domingo, 31 de julho de 2016

quinta-feira, 28 de julho de 2016

POMBOS-CORREIOS

O marechal Montgomery (Bernard Law Montgomery, 1º visconde Montgomery de Alamein, 1887-1976) conta em suas memórias que, em 1916, durante a batalha do Somme (I Guerra), o comandante de uma divisão precisava receber informações atualizadas da brigada que ia liderar o ataque. Concluiu-se que a forma mais eficiente e segura seria empregar um pombo-correio. Um soldado foi encarregado de transportar a ave e soltá-la assim que um oficial colocasse a mensagem na perna dela. O ataque ocorreu. O comandante aguardava notícias ansiosamente; todos procuravam localizar no céu o pombo-correio. Nada. Por fim o pombo apareceu. O comandante abriu o comunicado e pôde ler: “Estou completamente saturado de carregar esta maldita ave através da França”. 
Ave elegante, de plumagem discreta, o pombo tem uma participação ativa na história da humanidade e não apenas sujando monumentos. Faz parte do mito do dilúvio e da Arca de Noé. O patriarca bíblico teve certeza de que as águas haviam baixado depois que o pombo que ele havia soltado voltou com uma folha de oliveira. Era o sinal de que a cólera divina havia cessado e a tranquilidade retornara à natureza.
Há milhares de anos descobriu-se a sua principal característica: voltar sempre para o lugar em que vive. A partir de então os pombos começaram a ser criados e treinados para servir como correio. É importante saber que o pombo-correio nunca leva, só traz mensagens.
Atualmente, um pombo-correio (resultado de cruzamentos de espécies belgas e inglesas no século XIX) pode percorrer até 1.000 km em um dia e atingir velocidade superior a 90 km por hora. Para conseguir esses resultados as aves são alimentadas, criadas e treinadas cuidadosamente; todas são identificadas assim como seus proprietários, membros de clubes de columbofilia. O pombo torna-se um verdadeiro atleta. A atividade é bastante praticada em Portugal, Bélgica, Holanda, Alemanha e Brasil.
O símbolo da paz acabou envolvido em muitas guerras ao longo dos séculos. Nos tempos modernos trinta receberam medalhas por terem ajudado a salvar vidas de civis e militares durante conflitos. O pombo britânico Cher Ami foi agraciado com a Croix de Guerre na I Guerra Mundial.
Em 1943 foi instituída a PDSA Dickin Medal, medalha em reconhecimento aos serviços relevantes prestados por um animal durante o conflito mundial. Maria Dickin foi fundadora da PDSA, instituição veterinária beneficente. A medalha de bronze tem duas inscrições: “Por Bravura” e “Nós também servimos”. O pombo-correio britânico Winkie foi o primeiro animal a receber a honraria, sendo condecorado em 2 de dezembro de 1943. Ele destacou-se por “entregar uma mensagem em circunstâncias de dificuldades excepcionais e contribuir com o resgate de uma tripulação enquanto servia a RAF (Real Força Aérea) em fevereiro de 1942”.
Em 18 de outubro de 1943, os americanos preparavam o bombardeio de uma vila italiana para impedir que fosse tomada por alemães; estes, entretanto, já haviam abandonado o local, que estava ocupado por ingleses. Quando tentaram se comunicar com os americanos para cancelar o bombardeio, nenhum equipamento funcionou e então os ingleses mandaram GI Joe (USA43SC6390,) com uma mensagem. O pombo-correio voou 30 quilômetros em apenas 20 minutos, chegando a tempo para evitar o ataque à vila, salvando da morte por fogo amigo mil soldados ingleses. Ele recebeu a medalha Dickin PDSA. Quando se aposentou, GI Joe foi viver no Zoológico de Detroit (EUA), onde morreu com 18 anos.
Carro de transporte dos pombos-correios.
O exército americano durante a II Guerra levou uma unidade de pombos-correios para o Desembarque na Normandia. O herói, entretanto, foi o britânico Paddy: ele conseguiu levar em menos tempo para a Inglaterra mensagens codificadas sobre os avanços das tropas Aliadas após o Desembarque. Paddy partiu por último no dia 12 de junho de 1944, voou 515 quilômetros em 4h50 e chegou primeiro. Mereceu a medalha Dickin. Quando terminou o serviço militar, ele foi devolvido ao proprietário, capitão Andrew Hughes. Paddy morreu em 1954 com a idade de onze anos.
Nem todos conseguiram. Em 2012 na cidade de Blethingley (Inglaterra), durante a limpeza da lareira um casal descobriu uma pequena capsula vermelha com uma mensagem codificada junto com os ossos de um pombo-correio. O texto destinado ao posto XO2 contém 27 códigos, cada um composto por cinco letras ou números.

