sábado, 26 de junho de 2021

REDESCOBRIR-SE NA APOSENTADORIA

Quando deixou a Faculdade de Economia e Administração da USP (FEA), como muitos aposentados, a Professora Emérita Diva Pinho procurou uma nova atividade e começou ajudando uma entidade assistencial cujas colaboradoras faziam trabalhos manuais para vender e a renda revertia para caridade. Diva Pinho logo abandonou agulhas e linhas, produzindo artesanato com pedras, mas também cansou. A professora de arte a incentivou a pintar. Em entrevista ao jornal da Biblioteca da FEA, a professora contou: “Pensei que não era capaz, mas ela colocou uma tela em minha frente e ordenou-me: Tente!  Então, desenhei o símbolo internacional do Cooperativismo, que significa também nosso sobrenome – um pinheiro alto e frondoso que protegia um outro menor. Corri para  casa e mostrei a tela para o marido, perguntando-lhe – qual deles sou eu? Você é o grande, respondeu-me gentilmente. Gostei da resposta, embora sentisse o contrário – sempre procurei seguir seu caminho intelectual. E não parei mais de pintar”. (9/8/2012)

        Anos atrás reuni alguns cartões com reproduções de pinturas de Diva Pinho, que guardo com muito cuidado.


A professora Diva Pinho "pode ser considerada herdeira intelectual da Missão Francesa, de tradição humanista, que implantou o ensino de economia na USP" (FEA/USP).  Ela foi uma das pioneiras do estudo sobre cooperativismo no Brasil. Ao se aposentar fundou o Instituto Cultural Carlos e Diva Pinho, constituído pela Casa da Cultura Carlos e Diva Pinho e pelo FUNCADI, um Fundo para captação de recursos destinados a apoiar atividades na área de Economia, do EAE ou Departamento de Economia da FEA. 

O endereço: Rua Almirante Pereira Guimarães, 314, Pacaembu. 

quinta-feira, 24 de junho de 2021

VISÃO DO PARAÍSO

 
“O SONHO”, óleo sobre tela de Henri Rousseau (1844-1910). Acervo do Museu de Arte Moderna de Nova York. Rousseau começou a pintar na meia idade e por muitos anos expôs suas obras em salões independentes. Embora seja visto como naif, sua obra é pós-impressionista.

Rousseau explicou a obra neste poema:

 

Yadwigha, em seu sono tranquilo,

Tem um sonho encantador,

E nele ouve um doce encantador de serpentes

Que toca sua flauta pastoril.

Os raios prateados da lua

Iluminam as flores e riachos da mata,

Enquanto as serpentes selvagens

Escutam a melodia alegre e arrebatadora.

quarta-feira, 23 de junho de 2021

RUGENDAS E O RIO PARAÍBA DO SUL

 

"Rio Parahyba do Sul" (1822-1925), litografia. Enciclopédia Cultural Itaú.

O Rio Paraíba do Sul, nasce na serra da Bocaina, no município de Areias (SP); é formado pela confluência dos rios Paraibuna e Paraitinga e atravessa os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro ‒ onde se localiza a sua foz, após um percurso de 1.137 km de extensão.

O alemão Johann Moritz Rugendas (1802-1858) foi pintor, gravador e desenhista. Rugendas veio para o Brasil atraído pelos relatos de viagem feitos pelos naturalistas Johann Baptist Von Spix (1781-1826) e Karl Friedrich Philipp von Martius (1794-1875) e pelas obras do pintor austríaco Thomas Ender (1774-1852). Ele integrou a Expedição Langsdorff, organizada pelo cônsul da Rússia Grigory Ivanovitch Langsdorff (1774-1852), e que chegou ao Brasil em 1822. Após a estada no Rio de Janeiro, Rugendas percorre São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Espírito Santo, Bahia e Pernambuco, registrando paisagens, usos e costumes de indígenas, negros e europeus.

