quinta-feira, 31 de outubro de 2019

HOJE É DIA DO SACI!

Dia de festa em São Luís de Paraitinga, sede da Sociedade dos Observadores de Saci (SOSACI), e em Botucatu, onde fica a Associação Nacional dos Criadores de Saci (ANCS).
O Saci (Ziraldo)



O nome do garoto sapeca pode variar conforme a região do país: Saci-Cererê, Saci-Trique, Saçurá, Mati-taperê, Matiaperê, Matim Pererê, Matintaperera, Capetinha da Mão Furada...

Parabéns ao Saci! 





terça-feira, 29 de outubro de 2019

RESTAURO DE OBRAS DO IV CENTENÁRIO DE SÃO PAULO

As quatro obras encomendadas a Tarsila do Amaral, Clóvis Graciano e ao português Manuel Lapa para os festejos do IV Centenário de fundação de São Paulo foram restauradas recentemente e o resultado pôde ser visto na mostra “4ºx4: Obras Restauradas do Quarto Centenário", que aconteceu no Centro Cultural São Paulo em setembro. O restauro foi patrocinado pelo Bank of America Merrill Lynch, por meio do Art Conservation Project.

O Restelo, de Manuel Lapa. A partida das naus que partiram do Tejo para se aventurar em direção ao Novo Mundo.

Missa de 25 de Janeiro – Conversão de São Paulo – 1554, de Manuel Lapa (1914-1979): reprodução do mural que ficou escondido por 14 anos atrás de uma parede falsa na OCA, Ibirapuera. A restauração do mural foi feita pela empresa Julio Moraes Conservação e Restauro.


Mineração, de Clóvis Graciano (1907-1988).

Procissão, de Tarsila do Amaral (1886-1973).

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Ó DE CASA! (4)


Fundação Maria Luísa e Oscar Americano 
Se nos anos 1930 o bairro do Sumaré ainda era isolado, em 1948 o Morumbi devia ser ainda um subúrbio de São Paulo, quando o engenheiro Oscar Americano de Caldas Filho  (1908-1974) resolveu implantar um parque com vegetação nativa para em 1953 construir sua casa. O autor do projeto da residência foi o arquiteto Oswaldo Arthur Bratke (1907-1997). Ele criou uma casa de 1.500 metros de perímetro em estilo modernista, integrada à paisagem como era desejo do proprietário. Oscar Americano e a esposa Maria Luísa Ferraz Americano de Caldas viveram na residência até o falecimento dela em 1972. Em 1974 Oscar Americano criou a Fundação Maria Luisa e Oscar Americano, doando à cidade de São Paulo, a casa com o parque, além do acervo de obras de arte que o casal colecionou ao longo da vida.
(Foto: catálogo.)
         Ao entrar o visitante é envolvido pelo bosque, caminha por uma alameda que sobe suavemente até revelar a casa de linhas sóbrias que parece repousar sobre a elevação. O vidro é um dos principais elementos da construção, o que permite que as pessoas no interior da moradia desfrutem da beleza do parque, uma das principais áreas verdes de São Paulo.
         A residência de dois pavimentos é dividida em blocos: íntimo, social e de serviços. No térreo, ficam a área social e a área de serviços; no pavimento superior, a área íntima. Um pequeno jardim proporciona ventilação e iluminação ao interior da casa. Para a implantação do museu houve necessidade de fazer adaptações na residência, aberta ao público em 1980 e desde então a família ampliou gradualmente o acervo.
Tapeçaria, mobiliário, pinturas, esculturas, porcelanas e prataria compõem o conjunto de peças dividido em três núcleos: Brasil Colônia (mobiliário, prataria, exemplares de arte sacra brasileira e pinturas do holandês Frans Post); Brasil Império (esculturas, pinturas, gravuras, louças, móveis, pratas, comendas e adereços que retratam usos e costumes do período) e Mestres do Século XX, com obras de Victor Brecheret, Lasar Segall, Alberto da Veiga Guignard, Di Cavalcante e Cândido Portinari.
"Engenho com capela", Frans Post.
Uma vez por mês há concertos aos domingos às 11h30. Os próximos serão dia 3 de novembro e no dia 8 de dezembro (Concerto de Natal). Outra atração da Fundação é o Salão de Chá, que se destaca pela elegância do serviço. 
O parque demonstra que na primeira metade do século passado já havia uma preocupação com a questão ecológica. Oscar Americano contratou o engenheiro e arquiteto Otávio Augusto Teixeira Mendes (1907-1988) para transformar uma área coberta de pinheiros em um bosque típico brasileiro. São 75 m² revestidos de vegetação nativa como pau-ferro, pau-brasil, sibipiruna, jacarandá-da-bahia e angico-vemelho em ter outras. Nesse paraíso vivem 51 espécies de aves. Em 2006, a Fundação lançou o “Guia das Aves” (edição bilíngue), do professor Luís Fábio Silveira, do Departamento de Zoologia do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, em parceria com as alunas Camila Sobreira e Marina Oppenheimer, e fotos de Edson Endrigo.  