Os especialistas acreditam que a ave foi enviada pelas Forças Aliadas, após o Desembarque na França em junho de 1944. A mensagem, provavelmente, refere-se a informações sobre o progresso das operações. De acordo com a notícia publicada pela BBC em 2012, a mensagem secreta levada pelo pombo-correio há mais de meio século foi encaminhada a uma base de comunicação em Cheltenham para estudo dos analistas.


Foto: Hilda Araújo. Museu da II Guerra, New Orleans (EUA), 2013.


(Memórias do Marechal Montgomery. São Paulo: IBRASA, 1960).        

quarta-feira, 27 de julho de 2016

CENDRARS E O BRASIL
                             
Basta folhear um livro sobre a produção intelectual do início do século XX para encontrar o nome de Blaise Cendrars, escritor, poeta, designer e, principalmente, viajante. Cendrars é o pseudônimo de Frédéric Louis Saucer, nascido na Suíça em 1887. A primeira viagem foi em 1906 com destino a Moscou e depois rumou para a China, retornando depois à Suíça para frequentar a universidade. Em 1911 viajou para Nova York e em 1912 instalou-se em Paris, onde lançou o livro “Os homens novos” e em seguida “Páscoa em Nova York”, um poema de 30 páginas, em que anuncia o modernismo.
Cendrars se naturalizou francês em 1916, foi voluntário na Legião Estrangeira, durante a I Guerra Mundial (1914-1918) e perdeu o braço direito. Na Paris fervilhante dos anos de 1920, conheceu Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade. Tornaram-se amigos e é impossível deixá-lo de fora da história do modernismo brasileiro.
Parece até conta de mentiroso, mas ele visitou o Brasil sete vezes. Apaixonou-se pelo país tropical e pelas possibilidades que ele oferecia. O texto abaixo é um excerto da narrativa da sua viagem ao Brasil em 1924, patrocinada por Paulo Prado. Cendrars descreve a chegada ao porto de Santos. 

 A bombordo

O porto
Nenhum ruído de máquina nenhum assobio nenhuma sirena
Nada se mexe nenhum homem à vista
Nenhuma fumaça sobe nenhum penacho de vapor
Insolação de um porto inteiro
Nada mais do que o sol cruel e o calor que cai do céu e que sobe da água um calor alucinante
Nada se mexe
No entanto aqui existe uma cidade atividade uma indústria
Vinte e cinco cargueiros de dez nações diferentes estão no cais carregando café
Duzentas gruas trabalham silenciosamente
(De binóculo se percebem os sacos de café que viajam sobre tapetes rolantes e elevadores contínuos
A cidade está escondida atrás de hangares achatados e grandes depósitos retilíneos de metal ondulado)
Nada se mexe
Esperamos horas
Ninguém vem
Nenhuma barca deixa a costa
Nosso navio parece derreter a cada minuto e afundar lentamente no calor espesso e balançar e ir a pique



“ETC... ETC... (Um livro 100% brasileiro)”, do suíço Blaise Cendrars (nascido Frédéric Louis Saucer, 1887-1961). O texto faz parte da descrição da chegada dele a Santos nos anos vinte do século passado. 