O trabalho realizado ao longo da permanência dele no Brasil foi reunido no livro “Viagem Pitoresca através do Brasil” (Voyage Pittoresque dans le Brésil), que teve participação de 22 litógrafos, enquanto a preparação dos textos ficou a cargo de Victor Aimé Huber (1800-1869). A obra, que reúne cem litografias baseadas em desenhos sobre o Brasil, é considerada um dos mais importantes documentos iconográficos sobre o Brasil do século XIX. 


terça-feira, 22 de junho de 2021

ARTE E PAISAGEM

 Esse mar já foi português, francês e, novamente português, mas há quase 199 anos é brasileiro. 

“Fragata sob rajada de vento ao longo do Pão de Açúcar” (1825). Aquarela do inglês Emeric Essex Vidal (1791-1861). Vidal era marinheiro e se dedicava também à pintura.

MAR PORTUGUÊS

Fernando Pessoa


Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.

Quem quere passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

ARTE E PAISAGEM.

O inverno chegou. Estação perfeita para contemplação. Assim, uma semana adequada à arte. Que tal arte e paisagem como tema? Para começar nada como o quadro do inglês Thomas Gainsborough (1727-1788): “O reverendo John Chafy tocando violoncelo em uma paisagem” c. 1752, óleo sobre tela. Acervo da Tate Galery, Londres. 


   
O maestro Heitor Villa-Lobos, sempre inovador e maravilhoso, compôs entre 1944/1945 “Fantasia para Violoncelo e Orquestra”. Vídeo com a Orquestra Sinfônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro; Regente: Roberto Duarte. Solista: Hugo Pilger. 

sexta-feira, 18 de junho de 2021

PORTUGAL: MUSEU DOS TRANSPORTES.

 Na hora de passar pela alfândega,

é bom rezar para não acharem a viola.

A alfândega fiscaliza as mercadorias em circulação para cobrança dos devidos tributos. Em portos, aeroportos e fronteiras nacionais ou internacionais é um ponto pouco atraente. Mesmo que não se deva nada, nunca é agradável ser interrogado. Por tudo isso no Museu dos Transportes e Comunicações do Porto (Portugal), me surpreendi com a existência de Nossa Senhora das Alfândegas. Até anotei a história. Afinal, me perguntei, será que ela ajuda as pessoas na hora que chegam à aduana? De que forma?


A lenda é bem incomum. A epidemia de peste que assolava Lisboa no início do século XVI terminou em 1507 e funcionários da alfândega fizeram uma peregrinação à igreja de Nossa Senhora da Atalaia no Ribatejo para agradecer. Na mesma ocasião, uma tempestade em alto mar obrigou as embarcações que levavam alimentos para outros lugares a aportar em Lisboa, o que pôs fim à fome que grassava na cidade. O “milagre” acabou levando um grupo de pessoas ligadas à alfândega a criar a irmandade de Nossa Senhora das Alfândegas e o culto se tornou popular, terminando apenas em 1833 quando foi proibida a interferência religiosa em órgãos governamentais (laicização). Mais espantoso foi que em 1968 a devoção foi retomada. A festa da Virgem Soberana Protetora das Alfândegas é comemorada em 18 de dezembro.

Ilustração: Nossa Senhora. das Alfândegas: em cedro da Colômbia, folheada a ouro e policromada. Foi entronizada na Igreja de S. Pedro de Miragaia em 15 de dezembro de 1989. Foto do Arquivo do Museu, disponível no site. 

No mesmo museu, outra surpresa (por isso gosto tanto de museus). Se no Brasil temos o santinho de pau oco, em Portugal havia a viola metálica usada para o contrabando de azeite entre Portugal e Espanha, no período da II Guerra Mundial.

