A BRAZ CUBAS COM CARINHO.
Santos, 472 anos.
Os primeiros
anos da vida marcam nossa jornada. É a fase das sensações desconhecidas, das
descobertas, do aprendizado. Família em primeiro lugar. Depois, o local em que crescemos.
Ao olhar para trás percebo que Santos (SP) é o meu lugar. As primeiras
lembranças? Os sinos da catedral ou da capela do Monte Serrat. A sirene de A
Tribuna ao meio-dia. Os apitos de navios entrando ou saindo do porto. O
trepidar dos bondes que passavam em frente a minha casa. Os verões
causticantes. A figueira e a nespereira do quintal. O perfume do café torrado
que envolvia o centro da cidade. Nos dias chuvosos, o aroma da maresia que se
espalha pela orla juntando-se ao cheiro de terra emanado dos jardins... Abrir
as janelas para uma rua movimentada e admirar os belos e imponentes casarão
branco em meio a um grande jardim de uma entidade feminina e o prédio do Real
Centro Português. Havia ao lado o sobrado misterioso, que levaria muito tempo
para eu entender. O sagrado e o profano passavam sob aquelas janelas: blocos no
Carnaval e procissões em dias santos. Durante a semana havia sempre o
burburinho de gente indo e vindo para o trabalho. Aos domingos, tranquilidade.
Seu Luciano, estivador português, colocava a cadeira do lado do portão com o
encosto para frente onde apoiava os braços e ficava a observar o mundo. Nos
jardins da casa branca, o caseiro tocava cavaquinho cercado pelas filhas. Dona Santinha,
o marido e o filho saíam no carro antigo para os passeios. O dentista e a
família quase não eram vistos. A rua já perdera quase todos os moradores. Visita
esperada de minha melhor amiga para brincarmos. Durante a semana pela mão de
minha tia Odete ia e voltava da escola e gostava de ver o monumento do soldado no
meio da praça, rodeada pela catedral e pelo Teatro Coliseu, onde minha avó me
levou uma vez para assistir a um espetáculo de balé de Décio Stuart. Aprendi com
minha avó a apreciar os passeios pelo centro da cidade, fazendo compras e
conversando com amigos e conhecidos que ela encontrava, enquanto eu ficava por
perto ouvindo histórias... Santos, entre as décadas de 1940 e 1950.
Fotos: Hilda Araújo. De cima para baixo a partir da esquerda:
Capela do Monte Serrat, o bonde amigo, o leão dos jardins da praia, monumento "Filhos dos Bandeirantes" da Praça José Bonifácio, prédio do Corpo de Bombeiros, atual sede da Câmara de Vereadores,
Obs.: fotografo apenas para me divertir, sem pretensões profissionais.
Obs.: fotografo apenas para me divertir, sem pretensões profissionais.
Teatro Coliseu, a catedral e o fórum vistos da biblioteca da Humanitária. |
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