quinta-feira, 30 de maio de 2019

A NATUREZA NÃO ENVELHECE, SE APRIMORA.

Achar um belo cenário faz parte da visita ao Parque da Água Branca.




 



Muito elegantes, as galinhas-d'angola só observam; o pato descansa enquanto os galos vigiam.


                                  Jovem mãe conduz a montaria e o garoto parece pronto para a aula de equitação.




quarta-feira, 29 de maio de 2019

90 ANOS DO PARQUE DA ÁGUA BRANCA

Almoço na roça? Não, na Água Branca.
Está sem programa e não quer ir muito longe? Basta pegar o metrô ou o trem e descer na estação Barra Funda, atravessar Avenida Francisco Matarazzo e lá está um paraíso rural de 136.765 m². Um espaço onde se ouve canto de galo, cacarejo de galinha, pipio de pintinho, relinchar de cavalos e ainda se pode se fazer um lanche cercado de patos gulosos e se fartar de escutar canto de passarinho. Quanto custa? Nada. O Parque Estadual da Água Branca completará 90 anos no próximo dia 2 de junho e, como se percebe, tem características diferentes das outras unidades de conservação. Em vez de circular por bosques, as pessoas se veem em um ambiente rural em pleno burburinho da cidade.

Mas há muito mais. Quem passou dos sessenta anos e precisa fazer exercício, encontra um espaço especial (Praça do Idoso) com equipamentos de ginástica, mas também não faltam festas para quem prefere música e dança. Quer ler? Há o cantinho da leitura – você pode levar o seu livro ou escolher um nos quiosques. É possível assistir a aulas de equitação, caminhar à beira dos lagos, observar de longe os cavalos nas baias e, se escolher a época, ver feiras e exposições que acontecem periodicamente. Para os caminhantes, o parque tem a Trilha do Pau-brasil. Nos fins de semana há rodas de viola; às terças-feiras, sábados e domingos acontece uma feira de produtos orgânicos das 7 horas ao meio-dia. Junho, por exemplo, é tempo de festas típicas da época.
        Uma atração imperdível é o Museu Geológico do Estado de São Paulo, formado com parte do acervo da Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo – CGG (1886-1931). A entidade promove exposições temporárias e oficinas. O MUGEO, como é conhecido, foi criado em 14 de novembro de 1967. Existe também um Aquário que pode ser visitado de quarta a domingo.

     O parque nasceu de uma área desapropriada no bairro da Água Branca em 1905 para a instalação da Escola Municipal de Pomologia e Horticultura criada pelo prefeito Antônio da Silva Prado (1840-1929). A instituição foi desativada em 1911 e o lugar abandonado era conhecido na região como viveiro de plantas. Outros terrenos foram desapropriados e, finalmente, em 1928, o governador de São Paulo, Júlio Prestes (1882-1946), transferiu as dependências de Produção Animal e de Exposições da Mooca para o bairro da Água Branca, criando o "Pavilhão de Exposições de Animais", que mais tarde recebeu o nome de Parque Estadual "Dr. Fernando Costa”. Fernando de Sousa Costa (1886-1946) foi agrônomo, formado pela Escola Superior de Agricultura “Luís de Queirós” e político. Em sua gestão como secretário da Agricultura de São Paulo (1927 — 1930), criou além do Parque o Instituto Biológico.
        No Parque funcionam o Fundo Social de Solidariedade do Estado de São Paulo e o Fundo de Assistência Social do Palácio do Governo. É tombado pelo Condephaat (1996) como patrimônio cultural, histórico, arquitetônico, turístico, tecnológico e paisagístico do Estado de São Paulo, e pelo CONPRESP pelo valor histórico, arquitetônico e paisagístico-ambiental.

Nas cavalariças, os animais observam o movimento.
Endereço: Avenida Francisco Matarazzo, 455.


terça-feira, 28 de maio de 2019

BELA VISTA, BIXIGA.

imagens do bairro.


Rua Fortaleza.

Adoniran Barbosa (1910-1082).

São José aos pés da escadaria de acesso à Rua dos Ingleses.
 
O bonito mural na Praça Dom Orione e entrada da loja.
Um garçom muito atencioso.

domingo, 26 de maio de 2019

ESTRANHOS NO NINHO.