Museu dos Transportes e Comunicações do Porto: Rua Nova da Alfândega 59 ‒ Miragaia, Porto. O Museu fica à margem direita do rio Douro e ocupa um prédio do século XIX. Visitei em 2010.




quarta-feira, 16 de junho de 2021

LA BELLA ITALIA

 

LUCCA, na Toscana, já fazia parte do Império Romano no ano 208 a. C. Depois de passar o dia perambulando pelas ruas e praças da cidade murada, visitando museus e, claro, a casa do compositor Giacomo Puccini (1858-1924), fui para a Estação Ferroviária. Como saí por uma porta diferente daquela por onde entrara no centro histórico, fiquei em dúvida se a gare era à direita ou à esquerda. Só havia um senhor na avenida e estava parado na calçada do lado de um poste. Era alto, na faixa dos sessenta anos, bonito e bem vestido. Só tive tempo de dizer “Boa tarde, por favor...”, pois ele abriu um largo sorriso, avançou em minha direção, estendeu a mão e se apresentou: “Boa tarde, sou fulano de tal, muito prazer, como vai...” Fiquei surpresa com tanta cortesia; até parecia que eu era esperada... Resolvi esclarecer logo a situação explicando que eu só queria uma informação sobre a estação ferroviária. O cavalheiro mudou inteiramente de atitude. Muito formal me deu a orientação desejada; agradeci e fui para a estação. Durante a viagem para Prato, onde estava instalada, fiquei pensando no que acontecera. Ele certamente tinha um encontro com uma desconhecida. Com que objetivo? As respostas eram muitas, mas preferi a mais simples: ele era um guia de turismo à espera de alguma cliente enviada por agência ou contratada pela internet, embora o local de encontro fosse pouco confortável. Por que não na Estação ou no quiosque do centro de turismo que era bem próximo? Mistérios que restam desses passeios mundo afora. (Itália, 14 de outubro de 2011.)

Postal adquirido no Museu Puccini.

UM FILME DE MATAR

A melhor série de televisão a que assisti até hoje foi Seinfeld, porque trata com inteligência e bom humor as coisas banais da vida e muitas vezes você percebe que já viveu situações semelhantes. Claro, sempre com um toque de exagero. Eu, por exemplo, como Elaine (Julia Louis-Dreyfus), odiei “O Paciente inglês”, que recebeu o Oscar de melhor filme de 1996. Realmente, paciente é qualquer pessoa que consiga ver o filme até o fim.

terça-feira, 15 de junho de 2021

LEMBRANÇAS DE PORTUGAL

 

PORTO - A cidade é muito graciosa. Havia um ponto de ônibus em frente ao hotel e naquela manhã um senhor muito elegante, magrinho e carregando uma pasta, perguntou-me se o ônibus número X já havia passado. Como era o mesmo que eu esperava, pude informá-lo com segurança que não aparecera. Ele hesitou um instante, mas não resistiu e perguntou-me polidamente se era brasileira e de onde. Ele já estivera no Brasil e conhecia a Paulicéia desvairada (não citou Mário de Andrade). Minha aversão por conversar com estranhos é famosa, mas foi um prazer ouvi-lo falando sem parar até o ponto final – meu destino e o dele também.

Quando embarcamos no ônibus, sentou-se ao meu lado e apresentou-se. O nome dele era Castelo Branco. O Senhor Castelo Branco contou-me que ele sempre desejara conhecer o Brasil e conseguira realizar o sonho alguns anos antes. Fora ao Amazonas e Pará, visitara o Ceará e Pernambuco; claro que estivera na Bahia de onde foi para Minas, escorregou até o Pantanal e desaguou no Rio de Janeiro de onde embarcou para São Paulo e terminando nas Cataratas de Iguaçu.

Elogiei o roteiro que lhe deu uma visão da diversidade do País. Então, o cidadão que estava sentado no banco à nossa frente resolveu dar palpite na conversa, afinal, disse, vivera 15 anos no Brasil (acho que no Rio). Só faltou um cafezinho ou um porto de honra para que eu me sentisse numa sala de estar portuguesa. Quando descemos, nos despedimos e me dirigi à Catedral, mas estava em reforma e então fui à Livraria Lello – uma obra de arte única, que data de 1906.

"Oporto from the nunnery of San Bento" (1839), litografia de George Vivian (1798-1873).

