domingo, 29 de setembro de 2019

LOUCOS POR TULIPAS!


 Na Europa do século XVI assolada por pobreza e peste, os Países Baixos viveram um período de grande prosperidade que beneficiou a população em geral. Não vem ao caso a forma como se ganhou dinheiro por lá, mas a especulação foi uma das opções. As pessoas que antes tinham a casa simples encheram suas paredes com reproduções de quadros de grandes mestres, revestiram o chão com imitações de tapetes turcos e nos armários colocaram versões da porcelana de Delft. Foi então que descobriram a tulipa e se apaixonaram. Originária da Turquia, era muito cara, um luxo.

Por volta de 1560, o diplomata e herborista Ogier Ghiselin de Busbecq (1522-1592) conheceu as plantações de tulipa em Adrianóplis e logo os bulbos estavam nos jardins de nobres e banqueiros de Antuérpia, Bruxelas* e Augsburgo. O botânico e comerciante Joris Rye cultivou variedades da flor que se espalhou pelo país; mais tarde dois botânicos fizeram experiências com cores e tamanhos diversos. Era uma novidade muito apreciada pela aristocracia e a mania se espalhou pela Europa, mas só se tornou a flor da moda na primeira metade do século XVII.
O cultivo da tulipa é fácil e ela se reproduz sem limites, o que tornou a flor acessível para as classes menos abastadas que podiam ter em seus jardins um produto de luxo verdadeiro e não uma imitação barata. As vendas cresceram rapidamente e continuavam crescendo. Os produtores holandeses fizeram alterações nas unidades de venda de modo que pudessem comprar bulbos por cesta, libra ou até peça e expandiram ainda mais o mercado, inclusive mantendo vendedores itinerantes.
Como o bulbo é arrancado em junho e o novo plantio faz-se em outubro, os produtores começaram a vender a planta no inverno para entregar meses depois, praticando a venda de futuros da tulipa. A ideia agradou os compradores que, por sua vez, vendiam com lucro as suas futuras flores para outros interessados, que as revendiam. Na primavera, os preços subiam devido à expectativa de entrega. E enquanto o negocio florescia, o bulbo ainda não havia sido plantado nem havia estoque de segurança. “Quanto mais próximo da data da entrega fosse fechado o negócio, maior o risco de o comprador ter de discutir com um plantador, porém, maior a possibilidade de lucrar com preços que cresciam não só dia a dia, mas também hora a hora”.
A procura intensa que se desencadeou entre 1634 e 1635 elevou os preços da tulipa a um patamar assustador. Assim, em 1636 uma tulipa Almirante De Maan, que custava 15 florins chegou a 175 florins; uma Centen de quarenta foi para 350 florins. Os pagamentos começaram a ser feitos à base de troca. Um comprador chegou a pagar 2500 florins por uma Vice-rei com “quatro toneladas de trigo e oito toneladas de centeio, quatro bois gordos, oito porcos, doze ovelhas, dois tonéis de vinho, quatro toneladas de manteiga, 450 quilo de queijo, uma cama, algumas peças de roupa e um copo de prata”!!!
 Os plantadores começaram a se preocupar com a situação, quando já era tarde. O desastre aconteceu em fevereiro de 1637 gerando pânico geral com os preços caindo assustadoramente. Houve uma tentativa de acordo que não foi reconhecido pela Suprema Corte, que anulou todos os negócios realizados desde o plantio de 1636. Para normalizar a situação as autoridades regulamentaram o cultivo da tulipa em 1638 e aos poucos a sanidade voltou a reinar nos Países Baixos. A tulipa manteve um lugar importante na economia do país e nos jardins do mundo. Até hoje é associada aos holandeses. Elas podem ser encontradas na Feira de Flores do CEAGESP: terça-feira e sexta-feira da meia-noite às 9h30. Pavilhão Mercado Livre do Produtor (MLP) –  Av. Dr. Gastão Vidigal, 1946 – Vila Leopoldina. Estacionamento pelos portões 4 e 7). 