domingo, 24 de julho de 2016

ACHADOS NA ESTANTE
Arrumar estantes de livros é um problema. Agradável, mas em geral demora dias. Tudo porque acabo encontrando meio escondido nas últimas fileiras um amigo que não via fazia tempo; outro de que quase me esquei e alguns que esperam este encontro com a paciência que só eles têm. Assim paro para ler, reler ou folhear os livros, o que torna a tarefa mais suave, porém, sem data definida para terminar. Foi assim que reencontrei estas afirmações que transcrevo, propondo até uma adivinhação: você conhece o autor delas?  
I - “Na verdade (...), nada me agrada tanto como praticar com pessoas de idade; pois as considero como viajantes que percorreram um longo caminho, o qual eu talvez tenha de percorrer também. Por isso acho necessário informar-me com elas se a estrada é lisa e fácil ou áspera e cheia de dificuldades.”  
Cézanne: autorretrato.
II – “Os homens da minha idade reúnem-se muitas vezes; somos pássaros da mesma plumagem, como diria o velho provérbio; e nessas reuniões o tom geral da conversa é: não posso comer, não posso beber; lá se foram os prazeres da mocidade e do amor; outrora se vivia bem, mas isso já passou e a vida já não é a vida. Alguns se queixam das desconsiderações que recebem dos próprios parentes e desfiam tristemente a cantilena de todos os males que a velhice lhes traz. Mas quer me parecer (...) que essas pessoas culpam a quem realmente não é culpado. Porque se a velhice fosse a causa eu, que também sou velho, e todos os demais que o são sofreríamos a mesma coisa. (...).  A verdade é que essas queixas, bem como as que são feitas contra parentes, devem ser atribuídas à mesma causa; e esta não é a velhice, e sim o caráter dos homens; pois aquele que tem um natural tranquilo e bem humorado não sentirá o peso dos anos, e ao que não é assim não só a velhice, mas a própria juventude é pesada.”
Este é um diálogo entre Sócrates (469-399 a.C.) e seu anfitrião em ceia que antecede um festival, narrado por Platão (428-348 a.C) em A República. E acreditamos que o mundo mudou...


Platão – Diálogos – A República, tradução de Leonel Vallandro. Coleção Universidade.


sábado, 23 de julho de 2016

PARABÉNS A VOCÊ


Comemorar aniversário é coisa que provavelmente o homem faz desde que aprendeu a organizar um calendário. Os persas muitos séculos antes da era cristã consideravam que a data mais importante na vida de uma pessoa era o dia do seu nascimento e por isso aproveitavam a ocasião para comer e beber com os amigos. Isso em um tempo em que a comida era escassa e, portanto, cara. 
Na Bíblia, os aniversários citados são dignos de páginas policiais. De acordo com o Gênesis, o Faraó no dia do seu aniversário manda matar o padeiro. (O escriba esqueceu de colocar o nome do Faraó.) Nos Evangelhos, Mateus conta que Herodes na festa de seu aniversário, entusiasmado com a dança de Salomé, promete dar-lhe o que ela quisesse como recompensa. A perversa pede-lhe nada menos que a cabeça de João Batista. Por essas e outras durante muito tempo o costume de comemorar o dia do nascimento foi abominado pela igreja que considerava coisa de pagão, mas a tradição parece ter vencido as resistências religiosas.
Onde tem bebida há, claro, muita cantoria. E se perde nos tempos o uso das libações seguidas das chamadas canções de beber ou coretos de mesa (como dizem os mineiros). Muito antes de o europeu aportar neste novo mundo, os ameríndios já se dedicavam a essa arte de beber e cantar. Infelizmente perdemos os registros dessas raízes e temos que nos contentar com o “Happy Birthday To You*” ou “For he´s a jolly good fellow” que, segundo o Guinness Book, são as duas canções mais populares do mundo.
Então naquele tempo distante alguém (uma mulher?) misturou farinha, ovos, mel, leite e fermento, assou a massa e surgiu o bolo, feito especialmente para ocasiões festivas, pois é absolutamente inútil em se tratando de alimento. Bolo vem de bola e, portanto, tem que ser redondo. O motivo é simples: facilita na hora de dividir a iguaria entre os convidados. Que importa se surgiu em aniversários e foi levado para os casamentos ou vice-versa?  Importante é que foram sendo acrescentados novos ingredientes e o bolo foi se aprimorando.
Quando o convidado está indo embora, não se deve esquecer de lhe entregar o tradicional pratinho com algumas guloseimas servidas na festança. A lembrança ou a prova para aqueles que não compareceram por algum motivo. Ou simplesmente gentileza do anfitrião. O costume é japonês (portanto, deve ser milenar), mas chegou ao Brasil através dos colonizadores portugueses que o trouxeram de suas andanças por Catai séculos atrás. 
Tão gostoso quanto o bolo de aniversário dividido com os amigos é descobrir que por trás de nossos mais simples gestos há uma história que se perde no tempo.


