segunda-feira, 27 de março de 2023

MOMENTOS PARA O CHÁ

Sugestões de Lin Yutang (1875-1976, filósofo chinês que em 1936 se radicou nos Estados Unidos, para se deliciar com uma xícara de chá. Em tempo: não consegui saber que instrumento é ch’in

MOMENTOS PRÓPRIOS PARA TOMAR CHÁ

Quando se tem o coração e as mãos ociosos.

Quando se está cansado depois de ler poesia.

Quando estão perturbados os pensamentos.

Escutando canções.

Quando termina uma canção.

Encerrado em casa num dia festivo.

Tocando o ch’in e olhando pinturas.

Conversando altas horas da noite.

Ante uma clara janela e uma mesa limpa.

Com amigos encantadores e gráceis concubinas.

Ao regressar de uma visita com amigos.

 Quando o dia é claro e suave a brisa.

Em um dia de leves chuvas.

Num bote pintado junto a uma pequena ponte de madeira.

Num bosque de altos bambus.

Num pavilhão que dá sobre flores de lótus, num dia de verão.

Depois de haver queimado incenso em um pequeno gabinete.

Depois que terminou uma festa e os convidados se foram.  

Quando as crianças estão na escola.

Em um oculto e tranquilo templo.

Perto de famosas fontes e belos rochedos.


"A importância de Viver",  Lin Yutang - Círculo do Livro. 


Salão do palácio Azay-le-Rideau no Vale do Loire (Tours, França), 2010.

Gosto de chá preto sem açúcar. A cor é linda.


sábado, 25 de março de 2023

O LIVREIRO ESCRITOR

O editor e livreiro José Luiz Tahan faz sua estreia como escritor com o lançamento do livro de crônicas hoje em Santos (SP) na Livraria Realejo (Avenida Marechal Deodoro, 2). O evento contará com cantor e compositor Murilo Lima às 15h, músico Julinho Bittencourt às 16h e o tradicional Choro de Bolso, às 17h. 



sexta-feira, 24 de março de 2023

OS CINCO SENTIDOS

 

No meu tempo de escola, tínhamos aulas de biologia e sabíamos direitinho quais e quantos eram os nossos sentidos e para que serviam. Ao perambular por pelas ruas usamos quase todos – especialmente a visão, a audição, o olfato – às vezes o tato e em certas ocasiões até degustamos algum petisco que agradam ao paladar. Ao caminhar nossos olhos vão captando o cenário, os personagens, os perigos eventuais, a beleza, a tristeza... Na cidade, nossos ouvidos são bem maltratados pelo ruído do trânsito intenso, pelas obras em andamento, pelos autofalantes muitos decibéis acima do normal... As narinas também padecem com os cheiros mais estranhos, acho que alguns até peculiares aos nossos tempos – escapamentos de carro – ou que se perdem na história – esgoto vazando nas calçadas...

            Mas nem tudo é desagradável. Quantas vezes somos brindados com um delicioso perfume de pão assado, do cheiro de terra que emana de um jardim sendo regado ou de frutas maduras de uma frutaria, de pão fresquinho da padaria, de uma carne assada que escapa pela janela de uma cozinha oculta e que excita nossas papilas gustativas... Ah! Os sons! Lembro de um sábado distante em que os CDs eram novidade e a Casa Brenno Rossi ainda existia. Ficava na rua Vinte e Quatro de Maio, no Centro Histórico. Quando passei por lá ouvi Nana Mouskouri (1934) cantando “Je chante avec toi liberté” (NABUCO, Verdi). Que gravação maravilhosa! Um canto de sereia: parei, ouvi mais um pouco, voltei e comprei o CD.

            Não esqueci do tato – como esquecer da sensação do sol, da chuva num dia de verão ou do vento frio numa esquina qualquer? O sol quente nos empurra em direção a uma sombra – sob uma marquise, uma árvore, um ponto de ônibus.... Sou avessa a guarda-chuvas e, surpreendida pela chuva, posso continuar o caminho ou buscar guarida em algum estabelecimento comercial – de preferência onde sirvam cafezinho. Correr? Não faz mais parte do meu show.