*A Bélgica fazia parte dos Países Baixos.
Fonte: O Desconforto da riqueza, Simon Schama. Companhia das Letras.
Tulipa: do turco tülbend, que significa turbante; mais tarde a palavra foi afrancesada para tulipe.


quinta-feira, 26 de setembro de 2019

VISÕES DA CIDADE: O CASAL



Na tarde cinzenta e fria, os dois caminhavam lado a lado. Vinham atrás de mim conversando, me ultrapassaram. Ele levava a bolsa para ela que carregava displicente o casaco. Ele falava das coisas banais da vida. Contava em voz suave e baixa os problemas de uma reforma - cimento, tijolo, parede... Ela ouvia. Momento íntimo e harmonioso na cidade. Viaduto Dona Paulina. 

"BECAUSE"... PARECE QUE FOI ONTEM.


HÁ CINQUENTA ANOS OS BEATLES LANÇAVAM O ÁLBUM ABBEY ROAD.


quarta-feira, 25 de setembro de 2019

A POESIA DE FRANCISCA JÚLIA

Francisca Júlia da Silva foi considerada a maior poeta do parnasianismo brasileiro do seu tempo, recusou o convite para ingressar na Academia Paulista de Letras, foi homenageada com um busto na Academia Brasileira de Letras e seu túmulo recebeu uma escultura de Victor Brecheret (1894-1955). Francisca nasceu em 1871, em Eldorado Paulista, que na época tinha o nome de Xiririca. Ela era filha de uma professora que lecionou por alguns anos em Cabreúva, onde Francisca, por sua vez, dava aulas de piano. Um de seus alunos foi Erotides de Campos*(1896--1945) que se destacou como compositor embora por profissão fosse professor de química e física. Em 1908 a mãe de Francisca foi novamente transferida e dessa vez foram para Lajeado, hoje Guaianases, onde conheceu Filadelfo Edmundo Munster, telegrafista da Estrada de Ferro Central do Brasil, com quem se casou em 1909. O padrinho foi o poeta santista Vicente de Carvalho.

Por essa época sua obra poética já era reconhecida pelos grandes nomes da literatura nacional. As fotografias mostram uma moça bonita, que não sorri. O cronista José Martins de Sousa diz que ela era alcoólatra, consequência de um noivado frustrado. Francisca colaborou com O CORREIO PAULISTANO e DIÁRIO POPULAR e publicou seu primeiro livro “Mármores” em 1895; depois vieram “Livro da Infância” (1899), ”Esfinges” (1903), “Alma Infantil” (1912, com Júlio César da Silva) e “Esfinges” (1921), segunda edição ampliada.

Musa Impassível.
Em 1916 Filadelfo adoeceu. Diagnóstico: tuberculose. Francisca entrou em depressão e se refugiou no misticismo. O marido morreu no dia 31 de outubro de 1920 e após o enterro Francisca Júlia se suicidou. Ao funeral compareceram entre outros Mário e Oswald de Andrade, Di Cavalcanti e Guilherme de Almeida. O governo paulista contratou Brecheret para fazer a escultura tumular. A Musa Impassível ficou pronta três anos depois. Com o passar dos anos a obra se deteriorou e, após restauro, foi levada para a Pinacoteca do Estado e uma réplica a substituiu no Cemitério do Araçá. 
       
Para quem não conhece Francisca Júlia da Silva, uma pequena mostra do que a poeta produziu.

RÚSTICA

Da casinha, em que vive, o reboco alvacento
Reflete o ribeirão na água clara e sonora.
Este é o ninho feliz e obscuro em que ela mora;
Além, o seu quintal, este, o seu aposento.

Vem do campo, a correr; e úmida do relento,
Toda ela, fresca do ar, tanto aroma evapora,
Que parece trazer consigo, lá de fora,
Na desordem da roupa e do cabelo, o vento...

E senta-se. Compõe as roupas. Olha em torno
Com seus olhos azuis onde a inocência boia;
Nessa meia penumbra e nesse ambiente morno,

Pegando da costura à luz da claraboia,
Põe na ponta do dedo em feitio de adorno,
O seu lindo dedal com pretensão de joia.

VOZ DOS ANIMAIS

‒ O peru, em meio à bulha¯-
De outras aves em concerto,
Como faz, de leque aberto?
‒ Grulha.

‒ Como faz o pinto, em dia
De chuva, quando se interna
Debaixo da asa materna?
‒ Pia.

‒ Enquanto alegre passeia
Girando em torno do ninho,
Como faz o passarinho?
‒ Gorjeia.
(...)

‒ Quando a galinha deseja
Chamar os pintos que aninha,
Como faz a galinha?
‒ Cacareja.

‒ A rã quando a noite baixa,
Como faz ela a toda hora
Dentre os limos em que mora?
‒ Coaxa.

(...)
‒ Que faz o gato, que espia
Uma terrina de sopa
Que fumega sobre a copa?
‒ Mia.
(...)

‒ A voz tremida do grilo
Que vive oculto na grama
A trilar, como se chama?
‒ Trilo

‒ Mas, escravos das paixões
Que os fazem bons ou ferozes,
Os homens têm suas vozes
Conforme as ocasiões.

FOTOS: Wikipedia.
*Um dos maiores sucessos de Erotides de Campos foi “Ave Maria”:

“Cai à tarde tristonha e serena
Em macio e suave langor
Despertando no meu coração
A saudade do primeiro amor.”

terça-feira, 24 de setembro de 2019

ART NOUVEAU NA FIESP


Alphonse Muche.
Programa matinal de hoje: a exposição “Alphonse Muche: o legado da ART NOUVEAU”, em cartaz no Centro Cultural FIESP. A mostra cobre desde a descoberta de seu trabalho ao produzir cartazes para um espetáculo da atriz Sarah Bernhardt (1844-1923), o reconhecimento internacional e sua obra política. Mucha (1860-1939), que foi pintor, ilustrador e designer gráfico, também fotografou e numa sala estão reunidas algumas das fotos que ele fez com modelos. No final, pode-se ver a influência dele no trabalho de artistas gráficos a partir de meados do século passado. A exposição estende-se até 15 de dezembro. Entrada gratuita. Avenida Paulista, 1313, em frente à estação Trianon do metrô (Linha Verde).


Fotos do catálogo.

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

É PRIMAVERA

"Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias."
(...)
Fernando Pessoa (1888-1935).

Algumas das árvores alheias que encontrei no caminho. Sempre acolhedoras.
Rua Cardoso de Almeida, São Paulo, 19/09/2019.

Rua Cardoso de Almeida, São Paulo, 19/09/2019.

Praça da República, Rio de Janeiro, 15 de novembro de 2015.

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

VISÕES DA CIDADE



Vou costurando minha vida... Até ela caber direitinho em mim. No mural de Simone Siss em uma fábrica de tecidos no Bom Retiro.

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

A Dona Branca Clara


Tome-se duas dúzias de beijocas
Acrescente-se uma dose de manteiga do Desejo
Adicione-se três gramas de polvilho de Ciúme
Deite-se quatro colheres de açúcar da Melancolia
Coloque-se dois ovos
Agite-se com o braço da Fatalidade
E dê de duas horas em duas horas marcadas
No relógio de um ponteiro só!
Oswald de Andrade


"A Persistência da Memória" (1931), Salvador Dalí. Acervo: MoMa (NY).



quarta-feira, 18 de setembro de 2019

O RETRATO





Foto de Kurt Klagsbrunn, 1954. Mostra do IMS.