Minha caminhada ontem pela Bela Vista, começou sexta à noite. Ao sair da comemoração do aniversário de um amigo na Rua Rui Barbosa, caminhei até a Avenida Brigadeiro Luís Antônio, aproveitando a noite fresca para observar as pessoas, as construções...Foi assim que vi uma vila parcamente iluminada. Daquelas vilas de calçadas estreitas e casas que me pareceram interessantes de ser ver à luz do sol. Pronto! Amanhã voltarei, pensei com meus botões.
E o sábado amanheceu azul, adequado à caminhada pela Bela Vista. Comecei pela Rua Treze de Maio e, sem pressa, cheguei à Rua Rui Barbosa onde fui explorar a Panetteria Italianinha, passando pelo Teatro Sérgio Cardoso “embrulhado” para reparos. A Italianinha tem 123 anos, foi muito grande, mas encolheu com o desenvolvimento da região sem perder de vista as origens e a qualidade de seus produtos. Volto à busca da vila, que é uma travessa da Rua Fortaleza. Dizem que à noite todos os gatos são pardos. Verdade. Descubro um espaço decadente embora alguns imóveis estejam bem conservados. Ironicamente, o endereço é Travessa dos Arquitetos.

Não importa se a rua não é bonita.

Continuo agora com destino à Praça Dom Orione que não visito há décadas, mas o viaduto Amando Puglisi é um obstáculo. Pergunto a um rapaz qual o caminho melhor. Ele larga o celular, sorri e me diz para entrar no prédio, subir a passarela e sairei na Rua Treze de Maio e, passando sob o viaduto, estarei na Praça. “Por dentro do prédio?” Sim, trata-se de uma galeria que pode ser usada como passagem. Sigo as instruções e lá estou eu onde queria.

A praça está bem conservada e há tudo que deve ter em um espaço como esse: crianças brincando, namorados, trabalhadores da Prefeitura, algumas pessoas dormitando ao sol, indiferentes ao coreto Carmelo Taverna, ao olhar de D. Orione e de Adoniran Barbosa, a grande estrela da Bela Vista-Bixiga. Dá gosto de ver a conservação da quase centenária escadaria do Bixiga liga a Rua Treze de Maio à Rua dos Ingleses. Obra do prefeito Pires do Rio. No prédio do largo funciona um “velhiquário” de acordo com a faixa. Aliás, há vários antiquários na região, mas gostei mesmo do Shopping das Artes, que reúne 40 lojas de artes plásticas e antiguidades e liga a Rua Trezes de Maio à Rua dos Ingleses de forma muito agradável. Numa das lojas um senhor conserta relógios. Há vários cucos na parede e ele me garante que quem compra um cuco ganha um saco de 100 kg de sementes. Chega o padeiro com pão italiano quentinho, me despeço para que ele faça a refeição com tranquilidade.

Dou por encerrado o passeio e deixo para outra ocasião os restaurantes e cantinas famosos do bairro, reduto italiano da cidade. Não pude deixar de notar alguns estranhos no ninho: o Moura Sushi, o Al Janiah e um snak bar chinês. Viva a globalização!

sexta-feira, 24 de maio de 2019

DIA NACIONAL DO CAFÉ

Cresci numa família movida a café. Meu pai era corretor de café e teve escritório na Rua XV de Novembro, coração do comércio cafeeiro de Santos (SP). Acordava todos os dias com o aroma do café coado com carinho pela minha avó. No quintal, um pé de café entre tantas outras plantas se cobria de cerejas que eu colhia e comia todos os anos... Mas só aprendi a saborear a bebida quando já era adulta. De manhã o centro de Santos onde se concentravam torrefadoras até os anos 1970 rescendia a café... O jornal onde trabalhei, na esquina da Rua XV de Novembro, convivia com o burburinho dos corretores de café que se reuniam na rua estreita à moda antiga para discutir os preços da bebida, política e o desempenho do Santos Futebol Clube. Num canto da redação, o cafezinho era o ponto para inspiração dos repórteres em busca de um bom lead. Muitas grandes reportagens se concretizaram no Café Paulista (logo na esquina)... A pausa rápida podia ser ali embaixo no Alvorada. Tudo desapareceu, mas o café continua insubstituível.  
       A cidade de São Paulo tem o maior cafezal urbano do mundo formado por 1.536 pés de café das variedades Mundo Novo e Catuaí, numa área de 10 mil metros quadrados em plena Vila Mariana. O cafezal paulistano foi formado na segunda metade dos anos 1950 para pesquisa e atualmente tem cunho histórico, didático e cultural. No dia nacional do café, 24 de maio, quando começa a colheita do fruto no Estado de São Paulo, o Instituto Biológico promove o “Sabor da Colheita”,  um evento público gratuito para que a população possa conhecer uma plantação de café e aprender sobre esse fruto, responsável por enriquecimento econômico do Brasil no século XIX e início do XX.