            Os estudiosos explicam que é por tudo isso que os grandes espaços e grandes edifícios tornam o ambiente urbano impessoal, formal e frio. “Edifícios e espaços urbanos ficam cada vez maiores, mas as pessoas, que deveriam usá-los, permanecem iguais.” (Urbanista dinamarquês Jan Gehl.)

Rua do Itaim, vendedor de flores, 2012.


Zona Cerealista do Mercado da Cantareira.

O novo Anhangabaú, setembro de 2022.

Rio Tamanduateí, 2016.






quinta-feira, 23 de março de 2023

BOM DIA!

 

Quantos “bons dias” você distribui ou retribui no seu cotidiano? A pergunta banal me ocorreu manhã dessas depois de vários cumprimentos logo na primeira quadra. A sequência pode começar no elevador ou com o porteiro; na calçada é a vez dos motoristas de táxi, porteiros dos prédios vizinhos, o jornaleiro, os garis, o sapateiro, o borracheiro (às vezes ele responde), os manobristas da padaria... Os vizinhos e conhecidos dos arredores. E há ainda aqueles que desconhecemos, mas que cumprimentam ou nos dão um sorriso simpático. Essas são as pequenas (e muito importantes) gratificações dos moradores do mesmo bairro ou prestadores de serviços contínuos, que tornam a vida no bairro tão aprazível, faz com que todos se sintam, reconhecidos e até estimados. Gérard Vincent (1922-2013), sociólogo e historiador francês, afirma que o bairro é “espaço de conhecimento mútuo”. De acordo com ele o “bairro se define subjetivamente, para seu morador, pelo conjunto dos itinerários percorridos a partir de sua casa” e a pé, “pois a área do bairro é a do pedestre” e que o espaço da aglomeração pertence aos “’meios de transporte’.

            Os vizinhos se encontram em padarias, supermercados, mercadinhos, lavanderias, salão/hotel/veterinário para pets, alguns cabelereiros e barbearias (acho que por aqui só tem duas), academias e muitas farmácias. Por falar em farmácias, a Vila Mariana, onde está inserida a Aclimação, está na 19ª colocação na lista de percentual de idosos com 75 anos ou mais de idade de 2019. Eles representam 29,7 da população do Distrito, segundo dados da Prefeitura.

Ah! As bancas de jornais, que vêm perdendo espaço na cidade, também são pontos de encontro da vizinhança para compra de doces, água e refrigerantes – jornais e revistas desaparecem aos poucos. Muitos jornaleiros mantêm um banquinho para os clientes que sempre têm uma história para contar; entretanto, no país do faz-de-conta, onde o jogo de azar é proibido, muitas bancas recebem apostas, o que sempre causa um discreto movimento. O jogo do bicho é uma contravenção que gera multa e prisão, mas resiste à lei e à ordem há 131 anos. Coisas do Brasil.

            Vamos em frente. As feiras cuja origem se perde no tempo já foram um ponto importante de encontro. A Aclimação tem várias: terça-feira na rua Guimarães Passos, que encolheu à medida que as casas foram substituídas por prédios; quarta-feira nas imediações da Praça General Polidoro; sexta, na rua Pedra Azul – a mais movimentada; e sábado na Loureiro da Cruz. Nas barracas de pastel, água de coco e garapa (detesto), há banquinhos para os consumidores saborearem os quitutes com tranquilidade, que é relativa, pois sempre passam conhecidos que param para uma prosinha.         

Meu bairro, constituído em um morro no início do século passado, tem quase todas as qualidades preconizadas por urbanistas: pode-se percorrê-lo todo a pé sem sentir tédio; alguns lugares, entretanto, exigem coragem e esforço dos maiores de 70 anos que não tenham um bom preparo físico. Explico: ladeiras íngremes e calçadas com escadas. Algumas ruas até são ligadas por escadarias desafiadoras que, no auge da pandemia, serviram para muitas pessoas se exercitarem. Uma delas se tornou ponto de encontro de jovens que usam os corrimãos para praticarem manobras radicais com skates.

            Enfim, hora de dizer boa tarde...

Loja nova no bairro.


