quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

LEPIDOPTEROFOBIA

Borboletário. Palácio das Indústrias. Nem cheguei perto.
Acabo de descobrir que sofro de motefobia. Não sabia que ter medo de borboletas tinha um nome tão exótico. Na verdade, aplica-se ao medo de todos os insetos. Embora não aprecie insetos em geral, eles não me incomodam, mas desde que me entendo por gente borboletas me descontrolam. Só as vivas porque nunca me incomodei com aquela arte kitsch feita com asas de borboletas comum em lojas frequentadas por turistas estrangeiros; entretanto, evito as coleções de insetos de museus de zoologia. Fotos ou desenhos de borboletas não me amedrontam, pois felizmente elas não saem voando de livros ou molduras. Há outro nome, que considero mais adequado para meu “caso”: LepidopterofobiaLepidoptera é palavra grega para identificar grupo ou classe de borboletas e mariposas. 
Ama borboletas? Bom para você. Eu já dei muitos vexames por causa delas – já deixei um restaurante em meio à refeição porque uma inconveniente entrou no recinto. Na rua, saio em disparada ao ver a desagradável criatura. E decepcionei o diretor de um parque estadual que me pediu para fazer uma reportagem sobre um “espetáculo maravilhoso”, mas quando me disse que se tratava de uma revoada de borboletas, fui logo dizendo “nem pensar”. O repórter fotográfico registrou o evento, afinal, uma imagem vale por mil palavras.  
Washington, DC: passei longe.
New Orleans: não, obrigada.
PS. Para mim o assunto nunca é velho. 

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

TREMEMBÉ TOUR


Tremembé. Ponto de ônibus cheio. Perguntei a uma senhora qual ônibus ia para a estação Tucuruvi do metrô. Prestativa, ela deu a informação e todas alternativas e logo subiu em outro ônibus. O velhinho sentado no banco ouvia atentamente a conversa e resolveu me ajudar, explicando tudo de novo. Enfim, o coletivo chegou, embarcamos e ele se aboletou do meu lado, decidido a continuar falando. Suspirei conformada; entretanto, para minha surpresa, ele transformou a viagem pelo Tremembé em um passeio turístico muito interessante.

 
“Aqui, havia só chácaras.” Ele aponta as casas e explica que toda a área pertencia à Dona Maria Amália Lopes de Azevedo, que dá nome à avenida por onde o ônibus trafega, e que antigamente “era uma estrada de terra onde só passava carro de boi.” O avô tinha chácara, plantava verduras que vendia na feira e de porta em porta. “Ali era a linha do trem que ia para Guarulhos.” (Creio que ele se refere ao Tramway da Cantareira) O pai dele era maquinista, conta e indica um ponto qualquer à esquerda onde se situa um hospital que não vejo. “O último vagão branco com uma cruz vermelha, em que vinham os doentes, era deixado no pátio do leprosário.” (Trata-se do Hospital Municipal São Luis.) Meu cicerone não para de falar. “Mais adiante tinha um riozinho onde eu vinha pescar quando era garoto, mas agora é só esgoto.” Não escapa nem a caixa d’água da SABESP.
Passamos por uma quadra onde houve um grande convento e, embora as velhas irmãs tenham resistido a vender a propriedade, as novas freiras não hesitaram em lotear a área, segundo meu guia, que usa palavras pouco cristãs para definir as religiosas. “Ali, mora minha prima que ficou viúva há um ano” – ele mostra uma bonita casa de esquina. O ônibus sobe e desce, vira aqui e ali. “Casei nesta igreja, minha esposa é muito religiosa, e viemos morar numa destas casas em frente, mas não reconheço qual delas por causa das reformas que desfiguraram tudo.”

tour pelo Tremembé vai chegando ao fim. O guia incidental se despede – vai comprar um presente de casamento.  No meio da conversa, disse que está com 74 anos e vive bem com a pequena aposentadoria porque precisa de pouco para viver. Detesto a conversa com estranhos que se sentam ao meu lado em conduções e resolvem contar suas vidas entre um ponto e outro de ônibus; este encontro, entretanto, foi muito agradável e me ajudou a enfrentar a tristeza da despedida de um amigo que partiu muito cedo. (2015)

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018


TREM DE FERRO
Manuel Bandeira

Palácio das Indústrias. Foto: Hilda Araújo, 2016.
Café com pão
Café com pão
Café com pão
Virge Maria que foi isto maquinista?

Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força

Oô...
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
De ingazeira
Debruçada
No riacho
Que vontade
De cantar!

Oô...
Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficiá

Oô...
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matá minha sede
Oô...
Vou mimbora vou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no Sertão
Sou de Ouricuri
Oô...

Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...

domingo, 28 de janeiro de 2018

VAMOS À PRAIA
Último domingo de janeiro.

" Um Domingo à tarde na Ilha de Grande Jatte", obra de Georges-Pierre Seurat, 1884.

sábado, 27 de janeiro de 2018

VAMOS À PRAIA

Último fim de semana de janeiro.
"Bains de mer", 1876. Terebentina e óleo sobre papel sobre tela de Edgar Degas (1834-1917). 

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018


A BRAZ CUBAS COM CARINHO.
Santos, 472 anos.

Os primeiros anos da vida marcam nossa jornada. É a fase das sensações desconhecidas, das descobertas, do aprendizado. Família em primeiro lugar. Depois, o local em que crescemos. Ao olhar para trás percebo que Santos (SP) é o meu lugar. As primeiras lembranças? Os sinos da catedral ou da capela do Monte Serrat. A sirene de A Tribuna ao meio-dia. Os apitos de navios entrando ou saindo do porto. O trepidar dos bondes que passavam em frente a minha casa. Os verões causticantes. A figueira e a nespereira do quintal. O perfume do café torrado que envolvia o centro da cidade. Nos dias chuvosos, o aroma da maresia que se espalha pela orla juntando-se ao cheiro de terra emanado dos jardins... Abrir as janelas para uma rua movimentada e admirar os belos e imponentes casarão branco em meio a um grande jardim de uma entidade feminina e o prédio do Real Centro Português. Havia ao lado o sobrado misterioso, que levaria muito tempo para eu entender. O sagrado e o profano passavam sob aquelas janelas: blocos no Carnaval e procissões em dias santos. Durante a semana havia sempre o burburinho de gente indo e vindo para o trabalho. Aos domingos, tranquilidade. Seu Luciano, estivador português, colocava a cadeira do lado do portão com o encosto para frente onde apoiava os braços e ficava a observar o mundo. Nos jardins da casa branca, o caseiro tocava cavaquinho cercado pelas filhas. Dona Santinha, o marido e o filho saíam no carro antigo para os passeios. O dentista e a família quase não eram vistos. A rua já perdera quase todos os moradores. Visita esperada de minha melhor amiga para brincarmos. Durante a semana pela mão de minha tia Odete ia e voltava da escola e gostava de ver o monumento do soldado no meio da praça, rodeada pela catedral e pelo Teatro Coliseu, onde minha avó me levou uma vez para assistir a um espetáculo de balé de Décio Stuart. Aprendi com minha avó a apreciar os passeios pelo centro da cidade, fazendo compras e conversando com amigos e conhecidos que ela encontrava, enquanto eu ficava por perto ouvindo histórias... Santos, entre as décadas de 1940 e 1950.
  Fotos: Hilda Araújo. De cima para baixo a partir da esquerda:
Capela do Monte Serrat, o bonde amigo, o leão dos jardins da praia, monumento "Filhos dos Bandeirantes" da Praça José Bonifácio, prédio do Corpo de Bombeiros, atual sede da Câmara de Vereadores,
Obs.: fotografo apenas para me divertir, sem pretensões profissionais.




Teatro Coliseu, a catedral e o fórum vistos da biblioteca da Humanitária.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

SÃO PAULO, QUE TERRA BOA...  


Blaise Cendrars (1887-1961): escritor e poeta suíço, viajante inveterado, visitou o Brasil em 1922, apaixonou-se pelo país e pelos modernistas. E fez esta declaração de amor à cidade que hoje comemora 464 anos: 

São Paulo
Adoro esta cidade
São Paulo é conforme meu coração
Aqui nenhuma tradição
Nenhum preconceito
Nem antigo nem moderno
Contam apenas esse apetite furioso essa confiança absoluta esse otimismo essa audácia esse trabalho esse labor essa especulação que fazem construir dez casas por hora de todos os estilos ridículos grotescos belos grandes pequenos norte sul egípcio ianque cubista
Sem outra preocupação além de seguir as estatísticas prever o futuro o conforto a utilidade a mais-valia e atrair uma grande imigração
Todos os países
Todos os povos
Amo isso
As duas três velhas casas portuguesas que restam são azulejos azuis
Tradução: Antonio Cícero.

Fotos: Hilda Araújo. Obs.: fotografo apenas para me divertir, sem pretensões profissionais. 



   
 

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

TRÊS CIDADES, TRÊS MULHERES.

Guanabara enfeita a entrada do prédio da Prefeitura de São Paulo – edifício Matarazzo, no Anhangabaú. A escultura em granito é de autoria de João Batista Ferri (1896-1976). Foi encomendada pelo prefeito Prestes Maia e colocada nas proximidades da Ladeira Falcão Filho; entretanto, mudou algumas vezes de lugar até ganhar endereço fixo. Obra de 1941.




















A Mulher com ânfora adorna a Praça Pio X, no centro do Rio de Janeiro, bem em frente à Igreja Nossa Senhora da Candelária. O sagrado e o profano mais uma vez. O autor da escultura em bronze é o paulista Humberto Cozzo (1900-1981). Obra de 1944. Considero a mais bela das três. 


Ao contrário dos cariocas, o puritanismo em Santos baniu a Ninfa (ou Náiade) da Praça José Bonifácio em 1958, afinal onde já se viu uma mulher nua em frente a uma igreja? E assim a escultura foi para o Orquidário de Santos, onde pode ser admirada à vontade. Fico devendo autor e data.


terça-feira, 23 de janeiro de 2018

MARTINELLI E O JEITO ÍTALO-BRASILEIRO.


O Banespa ao fundo com a bandeira no topo e à direita o Martinelli, vistos da Praça do Correio. Foto: H. Araújo, 2018.

A beleza e a elegância do Edifício Martinelli venceram as barreiras do tempo. O imigrante italiano Giuseppe Martinelli (1879-1946) decidiu presentear São Paulo com o mais alto arranha-céu da America do Sul como agradecimento à oportunidade de trabalho e sucesso, que a cidade lhe propiciou ao longo de duas décadas. Ele era proprietário da Lloyd Nacional, na época dona de vinte e dois navios. A notícia de que o arranha-céu do Comendador Martinelli teria doze andares causou um frisson geral, afinal em 1922 os poucos prédios altos da cidade tinham cinco andares. O local escolhido era dos mais nobres da Capital: o terreno da Avenida São João entre as ruas São Bento e Libero Badaró. O arquiteto húngaro William Fillinger, da Academia de Belas Artes de Viena, fez o projeto e os detalhes da fachada foram desenhados pelos irmãos Lacombe; o cimento da construção foi importado da Noruega e da Suécia; noventa artesãos italianos e espanhóis cuidaram do acabamento. A inauguração do edifício aconteceu em 1929 com os doze andares previstos, mas inacabado porque Martinelli almejava concluir o prédio com trinta andares. Após muita polêmica e até o embargo da obra por não ter licença e infringir leis municipais, uma pendenga na justiça e muita politicalha, a questão foi parar nas mãos de uma comissão técnica que limitou a altura do Martinelli a 25 andares. O comendador não desistiu dos 30 andares e no estilo (ou jeito) ítalo-brasileiro, quando chegou ao 25º, usou o topo para construir a casa da família com cinco andares. Em 1934 o prédio de 150 metros de altura estava concluído. Um luxo único na cidade. O embasamento revestido de granito vermelho; o corpo pintado em três tons de rosa e recoberto de massa cor-de-rosa – uma mistura de vidro moído, cristal de rocha, areia pura e pó de mica, o que fazia a fachada cintilar à noite. Oswald de Andrade apelidou-o de “bolo de noiva”.  

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

PASSEIOS PAULISTANOS


Liceu de Artes e Ofícios foi criado em 1873. A instituição foi reformulada em 1890, quando Francisco Paula Ramos de Azevedo assumiu a direção da instituição. Com o sucesso do Liceu, o escritório de Ramos de Azevedo iniciou o projeto da sede própria que abrigaria tanto o Liceu de Artes e Ofícios como a Pinacoteca, criada em 1905 pelo governo do Estado de São Paulo. Com um acervo de dez mil obras, especialmente nacionais, a Pinacoteca recebe cerca de 500 mil visitantes por ano. Praça da Luz, 2 (Estação da Luz). Foto: vista da Avenida Tiradentes.

Foto: janeiro, 2018.
Vista do edifício Martinelli, 2010.



Palácio dos Correios de São Paulo no Vale do Anhangabaú, inaugurado em 20 de outubro 1922, sede da Agência Central dos Correios e Telégrafos. Obra do escritório de Ramos de Azevedo, o prédio em estilo eclético tem 15 mil metros quadrados de área construída e domina a Praça Pedro Lessa, popularmente conhecida como Praça do Correio. Em 1970 a ECT transferiu-se para a Vila Leopoldina e em 2012 o imóvel foi tombado. Há cerca de cinco anos, após restauro, foi implantado o projeto Centro Cultural Correios. Fotos
Fotos: Hilda Araújo.


Vila Mariana: as chaminés
representaram a força industrial
de São Paulo. 



domingo, 21 de janeiro de 2018


O CHAFARIZ, O TREM E A ACADEMIA. 