Cidade do Porto, 2010.

segunda-feira, 14 de junho de 2021

HISTÓRIAS PORTUGUESAS

LISBOA. O bonde estava lotado ‒ muitos turistas entusiasmados e alguns lisboetas entediados. O elétrico, como o chamam por lá, parou em uma curva e o motorneiro tocou a sineta uma, duas, três vezes até que os passageiros ficaram curiosos. O condutor desceu para examinar o problema mais de perto e muitos passageiros o seguiram. Estiquei o pescoço e vi que um folgado estacionara o carro com as rodas traseiras sobre os trilhos.

Várias pessoas, alertadas pela sineta, saíram dos prédios para ver o que acontecia. Os estrangeiros (como se eu não fosse um deles) já haviam descido e estavam fotografando ou filmando a cena. Após vários minutos e muitos palpites, surgiu um funcionário da empresa de bondes chamado pelo motorneiro. Ele deu a volta no veículo, espiou o interior pelas janelas e depois chamou a polícia, que logo apareceu. O policial tirou o quepe do bolso da camisa, colocou-o na cabeça e só então tirou o bloco de multas do outro bolso.

A essa altura já havia uma aglomeração em frente ao para-brisa. Algo dentro do carro provocava boas risadas. Resolvi ver do que se tratava. Um bilhete sobre o painel dizia: “Desculpe-me o transtorno, mas tive que ir ao hospital.” Voltei para o bonde, pois o guincho chegara. Um velhinho, que não se comoveu nem se moveu com o incidente, me perguntou do que se tratava. Suspirou inconformado. “O hospital é logo ali à frente.” Enfim, o carro foi levado, as pessoas voltaram para o bonde e para os seus lugares e lá fomos nós para as Portas do Sol. A confusão toda durou menos de uma hora e não ouvi buzinas, não vi ninguém apoplético ou qualquer coisa parecida. Aaaaaaaah!

O elétrico 28 faz um trajeto por alguns dos principais pontos turísticos de Lisboa. Foto: Hilda Araújo.

Viagem em abril/maio de 2010.

domingo, 13 de junho de 2021

I JUST CALLED TO SAY I LOVE YOU

A deliciosa música de Steve Wonder (1950) recebeu o Globo de Ouro e Oscar de melhor canção original.  O filme é “A dana de vermelho” (1984), que teve roteiro e direção de Gene Wilder (1933-2016). Aliás, Wilder fez ótimos filmes. 

sábado, 12 de junho de 2021

LEMBRANÇAS DE SANTOS

Santo Antônio de Lisboa (Portugal) ou de Pádua (Itália)? Tanto faz é o mesmo santo. Explicação simples: nasceu em Lisboa e morreu em Pádua. Santo Antônio, nascido Fernando e de sobrenome ignorado, nasceu provavelmente em 1195 e faleceu em 1231. Morreu com cerca de 40 anos e muitos milagres lhe são atribuídos. É padroeiro de pobres e oprimidos, grávidas, pessoas que desejam encontrar objetos perdidos. Ah! E casamenteiro. Em Santos (SP) há duas igrejas dedicadas ao santo: a mais antiga, construída na primeira metade do século XVI, situa-se no Valongo (Rua Marquês de Herval, 13) e a outra foi inaugurada em 1946 no Embaré (Avenida Bartolomeu de Gusmão, 32) de frente para o mar. 

   

       Na década de 1970, no dia 13 de junho, a Igreja de Santo Antonio do Valongo oferecia os “pãezinhos de Santo Antônio”, após a missa que costumava ser bastante concorrida, especialmente pelos que pretendiam arranjar casamento e achavam que precisavam de um milagre. Não sei se o costume continua... Os tempos são outros ‒ para arranjar namorado agora o intermediário é a santa Internet.

“Il Miracolo del Piede” (1511), de Tiziano Vecellio (1490 - 1573). Local: Basilica Sant'Antonio di Padova ‒ Itália. ( Web Gallery of Art ).

O BEIJO DE EROS

 

 "Psiquê reanimada pelo beijo do Amor", obra do artista italiano  Antonio Canova (1757-1822). Museu do Louvre. 


A perfeição do soneto de Luis de Camões (?-1580).


