quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

OS VERÕES LUSO-BRASILEIROS


Eu diria que o Brasil começou a ser inventado no verão. Cabral chegou por aqui em abril, é verdade; entretanto, as autoridades portuguesas levaram três décadas para se interessar pelas terras novas e, depois de incursões de vigilância pela costa brasileira a cargo de Cristovão Jaques, D. João III encarregou o esperto Martim Afonso de Sousa (1500-1570) da missão de iniciar a ocupação do Brasil. Assim, em dezembro de 1530, a mando do rei, Martim Afonso arrumou o baú e enfunou as velas de suas caravelas em direção ao novo continente. Chegou a Pernambuco em pleno mês de janeiro de 1531. Depois de várias aventuras pela costa do Brasil livrando a coroa portuguesa de piratas (do ponto de vista dos nativos todos eram corsários), Martim Afonso passou para a segunda etapa da tarefa: iniciar a colonização do Brasil. A primeira vila oficializada foi São Vicente no dia 22 de janeiro de 1532. (Oficializada porque São Vicente já era um núcleo ativo com dez ou doze casas.)
Fundação de S. Vicente, tela de Benedito Calixto.
Em 1535, ao chegar a Pernambuco, Duarte Coelho (1485-1554) fundou o segundo povoado brasileiro – Igarassu*. No mesmo ano fundou Olinda (PE), elevada à categoria de vila em 12 de março (ainda verão) de 1537, mesma época a fundação de Recife.  
No dia 25 de janeiro de 1554, dia da conversão de São Paulo, os jesuítas Manuel da Nóbrega (1517-1570), Manuel de Paiva (1508-1584) e José de Anchieta (1534-1597), que chegara a São Vicente na véspera do Natal de 1553, reuniram-se numa “paupérrima e estreitíssima casinha” em Piratininga para a missa que celebrava o início das atividades do colégio do Planalto e historicamente tornou-se o marco da fundação de São Paulo. Na primeira carta que Anchieta enviou aos dirigentes dos Jesuítas na Europa ele terminou com a data e o local – “de Piratininga, no colégio de São Paulo” e somente em 1562 escreveu pela primeira vez “São Paulo de Piratininga”.
Rio de Janeiro, Candelária.
A “cidade maravilhosa” foi fundada em 1º de março de 1565 por Estácio de Sá (1520-1567)– no calor do verão e da batalha contra os franceses que ocupavam o Rio de Janeiro – eles sempre tiveram bom gosto. O local escolhido por Estácio de Sá para seu quartel general foi numa área entre o Morro Cara de Cão e o Pão de Açúcar (Urca), o berço do Rio. Como o padroeiro da cidade é São Sebastião, o dia do santo, 20 de janeiro, feriado.
Em novembro de 1546, Braz Cubas (1507-1592) – que viera na expedição de Martim Afonso – deixou a vila de São Vicente para estabelecer um porto em local mais abrigado e novo povoado foi iniciado com uma capela e um hospital nos mesmos moldes das Santas Casas de Misericórdia de Portugal e que recebeu o nome de Todos os Santos – era 1º de novembro. Não era exatamente verão, mas o aniversário de Santos é comemorado na data de elevação à categoria de vila, o que ocorreu só em 26 de janeiro de 1839.
E viva o verão.

*A grafia correta seria com "ç", mas a oficial é Igarassu. 

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