LARGO DA MEMÓRIA monumento mais antigo da cidade. Em 1814, com a abertura da estrada do Piques, ligando a cidade ao interior, foi construído o largo com um chafariz e um obelisco. Obra do engenheiro Daniel Pedro Muller. A ferrovia mudou o fluxo dos transportes da cidade. Em 1872, o chafariz foi removido. O local foi reformado em 1919 e o projeto assinado por Victor Dubugras (arquiteto) e o José Wasth Rodrigues (artista plástico) introduziram um novo chafariz e acrescentaram um pórtico de azulejos com cena do largo antigo. Tombado pelo (Condephaat) em 1975. Infelizmente, encontra-se pixado.

ACADEMIA DE DIREITO do Largo de São Francisco, criada em 11 de agosto de 1827, junto com a Faculdade de Direito de Pernambuco. Começou a funcionar nas instalações do Convento de São Francisco. A primeira aula do curso jurídico, como se chamava então, foi no dia 1º de março de 1828. A cidade de São Paulo mudou com a academia: atraiu jovens de várias regiões do país e ganhou e, como diz Renato Pompeu de Toledo, “algum tipo de vida intelectual”. Daquela época só existem as igrejas da Ordem Terceira e do Convento de São Francisco de Assis. O prédio atual da Faculdade de Direito da USP, tombado pelo Patrimônio Histórico do Estado de São Paulo, é da década de 1930. Projeto de Ricardo Severo. Estilo eclético. 









A Ferrovia: novo impulso para a cidade. O prédio da Estação da Luz, um dos cartões postais de São Paulo, data de 1901, entretanto, o sistema ferroviário de São Paulo começou a ser implantado em 1860: a primeira estaca foi colocada junto ao cais do Valongo e convento de São Francisco em Santos em 15 de maio daquele ano. 

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

SÃO PAULO E RIO DE JANEIRO
Pintores viajantes

Pátio do Colégio, século XIX:  "Palácio do Governo em São Paulo", 1817,
 do austríaco Thomas Ender (1793-1875). 


Pátio do Colégio reconstruído em 1954. (Foto: H. Araújo.)

Obra do francês Alfred de Martinet (1821-1875). 
Dia encoberto, novembro, 2015.


quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

CATEDRAL DE SÃO SEBASTIÃO DO RIO DE JANEIRO
        
         Nova – ainda vai completar 39 anos – e moderna, a Catedral Metropolitana de São Sebastião do Rio de Janeiro fica no Centro. O arquiteto Edgar de Oliveira da Fonseca, que assina o projeto, inspirou-se na pirâmide maia de Chichén Itzá (México), embora tenha preferido fazê-la circular e cônica. O prédio mede 106m de diâmetro, 75m de altura externa e 64 m de altura interna. A porta principal, revestida com 48 placas de bronze em baixo-relevo com temas alusivos à fé, tem 18m. O projeto e a execução da obra foram coordenados pelo padre Ivo Antônio Calliari (1918-2005).
         O interior da catedral foi projetado pelo padre Paulo Lachen Maier. Quatro vitrais estão colocados na direção dos pontos cardeais e dessa forma a luz varia à medida que o dia passa. Os temas são as características da Igreja – una, santa, católica e apostólica. Esculturas do paulista Humberto Cozzi adornam o templo enquanto dois candelabros de autoria do paulista Nicola Zanotto encontram-se na Capela do Santíssimo, atrás da sacristia.   
        Chama atenção o carro andor de 1922 usado atualmente nas procissões de Corpus Christi. No subsolo funciona o Museu de Arte Sacra, onde se encontram a pia usada para batizar os príncipes da Família Real, a estátua de Nossa Senhora do Rosário, o trono de D. Pedro II e a Rosa de Ouro concedida à Princesa Isabel pelo Papa Leão XIII pela abolição da escravatura no Brasil.
O campanário em concreto aparente, inaugurado em 1985, fica na parte externa da igreja.
Endereço: Avenida Chile, 245 – Centro.
(Foto: Hilda P. Araújo, 2015)
CATEDRAL METROPOLITANA DE SÃO PAULO