Amor é fogo que arde sem se ver;
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor.


quinta-feira, 10 de junho de 2021

DIA DE CAMÕES

 [TANTA GUERRA, TANTO ENGANO...]

 

“No mar tanta tormenta e tanto dano,

Tantas vezes a morte apercebida;

Na terra, tanta guerra, tanto engano,

Tanta necessidade aborrecida!

Onde pode acolher-se um fraco humano,

Onde terá segurança a curta vida,

Que não se arme e se indigne o céu sereno

Contra um bicho da terra tão pequeno?”

 

Luís de Camões (?-1580).

(I.106)

“Versos e alguma prosa de Luís de Camões”. Edição da Fundação Calouste Gulbenkian. 1977.

quarta-feira, 9 de junho de 2021

ROSAS E MAGNÓLIAS

"PREFIRO ROSAS, meu amor, à pátria,

E antes magnólias amo

Que a glória e a virtude [..]."

ODES de Ricardo Reis

1-6-1916.


“Odalisca com magnólias” (1923), óleo sobre tela de Henri Matisse (1869-1954).


terça-feira, 8 de junho de 2021

O ÉBRIO E O POETA

 THE TIMES

Sentou-se bêbado à mesa e escreveu um fundo

Do Times, claro, inclassificável, lido,

Supondo (coitado!) que ia ter influência no mundo... 

(16-8-1928)

Fernando Pessoa (1888-1935)/ Obra Poética. 

“Bêbado”, tela do pintor suíço Albrecht Samuel Anker (1831-1910).

segunda-feira, 7 de junho de 2021

LEMBRANÇAS DE VIAGEM

NARBONNE, FRANÇA. Manhã ensolarada e fria. Tempo ideal para caminhar sem rumo. Foi assim que cheguei ao templo gótico. Contornei o prédio e descobri que abriga o Museu Lapidário. Nunca visitei um museu lapidário. Entro ou não? Não tive muito tempo para decidir porque o funcionário da bilheteria me chamou. Subi a escadinha e parei em frente ao guichê. Ele se parecia com Papai Noel e, sem se importar se eu sabia ou não francês, começou um discurso sobre a importância do museu e me ofereceu um passe para visitar aquele e outros museus. Ele não esperava respostas (o que achei ótimo) e para me convencer (já estava convencida) disse que em dez minutos começaria um maravilhoso espetáculo audiovisual. Achei um pouco demais. Afinal, além dele, eu era a única pessoa na quadra inteira. Enfim, comprei o bilhete para visitar também os museus de Arqueologia, de Arte e História. Ele me acompanhou até a nave do templo às escuras e repleta de colunas de todos os tamanhos e tipos ‒ as mais notáveis com iluminação indireta. Percebia apenas silhuetas. Papai Noel, digo o funcionário, desapareceu e voltou com uma cadeira que colocou no meio da igreja.  

 Madame, vou fechar a porta e tenha um bom espetáculo!

        Lá estava eu, sozinha, trancada em uma igreja/ museu, cercada de pedras seculares, com inscrições, relevos, sarcófagos e outros que tais. Sentei um pouco preocupada com a possibilidade de ser esquecida ali, pois era quase hora do almoço. 

        Então, começou o espetáculo. Nas paredes nuas da igreja, encaixavam-se as imagens das diferentes épocas de sua existência ao som de uma música maravilhosa. Quando a apresentação terminou, a porta se abriu e meu amigo veio ao meu encontro.

    ‒ Não é grandioso, madame?

    ‒ Magnífico! ‒ respondi para satisfação daquele funcionário exemplar do Musée Lapidaire de Narbonne. Agradeci a atenção e, convencida de que ele era Pére Noël de verdade, fui ver os monumentos. 

       


A igreja Notre-Dame de Lamourguié data de 1289, mas desde 1889 é sede do Museu Lapidário. Na verdade, há apenas a estrutura do templo original e todo o espaço é ocupado, entre outros, pelas pedras das antigas muralhas da cidade de Narbonne, que compõem a coleção lapidária: são cerca de dois mil documentos dos quais setecentos são inscrições – ou fragmentos de inscrições – e remontam aos dois primeiros séculos da nossa era.

