No meu
tempo de escola, tínhamos aulas de biologia e sabíamos direitinho quais e quantos
eram os nossos sentidos e para que serviam. Ao perambular por pelas ruas usamos
quase todos – especialmente a visão, a audição, o olfato – às vezes o tato e em
certas ocasiões até degustamos algum petisco que agradam ao paladar. Ao
caminhar nossos olhos vão captando o cenário, os personagens, os perigos
eventuais, a beleza, a tristeza... Na cidade, nossos ouvidos são bem maltratados
pelo ruído do trânsito intenso, pelas obras em andamento, pelos autofalantes
muitos decibéis acima do normal... As narinas também padecem com os cheiros
mais estranhos, acho que alguns até peculiares aos nossos tempos – escapamentos
de carro – ou que se perdem na história – esgoto vazando nas calçadas...
Mas nem tudo é desagradável. Quantas vezes somos brindados com um delicioso perfume de pão assado, do cheiro de terra que emana de um jardim sendo regado ou de frutas maduras de uma frutaria, de pão fresquinho da padaria, de uma carne assada que escapa pela janela de uma cozinha oculta e que excita nossas papilas gustativas... Ah! Os sons! Lembro de um sábado distante em que os CDs eram novidade e a Casa Brenno Rossi ainda existia. Ficava na rua Vinte e Quatro de Maio, no Centro Histórico. Quando passei por lá ouvi Nana Mouskouri (1934) cantando “Je chante avec toi liberté” (NABUCO, Verdi). Que gravação maravilhosa! Um canto de sereia: parei, ouvi mais um pouco, voltei e comprei o CD.
Não esqueci do tato – como esquecer
da sensação do sol, da chuva num dia de verão ou do vento frio numa esquina qualquer?
O sol quente nos empurra em direção a uma sombra – sob uma marquise, uma árvore,
um ponto de ônibus.... Sou avessa
a guarda-chuvas e, surpreendida pela chuva, posso continuar o caminho ou buscar
guarida em algum estabelecimento comercial – de preferência onde sirvam
cafezinho. Correr? Não faz mais parte do meu show.
Os estudiosos explicam que é por
tudo isso que os grandes espaços e grandes edifícios tornam o ambiente urbano
impessoal, formal e frio. “Edifícios e espaços urbanos ficam cada vez maiores,
mas as pessoas, que deveriam usá-los, permanecem iguais.” (Urbanista
dinamarquês Jan Gehl.)
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