Quantos
“bons dias” você distribui ou retribui no seu cotidiano? A pergunta banal me
ocorreu manhã dessas depois de vários cumprimentos logo na primeira quadra. A
sequência pode começar no elevador ou com o porteiro; na calçada é a vez dos
motoristas de táxi, porteiros dos prédios vizinhos, o jornaleiro, os garis, o
sapateiro, o borracheiro (às vezes ele responde), os manobristas da padaria... Os
vizinhos e conhecidos dos arredores. E há ainda aqueles que desconhecemos, mas
que cumprimentam ou nos dão um sorriso simpático. Essas são as pequenas (e muito
importantes) gratificações dos moradores do mesmo bairro ou prestadores de
serviços contínuos, que tornam a vida no bairro tão aprazível, faz com que
todos se sintam, reconhecidos e até estimados. Gérard Vincent (1922-2013),
sociólogo e historiador francês, afirma que o bairro é “espaço de conhecimento
mútuo”. De acordo com ele o “bairro se define subjetivamente, para seu morador,
pelo conjunto dos itinerários percorridos a partir de sua casa” e a pé, “pois a
área do bairro é a do pedestre” e que o espaço da aglomeração pertence aos
“’meios de transporte’.
Os
vizinhos se encontram em padarias, supermercados, mercadinhos, lavanderias,
salão/hotel/veterinário para pets, alguns cabelereiros e barbearias (acho que
por aqui só tem duas), academias e muitas farmácias. Por falar em farmácias, a
Vila Mariana, onde está inserida a Aclimação, está na 19ª colocação na lista de
percentual de idosos com 75 anos ou mais de idade de 2019. Eles representam
29,7 da população do Distrito, segundo dados da Prefeitura.
Ah!
As bancas de jornais, que vêm perdendo espaço na cidade, também são pontos de
encontro da vizinhança para compra de doces, água e refrigerantes – jornais e
revistas desaparecem aos poucos. Muitos jornaleiros mantêm um banquinho para os
clientes que sempre têm uma história para contar; entretanto, no país do faz-de-conta, onde o
jogo de azar é proibido, muitas bancas recebem apostas, o que sempre causa um discreto movimento. O jogo do
bicho é uma contravenção que gera multa e prisão, mas resiste à lei e à ordem há
131 anos. Coisas do Brasil.
Vamos em frente. As feiras cuja origem se perde no tempo já foram um ponto importante de encontro. A
Aclimação tem várias: terça-feira na rua Guimarães Passos, que encolheu à
medida que as casas foram substituídas por prédios; quarta-feira nas imediações
da Praça General Polidoro; sexta, na rua Pedra Azul – a mais movimentada; e
sábado na Loureiro da Cruz. Nas barracas de pastel, água de coco e garapa (detesto),
há banquinhos para os consumidores saborearem os quitutes com tranquilidade, que
é relativa, pois sempre passam conhecidos que param para uma prosinha.
Meu
bairro, constituído em um morro no início do século passado, tem quase todas as
qualidades preconizadas por urbanistas: pode-se percorrê-lo todo a pé sem
sentir tédio; alguns lugares, entretanto, exigem coragem e esforço dos maiores
de 70 anos que não tenham um bom preparo físico. Explico: ladeiras íngremes e
calçadas com escadas. Algumas ruas até são ligadas por escadarias desafiadoras
que, no auge da pandemia, serviram para muitas pessoas se exercitarem. Uma
delas se tornou ponto de encontro de jovens que usam os corrimãos para praticarem
manobras radicais com skates.
Enfim, hora de dizer boa tarde...
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