segunda-feira, 12 de abril de 2021

CASAMENTO PERFEITO

Segunda-feira é dia de tutu de feijão ou virado à paulista. Em São Paulo não tem erro: quase todos os restaurantes abrem o cardápio com esse prato que reúne essa dupla imbatível: o feijão com farinha. Desde a primeira metade do século XVII, eles constituem um casamento perfeito. O feijão com farinha é considerado o mais nacional dos pratos, segundo Luís da Câmara Cascudo. O Cozinheiro Nacional, obra do século XIX, registrou a receita: “Feijão preto em tutu: ‘Coze-se uma porção de feijão, escorre-se e tempera-se com bastante gordura, sal, alho, cebola, pimenta-da-índia; ajunta-se o caldo de feijão, e uma porção de farinha de milho ou de mandioca; mexe-se bem sobre o fogo até a farinha ficar cozida e serve-se, deitando em cima umas rodas de linguiças fritas ou assadas e umas rodelas de batatinhas’”. Evidentemente, com o passar dos anos o prato foi ganhando novos acompanhantes conforme a região do Brasil.

        Em casa só se consumia feijão preto e, quando minha avó não fazia o tutu de feijão, a farinha de mandioca era uma opção ocasional. O feijão preto é o meu preferido naturalmente. Não confie em que diz que basta cozinhar o feijão e caprichar no tempero; um feijão bem feito não pode ser aguado, tem que ter um caldo grosso, consistente. Nada de grãos boiando na panela. Aliás, a expressão boia significando a refeição (hora da boia) tem origem nos quartéis onde o “feijão servido, que por mal cozido, fica boiando”.

        Feijão com arroz? Outra dupla que faz parte da vida do brasileiro. É até sinônimo de coisa comum. Combina com quase todas as guarnições. (Confesso que adoro pão com feijão.) Lembro-me de um jovem político em início de carreira, que ao voltar de sua primeira viagem oficial à Europa, só conseguiu dizer aos jornalistas que sentira muita falta do feijão com arroz.

Como nada se perde, à noite era a vez da sopa de feijão, enriquecida com arroz ou couve ou macarrão ou o que mais houvesse. 

Eu diria que o feijão casa bem com muitas coisas, inclusive o macarrão. Feijoada? Já falei dela tempos atrás.

Os ameríndios já conheciam o feijão (e fava) e o arroz veio nas caravelas portuguesas, provenientes da Ásia (China), levado para a Europa pelos árabes. A origem do feijão não é certa, mas Cascudo diz que já era cultura muito antiga na África, citando autor do século XVI. 

         Hora do almoço... 

 FOTOS: Recanto Doce, Casa de Pães, na Aclimação. 12/04/2021. 

3 comentários:

Nilton Tuna disse...

Eu também adoro feijão com farinha. Desde criança, quando minha mãe convidava a família para lautas feijoadas, no meu prato não ia arroz: só farinha de mandioca bem torrada. Hoje, quando faço feijão, a companhia é sempre uma farofa com farinha de milho. Ou apenas a farinha de milho torrada na frigideira. E só.

Nilton Tuna disse...

Ah. E feijão preto, claro.

Hilda Araújo disse...

Nilton, me esqueci de citar a farinha de mandioca torrada na frigideira! Ah! Saudade da comida de casa... Não lembro se eu dispensava o arroz, mas como não sou muito fã de arroz (adoro o bolinho) provavelmente também não juntava o arroz. Acho que a única coisa que gostei em Brasília foi o feijão preto servido todos os dias... Como no Rio.