sexta-feira, 24 de março de 2023

OS CINCO SENTIDOS

 

No meu tempo de escola, tínhamos aulas de biologia e sabíamos direitinho quais e quantos eram os nossos sentidos e para que serviam. Ao perambular por pelas ruas usamos quase todos – especialmente a visão, a audição, o olfato – às vezes o tato e em certas ocasiões até degustamos algum petisco que agradam ao paladar. Ao caminhar nossos olhos vão captando o cenário, os personagens, os perigos eventuais, a beleza, a tristeza... Na cidade, nossos ouvidos são bem maltratados pelo ruído do trânsito intenso, pelas obras em andamento, pelos autofalantes muitos decibéis acima do normal... As narinas também padecem com os cheiros mais estranhos, acho que alguns até peculiares aos nossos tempos – escapamentos de carro – ou que se perdem na história – esgoto vazando nas calçadas...

            Mas nem tudo é desagradável. Quantas vezes somos brindados com um delicioso perfume de pão assado, do cheiro de terra que emana de um jardim sendo regado ou de frutas maduras de uma frutaria, de pão fresquinho da padaria, de uma carne assada que escapa pela janela de uma cozinha oculta e que excita nossas papilas gustativas... Ah! Os sons! Lembro de um sábado distante em que os CDs eram novidade e a Casa Brenno Rossi ainda existia. Ficava na rua Vinte e Quatro de Maio, no Centro Histórico. Quando passei por lá ouvi Nana Mouskouri (1934) cantando “Je chante avec toi liberté” (NABUCO, Verdi). Que gravação maravilhosa! Um canto de sereia: parei, ouvi mais um pouco, voltei e comprei o CD.

            Não esqueci do tato – como esquecer da sensação do sol, da chuva num dia de verão ou do vento frio numa esquina qualquer? O sol quente nos empurra em direção a uma sombra – sob uma marquise, uma árvore, um ponto de ônibus.... Sou avessa a guarda-chuvas e, surpreendida pela chuva, posso continuar o caminho ou buscar guarida em algum estabelecimento comercial – de preferência onde sirvam cafezinho. Correr? Não faz mais parte do meu show.

            Os estudiosos explicam que é por tudo isso que os grandes espaços e grandes edifícios tornam o ambiente urbano impessoal, formal e frio. “Edifícios e espaços urbanos ficam cada vez maiores, mas as pessoas, que deveriam usá-los, permanecem iguais.” (Urbanista dinamarquês Jan Gehl.)

Rua do Itaim, vendedor de flores, 2012.


Zona Cerealista do Mercado da Cantareira.

O novo Anhangabaú, setembro de 2022.

Rio Tamanduateí, 2016.






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