sexta-feira, 26 de janeiro de 2018


A BRAZ CUBAS COM CARINHO.
Santos, 472 anos.

Os primeiros anos da vida marcam nossa jornada. É a fase das sensações desconhecidas, das descobertas, do aprendizado. Família em primeiro lugar. Depois, o local em que crescemos. Ao olhar para trás percebo que Santos (SP) é o meu lugar. As primeiras lembranças? Os sinos da catedral ou da capela do Monte Serrat. A sirene de A Tribuna ao meio-dia. Os apitos de navios entrando ou saindo do porto. O trepidar dos bondes que passavam em frente a minha casa. Os verões causticantes. A figueira e a nespereira do quintal. O perfume do café torrado que envolvia o centro da cidade. Nos dias chuvosos, o aroma da maresia que se espalha pela orla juntando-se ao cheiro de terra emanado dos jardins... Abrir as janelas para uma rua movimentada e admirar os belos e imponentes casarão branco em meio a um grande jardim de uma entidade feminina e o prédio do Real Centro Português. Havia ao lado o sobrado misterioso, que levaria muito tempo para eu entender. O sagrado e o profano passavam sob aquelas janelas: blocos no Carnaval e procissões em dias santos. Durante a semana havia sempre o burburinho de gente indo e vindo para o trabalho. Aos domingos, tranquilidade. Seu Luciano, estivador português, colocava a cadeira do lado do portão com o encosto para frente onde apoiava os braços e ficava a observar o mundo. Nos jardins da casa branca, o caseiro tocava cavaquinho cercado pelas filhas. Dona Santinha, o marido e o filho saíam no carro antigo para os passeios. O dentista e a família quase não eram vistos. A rua já perdera quase todos os moradores. Visita esperada de minha melhor amiga para brincarmos. Durante a semana pela mão de minha tia Odete ia e voltava da escola e gostava de ver o monumento do soldado no meio da praça, rodeada pela catedral e pelo Teatro Coliseu, onde minha avó me levou uma vez para assistir a um espetáculo de balé de Décio Stuart. Aprendi com minha avó a apreciar os passeios pelo centro da cidade, fazendo compras e conversando com amigos e conhecidos que ela encontrava, enquanto eu ficava por perto ouvindo histórias... Santos, entre as décadas de 1940 e 1950.
  Fotos: Hilda Araújo. De cima para baixo a partir da esquerda:
Capela do Monte Serrat, o bonde amigo, o leão dos jardins da praia, monumento "Filhos dos Bandeirantes" da Praça José Bonifácio, prédio do Corpo de Bombeiros, atual sede da Câmara de Vereadores,
Obs.: fotografo apenas para me divertir, sem pretensões profissionais.




Teatro Coliseu, a catedral e o fórum vistos da biblioteca da Humanitária.

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