FUNDAÇÃO MARIA LUÍSA E OSCAR AMERICANO: Avenida Morumbi, 4077. Funciona de terça a domingo das 10 às 17h30. Ingresso: R$ 10,00 e R$5,00 (meia). Só aceita cartão de débito.
Para pedestres como eu, há duas opções.
Linha Amarela 4 do metrô - terminal São Paulo-Morumbi e tomar o ônibus 756A-10 na avenida e descer no ponto do Hospital Albert Einstein.

Estação Brigadeiro do Metrô e na avenida Brigadeiro Luís Antônio pegar o ônibus 5119-10 Terminal Capelinha e descer no ponto da avenida Morumbi 4076.



quarta-feira, 23 de outubro de 2019

DIA DO AVIADOR


Postal Museu Paulista/USP.
O primeiro aviador foi certamente o primeiro homem a voar um dirigível e esse homem foi Alberto Santos-Dumont (1873-1932) e, portanto, no Dia do Aviador, homenagens a Santos-Dumont que no dia 23 de outubro de 1906 realizou o primeiro voo mecânico do mundo: percorreu sessenta metros a uma altura variável de dois a três metros. O feito aconteceu no Campo de Bagatelle, em Paris. “Às 16 horas e 45 minutos, após uma corrida no solo de cerca de 200 metros, o 14-Bis deslocou-se em pleno espaço. Ao final do voo, Santos-Dumont foi carregado em triunfo pela multidão que testemunhou o momento histórico.” * Foi um pequeno voo, na verdade o primeiro passo para apenas sessenta e dois anos depois Neil Armstrong caminhar pela superfície da Lua...
Há várias obras sobre Alberto Santos-Dumont, membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), segundo ocupante da cadeira 38. Para saber o básico sobre o Pai da Aviação, excelente o livro da SÉRIE ESSENCIAL publicado pela ABL/Imprensa Oficial do Estado de São Paulo.

O 14-Bis da Praça Campos de Bagatelle, Santana (SP).
Artistas: Oswaldo e Enivaldo Luppi, com a participação de Luís Morrone.
*SANTOS-DUMONT de Cláudio de Souza Soares. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2014. R$ 15,00.

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

DIA INTERNACIONAL DA MAÇÃ

          E já fica valendo para o dia das bruxas...
          (Em tempo: Eva não deu maçã para Adão. O Gênesis refere-se a fruto.)
                     
"Branca de Neve e os Sete Anões", Walt Disney, 1937.

domingo, 20 de outubro de 2019

LEMBRANÇA DE VIAGEM

Tessalônica, Grécia. 
Dois amigos aguardam o sinal de pedestres para atravessar a rua. Domingo, dia de passear. 
Em junho de 2019.


sábado, 19 de outubro de 2019

LEMBRANÇA DE VIAGEM

ATENAS, Grécia. 
Respeito às tradições. Harmonização do crescimento da cidade e a manutenção da igreja. 


Atenas, 19 de junho de 2019. Foto: Hilda Araújo. 