A senhora muito elegante em seu vestido de bolinha está no chão, apoiada no braço esquerdo e com o direito parece folhear livros e gravuras que se espalham sobre o tapete antigo. O rosto não demonstra surpresa por ter sido surpreendida pelo fotógrafo na intimidade de seu gabinete de trabalho em 1954 tampouco parece que tenha posado deliberadamente para a fotografia. A legenda a identifica apenas como Tetrá de Teffé. Muito pouco para essa mulher que foi cronista na imprensa carioca e ganhou o Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras em 1941.
O nome verdadeiro de Tetrá era Tetrazzini. Paulista de família tradicional, era irmã de Ibrahim Nobre, o tribuno do Movimento Constitucionalista de 1932. Casou-se com Álvaro de Teffé Von Hoonholtz (1898-?), oficial de Registro de Títulos e mais tarde ministro chefe da Casa Civil do ditador Getúlio Vargas. Tetrá circulava em festas e participava ativamente de atividades culturais da cidade enquanto colaborava com vários periódicos. Entre eles a REVISTA WALKYRIA, criada pela escritora Jenny Pimentel, outra sumida.
Em 1936, lançou seu primeiro livro, “Palco Giratório”, coletânea das crônicas publicadas na imprensa e, incentivada pelos amigos, escreveu o romance “Bati à porta da vida”, muito elogiado tanto pelos críticos do JORNAL DO BRASIL quanto pelo JORNAL DO COMMERCIO. Para Filinto de Almeida, da Academia Brasileira de Letras “Tetrá de Teffe esculpiu em mármore os imperecíveis perfis de quatro mulheres, e os lançou com mão de metres, sem os fragmentar, no turbilhão da vida hodierna”.
No dia 28 de junho de 1942, em sua sessão semanal, o presidente da Academia Brasileira de Letras, José Carlos de Macedo Soares (1883-1968), divulgou o nome dos escritores premiados pela entidade naquele ano. O 1º prêmio (10:000$000) foi para Menotti Del Picchia, autor do romance “Salomé”; Alphonsus Guimarães recebeu o Prêmio Olavo Bilac pelo livro “Lume de Estrelas”; Tetrá de Teffé ganhou o Prêmio Machado de Assis por seu romance “Bati à porta a vida” e Paulo Oliveira Lima foi agraciado com o Prêmio Coelho Neto por seu livro de contos e novelas, “Ibraim”.
Tetrá de Almeida Nobre de Teffé escreveu ainda “Morrer para renascer” (1955) e “Barão de Teffé Militar e Cientista: Biografia do Almirante Antonio Luiz Von Hoonholtz”.
Curioso esse desaparecimento de pessoas que tiveram relevância no panorama cultural do país em determinado momento. A Estante Virtual ainda tem alguns títulos à venda. Descobrir mais sobre ela foi um trabalho de vários dias percorrendo páginas de jornais cariocas da época. Um trabalho de paciência, mas muito prazeroso.

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

LUPICÍNIO RODRIGUES POR LINDA BATISTA

Hoje o Google lembra  o 105º aniversário do compositor Lupicínio Rodrigues (1914-1974). Difícil escolher uma de suas composições - Cadeira Vazia (1949), Ela disse-me assim (1959), Nervos de Aço (1947), Esses moços, pobres moços (1948) e Vingança. Escolho Vingança (1952), gravação de Linda Batista (1919-1988). (Ninguém se lembrou do centenário de nascimento dessa grande cantora, que nasceu em 14 de junho.)




domingo, 15 de setembro de 2019

CHAPÉUS, CHAPÉUS...


Adoro chapéus e eles estão presentes em muitas fotos da exposição do fotógrafo Kurt Klagsbrunn, adornando cabeças femininas ilustres. Selecionei três fotos que mostram a moda elegante dos anos quarenta e cinquenta do século passado e salpiquei umas gotas de veneno. Moda que o vento levou...
  

A fotógrafa das sociais do Jockey Clube do Brasil com o chapéu, os óculos escuros e o equipamento gigantesco da época roubou a cena. A dama anônima (nos dias hoje) perde espaço, mas não a graça. As duas senhoras em segundo plano equilibram peças únicas. Eu diria que o penachinho a enfeitar o chapéu da que se encontra à direita é bem atrevido para não dizer outra coisa. 