General Polidoro, uma das raras esculturas do bairro.


segunda-feira, 20 de março de 2023

A CHEGADA DO OUTONO

 A nova estação chega às 18h25. Se no Hemisfério Norte o outono proporciona um festival de cores, por aqui a natureza muda pouco. As árvores continuam viçosas e muitas, florindo. Fotos de Berlim, Bonn (2008) e Rio de Janeiro (2015).

Platz der RepublikBerlim, 2008. 

Bonn, Alemanha, cidade natal de Beethoven. Foto: 2008.

Praça da República, Rio de Janeiro, 2015.





sexta-feira, 17 de março de 2023

HORA DO ALMOÇO

 A comida na literatura brasileira é o tema escolhido pela Biblioteca do SESC-Carmo para animar os leitores.

“...digo-lhe que é melhor você criar juízo e comer o arroz com feijão, picadinho de carne e tomate que estão no seu prato – é comida muito gostosa, especialmente quando comida com um pouquinho de pimenta e amor”. “Concerto para Corpo e Alma” – Rubem Alves (1933-2014).

 ***

“O pai entra carregando um prato coberto por uma lâmina de papel alumínio.

 – Acorda pra cuspir! – grita, ao ver o filho inconsciente.

– Pai?

– Olha aqui.

– Ela fez aquelas sardinhas fitas que eu te falei, estão uma delícia. Tem arroz, feijão e tomate.

– Obrigado, pai.

– Tem bacon no feijão, está uma delícia!”

“A arte de produzir efeito sem causa” – Lourenço Mutarelli (1964).

 ***

“Certa manhã, arrumadas para a viagem a São Caetano, tomávamos café, eu, mamãe e Vera, a outra viajante escalada. A cesta de vime levada sempre nessas visitas, com alças, boa para ser carregada por duas pessoas, já estava pronta, superlotada: com dois litros de vinho, linguiça de porco fresca, linguiça calabresa, salames e queijos, ‘para ajudar o almoço de tia Joana’, dizia mamãe.”

"Anarquistas graças a deus"– Zélia Gattai (1916-2008).

 ***

Pulou da cama: como perder os enterros? Saiu do banheiro já vestido, Gabriela acabava de pôr na mesa os bules fumegantes de café e leite. Sobre a alva toalha cuscuz de milho com leite de coco, banana-da-terra frita, inhame, aipim.

“Gabriela cravo e canela” – Jorge Amado (1912-2001).

 ***

“É vem tutu

Por detrás do murundu

Pra cumê sinhozinho

Cum bucado de angu.”

 

“O triste fim de Policarpo Quaresma” – Lima Barreto (1881-1922)

 ***

Jigué viu que a maloca estava cheia de alimentos, tinha pacova tinha milho tinha macacheira, tinha aluá e cachiri, tinha maparás e camorins pescados, maracujá-michira ata abio sapota sapotilha, tinha paçoca de viado e carne fresca de cutiara, todos esses comes e bebes bons...”

“Macunaíma” – Mário de Andrade (1893-1945).

 ***

É uma galinha assada e um queijo-do-reino! Vê que beleza, Nevinha! Vamos esconder o queijo para comermos depois, numa hora de aperto!

“A farsa da boa preguiça” – Ariano Suassuna (1927-2014).




quinta-feira, 16 de março de 2023

CAMINHOS PAULISTANOS

 

Quantas vezes escolho um novo caminho e logo me canso; penso em um ônibus, em como teria sido bom ter escolhido outro roteiro, quem sabe, mais curto... Descobri, recentemente, que vários podem ser os motivos dessas sensações. Pode não se tratar de um caminho longo, mas não dispor de atrativos.  Ruas com um comércio agitado, muitas portinhas; ruas com casas ajardinadas e fachadas diferenciadas ou iguais, porém, coloridas e atraentes, e gente se movimentando para lá e para cá em seus afazeres ou ócios, tudo isso contribui para a sensação de que o caminho é mais curto e agradável. O caminhante não se cansa, seus olhos não param e sua mente vai recolhendo as informações, tecendo uma rede sutil que reduz o tempo, o espaço e mexe com sua imaginação.  