* Parabéns a Você chegou ao Brasil em 1942 – época da política de boa vizinhança de Roosevelt. Na época, a Rádio Tupi do Rio de Janeiro lançou um concurso para escolher a letra para a canção americana de 1893. Quem venceu foi a farmacêutica paulista de Pindamonhangaba Bertha Celeste Homem de Mello (1902 -1999). (A letra correta é Parabéns a você/ nesta data querida./ Muita felicidade, /muitos anos de vida.)
(Publicado originalmente em 2013.)

quarta-feira, 20 de julho de 2016

ENVELHECER

Arnold Schwarzenegger, ex-Mr. Universo, 65 anos: “A única coisa que posso dizer sobre envelhecer é que é uma droga. Eu não sou diferente de você. Nós todos olhamos no espelho e dizemos: ‘O que aconteceu?’ Você antes tinha músculos e agora, lentamente, eles estão deteriorando. Mas se você malhar, você permanece em forma e se sente bem. Eu me sinto bem atualmente”. O ator fez a declaração durante o lançamento do filme O último desafio.

Marco Túlio César (106-42 a.C.): “Os frutos da velhice são todas as lembranças do que anteriormente se adquiriu.” 


segunda-feira, 18 de julho de 2016

INDIA DOS MARAJÁS

Em 1947, às vésperas da independência, havia 565 marajás e rajás (hindus) e nawas e nizam (muçulmanos) reinando na Índia sobre um terço do território e um quarto da população daquele país. Seus estados não estavam sob domínio inglês. Esse grupo era formado por alguns dos homens mais ricos do mundo, mas também incluía muitos “com rendimentos mais modestos do que os de um mercador de bazar de Bombaim”. Se houve uma minoria corrupta e perversa, existiu também um grande número desses príncipes que proporcionou aos seus súditos uma vida melhor do que a dos indianos que viviam sob domínio inglês.
A vida de luxo extravagante desses homens acabou mexendo com o imaginário de todos os povos por causa de escritores como Rudyard Kippling. Ainda marajá designa os milionários excêntricos que não se restringem À Índia. No livro “Esta Noite a Liberdade”, de Lapierre e Collins, há um capítulo dedicado às loucuras de marajás, rajás, nawas e nizam. Os autores contam que uma pesquisa mostrara que em 1947 cada um deles possuía em média 11 títulos, cinco mulheres, 12 filhos, nove elefantes, dois vagões de trem privativos e três Rolls Royces. A seguir alguns fatos relatados no livro sobre a independência indiana.
O marajá de Baroda (ou Vadodara) tinha uma adoração fetichista por ouro e pedras preciosas. A coleção de diamantes dele incluía a Estrela Azul, o sétimo maior diamante do mundo, que havia sido oferecido por Napoleão III à esposa e que pertencera antes ao favorito de Catarina da Rússia, Pontemkim. O seu tesouro incluía uma coleção de tapetes feitos de pérolas, ornamentados com desenhos em rubis e esmeraldas.

O elefante do marajá de Baroda usava arreios de ouro maciço: o palanquim real, a gualdrapa (a cobertura das ancas das cavalgaduras), os braceletes das quatro patas e as correntes que pendiam das orelhas. Mas em matéria de tapetes o marajá de Bharatpur preferiu os dele de marfim. Cada peça levava anos para ser concluída e a tarefa exigia o trabalho de uma família inteira. Outra família tinha a tarefa (considerada privilégio) de tecer com fios de ouro as túnicas de cerimônia do príncipe e para conseguir maior perfeição do tecido os tecelões cortavam as unhas em forma de dentes de pente. 