Instituto Biológico: Avenida Conselheiro Rodrigues Alves, 1252

Vila Mariana. Telefone: (11) 5087-1701.

quarta-feira, 22 de maio de 2019

LANÇAMENTO DO LIVRO REPROPOSTA

O livro Reproposta tem um significador muito especial. Quatro senhoras contam suas histórias de vida. Duas são amigas: Neuza Guerreiro de Carvalho e Etty Veríssimo, duas mulheres fortes cujas histórias conheço. Sucesso a todos os envolvidos. Espero que o projeto prossiga.






domingo, 19 de maio de 2019

PIANO, PIANO...

Uma “Aula de Piano” muito especial: composição de Vinicius de Moraes (1913-1980) e Toquinho (1946). 

Depois do almoço na sala vazia


A mãe subia pra se recostar
E no passado que a sala escondia
A menininha ficava a esperar
O professor de piano chegava
E começava uma nova lição
E a menininha, tão bonitinha
Enchia a casa feito um clarim
Abria o peito, mandava brasa
E solfejava assim:
Ai, ai, ai
Lá, sol, fá, mi, ré
Tira a não daí
Dó, dó, ré, dó, si
Aqui não dá pé
Mi, mi, fá, mi, ré
E agora o sol, fá
Pra lição acabar

Diz o refrão quem não chora não mama
Veio o sucesso e a consagração
Que finalmente deitaram na fama
Tendo atingido a total perfeição
Nunca se viu tanta variedade
A quatro mãos em concertos de amor
Mas na verdade tinham saudade
De quando ele era seu professor
E quando ela, menina e bela
Abria o berrador
Ai, ai, ai,
Lá, sol, fá, mi, ré


"Aula de piano", de Vinicius de Moraes e Toquinho, com As Frenéticas.

Cresci ao som de um piano. Minha tia Odete era professora de música e, quando não estava tocando Beethoven, Wagner ou Chopin, recebia as alunas que martelavam as teclas do Steinway ou solfejavam a duras penas no velho Bona. Minha vez chegou ao completar sete anos, quando claves de sol e fá, colcheias, fusas e semifusas, semicolcheias e semibreves povoaram as minhas tardes. As escalas, as primeiras músicas, a alegria; mais escalas, mais uma música, muito mais escalas... Ah! Que monotonia, indo e vindo tentando a perfeição... Mas essa é uma história que já foi contada. 

ILUSTRAÇÕES: 


“Aula de Piano", do inglês Edmund Blair Leighton (1852-1922).
“O Mestre da Música", do americano Fletcher Charles Ransom (1870-1943).
"Menina ao piano", do checo Rudolf Jelenik (1880-1945).

“Menina em uma Sala com Piano Lendo Livro”, do dinamarquês Carl Holsøe (1863-1935). 

sábado, 18 de maio de 2019

A AMIZADE DOS POETAS

O garoto alagoano José Maria tinha 16 anos quando mudou para o Rio de Janeiro para fazer um curso preparatório para a Escola Naval. Após três anos desistiu, arrumou emprego e logo ingressou na Escola Politécnica. Em 1906 recebeu o diploma de engenheiro geógrafo e foi trabalhar na Prefeitura. José Maria Goulart de Andrade (1881-1936), entretanto, era aspirante a poeta e frequentava a boemia carioca que, na passagem do século XIX para o XX, reuniu alguns dos maiores nomes da literatura brasileira. A roda de amigos incluía entre muitos outros, Olavo Bilac, Martins Fontes, Emílio de Menezes, Guimarães Passos... 

