Tremembé. Ponto de ônibus
cheio. Perguntei a uma senhora qual ônibus ia para a estação Tucuruvi do metrô.
Prestativa, ela deu a informação e todas alternativas e logo subiu em outro
ônibus. O velhinho sentado no banco ouvia atentamente a conversa e resolveu me
ajudar, explicando tudo de novo. Enfim, o coletivo chegou, embarcamos e ele se
aboletou do meu lado, decidido a continuar falando. Suspirei conformada;
entretanto, para minha surpresa, ele transformou a viagem pelo Tremembé em um
passeio turístico muito interessante.

Passamos
por uma quadra onde houve um grande convento e, embora as velhas irmãs tenham
resistido a vender a propriedade, as novas freiras não hesitaram em lotear a
área, segundo meu guia, que usa palavras pouco cristãs para definir as
religiosas. “Ali, mora minha prima que ficou viúva há um ano” – ele mostra uma
bonita casa de esquina. O ônibus sobe e desce, vira aqui e ali. “Casei nesta
igreja, minha esposa é muito religiosa, e viemos morar numa destas casas em
frente, mas não reconheço qual delas por causa das reformas que desfiguraram
tudo.”
O tour pelo
Tremembé vai chegando ao fim. O guia incidental se despede – vai comprar um
presente de casamento. No meio da conversa, disse que está com 74
anos e vive bem com a pequena aposentadoria porque precisa de pouco para viver.
Detesto a conversa com estranhos que se sentam ao meu lado em conduções e
resolvem contar suas vidas entre um ponto e outro de ônibus; este encontro,
entretanto, foi muito agradável e me ajudou a enfrentar a tristeza da despedida
de um amigo que partiu muito cedo. (2015)
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