            Gosto de mudar de caminho, ver coisas diferentes, mas faço alguns com regularidade e, frequentemente, descubro pormenores novos ou coisas surpreendentes – como sapatos esquecidos nas calçadas, um jogo de amarelinha cheio de graça, um galo enfrentando um cãozinho, uma pedra gigante no caminho, passarinhos que nos olham desconfiados... sem contar as flores que atapetam o caminho. Nas casas, o encanto pode estar no pequeno jardim, no portão onde um cão faz seu papel de guarda e dá uns latidos nada ameaçadores ou na arquitetura simples que lembra outras épocas. E as lojas de rua tão simpáticas? Lojas de rua são um atrativo à parte e suas vitrines expõem, além dos produtos, a imaginação do dono. Ali fica o Bar do Zé Quebrado, que também é restaurante. Quebrado física ou economicamente?

Numa esquina, o rapaz distribui folhetos anunciando o novo café que funciona na garagem de uma casa antiga – um espaço simpático que também tem restaurante. Prometo voltar à tarde. Outra esquina. Um senhor me pergunta onde fica a lotérica. Explico que não conheço bem a região. Quando chego às imediações da Praça João Mendes, uma senhora me aborda: quer saber onde fica a Avenida Rio Branco. Ih! Muito longe. Explico que o endereço é nos Campos Elíseos e, por acaso conheço um ônibus que passa ali perto e vai até lá. Mal eu paro no farol para atravessar a rua, vejo ao meu lado o jovem – deve ter uns 20 anos, usa camiseta (que já foi branca, mas está entre o cinza e o preto), bermuda surrada e calça havaianas. Ele também quer uma informação: onde é a rua Vinte e Cinco de Março. Disse que era longe e apontei para a Praça da Sé: “atravessa a praça e lá na frente desce a Ladeira General Carneiro...” Mas nem continuei porque ele achou o lugar perigoso. O semáforo ainda estava no vermelho, quando ele perguntou se o prédio “ali atrás” era da polícia. Eu comecei a responder: “É (olhei para o semáforo e me voltei para concluir) o Tribunal de Justiça”. Mas ele se deu por satisfeito ou ficou preocupado com o É e desapareceu.

Enfim, verde para pedestres e eu me pus a caminho...Nem sinal de chuva. Uma ótima quinta-feira, a penúltima deste verão.

Os pássaros, de Felícia Lerner, Praça da Sé.

Praça João Mendes.


domingo, 12 de março de 2023

DIA DO BIBLIOTECÁRIO

 

“O bibliotecário (...) é o profissional que, aos poucos, vai desbravando a alma dos leitores. É ele que coabita com todos os autores, com todas as suas obras e com as expectativas e anseios de todos os leitores.” – Site do IBGE. Bibliotecários são persistentes. Quando você desiste de procurar um título ou um livro sobre determinado tema, ele continua a busca até achar alguma coisa que pode ajudar no seu trabalho. Você frequenta bibliotecas? Então dê um sorriso especial para os bibliotecários porque hoje é o dia deles. A data homenageia Manuel Bastos Tigre, que se formou em engenharia em 1906 e foi fazer um curso de aperfeiçoamento em eletricidade nos Estados Unidos, onde conheceu o bibliotecário Melvil Dewey, criador do Sistema de Classificação Decimal. Foi quando Manuel Bastos Tigre descobriu que sua vocação era a biblioteconomia e em 1915 abandonou a engenharia, prestou concurso para bibliotecário do Museu Nacional do Rio de Janeiro e se classificou em primeiro lugar com estudo sobre a Classificação Decimal. Em 1945, foi transferido para a Biblioteca Nacional, onde ficou até 1947, assumindo em seguida a direção da Biblioteca Central da Universidade do Brasil. Tigre nasceu no dia 12 de março de 1882.

Nas minhas andanças, quase sempre visito bibliotecas. Em São Paulo, já frequentei várias bibliotecas da USP; já pesquisei nas bibliotecas do Ministério Público e do Tribunal de Justiça e sou cadastrada no sistema de Bibliotecas da Prefeitura. Sempre muito bem atendida pelos bibliotecários. No exterior, visitei a Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos; em Portugal, a da Universidade Coimbra; a do Vaticano e em Praga a de um mosteiro medieval...