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Ó DE CASA! (3)

DONA YAYÁ


Em 1888, Afonso Augusto Roberto Milliet comprou de José Maria Talon um terreno com mais de 30 mil m², com fundos para o córrego do Bexiga, formador do ribeirão Anhangabaú. No local havia um chalé de quatro cômodos, que foi incorporado à bela residência de treze cômodos, rodeada por um alpendre, que Milliet mandou construir.
        No início do século XX, a cidade se expandia e em 1902, Milliet vendeu a propriedade para João Guerra, um rico comerciante de secos e molhados. Nessa época o terreno já estava reduzido a 22 mil m². Novas reformas deram ao prédio um estilo mais sofisticado ou como dizem neoclássico tropical, com afrescos recobrindo as paredes dos diversos aposentos.
Sebastiana de Mello Freire (1887-1961), a Dona Yayá, foi morar na casa da Rua Major Diogo na década de vinte.  Há indícios de que primeiro morou como inquilina, pois a compra do imóvel só foi efetivada em 1925. O terreno já diminuíra para 2.500 m².
Dona Yayá viveu uma história de tragédias. Era filha de Josefina Augusta de Almeida Mello e Manoel de Almeida Mello Freire, senador estadual e deputado constituinte. O casal teve outros três filhos. Uma das irmãs dela morreu aos três anos, asfixiada pela ingestão de um objeto, quando estava no berço. A outra faleceu aos 13 anos, vítima do tétano depois de se ferir com o espinho de uma árvore. Os pais adoeceram e morreram no intervalo de dois dias em locais diferentes, quando Sebastiana tinha 12 anos. Manuel Joaquim de Albuquerque Lins (1852-1926), que mais tarde viria ser presidente do estado de São Paulo, tornou-se tutor de Sebastiana e de Manuel de Almeida Mello Freire Junior, o irmão de 17 anos, herdeiros de uma grande fortuna.




A vida parecia transcorrer normalmente para Dona Yayá, quando a doença mental se manifestou. Ela estava com 32 anos. A riqueza lhe garantiu a assistência médica de que necessitava. Na residência moravam, além de Dona Yayá, numerosa criadagem, o enfermeiro, a amiga Eliza Grant e a prima Eliza de Mello Freire.

A casa foi reformada algumas vezes para que ela tivesse conforto adequado às condições de saúde. O salão central transformou-se no dormitório dela: os papéis de parede foram removidos e os afrescos recobertos com tinta esmaltada de cor neutra e de fácil limpeza. Para evitar que Yayá se machucasse durante os acessos de fúria, muitas adaptações foram feitas: o banheiro não tinha torneiras e as janelas, especialmente projetadas pelo médico Juliano Moreira, só se abriam do lado de fora. Em 1952 foi construído o solário para maior conforto da paciente.
Dona Yayá morreu em 1961, no Hospital São Camilo sem deixar herdeiros. Estava com 74 anos – 40 dos quais viveu mergulhada na loucura e reclusa no casarão da Bela Vista. A história de Dona Yayá gerou lendas e levanta muitas teorias ainda hoje. "Seria dona Yayá louca mesmo ou ela era uma mulher diferenciada para a época?” - questiona o historiador José Sebastião Witter (USP). Ela era milionária, mas quando morreu teve uma sepultura anônima no cemitério da Consolação.
Dona Yayá.
Sem herdeiros (herança vacante), o imóvel passou para o Estado e em 1969 foi incorporado à Universidade de São Paulo. Nos anos de 1960, o jardim da casa perdeu mais 300 m² para as obras da Radial Leste.
Após vários anos sem uso definido, finalmente, o prédio foi escolhido para sediar o Centro de Preservação Cultural da USP – CPC. 

Rua Major Diogo, 353, Bela Vista, São Paulo.
Visitação: das 10h às 16 h. Entrada é gratuita.




terça-feira, 15 de outubro de 2019

DIA DO PROFESSOR

"Aniversário da professora", de Norman Rockwell.

Parabéns a todos os professores pela data. Hoje minhas lembranças concentram-se nos tempos do Liceu Feminino Santista. Os professores eram ótimos e gostava especialmente de Ligia Fava Fonseca (Latim e Português); Zulmira (Português), que costumava dizer que seus olhos batiam no erro e nós acreditávamos. Maria de Lourdes Delgado ensinava trabalhos manuais (que eu detestava); Anne Marie Louise – francês e matemática; Terezinha – inglês; Lina – desenho; Olga Melchert, Geografia, e Laurentina – História. Dona Clélia era a professora mais bonita do Liceu. Era parecida com a Sofia Loren e tinha uma coleção de ban-lon com cores variadas e lindas. Ensinava Matemática. Vários professores deram aulas de Educação Física (que eu odiava) e entre eles Rosa Lima, um doce de pessoa e que revi há alguns anos em encontro de ex-alunas.