Narbonne fica na região do Lanquedoc Roussillon, no sudoeste da França. Foto: 2010.

domingo, 6 de junho de 2021

I LOVE LUCY

Um episódio inesquecível da serie "I love Lucy" (1951-1957). Lucille Ball (1911-1989) contracena com uma camponesa italiana de verdade que não entendeu o que iria ser feito (ela não falava inglês e a equipe não falava italiano) e tudo acabou numa briga real, quando ela quase esganou Lucille Ball.

sábado, 5 de junho de 2021

OS 80 ANOS DE ERASMO CARLOS

Longa vida a Erasmo Carlos.

"Filosofia é poesia é o que dizia a minha vó
Antes mal acompanhada do que só..."



Quando? Não importa. Está firme em nossa memória. Arquivo Nacional.

sexta-feira, 4 de junho de 2021

O VINHO NA ARTE DA TAPEÇARIA

O vinho não inspirou apenas os pintores. No Museu Nacional da Idade Média, em Paris, encontra-se esta bela tapeçaria do século XVI, que retrata todo o processo da produção do vinho ‒ desde a colheita (à direita), a prensagem (à esquerda) e a primeira prova do sumo da uva, o que já dá uma ideia da qualidade do vinho (junto à treliça). 


LES VENDANGES

 





quinta-feira, 3 de junho de 2021

O VINHO E A EMBRIAGUEZ DE NOÉ

 

A Bíblia (Gêneses) narra a história do patriarca Noé, o construtor da Arca para salvar os animais do dilúvio, mas conta também como ele se embriagou embaraçando os filhos com o seu mau exemplo. A “Saída da Arca de Noé”, uma miniatura do século XV, atribuída ao mestre de Bedford, faz parte do Livro de Horas do Duque de Bedford, filho de Henrique IV de Inglaterra. Enquanto os animais vão deixando a arca, pode-se observar Noé sucumbindo à embriaguez, as uvas sendo pisoteadas e a vindima em andamento. 

    Beber com moderação é um conselho tão antigo quanto a Bíblia, que dedica vários provérbios ao consumo do vinho. 

quarta-feira, 2 de junho de 2021

CHAMPAGNE E OSTRAS

 

Pompa, mas nenhuma circunstância. Um alegre grupo de elegantes cavalheiros reúne-se para uma refeição e o cardápio é simples e sofisticado: ostras inglesas e champagne francês (claro). As ostras, abertas pelos serviçais, são consumidas com manteiga, sal e alho. A garrafa de champagne acabara de ganhar status oficial, graças a uma ordenação real - até o salto da rolha é acompanhado com curiosidade por alguns comensais. E esta parece também ser a primeira vez em que a bebida aparece em uma pintura. O rei Luis XV encomendou o quadro a Jean-François Troye (1679-1752) para a sala de jantar dos Pequenos Apartamentos do castelo de Versalhes, destinada à reunião dos homens que retornavam da caça. Fonte: Musée du vin.

“Jamais homme noble ne hait le bon vin.” (Tradução livre: nenhum homem nobre odeia um bom vinho.)

 "Le Déjeuner d'huîtres", óleo sobre tela de Jean-François Troye, de 1735. Acervo do Museu Condé, Chantilly, França.

terça-feira, 1 de junho de 2021

VINHO E INTEMPERANÇA

 A la première coupe, l’homme boit le vin; à la deuxième coupe, le vin boit le vin; à la troisième coupe, le vin boit l’homme.” Um provérbio que, traduzido livremente, significa "no primeiro copo, o homem bebe o vinho, no segundo, o vinho bebe o vinho e no terceiro, o vinho bebe o homem. O provérbio é japonês, mas encontrei em um site francês. 

Banquet avec des courtisanes dans une auberge", iluminura, c. 1455 ‒ Biblioteca Nacional de Paris, Musée Virtual du Vin.