Biblioteca de Coimbra, 2010.

Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. 2015.

Biblioteca de São Paulo, Parque da Juventude.

Biblioteca Parque Villa-Lobos.

Biblioteca do Mosteiro de Strahov, Sala Teológica, em Praga. Estilo barroco, século XVII.
Proibido tirar fotos: reprodução de postal .



OSCAR

Qualquer jornal ou site que abro tem uma chamada imensa para a entrega do prêmio americano para melhores filmes e profissionais de cinema do ano passado. O Oscar, bonequinho assexuado criado em 1928 e cujo valor não passa de US$ 500, foi entregue pela primeira vez em 1929. A cerimônia (por assim dizer, pois de vez em quando há bofetada no palco) acontece em Hollywood, naturalmente. Há muitos anos tentei assistir a uma transmissão, o âncora brasileiro era o jornalista e crítico de cinema Rubens Ewald Filho (1945-2019), mas achei uma chatice absoluta e nunca mais perdi horas preciosas de sono por causa de algo que não mudará minha vida e sobre o qual poderei ter todos os detalhes no dia seguinte.

            Nem sempre prêmios são justos. Já a assisti a filmes excelentes que sequer foram lembrados. Não me preocupo em ir correndo ao cinema assistir ao vencedor do Oscar. “Titanic” (1998) dirigido por James Cameron é o campeão de indicações (catorze) e recebeu onze prêmios – não vi, mas assisti ao vice-campeão: “Ben-Hur” (1960), de William Wyler, teve doze indicações e ficou também com onze prêmios! Enfim, pensando no assunto, resolvi homenagear os amigos nascidos em 1945, com a lista dos vencedores nas categorias de melhor filme e melhores atores (homens e mulheres). Assisti à maioria na velha “Sessão da Tarde”.

            Nem sempre prêmios são justos. Já a assisti a filmes excelentes que sequer foram lembrados. Não me preocupo em ir correndo ao cinema assistir ao vencedor do Oscar. Titanic (1998) é o campeão de indicações (catorze) e recebeu onze prêmios – não vi, mas assisti ao vice-campeão: Ben-Hur (1960) teve doze indicações e ficou também com onze prêmios! Enfim, pensando no assunto, resolvi homenagear os amigos nascidos em 1945, com a lista dos vencedores nas categorias de melhor filme e melhores atores (homens e mulheres).

O Oscar de melhor filme foi para “Farrapo Humano” (The Lost Weekend), dirigido por Billy Wilder (1906-2002), estrelado por Ray Milland (1907-1986) e Jane Wyman. Milland ficou com o Oscar de Melhor Ator. O filme é um clássico. 




Joan Crawford (1904-1977) recebeu o Oscar de melhor atriz pelo papel em “Alma em Suplício” (Mildred Pierce), dirigido por Michael Curtiz. Outro clássico: o filme faz parte da lista do American Film Institute como um dos cem maiores filmes americanos de todos os tempos. 





James Dunn (1906-1967) ficou com o Oscar de melhor ator coadjuvante por sua interpretação em Laços Humanos (A tree grows in Brooklyn), dirigido por Elia Kazan. Parece que 1945 foi um ano em que o alcoolismo estava em pauta. Duun foi premiado por sua atuação como um pai alcoólatra.


Melhor atriz coadjuvante: Anne Revere (1903-1990), por “A Mocidade é Assim Mesmo” (National Velvet), com Elizabeth Taylor e Mickey Rooney. Um filme delicioso. Em 2003, este filme foi selecionado para preservação no Registro Nacional de Cinema dos Estados Unidos pela Biblioteca do Congresso por ser “cultural, historicamente ou esteticamente significativo”. O filme ganhou o Oscar por melhor montagem ou edição.

Os demais premiados foram:

Melhor história original: “A casa da rua 92” (The House on 92nd Street), de Charles G. Booth.

