sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

RIO DE JANEIRO


“Rainha das Províncias e o Empório das riquezas do mundo”

        O francês chegou, gostou do que viu e, depois de um papo com os tupinambás, inimigos dos portugueses que mantinham à distância, considerou boa a oportunidade de instalação de uma extensão da França nos trópicos, ali na baía da Guanabara. Nicolas-Durand de Villegagnon (1510-1571), diplomata e oficial naval, voltou para a terra natal e convenceu o rei Henri II do projeto de fundar a França Antártica. Com as bênçãos do rei, organizou a expedição: três naus fortemente armadas, um grupo de 290 colonos e, naturalmente, o almirante Gaspard de Coligny (1519-1572) para dar suporte à empreitada. No bolso, o plano de chamar de Henriville a esse núcleo tropical da França. 
Jean de Léry, membro da expedição, escreveu que “(...) Villegagnon prometeu a alguns honrados personagens que o acompanharam, fundar um puro serviço de Deus no lugar em que se estabelecesse. E depois de aliciar os marinheiros e artesãos necessários, partiu em Maio de 1555, chegando ao Brasil em novembro, após muitas tormentas e toda a espécie de dificuldades.” O grupo se instalou na ilha de Serigipe e imediatamente começou a construção do forte ao qual Villegagnon denominou “Forte Coligny” – ah! o irreprimível o lado bajulador dele.
Ilha de Villegagnon: Louis Le Breton (1818-1866), obra de 1848.
O sonho da França Antártica durou menos de doze anos. Em 1560, na ausência de Villegagon (um sobrinho dele o substituiu), houve o primeiro confronto entre portugueses, franceses e selvícolas divididos entre um e outro invasor. O forte foi destruído, mas os portugueses e seus aliados recuaram e os franceses retomaram suas posições. Para encurtar a história, o governador geral do Brasil Mem de Sá resolveu por um ponto final na encrenca e encarregou da missão o sobrinho dele, Estácio de Sá (1520-1567).
Depois de várias vitórias contra os franceses, Estacio de Sá se instalou entre o Morro Cara de Cão e o Pão de Açúcar e, no dia 1º de março de 1567, conclamou: “Levantemos essa Cidade que ficará por memória do nosso heroísmo, e de exemplo de valor às vindouras gerações, para ser a Rainha das Províncias e o Empório das riquezas do mundo”. Assim, ele fundava a cidade São Sebastião do Rio de Janeiro. O nome homenageava o rei D. Sebastião (1554-1578) e o santo, embora nem fosse o dia dele. Para quem gosta de curiosidades, Estacio de Sá morreu no dia de São Sebastião, 20 de janeiro, vítima de uma flechada.
Foi desse modo que escapamos de termos uma cidade chamada Henriville! O local da fundação do Rio de Janeiro, na Urca, faz parte do complexo histórico da Fortaleza de São João, sede do Centro de Capacitação Física do Exército e, portanto, visitas devem ser agendadas. A ilha de Serigipe hoje se chama Villegagnon e no lugar do Forte Coligny foi construída em 1695 a Fortaleza de São Francisco Xavier ou Nossa Senhora da Conceição de Villegagnon. 

Vista da Igreja da Glória. Painel atribuído ao pintor e arquiteto carioca Leandro Joaquim (1738-1798). A igreja foi concluída em 1730. Museu de História Nacional.

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