      O grande amigo era o poeta santista José Martins Fontes (1884-1937), médico sanitarista formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1908. Na biografia de Goulart de Andrade para a SÉRIE ESSENCIAL da Academia Brasileira de Letras, o professor Sânzio de Azevedo (UFC) relata algumas histórias dessa amizade que se prolongou por toda a vida, apesar dos caminhos diferentes que eles trilharam.
Em “Nós, as abelhas” (1936), Martins Fontes conta que: “Houve tempo em que às seis horas da manhã, Goulart, engenheiro da Prefeitura, e eu como auxiliar de Oswaldo Cruz, nos encontrávamos sem nunca, nunca faltar, a caminho dos subúrbios iniciando a faina [...]. Acordávamos ao alvorar, entrávamos pela noite, fazendo literatura. Fantástico! Para nós o domingo era o dia útil do sono equivalente ao de uma semana. A ninguém dediquei maior admiração que a que consagro ao grande Goulart de Andrade”.
        A casa em que vivia Martins Fontes no Rio era bem peculiar e todos a conheciam como “Navio da Lapa”. Sânzio de Azevedo convoca Luis Edmundo (“O Rio de Janeiro do meu tempo”, 1957) para descrever o lugar famoso.

“Navio porque o assoalho da casa balança, como o dos barcos sobre as águas do mar, as vigas que suportam as tábuas onde se pisa, comidas aqui e ali, pelo cupim, dão aos que sobre elas caminham a impressão do roulis ou do tangage [...] Fontes é o oficial-maior do Navio. Usa um pijama com alamares, feitos de ligas velhas, Oscar Lopes é o imediato. Serve, às vezes de piloto, o Goulart de Andrade”.

Contudo, uma brincadeira específica do grupo que chama atenção porque a história se repetiu recentemente. Os jovens foram a casa de Olavo Bilac (1865-1918), como conta mais uma vez Martins Fontes (“O Colar Partido”, 1927):
“Bilac recebeu-nos sem saber do que se tratava, mas porque tinha o dom divinatório, friamente interrogou: - De que se trata, meus caros senhores? Goulart de Andrade então lhe disse: – Caro chefe, o nosso Partido vem oferecer-lhe a presidência da República, para salvarmos a pátria. Bilac aceitou o posto de sacrifício. E começaram os trabalhos para a organização do ministério”.   
No final da brincadeira, o “ministério” teve Coelho Neto, na Marinha; Alberto de Oliveira, na Agricultura; e Goulart de Andrade, na Viação.
        Goulart de Andrade conquistou seu lugar na literatura brasileira como poeta parnasiano. O trabalho de Sânzio de Azevedo reúne diversas críticas à obra do poeta alagoano. Escolhi a manifestação de Nelson Werneck Sodré: “Sua estreia, com Poesias (1907), incorporou-o às fileiras parnasianas, de que foi um dos mais frisantes exemplos, pela correção formal”. E da pequena antologia no final do livro, escolhi “Cosmos” (1934).

COSMOS
Tens a aurora na boca e a noite escura
Nos olhos; no cabelo, em desalinho,
O mar bravo, a floresta, o torvelinho;
E as neves da montanha em tua alvura!

Possuis na voz a música e a frescura
Da água corrente; o sussurrar do ninho
Na surdina sutil do teu carinho,
Em que o calor ao travo se mistura...

Cheiras como um vergel! Tens a tristeza
 De uma tarde hibernal, em que anda imerso
Teu Amor – meu algoz e minha presa –

Em tua alma e teu corpo acha meu verso
Todas as convulsões da natureza
E as harmonias do universo.

GOULART DE ANDRADE: Cadeira 6. Ocupante 3/Sânzio de Azevedo. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2012.

quinta-feira, 16 de maio de 2019

LIVROS, SEMPRE LIVROS.