Melhor fotografia em cores: “Amar foi minha ruína” (Leave her to heaven), de John Stahl, com Gene Tierney. O filme arrecadou mais de US $ 5.000.000, a maior bilheteria de Fox da década de 1940.

Melhor fotografia em preto e branco: “O retrato de Dorian Gray”, direção de Albert Levin, com George Sanders e Hurd Hatfield. 

Direção de arte (cores): “Gaivota negra”, direção de Mitchell Leisen, com Joan Fontaine.

Direção de arte (preto e branco): “Sangue sobre o sol”, dirigido por Frank Loyd, com James Cagney.

Efeitos especiais: “Um rapaz do outro mundo” (Wonder Man), dirigido por H. Bruce Humberstone e estrelado por Danny Kaye .

Melhor trilha sonora: “Marujos do Amor”, dirigido por George Sidney, com Gene Kelly e Frank Sinatra.

Melhor trilha sonora original: compositor Miklos Rozsa para o filme “Quando fala o coração”, dirigido por Alfred Hitchcock, com Gregory Peck e Ingrid Bergman. Rozsa é também o autor da trilha de “Farrapo Humano”.


quinta-feira, 9 de março de 2023

UMA COMPETIÇÃO TOLA

Leio em algum lugar que a prefeitura de Santos aprovou a construção de duas torres de 155 metros de altura – 45 andares, na Ponta da Praia. O lançamento depende do aval da Justiça. Mais uma aberração na orla santista. Considero uma competição estúpida essa de ter o maior prédio da cidade, da região, do Estado, do Brasil ou de qualquer outro lugar... O único benefício é dos poucos (milionários) moradores que terão uma vista panorâmica da costa. 

Coisa de gente imatura, ansiosa por aparecer. Sugiro que coloquem no cartão de visitas,  “a maior torre do pedaço”, como referência após o endereço.

Desde que iniciei minhas caminhadas diárias por São Paulo tenho procurado entender melhor as cidades, lendo sobre arquitetura e urbanismo, e gostei muito das lições do arquiteto e urbanista dinamarquês Jan Gehl (1936). “Da rua temos dificuldade para perceber eventos que ocorrem nos andares mais altos” – ele nos explica. “Quanto mais alto, maior a dificuldade de enxergar. Temos de recuar cada vez mais para ver, as distâncias se tornam cada vez maiores e o que vemos e percebemos diminui. Gritos e gestos não ajudam muito. De fato, a conexão entre o plano das ruas e os edifícios altos efetivamente se perde depois do quinto andar”. Talvez deva-se incluir privacidade aos benefícios que as torres oferecem. Os moradores da torre estarão interessados em se conectar com pedestres ou residentes em prédios de míseros 25 andares? Não sei. Desfrutarão melhor a visão da futura torre os trabalhadores marítimos nos navios que aguardam na barra a vez para atracar no Porto de Santos.

“Olhar para baixo é bem mais simples, mas olhar para cima é outra história: precisamos, literalmente, esticar o pescoço”, explica Jan Gehl.

(Na falta de fotos dos prédios da orla santista, selecionei uma do bairro do José Menino e outra panorâmica tirada do Monte Serrat.)

Santos, São Paulo .


segunda-feira, 6 de março de 2023

AS ATREVIDAS

 Não sou feminista nem machista. O importante na vida das pessoas é fazer das dificuldades um desafio e trabalhar para conquistar aquilo que desejam, sempre com ética e respeito ao outro. Se as convenções sociais de épocas passadas mantinham as mulheres em atividades domésticas e submissas, muitas atreveram-se a mostrar seu talento, arcando com as consequências. Umas tinham aptidão para escrever, outras para pintar, muitas para ir à guerra para lutar por seus ideais, algumas buscaram na ciência respostas para os segredos do Universo. E se saíram muito bem. Importa trabalhar para mudar as leia e, na minha opinião, o exemplo é a melhor lição. Minha avó Maria Luísa foi meu exemplo: viúva com cinco filhos pequenos, ela trabalhou, estudou e, como sempre valorizou a educação, proporcionou a todos educação, fundamental no desenvolvimento de cada um.