Ó DE CASA! (2)

Há muito tempo planejava a visita, mas sempre acontecia algo e eu fui adiando até que um dia, em setembro, desembarquei na estação do metrô nas Clinicas e caminhei até a casa do poeta Guilherme de Almeida (1890-1969), numa travessa da Rua Cardoso de Almeida, no Sumaré. A Rua Macapá é um pequeno paraíso verdejante onde uma placa indica a casa do poeta - amarela, discreta e graciosa. O projeto é do engenheiro Sylvio Jaguaribe Eckman (1900-1977) e obra ficou pronta em 1946, quando a região ainda era pouco habitada.

"[...] O lugar era tão alto e tão sozinho que eu nem precisava erguer os olhos para olhar o céu, nem baixar o pensamento para pensar em mim" - escreveu o morador. A ”Casa da Colina”, como ele a chamava, foi o lar de Guilherme e Baby de Almeida por 23 anos. Quando ele morreu, o governo do Estado adquiriu a residência e todo o acervo bibliográfico, artístico e histórico que pertencera ao casal para criar um museu, mas somente catorze anos depois o objetivo se concretizou. 
Ao entrar o visitante tem a impressão de que Baby ou o poeta virão recepcionar o recém-chegado. Na sala de visitas, os móveis antigos têm um charme especial, como o sofá de madeira, a cadeira de balanço. Tudo parece estar no lugar de sempre. Nas paredes enfileiram-se quadros assinados por Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e Di Cavalcanti, o que não deve ser uma surpresa, pois Guilherme de Almeida participou ativamente da Semana de Arte Moderna de 1922. Lá estão obras de Flexor, Brecheret e muitos outros grandes artistas que frequentaram a casa. A esquerda da sala há um pequeno escritório; o chapéu e as luvas do poeta descansam sobre um aparador. O paletó nas costas da cadeira nos faz imaginar o homem preparado para iniciar sua jornada de trabalho e que precisou se ausentar...



Passamos para a sala de jantar, pequena, porém os objetos decorativos merecem uma atenção especial. No jardim de inverno, o relógio de parede tem papel de destaque e a vitrola é um marcante elemento de época.
No segundo pavimento, houve algumas mudanças. Vale a pena subir as escadarias devagar para admirar a coleção de gravuras. No quarto do casal a cama de dossel domina o ambiente. Num móvel, a coleira e brinquedos do cão de estimação; o closet desapareceu e o espaço foi anexado ao segundo quarto para receber parte da biblioteca de Guilherme. Houve uma alteração na varanda por causa do elevador instalado para comodidade dos visitantes.

Mais uma escada: estreita e em caracol leva ao verdadeiro escritório do poeta ou Mansarda como ele dizia: no centro a mesa com a máquina de escrever Remington e objetos caros ao poeta. Um telescópio montado no tripé aponta para uma das janelas estreitas e altas com cortinados que combinam com o estofado. Estantes de livros predominam no ambiente e o espaço que sobra cobre-se de quadros. De uma das janelas tem-se uma vista da cidade em que se destaca ao longe o prédio da Faculdade Armando Álvares Penteado - uma visão bem diferente da aquarela que ele guardava... Sobre uma cadeira, um violão descansa na caixa.
Guilherme de Almeida, o príncipe dos poetas brasileiros, foi um ativo participante da guerra paulista em 1932, o que lhe valeu o exílio temporário na Europa. É dele o poema que reveste o Obelisco Mausoléu aos Heróis de 32 no Ibirapuera:

"Aos épicos de julho de 32, que,
fiéis cumpridores da sagrada promessa
feita a seus maiores - os que
moveram as terras e as gentes por
sua força e fé - na lei puseram sua
força e em São Paulo sua Fé."

Rua Macapá, 189. Tel.: (11) 3673-1883.

SONETO XXXII
Quando a chuva cessava e um vento fino
franzia a tarde tímida e lavada,
eu saía a brincar, pela calçada,
nos meus tempos felizes de menino.
Fazia, de papel, toda uma armada;
e, estendendo meu braço pequenino,
eu soltava os barquinhos, sem destino,
ao longo das sarjetas, na enxurrada...
Fiquei moço. E hoje sei, pensando neles,
que não são barcos de ouro os meus ideais:
são feitos de papel, são como aqueles,
perfeitamente, exatamente iguais...
- Que os meus barquinhos, lá se foram eles!
Foram-se embora e não voltaram mais!
Fotos: Hilda Araújo.
(Continua.)

