quinta-feira, 23 de março de 2023

BOM DIA!

 

Quantos “bons dias” você distribui ou retribui no seu cotidiano? A pergunta banal me ocorreu manhã dessas depois de vários cumprimentos logo na primeira quadra. A sequência pode começar no elevador ou com o porteiro; na calçada é a vez dos motoristas de táxi, porteiros dos prédios vizinhos, o jornaleiro, os garis, o sapateiro, o borracheiro (às vezes ele responde), os manobristas da padaria... Os vizinhos e conhecidos dos arredores. E há ainda aqueles que desconhecemos, mas que cumprimentam ou nos dão um sorriso simpático. Essas são as pequenas (e muito importantes) gratificações dos moradores do mesmo bairro ou prestadores de serviços contínuos, que tornam a vida no bairro tão aprazível, faz com que todos se sintam, reconhecidos e até estimados. Gérard Vincent (1922-2013), sociólogo e historiador francês, afirma que o bairro é “espaço de conhecimento mútuo”. De acordo com ele o “bairro se define subjetivamente, para seu morador, pelo conjunto dos itinerários percorridos a partir de sua casa” e a pé, “pois a área do bairro é a do pedestre” e que o espaço da aglomeração pertence aos “’meios de transporte’.

            Os vizinhos se encontram em padarias, supermercados, mercadinhos, lavanderias, salão/hotel/veterinário para pets, alguns cabelereiros e barbearias (acho que por aqui só tem duas), academias e muitas farmácias. Por falar em farmácias, a Vila Mariana, onde está inserida a Aclimação, está na 19ª colocação na lista de percentual de idosos com 75 anos ou mais de idade de 2019. Eles representam 29,7 da população do Distrito, segundo dados da Prefeitura.

Ah! As bancas de jornais, que vêm perdendo espaço na cidade, também são pontos de encontro da vizinhança para compra de doces, água e refrigerantes – jornais e revistas desaparecem aos poucos. Muitos jornaleiros mantêm um banquinho para os clientes que sempre têm uma história para contar; entretanto, no país do faz-de-conta, onde o jogo de azar é proibido, muitas bancas recebem apostas, o que sempre causa um discreto movimento. O jogo do bicho é uma contravenção que gera multa e prisão, mas resiste à lei e à ordem há 131 anos. Coisas do Brasil.

            Vamos em frente. As feiras cuja origem se perde no tempo já foram um ponto importante de encontro. A Aclimação tem várias: terça-feira na rua Guimarães Passos, que encolheu à medida que as casas foram substituídas por prédios; quarta-feira nas imediações da Praça General Polidoro; sexta, na rua Pedra Azul – a mais movimentada; e sábado na Loureiro da Cruz. Nas barracas de pastel, água de coco e garapa (detesto), há banquinhos para os consumidores saborearem os quitutes com tranquilidade, que é relativa, pois sempre passam conhecidos que param para uma prosinha.         

Meu bairro, constituído em um morro no início do século passado, tem quase todas as qualidades preconizadas por urbanistas: pode-se percorrê-lo todo a pé sem sentir tédio; alguns lugares, entretanto, exigem coragem e esforço dos maiores de 70 anos que não tenham um bom preparo físico. Explico: ladeiras íngremes e calçadas com escadas. Algumas ruas até são ligadas por escadarias desafiadoras que, no auge da pandemia, serviram para muitas pessoas se exercitarem. Uma delas se tornou ponto de encontro de jovens que usam os corrimãos para praticarem manobras radicais com skates.

            Enfim, hora de dizer boa tarde...

Loja nova no bairro.


General Polidoro, uma das raras esculturas do bairro.


Nenhum comentário: