileiro. Folheei os dois livros antes de começar a leitura e descobri que têm muito em comum. Na verdade se completam, à medida que o americano desenvolve uma Teoria Geral Da Caminhabilidade, Mirshawka faz uma análise de quinze cidades brasileiras encantadoras, na opinião dele, a partir de suas histórias até as experiências administrativas de sucesso.

Decidi que vou alternar a leitura dos dois.

Foto: Praça Navona: Fontana del Moro, criada por Giacomo della Porta e desenvolvida por Bernini. Roma, 2011.







quinta-feira, 8 de abril de 2021

REGISTROS DE UM DIA DE ABRIL

 Ontem a caminho do Posto do SUS para tomar a segunda dose da Coronavac e aproveitando o sol fui registrando o que me chamou atenção. Um dia que poderia ser como todos os outros, mas tornou-se importante porque me fez sentir segurança. Como milhões de pessoas pelo mundo afora têm esperado e buscado a vacinação contra o Covid-19. Graças aos esforços dos cientistas de todo o mundo que se dedicaram para encontrar alívio para a pandemia em tempo recorde. Sem dúvida o caminho ainda é longo. Infelizmente. 

O sofá em frente ao Parque da Aclimação...
Um morador cultivou flores ao redor da árvore, mas....

A alguns metros adiante o retrato do desrespeito.

As flores que confortam.
Pausa para arte de Segall. Vitrine da Estação Santa Cruz: "A Greve", do Museu Lasar Segall.

No SUS, a prova de que a população achou o que fazer durante o confinamento. 

Na volta, o vagão vazio: 11h30. 

terça-feira, 6 de abril de 2021

DESIDERATA

Li o poema pela primeira vez em um jornal mineiro. A matéria informava que a obra anônima fora encontrada na igreja de Saint Paul, em Baltimore (EUA) em 1692. Só descobri o erro mais tarde. Na verdade, o poema intitulado “Desiderata” (que significa coisas desejadas) foi escrito em 1927 pelo filósofo, poeta e empresário norte-americano Max Ehrmann (1872-1945), na época com 55 anos; entretanto só foi publicado postumamente em 1948 pela viúva. 

        “Desiderata” tornou-se muito popular pelos conselhos singelos e no processo de divulgação o nome do autor acabou sendo omitido. A lenda do poema seiscentista surgiu por um erro de edição: um pastor da igreja de Saint Paul, em Baltimore, compilou uma série de textos para um folheto de Natal entre os quais se encontrava “Desiderata”. No final, colocou “Igreja de Saint Paul, 1692”. A ideia dele era identificar a origem do panfleto: a Igreja de Saint Paul, fundada em 1692; contudo, só contribuiu para a lenda que atribui a obra a um anônimo.

      E aqui vai o poema de Max Ehrmann (foto):


Siga tranquilamente entre a inquietude e a pressa, lembrando-se que há sempre paz no silêncio. Tanto que possível, sem humilhar-se, viva em harmonia com todos os que o cercam.

Fale a sua verdade mansa e calmamente e ouça a dos outros, mesmo a dos insensatos e ignorantes – eles também tem sua própria história.

Evite as pessoas agressivas e transtornadas, elas afligem nosso espírito. Se você se comparar com os outros você se tornará presunçoso e magoado, pois haverá sempre alguém inferior e alguém superior a você. Viva intensamente o que já pode realizar.

Mantenha-se interessado em seu trabalho, ainda que humilde, ele é o que de real existe ao longo de todo tempo. Seja cauteloso nos negócios, porque o mundo está cheio de astúcia, mas não caia na descrença, a virtude existirá sempre.

“Você é filho do Universo, irmão das estrelas e árvores. Você merece estar aqui e mesmo que você não possa perceber a terra e o universo vão cumprindo o seu destino.”

Muita gente luta por altos ideais e em toda parte a vida está cheia de heroísmos.

Seja você mesmo, principalmente, não simule afeição nem seja descrente do amor; porque mesmo diante de tanta aridez e desencanto ele é tão perene quanto a relva.

Aceite com carinho o conselho dos mais velhos, mas seja compreensível aos impulsos inovadores da juventude.

Alimente a força do Espírito que o protegerá no infortúnio inesperado, mas não se desespere com perigos imaginários, muitos temores nascem do cansaço e da solidão.

E a despeito de uma disciplina rigorosa, seja gentil para consigo mesmo. Portanto esteja em paz com Deus, como quer que você O conceba, e quaisquer que sejam seus trabalhos e aspirações, na fatigante jornada da vida, mantenha-se em paz com sua própria alma.

Acima da falsidade, dos desencantos e agruras, o mundo ainda é bonito, seja prudente.
Faça tudo para ser feliz.

Tradução não creditada.


domingo, 4 de abril de 2021

COELHO, OVO E PÁSCOA

É sempre bom lembrar que coelhos são mamíferos. Ao contrário do Pernalonga, personagem dos quadrinhos, por exemplo, eles também não caminham, saltam😄.



Uma das joias criadas por Peter Carl Fabergé (1846-1920) para os czares da Rússia.



sexta-feira, 2 de abril de 2021

DIA DO LIVRO INFANTIL

 


Hoje é o Dia Internacional do Livro Infantil, criado em 1967. A data escolhida marca o nascimento do escritor dinamarquês Hans Christian Andersen, que adaptou lendas europeias ao público infantil. Ele é o autor dos contos “Patinho Feio” e “Pequena Sereia” entre muitos outros. Meu autor infantil preferido continua sendo Monteiro Lobato, que tornou minha infância rica de aventuras que vivi a bordo de uma rede na área de casa. Guardo todos os livros com muito carinho. Gosto demais de Peter Pan (J. M. Barri), que descobri com o desenho de Disney. Continuo lendo histórias infantis e recentemente comprei vários livros da série pequenos Filósofos da Editora Martins Fontes.  




quinta-feira, 1 de abril de 2021