A Catedral Metropolitana Nossa Senhora da Assunção de São Paulo domina a Praça da Sé, marco zero de São Paulo. Foi inaugurada ainda sem as torres em 1954, ano do quarto centenário de fundação da cidade. As obras haviam começado em 1912, mas sofreram atrasos por falta de recursos e pelas duas guerras mundiais (1914-1918 e 1939-1945) que impediram a importação do material de construção. A igreja ficou pronta em 1967. 
O projeto é do alemão Maximilian Emil Hehl (1861-1916), responsável também pela Catedral de Santos, ambas em estilo eclético (combinação de várias tendências arquitetônicas), com predominância do neogótico. Ela mede 111m de comprimento, por 45m de largura e 65m de altura (com exceção das torres).
Os belos vitrais nacionais foram executados pela Casa Conrado enquanto os europeus são assinados por artistas como o francês Max Ingrand (1908-1969). O carrilhão, localizado nas torres, compõe-se de 61 sinos – 35 acionados eletronicamente. O órgão confeccionado na Itália é o maior da América do Sul: tem cinco teclados manuais e 12 mil tubos com entalhes a mão. Os altares de Santana e de São Paulo também são obras de artistas italianos; para a pia batismal foi usado mármore de Siena. Na cripta, encontram-se os restos mortais do cacique Tibiriçá, dos padres Manuel da Nóbrega e José de Anchieta e do Padre Diogo Antonio Feijó (1784-1843), regente do Império.

A primeira igreja matriz de São Paulo de Piratininga começou a funcionar em 1612. Era uma antiga reivindicação dos moradores; a permissão real foi concedida em 1591 e a obra começou em 1598. Em 1745 São Paulo tornou-se sede da Episcopal e a igreja foi demolida e substituída por outra em estilo barroco que funcionou de 1764 até 1911, quando também foi demolida. D. Dom Duarte Leopoldo e Silva (1867-1938), primeiro arcebispo de São Paulo, teve a iniciativa da construção da nova catedral.
Endereço: Praça da Sé, Centro.
(Foto: Hilda P. Araújo, 2014.)

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

PAÇO IMPERIAL: 275 ANOS.
Sábado próximo não é aniversário de fundação do Rio de Janeiro, mas dia do santo padroeiro da cidade que o carioca comemora também com feriado. Uma das construções mais antigas do Rio de Janeiro é o Paço, casa de governo que ficou pronta em 1743. O local escolhido foi o Largo do Polé (Praça XV). O projeto original de autoria do engenheiro militar português José Fernandes Pinto Alboim tinha apenas um andar e a entrada principal era voltada para a praia de Nossa Senhora do Ó; a face norte abria-se para o chafariz e os fundos davam para a Casa da Câmara e Cadeia (substituída pelo Palácio Tiradentes, sede da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro). Em 1790, quando o conde de Rezende, almirante José Luís de Castro, quinto vice-rei do Brasil, chegou ao Rio, mandou construir o segundo andar do Paço. Com a obra concluída o palácio (um nome enganador) ganhou 125 janelas!

Com a chegada da família imperial em 1808, o modesto Paço tornou-se sede do governo português, ganhou uma sala do trono e outra para a cerimônia do beija mão. Em abril de 1821, D. João VI retornou a Portugal deixando no Brasil como regente o filho D. Pedro – que meses depois, ali no Paço, proferiu o discurso que marcou o futuro da nação: "Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto! Digam ao povo que fico”. Ficou, deu a independência ao Brasil e continuou no mesmo endereço que desde então se tornou o Paço Imperial. No Paço, funciona, atualmente, um Centro Cultural que promove exposições de arte, mantém a Biblioteca Paulo Santos, livraria e loja. Entrada gratuita.
(Adaptação de texto original de novembro de 2015. Fotos: Hilda Prado Araújo)

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

RIO DE JANEIRO
“Rainha das Províncias e o Empório das riquezas do mundo”