O marajá de Kapurthala (chamada de Paris do Punjab) desfilava com o maior topázio do mundo incrustado em seu turbante. Os tesouros de Jaipur, a cidade rosa, ficavam enterrados perto da cidade, situada em uma colina do Rajasthan. Os herdeiros dessa dinastia visitavam o lugar onde as riquezas eram armazenadas apenas uma vez na vida “para escolherem as pedras que dariam um brilho especial ao seu reinado”. A peça mais valiosa era um colar de rubis com pedras do tamanho do coração de pombo, realçado por três esmeraldas, a maior pesando 90 k.
No tesouro do marajá de Patiala, o destaque era uma couraça cravejada com 1.001 diamantes com reflexos azul-pálidos. Até o início do século passado, anualmente, os marajás apresentavam-se diante do povo vestidos apenas com a couraça e “a virilidade real em ereção”! Com essa patética aparição, “associavam a sua pessoa à força criadora do deus Shiva, enquanto o reflexo dos diamantes assegurava aos súditos o afastamento das forças maléficas”.
Com o advento do automóvel, os marajás trocaram o elefante pelos carros de luxo. Bom, luxo é pouco para o que eles fizeram. O primeiro carro chegou à Índia em 1892: um De Dion Bouton, francês, comprado pelo marajá de Patiala. O mais interessante foi o número da matrícula do veículo: zero!
Mas o carro preferido desses príncipes indianos era mesmo o Rolls-Royce. O marajá de Alwar mandou fazer o dele todo chapeado a ouro por dentro e por fora, com o volante em marfim esculpido. O de Bharatpur era dono de um Roll-Royce de prata maciça e, junto com o carro, circulava a lenda de que a carroçaria emanava ondas afrodisíacas. Hum! 

sábado, 16 de julho de 2016

A GELADEIRA (ICEBOX)

Ontem, terminei o dia assistindo a “Doidos milionários” (My man Godfrey), comédia de 1936, dirigida por Gregory La Cava, estrelado por Carole Lombard (1908-1942) e Wiliam Powell (1892-1984). Carole Lombard foi indicada ao Oscar de melhor atriz pelo papel – um exagero. Gosto demais de filmes antigos, especialmente em preto e branco. Clássicos ou não. Divirto-me também vendo como era o estilo de vida das pessoas, o que o cinema sempre reproduz de forma impecável, na maioria das vezes.
E nesse filme vi a geladeira que fez parte da minha infância.  Sempre me sentia frustrada porque nenhum dos meus amigos se lembra desse objeto. Ela era de madeira, exatamente como um móvel; precisava ser abastecida todos os dias com as pedras de gelo embrulhadas em jornal deixadas na soleira da porta da rua pelo entregador. A do filme é muito sofisticada – afinal, era uma casa de milionários. Descobri que era chamada de “icebox”.
A partir daí pesquisei na internet e encontrei dois modelos parecidos (acho que a nossa era mais larga e baixa), restaurados. Um deles à venda pela bagatela de R$ 3.800! Se minha avó soubesse...
A de casa foi substituída no início dos anos 1950 por uma Frigidaire branca enorme. Achei no site de Fulginiti Neto um modelo parecido lindamente restaurado. (Acho que a nossa geladeira era quadrada, mais baixa e larga e a divisão interna diferente, mas o tempo passa e a memória nos engana.)


  

Fotos do restaurador do RS: 