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Ó DE CASA!


Eu fui chegando e entrando para bisbilhotar estas casas que guardam lembranças de seus moradores que há muito se foram desta para melhor (será mesmo?), deixando-nos muitas histórias e lendas também. A cidade ficou com um belo legado arquitetônico que merece ser conhecido e apreciado.

Nos Campos Elíseos, visitei a casa de Henrique Santos-Dumont (1857-1919), primogênito do rei do café (Henrique Dumont) e irmão de Alberto Santos-Dumont (1873-1932). Fazendeiro e empreendedor, Henrique casou-se em 26 de janeiro de 1888 com Amália Ferreira de Camargo, filha do barão de Ibitinga, Joaquim Ferreira de Camargo Andrade. O casal teve cinco filhos - quatro moças e um rapaz. A família, que morava na capital, em 1894 mudou para o elegante bairro dos Campos Elíseos. Alberto Santos-Dumont morava com eles.

Foto/reprodução: Hélio Bertolucci Jr. (Museu da Energia - 2006).
O palacete tem assinatura do escritório Ramos de Azevedo: são 1.720 metros quadrados de área construída num terreno de três mil quadrados na esquina da Alameda Cleveland com Alameda Nothmann. Em 1891, ao retornar de uma de suas muitas viagens à Europa, Alberto Santos-Dumont trouxe um presente muito especial para o irmão: um carro Peugeot, com motor Daimler de 3,5 cavalos e dois cilindros em V. Henrique tornou-se o primeiro proprietário de um automóvel e recebeu a placa P-1, a primeira do Brasil. O presente gerou um problema político, pois com a placa veio a conta do licenciamento que Henrique se recusou a pagar porque dizia que o estado das ruas da cidade eram incompatíveis com o valor cobrado. A licença foi cassada e anos depois a nº 1 foi parar nas mãos de Matarazzo, mas isso é outra história.  
Em 1919 Henrique morreu e a família vendeu a propriedade em 1926 para Blandina Ratto que ali instalou o núcleo feminino do Colégio Stafford. O palacete foi adaptado internamente para instalação dos dormitórios e área de convivência e foram construídos prédios anexos para as salas de aula, diretoria, laboratórios e auditório e residência da diretora e fundadora da escola, Blandina Ratto. O colégio encerrou as atividades em 1951 e no ano seguinte até 1982 lá funcionou a antiga Sociedade Pestalozzi. 


Com a saída da entidade a área foi invadida e ficou ocupada irregularmente até 2001 quando o estado obteve a reintegração de posse e em seguida começou o longo e cuidadoso processo de restauro da casa, onde funciona o Museu da Energia de São Paulo - “espaço aberto para discussão da história da energia, do desenvolvimento de tecnologias do setor energético e suas relações com a sociedade e o meio ambiente”. 
(Continua.)                                    
Endereço: Alameda Cleveland, 603 - Campos Elíseos. Entrada gratuita. Informações: 11-3224-1489.
Fotos: Hilda Araújo.

sábado, 12 de outubro de 2019

INFÂNCIA E CINEMA

Ótimas lembranças da infância, lembranças que vão se diluindo em sentimentos muito agradáveis. As bonecas, o jogo da amarelinha e acima de tudo a amiga inesquecível, que partiu muito cedo. Permanecem fortes as recordações das matinês de domingo com as tias no Cine Carlos Gomes em Santos. Dois filmes deixaram marcas profundas (exagero?). “Lili” (1955), estrelado por Leslie Caron (1931), que me encantou e cuja música jamais esqueci. O segundo, também inesquecível por motivos totalmente diversos, foi “O dia em que terra parou” (1951). Naturalmente não entendi a história, mas o alienígena, que aterrorizava a população da cidade onde ele aterrissou sua espaçonave, me perseguiu por muito, muito tempo. 


quarta-feira, 9 de outubro de 2019

A ARTE DA BRINCADEIRA

"Um poeta contemporâneo disse que para cada homem existe uma imagem que faz o mundo inteiro desaparecer; para quantas pessoas essa imagem não surge de uma velha caixa de brinquedos?" Walter Benjamin (1892-1940), in Magia e técnica, arte e política, Editora Brasiliense.
“Crianças brincando”, óleo sobre tela de Jorge Mori (1932-2018).