Arrumar as estantes de livros é um problema. Agradável, certamente e, em geral, demora dias. O problema é que acabo encontrando meio escondido nas últimas fileiras um amigo que não via fazia tempo; outro de que quase me esquecera e alguns que esperam este encontro com a paciência que só eles têm. Desse modo acabo parando para ler, reler ou folhear os livros, o que torna a tarefa mais suave, porém, sem data definida para terminar.
Foi assim que reencontrei este texto que transcrevo, propondo até uma adivinhação: quem é o autor dele?
I - “Na verdade (...), nada me agrada tanto como praticar com pessoas de idade; pois as considero como viajantes que percorreram um longo caminho, o qual eu talvez tenha de percorrer também. Por isso acho necessário informar-me com elas se a estrada é lisa e fácil ou áspera e cheia de dificuldades.”
(...)
II – “Os homens da minha idade reúnem-se muitas vezes; somos pássaros da mesma plumagem, como diria o velho provérbio; e nessas reuniões o tom geral da conversa é: não posso comer, não posso beber; lá se foram os prazeres da mocidade e do amor; outrora se vivia bem, mas isso já passou e a vida já não é a vida. Alguns se queixam das desconsiderações que recebem dos próprios parentes e desfiam tristemente a cantilena de todos os males que a velhice lhes traz. Mas quer me parecer (...) que essas pessoas culpam a quem realmente não é culpado. Porque se a velhice fosse a causa eu, que também sou velho, e todos os demais que o são sofreríamos a mesma coisa. (...).  A verdade é que essas queixas, bem como as que são feitas contra parentes, devem ser atribuídas à mesma causa; e esta não é a velhice, e sim o caráter dos homens; pois aquele que tem um natural tranquilo e bem humorado não sentirá o peso dos anos, e ao que não é assim não só a velhice, mas a própria juventude é pesada.”
      Octogenária e de bem com a vida. Ela é risonha, enfrenta as limitações que a idade traz, acompanha com interesse renovado as mudanças sociais e tecnológicas do mundo e tem um grande amor pela família que formou e vê crescer com carinho. É um prazer encontrá-la porque transmite prazer de viver e, embora tenha problemas de saúde, estes nunca são o tema da conversa, apenas uma ligeira menção porque logo está falando da  programação cultural da cidade, de uma comidinha diferente e de algum assunto do momento.
Ah! O autor do texto transcrito é Platão (428-348 A.C), que narra em A República um diálogo entre Sócrates (469-399 A.C.) e o seu anfitrião em ceia que antecede a um festival. O texto I é de uma conversa de Sócrates e o II é a resposta do anfitrião. E a gente acha que o mundo mudou...
Platão – Diálogos – A República, tradução de Leonel Vallandro. Coleção Universidade.


 (Adaptação do original publicado em blog antigo, em meados de 2011, aproveitando nova arrumação das estantes. Neuza está ótima, com a mesma disposição em 2020.)
Ilustração: J. Pierpont Morgan's Library, Nova York (www.themorgan.org/)





quarta-feira, 15 de maio de 2019

JAMES BOND


James Bond era americano, morreu em 1989 e estaria com 119 anos. Era também espião, mas sem licença para matar. Seus interesses estavam bem acima das lutas clandestinas da guerra fria e nunca esteve a serviço da rainha da Inglaterra. Na verdade, os objetos de espionagem de Bond se locomoviam rapidamente pelo céu: aves. Bond, James Bond (1900-1989) foi ornitólogo.

O nome do personagem criado por Ian Fleming (1908-1964) não foi mero acaso. Fleming, além de ter trabalhado no serviço secreto inglês durante a II Guerra, também era um observador de pássaros e conhecia o ornitólogo, mas o que pesou mesmo foi o fato de que o nome não era romântico, era curto e bastante masculino: “era exatamente o que eu precisava e em um segundo o segundo James Bond nasceu”.
James Bond de Fleming completou 66 anos em 13 de abril deste ano, pouquíssimo interessado em pássaros. Ian Fleming publicou Cassino Royale, o primeiro livro como personagem, em 1953. O livro transformado em filme para televisão americana em 1954, teve como protagonista Barry Nelson (1917-2007). Os direitos cinematográficos de quase toda a obra escrita por Fleming foram adquiridos por Harry Saltzman e Albert Broccoli, donos da produtora EON. Em 1962 foi lançado o primeiro filme da série (considerada oficial) com Sean Connery (1930).  Dizem que Fleming julgava David Niven (1910-1983) o ator ideal para o papel de Bond. Mas James Bond será sempre Connery. 

Os roteiros dos filmes de Bond – pelo menos os seis estrelados por Sean Connery – são bem fieis aos livros de Fleming. Acho que li todos depois de ter visto no cinema. (Aliás, este é um detalhe importante para mim: se leio um livro raramente vou assistir ao filme porque em geral me decepciono com os roteiros ou as liberdades dos diretores. Um ótimo exemplo é A fogueira das Vaidades, de Tom Wolfe, cuja adaptação resultou em um filme idiota.)

terça-feira, 14 de maio de 2019

ANDANÇAS PAULISTANAS


Há sempre muito para ver e fazer em São Paulo. Não importa aonde se vá, basta ter disposição para encontrar algo bonito, agradável e barato (frequentemente de graça). E ainda se pode provar alguma delícia no caminho.