terça-feira, 12 de julho de 2016

HISTORIA DO JIPE

Bonitos, coloridos e elegantes. Algumas marcas de jipes mantêm o jeito brigão de seu ancestral, que foi desenvolvido nos Estados Unidos no período da II Guerra Mundial com um conceito muito próprio: prover a tropa mecanizada com um elemento rápido e flexível capaz de fazer tudo o que a cavalaria fazia em outros tempos. Mais ainda: fazer aquilo que a cavalaria não podia fazer. Era, portanto, um veículo militar. O nome, entretanto, foi inspirado na história de um marinheiro muito famoso na época e que tinha um boneco chamado Jeep capaz de fazer coisas espantosas. Claro, o marinheiro Popeye (Popeye the sailor).  
O jipe surgiu como um carro de reconhecimento do exército americano. Pequeno pesando 250 kg, mas possante, com tração nas quatro rodas, batia todos os recordes de agilidade, maneabilidade e resistência. Uma reportagem da revista EM GUARDA (Ano 1, nº 6) explica que “A vantagem essencial do ‘Jeep’ é que ele se presta para correr em boas e más estradas, para vencer escarpas, avançar por valas e buracos, por paus e por pedras, por água e lama, neve e gelo. Foi construído para enfrentar tudo isso – e por incrível que pareça, até tremendos solavancos que o projetam no ar, como um carro voador. E quando ganha o terreno novamente (...) prossegue em sua corrida fantástica, como se nada houvesse acontecido.”
O jipe foi usado como carro de reconhecimento, rebocador de canhões antiaéreos, transporte de mensageiro, de munição, máquinas e ferramentas; era levado em aviões e largados em paraquedas para uso das tropas de infantaria aérea. O porte reduzido permitia ocultar-se em meio de vegetação baixa o que dificultava que os atiradores dos tanques os localizassem e acertar a pontaria. Era forte e leve e, assim, quando virava, a guarnição podia colocá-lo em posição e continuar o caminho.

Com o final da guerra, os jipes popularizaram-se pelo mundo e o carro que nasceu bom de guerra teve uma nova aplicação em tempos de paz. Mas isso é outra história.
(Foto: Normandia, 2015 - HPPA.)


Jipes guiando divisão motorizada. Revista EM GUARDA.



Jipe original, festejos dos 71 anos do Desembarque na Normandia.


sábado, 9 de julho de 2016

NOVE DE JULHO

    No Parque Ibirapuera, o Obelisco de São Paulo, símbolo do Movimento Constitucionalista de 1932. É o maior monumento da Capital. Ele tem 72 metros de altura.

Foto: HPPA, 2011.

Foto: Wikipedia.

quinta-feira, 7 de julho de 2016

JÚPITER E JUNO

Agora vamos conhecer as intimidades do planeta Júpiter. No último dia 5 de julho, a sonda Juno chegou, enfim, ao seu destino – a órbita do maior planeta do sistema solar, após uma viagem interplanetária de cinco anos ao longo de 800 milhões de quilômetros. A equipe de cientistas da agência espacial norte-americana deu um toque romântico à missão, escolhendo o nome de Juno – esposa de Júpiter, deus dos deuses, na mitologia grega – para designar a sonda espacial. Esta Juno é inovadora, pois move-se com energia solar!
A sonda da NASA está equipada com sensores de infravermelho e ultravioleta, medidores de gravidade e radiação para as pesquisas e, nos próximos 20 meses, dará 37 voltas ao redor dos polos de Júpiter. Desvendar os mistérios de Júpiter (só enviando a esposa mesmo), entender melhor a formação do Sistema Solar e procurar por água são os principais objetivos da missão. Uma das cosequências práticas da missão para nós terráqueos é o desenvolvimento de novas tecnologias de painéis fotovoltaicos com aplicações terrestres, o que sem dúvida é extremamente importante.

Júpiter é visível a olho nu à noite e às vezes pode ser observado durante o dia, quando o Sol está baixo no horizonte. Ele tem quatro satélites, descobertos por Galileu em 1610: Io, Europa, Ganimedes e Calisto. 

Foto: NASA. Via Láctea e aglomerados de estrelas.

PARA MEDITAR


  •  A estrela mais próxima de nós (depois do sol) é a “Próxima de Centauro” e fica a uma distância de cerca de quatro anos luz, ou seja, 37 milhões de milhões de quilômetros!
  • A olho nu vemos apenas, aproximadamente, cinco mil estrelas: 0,0001% de todas as estrelas de nossa galáxia (Via Láctea).
  • A Via Láctea é uma entre mais de cem bilhões de galáxias que podem ser vistas com os telescópios modernos e cada galáxia contém em média uns cem bilhões de estrelas.