"Crianças brincando na praia", 1884. Óleo sobre tela da norte-americana Mary Cassat (1844-1926).

"Kou-kou", do grego Giorgios Jakovidis (1853-1932).

“Futebol”, 1958. Óleo sobre tela de Cândido Portinari (1903-1962). 

"Cabra-cega", serigrafia de Orlando Teruz (1902-1984).
"Flying Kites", 1950, do norte-americano John Philip Falter (1910-1982).



MÁRIO, SEMPRE MÁRIO.

"Na rua Aurora eu nasci
na aurora de minha vida
E numa aurora cresci.

No largo do Paiçandu
Sonhei, foi luta renhida,
Fiquei pobre e me vi nu.

Nesta rua Lopes Chaves
Envelheço, e envergonhado
Nem sei quem foi Lopes Chaves.

Mamãe! me dá essa lua,
Ser esquecido e ignorado
Como esses nomes da rua."

Mário Raul de Moraes Andrade nasceu em São Paulo em 9 de outubro de 1893 e faleceu em 25 de fevereiro de 1945 na casa da Rua Lopes Chaves, 546 - Barra Funda.

Carta de Mário de Andrade para Cândido Portinari, em 25 de março de 1935:
          “Si eu pudesse e si houvesse uma boa revista que publicasse tricomias, escrevinhava como o Manuel um ensaio sobre Meus Dois Pintores, você e o Segall. Mostraria então o que foi pra mim uma revelação, um verdadeiro soco na barriga quando descobri: é que você me revelou o meu lado angélico, ao passo que o Segall  me revelou o meu lado diabólico, as tendências más que procuro vencer. Às vezes me paro em frente do seu quadro e fico, fico, fico, não só perdido na beleza da pintura, mas me refortalecendo a mim mesmo. Porque de-fato você mais que ninguém, não apenas percebeu, mas me revelou que eu ... sou bom. Seu quadro me dá confiança em mim, me dá mais vontade de trabalhar, de continuar, é um verdadeiro tônico. Foi um bem enorme que você me fez.” 
À esquerda o retrato feito por Cândido Portinari e à direita o de Lasar Segall.



Mário de Andrade, Carnaval de 1922, sobre o retrato dele pintado por Anita Malfatti:
          “(...) A pintora, com as pálpebras semicerradas, trabalhava rápido, febril. Sua mão agílima abandonava pincéis, misturava cores, criava tons inebriantes, imateriais, num frenesi potente de criação. Toda entregue ao prazer de pintar, não me escutava, direi mesmo que não me via. Isso consolava-me um pouco da minha pobre figura esguicho, sem cores, muito morna. (...) Pintava. Pintava sempre. Pintava de cor, trêmula de ânsia, gloriosa de força divinatória. Suas cores eram fantasmagorias simbólicas, eram sinônimos. Por trás de minha face longa, divinizada pelo traço do artista, um segundo plano arlequinal, que era mina alma. Tons de cinza que eram minha tristeza sem razão... Tons de oiro que eram minha alegria miliária... Tons de fogo que eram meus ímpetos entusiásticos... Eu vibrava, como que recoando a ressonância anímica da artista. E o atelier era como que uma sinfonia de vidas incriadas, inexistentes, em acordes físicos sobrefortes, em melodias espirituais sobre-elevadas! Lá fora a manhã infantil cambalhotava pelos morros. Era a vida num momento de rir! Na penumbra do atelier um entusiasmo artificial, um lirismo sem nexo, fantasias sem modelo, colocava-nos para além das alegrias e das dores. Era a arte num momento de sonhar!”
"As margaridas de Mário", obra de Anita Malfatti, 1922. 


"Eu sou um escritor difícil

Que muita gente enquisila,

Porém essa culpa é fácil

De se acabar de uma vez:

É só tirar a cortina

Que entra luz nessa escuridez."