PINTORA

SOFONISBA ANGUISSOLA (1532-1625) foi uma pintora renascentista italiana, filha de família nobre e pobre de Cremona. Dizem que o talento da jovem foi reconhecido por Michelangelo (1475-1564) e Antoon van Dyck (1599-1641). Esteve em Roma e mais tarde foi convidada pelo rei Filipe II da Espanha para ser dama de honra da rainha Isabel de Valois e se tornou pintora oficial da corte. Após a morte da rainha retornou à Itália, onde continuou a pintar com sucesso. 

ESCRITORAS

Nada como iniciar com a história da Anônima Ilustre, uma distinta senhora paulistana que em 1797 escreveu o drama Tristes Efeitos do Amor, em redondilhas. Essa obra só foi descoberta em Lisboa, em 1953, pelo pesquisador da USP Antônio Soares Amora. Ela também se manifestou sobre o afastamento de São Paulo do Morgado de Mateus no Diálogo entre Prudência e a Pauliceia.

A paulistana Yde Schloenbach Blumenschein (1882-1963) ficou conhecida pelo pseudônimo de COLOMBINA e publicou seus primeiros trabalhos em A Tribuna, de Santos. Ela estudou na Alemanha, era poliglota, pianista e cantora. Casou-se, teve dois filhos e desquitou-se para horror da família e amigos. Vivia sozinha, fumava, organizava saraus literários em casa e frequentava os meios literários, além de escrever poesia erótica, o que só fez aumentar o preconceito contra ela. O seu último livro foi Rapsódia Rubra: Poemas à Carne.

Quando completou 20 anos, ALEXINA MAGALHÃES PINTO (1870-1921) deixou Além Paraíba (MG) e foi descobrir a Europa. Sozinha. Aproveitou a viagem para fazer vários cursos e, quando voltou, trouxe na bagagem uma bicicleta. O veículo só deu aborrecimentos a Alexina, que pedalava por São João Del Rey, usando calças compridas – o que a cidade considerou uma afronta e o bispo de Mariana caso de excomunhão. Ela ingressou no magistério e escreveu vários livros sobre as raízes brasileiras – cantigas de roda e brinquedos.

GUERREIRAS

Século XV. A França guerreia contra a Inglaterra há quase cem anos pelo domínio da área que corresponde à Normandia, sob o domínio inglês.  A jovem Joana D’Arc, camponesa, católica e provavelmente analfabeta, acredita que poderá salvar a França do inimigo e precisa encontrar-se com o delfim (o futuro rei). A idade é incerta, provavelmente, 16 anos. Ela alega que ouve vozes e é guiada por elas. Consegue convencer um oficial que providencia o transporte para a viagem da moça. Não me interessa o lado religioso da questão. O que importa nessa história trágica é a coragem da moça, que vai muito além do campo de batalha. Para realizar a sua missão, ela enfrenta o mundo, tanto laico como religioso, masculino. Veste roupas masculinas, o que a Igreja condena; levada ao príncipe, comporta-se com segurança, defende suas ideias, passa por testes e, enfim, a aceitam nas fileiras do exército francês. Por que não? Certamente, acharam que na situação presente não faria grande diferença.

A juventude, a ingenuidade, aliada à coragem da moça, certamente tiveram um papel psicológico importante nos soldados e, confiantes, as forças francesas ganharam batalhas importantes que levaram à coroação de Carlos VII em Reims. A luta ainda continuou porque o objetivo era a tomada de Paris, mas na primavera de 1430, Joana foi presa e mais tarde vendida aos ingleses. Era o início do martírio que terminou com a condenação à morte na fogueira em 30 de maio de 1431. (Ela foi considerada inocente em 1456, após revisão do processo. Em 1920 foi canonizada.)  


 

Paris: Place des Pyramides, maio de 2012. 