        O francês chegou, gostou do que viu e, depois de um papo com os tupinambás, inimigos dos portugueses que mantinham à distância, considerou boa a oportunidade de instalação de uma extensão da França nos trópicos, ali na baía da Guanabara. Nicolas-Durand de Villegagnon (1510-1571), diplomata e oficial naval, voltou para a terra natal e convenceu o rei Henri II do projeto de fundar a França Antártica. Com as bênçãos do rei, organizou a expedição: três naus fortemente armadas, um grupo de 290 colonos e, naturalmente, o almirante Gaspard de Coligny (1519-1572) para dar suporte à empreitada. No bolso, o plano de chamar de Henriville a esse núcleo tropical da França. 
Jean de Léry, membro da expedição, escreveu que “(...) Villegagnon prometeu a alguns honrados personagens que o acompanharam, fundar um puro serviço de Deus no lugar em que se estabelecesse. E depois de aliciar os marinheiros e artesãos necessários, partiu em Maio de 1555, chegando ao Brasil em novembro, após muitas tormentas e toda a espécie de dificuldades.” O grupo se instalou na ilha de Serigipe e imediatamente começou a construção do forte ao qual Villegagnon denominou “Forte Coligny” – ah! o irreprimível o lado bajulador dele.
Ilha de Villegagnon: Louis Le Breton (1818-1866), obra de 1848.
O sonho da França Antártica durou menos de doze anos. Em 1560, na ausência de Villegagon (um sobrinho dele o substituiu), houve o primeiro confronto entre portugueses, franceses e selvícolas divididos entre um e outro invasor. O forte foi destruído, mas os portugueses e seus aliados recuaram e os franceses retomaram suas posições. Para encurtar a história, o governador geral do Brasil Mem de Sá resolveu por um ponto final na encrenca e encarregou da missão o sobrinho dele, Estácio de Sá (1520-1567).
Depois de várias vitórias contra os franceses, Estacio de Sá se instalou entre o Morro Cara de Cão e o Pão de Açúcar e, no dia 1º de março de 1567, conclamou: “Levantemos essa Cidade que ficará por memória do nosso heroísmo, e de exemplo de valor às vindouras gerações, para ser a Rainha das Províncias e o Empório das riquezas do mundo”. Assim, ele fundava a cidade São Sebastião do Rio de Janeiro. O nome homenageava o rei D. Sebastião (1554-1578) e o santo, embora nem fosse o dia dele. Para quem gosta de curiosidades, Estacio de Sá morreu no dia de São Sebastião, 20 de janeiro, vítima de uma flechada.
Foi desse modo que escapamos de termos uma cidade chamada Henriville! O local da fundação do Rio de Janeiro, na Urca, faz parte do complexo histórico da Fortaleza de São João, sede do Centro de Capacitação Física do Exército e, portanto, visitas devem ser agendadas. A ilha de Serigipe hoje se chama Villegagnon e no lugar do Forte Coligny foi construída em 1695 a Fortaleza de São Francisco Xavier ou Nossa Senhora da Conceição de Villegagnon. 

Vista da Igreja da Glória. Painel atribuído ao pintor e arquiteto carioca Leandro Joaquim (1738-1798). A igreja foi concluída em 1730. Museu de História Nacional.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

SÃO PAULO

“Parques do Anhangabaú nos fogaréus da aurora...
Oh larguezas dos meus itinerários...”* 
São Paulo surge com uma escola, engatinha por alguns séculos até que outra escola, a Faculdade de Direito, a impulsione e a cidade comece a crescer até atingir um gigantismo preocupante em meados do século XX. O local escolhido pelo padre Manoel de Nóbrega para a escola foi a colina situada entre os rios Tamanduateí e Anhangabaú; entretanto, os primeiros anos foram muito difíceis e a situação só melhorou, quando a pedido dos moradores, Mem de Sá (1500-1572) – governador geral do Brasil – determinou a mudança da sede da vila de Santo André com moradias, Câmara e o pelourinho para Piratininga*.
         O Pátio do Colégio é o local da fundação de São Paulo, mas do prédio original, restam apenas pedaços de uma parede de 1585. O lugar já foi sede do governo paulista entre 1765 e 1912 e de outras repartições públicas. Aos poucos descaracterizaram o casarão colonial. Florêncio de Abreu (1839-1881) realizou as mudanças mais radicais e nos sete meses em que permaneceu no governo da Província de São Paulo, mandou derrubar a ala em que funcionara a primeira sede do Correio em São Paulo; novas demolições parciais em 1896 até que em 1953, – véspera do quarto centenário da cidade –, foi completamente destruído. O conjunto atual data de 1979.
A Santa Casa de Misericórdia de São Paulo não dispõe de registros de sua fundação, mas estima que tenha sido por volta de 1560. A história da instituição está ligada à da cidade. Como a similar santista, teve vários endereços. Funcionou no Largo da Misericórdia, na Chácara dos Ingleses e na Rua da Glória até que, finalmente, em 1884 inaugurou-se o belo prédio da Vila Buarque, construído em área doada pelo senador Antonio Pinto do Rego Freitas (1835-1886). O projeto é do arquiteto italiano Luigi Pucci.
Padre José de Anchieta, em uma carta de 1579, conta que os viajantes que passavam pela Estrada Real costumavam parar para orações em uma pequena igreja de Nossa Senhora da Luz, situada nos campos de Guaré ou da Luz. Com o tempo ela foi abandonada, mas Frei Antônio de Sant’Anna Galvão (1739-1822) ajudou a fundar, no mesmo local, o Mosteiro da Imaculada Conceição da Luz, inaugurado em 2 de fevereiro de 1774. Sede do Museu de Arte Sacra de São Paulo, o mosteiro é a mais importante construção arquitônica colonial do século XVIII da cidade de São Paulo.
Uma obra quinhentista é a Igreja de Santo Antônio (Largo do Paissandu). Ela já existia em 1591 e ao longo dos séculos passou por várias reformas (1638, 1717 e 1747). Em 1891 um incêndio em uma casa vizinha consumiu parte da igreja. Em 1899 a prefeitura determinou a demolição e a reconstrução da torre e fachada do templo por causa do alinhamento da Rua Direita, obra financiada por dois vizinhos ilustres – Francisco Xavier Paes de Barros, barão de Tatuí, e Eduardo da Silva Prates, conde de Prates. Finalmente, a igreja voltou a funcionar em 1919, agora exibindo um estilo eclético. Em janeiro de 2005, novo restauro procurou recuperar o estilo barroco do interior da igreja e na ocasião encontraram-se pinturas murais seiscentistas no forro do altar-mor.

