terça-feira, 23 de janeiro de 2018

MARTINELLI E O JEITO ÍTALO-BRASILEIRO.


O Banespa ao fundo com a bandeira no topo e à direita o Martinelli, vistos da Praça do Correio. Foto: H. Araújo, 2018.

A beleza e a elegância do Edifício Martinelli venceram as barreiras do tempo. O imigrante italiano Giuseppe Martinelli (1879-1946) decidiu presentear São Paulo com o mais alto arranha-céu da America do Sul como agradecimento à oportunidade de trabalho e sucesso, que a cidade lhe propiciou ao longo de duas décadas. Ele era proprietário da Lloyd Nacional, na época dona de vinte e dois navios. A notícia de que o arranha-céu do Comendador Martinelli teria doze andares causou um frisson geral, afinal em 1922 os poucos prédios altos da cidade tinham cinco andares. O local escolhido era dos mais nobres da Capital: o terreno da Avenida São João entre as ruas São Bento e Libero Badaró. O arquiteto húngaro William Fillinger, da Academia de Belas Artes de Viena, fez o projeto e os detalhes da fachada foram desenhados pelos irmãos Lacombe; o cimento da construção foi importado da Noruega e da Suécia; noventa artesãos italianos e espanhóis cuidaram do acabamento. A inauguração do edifício aconteceu em 1929 com os doze andares previstos, mas inacabado porque Martinelli almejava concluir o prédio com trinta andares. Após muita polêmica e até o embargo da obra por não ter licença e infringir leis municipais, uma pendenga na justiça e muita politicalha, a questão foi parar nas mãos de uma comissão técnica que limitou a altura do Martinelli a 25 andares. O comendador não desistiu dos 30 andares e no estilo (ou jeito) ítalo-brasileiro, quando chegou ao 25º, usou o topo para construir a casa da família com cinco andares. Em 1934 o prédio de 150 metros de altura estava concluído. Um luxo único na cidade. O embasamento revestido de granito vermelho; o corpo pintado em três tons de rosa e recoberto de massa cor-de-rosa – uma mistura de vidro moído, cristal de rocha, areia pura e pó de mica, o que fazia a fachada cintilar à noite. Oswald de Andrade apelidou-o de “bolo de noiva”.  

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