A catarinense Ana Maria de Jesus Ribeiro (1821-1849) ficou conhecida como a “guerreira de dois mundos”. Ela era adolescente quando estourou a Revolução Farroupilha ou Guerra dos Farrapos, promovida pelos republicados. A guerra contou com a participação de Giuseppe Garibaldi (1807-1882), que depois de ser condenado à morte por participar de uma revolta em Gênova acabou no Brasil e envolvendo-se na Guerra dos Farrapos ao lado dos republicanos. Foi quando conheceu Ana que, abandonada pelo marido monarquista lutava no exército imperial, juntou-se a Garibaldi.  Começa em 1839 sua vida de amante e guerreira. Em 1841, quando a situação se tornou insustentável, Garibaldi parte para Montevidéu (Uruguai), onde se casa com Anita, que já tem um filho. No Uruguai nascem outros três. Em 1848, Anita e as crianças vão para Nice onde ficaram com a família do marido, até que ele mais tarde se reúna a eles. Em 1849 o casal assiste à proclamação da República italiana, mas logo se vê envolvido em nova guerra. Anita (grávida) e Giuseppe lutam pela Itália, só que a saúde dela vai piorando até que ela e a criança morrem perto de Ravena, em 4 de agosto de 1849.  Garibaldi não pôde comparecer ao enterro da mulher. Logo depois partiria para novo exílio. O corpo de ANITA GARIBALDI está sepultado no Janículo, em Roma, onde há um belo monumento em sua homenagem.


CIENTISTAS

Marie-Anne Pierrette Paulze (1758-1836) pertencia à nobreza francesa; quando a mãe morreu foi mandada para um convento e incentivada a estudar. Saiu aos 13 anos para casar com um senhor de 50 anos, mas recusou-se. O pai conseguiu fazer um acordo, sugerindo que o casório fosse com um jovem da família do idoso. Ela gostou da ideia, casaram-se. O jovem era Antoine Lavoisier (1743-1794), o pai da química moderna. Marie Lavoisier não viveu à sombra do marido. Interessou-se pelo trabalho de Lavoisier, estudou e tornou-se assistente dele, participou dos trabalhos e das experiências. Estudou inglês e latim – para fazer traduções de obras para o francês – e pintura com Jacques-Louis David, grande pintor da época, para ilustrar as publicações de Lavoisier. 

Embora Lavoisier fosse um grande cientista. a Revolução Francesa (1789) acabou por atingi-lo: em novembro de 1793 ele foi preso junto com o sogro. Marie lutou bravamente para libertar o marido. Em vão. Os dois foram guilhotinados em maio do ano seguinte. Após a morte dele, ela continuou a trabalhar para preservar o nome do marido: publicou com recursos próprios obras, inclusive as que ele produziu na prisão.

         

Retrato de Lavoisier e sua esposa  (1788). Acervo: Metropolitan Museum of Art, NY.


CAROLINE HERSHELL (1750-1848) brilhou como astrônoma. Nasceu em Hanover, Alemanha, mas aos 22 anos mudou para a Inglaterra onde vivia o irmão, o músico e astrônomo William Hershell (1738-1822). Aprendeu matemática com o irmão e astronomia sozinha, passando a atuar como assistente dele – com o cargo tornou-se a primeira mulher a ser remunerada por um trabalho científico. (O salário era pago pela Coroa.) Caroline, entretanto, envolveu-se com o trabalho, iniciou suas próprias observações e, entre 1786 e 1797, ela descobriu oito cometas. Em 1797, William Hershell notou várias discrepâncias no catálogo estelar do astrônomo real John Flamsteed, fundador de Greenwich publicou um catálogo, e propôs a elaboração de um index para explorar as diferenças e recomendou que a tarefa fosse atribuída à Caroline. O novo catálogo incluiu as observações de Flamsteed, a lista de errata e mais 560 estrelas não incluídas no relatório anterior. O trabalho foi publicado pela Royal Society no ano seguinte. Em 1828 Caroline Herschel recebeu uma medalha de ouro da Astronomical Society of London por catalogar as 2.500 nebulosas descobertas por seu irmão e em 1835 ela foi eleita membro honorário da Royal Astronomical Society e da Academia Real Irlandesa, em Dublin. Na verdade, 1828 foi o ano das mulheres, pois, além de Caroline Herschel, Royal Astronomical Society abriu suas portas para a cientista e escritora escocesa Mary Sommerville, (1780-1872), que também remunerada pelo trabalho. (Ilustração: Wikipedia.)