O BANESPA (Banco do Estado de São Paulo) deixou uma grande herança para a cidade de São Paulo: o edifício Altino Arantes, que por vinte anos foi o mais alto da cidade. Atualmente ocupa o terceiro posto. Ah! E também mudaram-lhe o nome para Farol Santander, afinal o banco espanhol comprou a instituição em 2001. O BANESPA foi fundado em 1909 com o nome de Banco de Crédito Hipotecário e Agrícola do Estado de São Paulo. E, imaginem: nasceu francês, uma vez que o controle acionário era de capitais franceses. Em 1919, no governo de Altino Arantes (1876-1965), o Estado de São Paulo tornou-se acionista majoritário, mas apenas em 1927 alterou-se a denominação para Banco do Estado de São Paulo S.A. Em 1939 resolveu construir uma sede que atendesse às necessidades da instituição. Escolheram o ponto mais alto do centro: a Rua João Brícola. As obras se estenderam de 1939 a 1947. O projeto de Plínio Botelho do Amaral sofreu alterações para que o prédio se assemelhasse ao Empire State Building de Nova York. O edifício Altino Arantes tem 161,22 metros de altura, 35 andares, 14 elevadores, 900 degraus e 1119 janelas. O Farol Santanter agora é um centro cultural com várias exposições e um café no mirante. Rua João Brícola, 24. Aberto de terça a domingo das 9 às 19 horas. Entrada paga. 

Mosteiro da Luz, 1862. Autor desconhecido.

Mosteiro da Luz. Aquarela de Miguel Arcanjo Benício da Anunciação Dutra, 1847. 


*Pauliceia Desvairada, Mário de Andrade.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

SANTOS
O engenho, o porto e o hospital.

         Santos arranca suspiros dos visitantes e continua sendo a referência de todos os que nasceram ou um dia moraram por lá. Está situada numa ilha disfarçada – a ilha de São Vicente, tão próxima do continente que muita gente nem percebe a configuração. Aliás, divide a ilha com o município mais antigo do Brasil, São Vicente.
         Em 1532 Braz Cubas (1507-1592) acompanhou o amigo Martim Afonso de Sousa na expedição para o Brasil e se instalou na vila de São Vicente, recentemente criada, onde logo demonstrou sua capacidade de empreendedor. Entre as missões atribuídas pelo rei a Martim Afonso uma era iniciar o cultivo da cana-de-açúcar no Brasil e, assim, depois de declarar São Vicente vila, ele tratou de mandar plantar cana e construir um engenho no sopé de um dos morros da ilha; portanto “(...) foi na vila de São Vicente onde se fabricou o primeiro açúcar no Brasil”, segundo escreveu Padre Simão Vasconcelos (1597-1671).
         Foram construídos vários engenhos. O Engenho do Governador era propriedade de Martim Afonso, Pero Lopes de Sousa, Francisco Lobo e Vicente Gonçalves e mais tarde juntou-se a eles Johan Van Hielst ou João Vaniste. O prédio é de 1534. A sociedade se desfez com a partida de Martim Afonso para as Índias, mas Vaniste prosseguiu com o engenho até vendê-lo para Erasmos Schetz de Antuérpia. Enfim, o engenho passou a ser chamado de engenho “dos Erasmos”. 
         Enquanto isso Brás Cubas percebeu os benefícios do estabelecimento de um porto abrigado com acesso mais fácil para o planalto e, com um grupo de colonos, junto a um outeiro, fundou em 1543 uma vila, um hospital nos mesmos moldes das santas casas de Portugal e uma igreja que dedicaram à Santa Catarina, que acabou nomeando o outeiro. Como era 1º de novembro o hospital ganhou o nome de Santa Casa da Misericórdia de Todos os Santos, o primeiro hospital do Brasil, e sua forma reduzida acabou nomeando a nova vila – Santos.
         À medida que o tempo passava a vila de Santos foi ganhando importância por causa da qualidade do porto e a existência de um hospital também deve ter influenciado, pois no século XVI, após as longas viagens transoceânicas, marinheiros, colonos e viajantes frequentemente precisavam de assistência. Brás Cubas foi realmente um homem de visão: no século XXI, o porto é um dos maiores da América do Sul e a Santa Casa sobrevive aos trancos e barrancos cumprindo o seu papel. A Igreja de Santa Catarina soçobrou faz tempo. No outeiro, o italiano Antonio Eboli construiu em 1800 um castelinho de gosto duvidoso que, felizmente, continua enfeitando a Rua Visconde do Rio Branco.
Martim Afonso de Sousa deixou uma herança inestimável para a cidade. O engenho funcionou até meados do século XVIII, produzindo cana para exportação, e rapadura e aguardente para o consumo interno. Ao visitar o local atualmente é difícil imaginar que havia ali “[...] uma casa muito grande com seis lanços, uma senzala com uma ferraria provida de baluartes e ainda duas casas cobertas de telhas, muito boas e fortes”. Havia também uma capela dedicada a São Jorge – daí São dos Erasmos. O Monumento Nacional Ruínas Engenho São Jorge dos Erasmos é o testemunho físico mais antigo da colonização portuguesa no Brasil. Foi tombado em 1955 e integrado à Faculdade de Ciências e Letras (atual Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) da Universidade de São Paulo. A doação para a USP concretizou-se em 31 de janeiro de 1958. 
     