Na recepção da Biblioteca Mário de Andrade, fui informada que a Circulante estava fechada. Fazer o quê? Lembro-me que há uma nova exposição no Centro Cultural dos Correios, no caminho uma parada na Casa Mathilde para um papo de anjo . Entro na estação São Bento do metrô para sair no Vale do Anhangabaú e antes de chegar à rampa me deparo com um desenho gracioso de Juliana Russo: "Personagens, 1", em nanquim e aquarela. personagens que circulam pelo Centro da cidade no dia a dia e dão colorido à vida paulistana. Por causa do vidro (e da fotógrafa, naturalmente) a foto não ficou boa.

Enfim, chego ao Centro Cultural para conhecer a obra do artista nipo-brasileiro Kenichi Kaneco (1935) reunida na exposição "Veredas".  Uma bela mostra. Kaneco chegou ao Brasil em 1960, trabalhou dois anos em Campinas como agricultor, dois anos depois veio para São Paulo e começou a percorrer a galerias com seus desenhos. No primeiro dia vendeu dois por um valor de quase um salário que ganhava na roça. Em 1963 mandou cinco quadros para a Bienal de São Paulo, todos selecionados e vendidos. 


Kaneco também é poeta, mas é possível que seja mais conhecido como ator, pois atuou em  vários filmes – como "As amantes de um homem proibido" (1978), "O beijo da mulher aranha" (1985) e"Corações Sujos (2011) – e novelas - "Zazá", Cobras e Lagartos (2006) e “Morde e assopra” (2011). 




Em tempo: a exposição “SACY PERERÊ – 100 anos depois do inquérito” , promovida pela Secretaria de Cultura e Turismo de Barueri, continua no Centro Cultural Correios - Avenida são João, s/nº. Estação São Bento do Metrô.



Ainda há tempo para se infiltrar nos “Territórios da Criação” de Oscar Niemeyer (1907-2012), no Instituto Tomie Ohtake. Esta exposição, que termina no próximo domingo (19) é uma boa oportunidade para conhecer pinturas, desenhos e até mobiliário criado pelo arquiteto. Não sou fã do arquiteto, embora goste de algumas obras dele. Ao lado, a Espreguiçadeira Rio (1977-1978) em madeira e palha.
Avenida Faria Lima, 201. 
Na saída, fui ao Mercado de Pinheiros comprar frutas secas. Na hora do almoço é sempre muito concorrido. 
Rua Pedro Cristi, 89.Metrô Faria Lima - Linha Amarela.

segunda-feira, 13 de maio de 2019

QUE SERA SERA...

Adeus a DORIS DAY (1922-2019): uma ótima atriz e cantora. Gosto demais de rever seus filmes, adocicados, românticos, divertidos. Vê-la caminhar com uma postura elegante, de bailarina que quis ser, mas que um acidente automobilístico e um tombo impediram. Exibia um guarda-roupa de sonhos. Além de ser dirigida por Hitchcock (“O homem que sabia demais”), estrelou “Ama-me ou esquece-me” (1955), de Charles Vidor, com James Cagney.

A canção "Que sera sera" é do filme “O homem que sabia demais”.


sábado, 11 de maio de 2019

FIM DE SEMANA COM ARTE









 

Foi por meio escritor do Jorge Semprun (1923-2011) que conheci a obra do pintor flamengo Johannes Vermeer (1632-1675). O romance “A segunda morte de Ramon Mercader” (Editora Paz e Terra) começa com a descrição da tela “Vista de Delft”, que o personagem principal observa em sua visita à Galeria Mauritshuis em Haia (Países Baixos). Vermeer fez parte da era de ouro holandesa (século XVII), mas só foi reconhecido no século XIX. Converteu-se ao catolicismo para se casar, teve quinze filhos (onze sobreviveram) e seus parcos rendimentos provinham do comércio de arte mais do que de sua produção artística. Morreu jovem e na miséria. Interessante observar que as obras foram realizadas no mesmo local tanto pelas janelas como pelo piso da sala, embora a decoração do ambiente tenha sido mudada. 

Os quadros de cima para baixo a partir da direita para a esquerda:
Senhora diante do virginal (1670/73).
Senhora sentada ao virginal (1673).
Jovem sentada ao virginal.
Mulher com alaúde (1672).
Aula de Música (16662).
Concerto


Em tempo: o virginal é uma versão simplificada do cravo. Achei esta gravação da composição do inglês Hugh Aston (c.1485-1558), escrita especialmente para o virginal. Vale observar nos quadros que a tampa do virginal era adornada com a pintura de paisagens.