(“A costela do Grão Cão”)

MÁRIO E AS CRIANÇAS

Mário de Andrade, convidado pelo prefeito Fábio Prado (1934/1938), criou o Departamento de Cultura do município de São Paulo em 1935 e em sua gestão implantou os parques infantis destinados a crianças de famílias operárias com idade entre três e 12 anos. Mário de Andrade continuava moderno: esta foi a primeira experiência brasileira pública municipal de educação e a proposta da iniciativa era “a criação de espaços de brincadeira, aprendizado e recreio, de maneira conjugada com a incipiente assistência social da época”. Os pais podiam deixar seus filhos em segurança enquanto trabalhavam e se quisessem podiam cadastrar os filhos para acompanhamento de atividades de assistência odontológica e de saúde. Os três primeiros parques infantis foram  construídos no Ipiranga, na Lapa e no Parque D. Pedro I. 

terça-feira, 8 de outubro de 2019

OS LIVROS E A DESCOBERTA DO MUNDO

"A virtude paradoxal da leitura é de nos abstrair do mundo para nele encontrar algum sentido." Daniel Pennac (1944), escritor francês adepto da leitura em voz alta. Penac morou no Ceará por algum tempo.
“The children’s story book”, obra da britânica Sophie-Anderson (1823-1903).


"A pequena leitora", 1886. Óleo sobre tela de Pierre-Auguste Renoir.

"A Pequena Traça", c. 1902; óleo sobre tela colada em cartão de Eduard Swoboda (1814 – 1902). 
Norman Rockwell (1894-1972): "Biscoitos na cama", 1921.
"Menina  lendo" (1890), da pintora 
britânica Charlotte J. Weeks (?).

MAGIA DA BOLA DE GUDE

 Bola de meia, bola de gude
O solidário não quer solidão

Toda vez que a tristeza me

Alcança o menino me dá a mão.
“Bola de meia, bola de gude”
(Milton Nascimento)

O nome da brincadeira: jogo de gude, disputado com lindas bolinhas de vidro, mas podem ser de outros materiais. A brincadeira já existia em 2000 a. C., pois são desse período as bolinhas da ilha de Creta (Grécia), feitas de diversos materiais, e que fazem parte do acervo do Museu Britânico. Qual a origem da palavra gude? Dizem que vem do provençal, dialeto da língua occitana, falada no sudeste da França (Provença): gode e significa pedrinha redonda e lisa.

"Marbles Champion", do pintor e ilustrador americano Norman Rockwell (1894-1978).

Tela do pintor ítalo-brasileiro Enrico Bianco (1918-2013).

Crianças jogando bolinha de gude, obra do inglês William Bromley (1818-1888).

"Brincadeira de crianças", 1972, Óleo sobre tela do pintor carioca Edésio Esteves (1916).

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

VAMOS TODOS CIRANDAR


Ciranda Cirandinha
Vamos todos cirandar
Vamos dar a meia volta
Volta e meia vamos dar

"Ciranda" (1942), óleo sobre tela do pintor fluminense Milton Dacosta (1915-1988).
"Roda infantil" 1932. Óleo sobre tela de Cândido Portinari ('903-1962).
"Ring around the Rosie" (1910/15), obra de Edward Henry Potthast (1851-1927).

Crianças brincando de roda (1872), óleo sobre tela do pintor alemão Hans Thoma (1830-1924)






domingo, 6 de outubro de 2019

PETECAS E MAIS PETECAS


O compositor carioca Heitor dos Prazeres (1898-1966) também foi pintor e criou obras deliciosas no estilo naif. A peteca foi tema de alguns de seus quadros. Em três dos quatro quadros que encontrei é interessante notar que o telhado da casinha amarela muda de uma tela para outra. As crianças brincam em um quintal ou terreiro em que a grama e as árvores envolvem o ambiente, mas no último um muro isola a vegetação e parece que agora eles brincam numa rua asfaltada... Outro aspecto interessante é que o modelo dos vestidos das meninas é igual, mudando apenas a cor e somente duas meninas têm o cabelo solto. Quanto às camisetas dos garotos apenas o listrado muda de cor. É possível que já tenham escrito estudos sobre esses quadros, desvendando as histórias da criação das obras, mas desconheço.

"Jogando peteca", 1963. As duas meninas nos balanços observam as amigas jogando peteca.  
"Roda de peteca" Uma pipa? 

Jogando peteca", 1963.
"Peteca", 1964. E uma pipa vai subindo...