Visitas monitoradas: agendamento pelo telefone (13) 3229-2703 ou e-mail resjesantos@gmail.com
Rua. Alan Ciber Pinto, 96. Vila São Jorge, Santos.  

Engenho São Jorge dos Erasmos. Foto: H. A., 2009. 

Santa Casa de Santos: o quarto prédio do hospital mais antigo do Brasil foi inaugurado em 1945.Foto: H.A., 2017.


terça-feira, 9 de janeiro de 2018


FOTOGRAFIAS ANTIGAS

S. Vicente, Santos, São Paulo e Rio de Janeiro

Graças ao trabalho dos fotógrafos Militão Augusto de Azevedo (1837-1905) e Marc Ferrez (1843-1923) podemos observar a formação das cidades de Santos, São Paulo e Rio de Janeiro e observar o processo predatório de ocupação urbana ao longo dos anos. Nada contra o desenvolvimento das cidades, o problema é a falta de planejamento a longo prazo que tem um alto custo social. 
As fotografias de Azevedo e Ferrez fazem parte dos acervos do Museu Paulista da Universidade de São Paulo, Instituto Moreira Salles e Instituto Marc Ferrez. Difícil encontrar fotos antigas de São Vicente, mas ficou o registro da "Revista da Semana" do Jornal do Brasil de janeiro de 1902 (Novo Milênio). 

SÃO VICENTE
Rua XV de Novembro, janeiro de 1902. Revista da Semana, Jornal do Brasil.

SANTOS 
Porto de Santos e parte do Centro da cidade em 1865. Foto: Militão Augusto de Azevedo.

SÃO PAULO
Viaduto do Chá em 1895. Foto: Marc Ferrez.

RIO DE JANEIRO 
Vista de Botafogo, Rio de Janeiro. Foto: Marc Ferrez, c. 1880. 


Os fotógrafos.
Militão Augusto de Azevedo (1837-1905) era carioca, mas foi em São Paulo que se interessou por fotografia e iniciou um trabalho único ao acompanhar o desenvolvimento urbano da cidade. “"Estou fazendo um trabalho que julgo muito importante, mas talvez pouco rendoso. É um álbum comparativo de S. Paulo antigo e moderno. Tenho os clichês de 1862 e estou fazendo os comparativos atuais" – escreveu ele ao editor francês Anatole Garraux em 21 de janeiro de 1887. Militão Augusto de Azevedo. Fez também o Álbum de Vistas da Cidade de Santos (1864-1865).
Marc Ferrez (1865-1918) nasceu e morreu no Rio de Janeiro e, como Militão Augusto de Azevedo, preferiu registrar as paisagens e as cidades brasileiras a fazer retratos, tornando-se o mais importante fotografo brasileiro de sua época. Participou da expedição chefiada por Charles Frederick Hartt (1840-1878) financiada pela Comissão Geológica do Império e que percorreu Bahia, Pernambuco, Alagoas e parte da região amazônica. Foi também fotógrafo da Marinha Imperial brasileira.