(Fonte: Uma nova história do tempo, de Stephen Hawking e Leonard Mlodinow, Ediouro)

domingo, 3 de julho de 2016

OUTROS BICHOS

       Em 1713, os capuchos de São Luis do Maranhão moveram um processo contra formigas que infestavam o convento de Santo Antonio. O professor Ronaldo Vainfas, da Universidade Federal Fluminense, conta que o caso foi levado ao juízo eclesiástico e contou com testemunhas. O advogado Antonio da Silva Duarte representou as rés e até vetou algumas testemunhas. Outras em defesa das formigas disseram que elas agiram sem malícia, por serem desprovidas de razão “e não saberem do bem nem do mal”. Houve até quem dissesse que as rés já viviam no local muito antes da construção do convento. Assim, deduz-se que intrusos seriam os capuchos. Quem venceu a pendenga? O caso ficou sem conclusão, embora tenha gerado 19 fólios (38 páginas) depois de se arrastar até 1714. Vainfas afirma em seu artigo Brasil dos Insetos (Revista Nossa História), que o fato mostra “outro mundo e outro tempo. Mundo encantado, barroco, onde o real e fantástico se misturavam cotidianamente”.  O realismo fantástico continua.
     
*Patrício veio para o Brasil com a família real em 1808 e foi morar no Paço, sendo motivo de inveja da Corte que não se conformava com os mimos que o Príncipe D. João lhe dedicava. Patrício “foi um boi funcionário por muito tempo, com incontáveis regalias, como pensionista do Tesouro Público”. O fato é narrado pelo historiador José Vieira Fazenda em Antiquarias e memórias do Rio de Janeiro, publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. “Como o rei apreciava aquela bela estampa de ruminante, a gente do Paço melhor cuidava do animal tão abominado pelos colonos fartos do governo de um rei que acreditavam de inteligência acanhado, de inaptidão e só adstrita aos acordes do cantochão” – diz Fazenda em seu artigo. A lenda conta que, ao morrer, o boi Patrício ganhou até epitáfio: “Aqui jaz nesta mansão/ o Patrício, ex-funcionário/ comer era sua obrigação/ à custa do Real Erário”.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

GATOS, PARDAIS E RATOS.
Os santistas costumam zombar do prefeito Osvaldo Justo (1926-2003), que resolveu combater os ratos dos jardins da praia de Santos com um batalhão de gatos. Nada original. No início do século XX, o prefeito Francisco Pereira Passos (1836-1913), famoso por ter remodelado o Rio de Janeiro (1902-1906), foi pioneiro republicano nessa matéria. A Cidade Maravilhosa vivia (como Santos) sob o terror da febre amarela e de outras graves doenças epidêmicas, que dizimavam a população. Pereira Passos mandou então importar da Europa pardais para que comessem os mosquitos da febre amarela enquanto tornavam a cidade mais atraente...
Nessa mesma ocasião, o diretor geral da Saúde Pública do Rio de Janeiro, o renomado cientista Osvaldo Cruz (1872-1917), criou uma brigada de mata-ratos, formada por cidadãos voluntários. A tarefa de cada um era apanhar cinco ratos e, para cada roedor acima desse número, o voluntário recebia 300 réis do Governo. O ingênuo Osvaldo Cruz não contava com o empreendedorismo da malandragem tupiniquim, que logo iniciou um rendoso negócio: a criação doméstica de ratos para vender ou trocar o bicho morto por dinheiro. Denunciado o golpe, parece (nunca se sabe) que foi todo mundo preso. As epidemias só acabaram mesmo com a vacinação geral da população.
Mas parece que o Imperador D. Pedro II teria iniciado essas ações pouco ortodoxas em questões ambientais.. Em 1856, após a terrível seca que assolou o Ceará, D. Pedro II decidiu trocar cavalos e jegues da região por dromedários. E assim foram comprados da Argélia 14 dromedários, que viajaram 38 dias até chegar ao sertão cearense. Vieram com tratadores especializados que partiram após treinarem o pessoal brasileiro. Embora os animais tenham se adaptado ao clima e logo parido seis filhotes, não duraram muito tempo. O jegue, por sua vez, segue por lá firme e forte.