O momento da foto histórica - inauguração do espaço do MAM no Ministério da Educação e Saúde no Rio de Janeiro em 1952. Francisco Matarazzo Sobrinho, João Carlos Vidal, Yolanda Penteado, a primeira dama Darcy Vargas e Niomar Moniz Sodré. A foto foge do convencional. O que aconteceu? Uma crítica desagradável às obras de arte? Algo deu errado na recepção? Ou será que estavam chocados por Niomar Moniz Sodré estar sem chapéu? Brincadeiras à parte, Niomar Moniz Sodré Bittencourt (1916-2003) foi uma das incentivadoras da criação do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e dirigiu o jornal Correio da Manhã a partir de 1963. No fundo, obras premiadas na I Bienal de São Paulo. 



Outra solenidade e muitos chapéus. Onde e quando? Até me esqueci de anotar. O destaque é o chapeuzinho da senhora do fundo, escondida atrás do orador. (Luvas faziam parte da indumentária naquela época.)







 “Kurt Klagsbrunn. Faces da Cultura, Retratos de um tempo” pode ser visitada até 15 de dezembro de 2019. Avenida Paulista, 1313. Estação Trianon-Masp do Metrô.

sexta-feira, 13 de setembro de 2019

FOTOJORNALISMO

Há duas ótimas exposições sobre fotografia jornalística na cidade. Um homem e uma mulher, tempos e lugares distintos; trabalhos absolutamente diferentes. Um cheio de luz e sorrisos. Outro sombrio, dramático e que nos faz refletir sobre a condição humana.  

A mostra do Centro Cultural da FIESP reúne trabalhos do fotógrafo Kurt Klagsbrunn (1918-2005). De origem austríaca, veio para o Brasil com a família em 1939 após a anexação da Áustria por Hitler. A família se estabeleceu em Laranjeiras, no Rio de Janeiro. Sem poder continuar os estudos, Kurt escolheu a fotografia como meio de vida. Colaborou com grandes revistas nacionais e internacionais, circulou pelos meios estudantis, políticos e artísticos registrando momentos marcantes do país.
Cada foto mais reveladora do que a outra. Que tal a foto do cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, D. Jayme de Barros Câmara (1894-1971), todo paramentado posando para o pintor Serge Ivanoff (1893-1983) em 1947? Ou Heitor dos Prazeres (1898-1966) pintando em seu ateliê na década de 1940? Há ainda o escritor Orígenes Lessa (1903-1986) em animado papo com Jean Manzon (1915-1990) em 1947 e a jovem Cecília Meireles (1901-1964) trabalhando em sua biblioteca em 1949. Se a escritora Tetrá de Teffé (?) em um vestido de bolinhas prefere trabalhar no chão do seu gabinete, Luz del Fuego dispensava a roupa para o trabalho no palco, usando apenas o cabelo para proteger o corpo...



“Kurt Klagsbrunn. Faces da Cultura, Retratos de um tempo” pode ser visitada até 15 de dezembro de 2019. Avenida Paulista, 1313. Estação Trianon-Masp do Metrô.

A segunda exposição apresenta fotos da jornalista italiana Letizia Battaglia (1935), a primeira repórter fotográfica da Itália a cobrir o noticiário policial. Ela se notabilizou pela cobertura da guerra contra a Máfia em Palermo, Sicilia, entre os anos de 1970 e 1992. Muitas fotos desse período estão na mostra do Instituto Moreira Salles. São fotos de denúncia, muitas brutais, com cadáveres explícitos. Quando o tema não é a ação criminosa dos mafiosos, ela trata das questões sociais com o mesmo realismo.
Não há lugar para muitos sorrisos em suas fotos, mas há momentos amenos. Letizia Battaglia recebeu vários prêmios: W. Eugene Smith for Humanistic Photography em 1985, Erich-Salomon Preis, em 2007 e o Cornell Capa Infinity Award, em 2009.


Namorados tristes: festa de Ano Novo na Villa Airoldi, Palermo, 1985.

O sorvete para a festa de São Sebastião, Mistretta, 1983.
LETIZIA BATTAGLIA PALERMO: Instituto Moreira Salles SP: Avenida Paulista, 2424. Até 22 de setembro de 2019. Estação Consolação do Metrô.

ÁLVARES DE AZEVED0


Conta uma lenda que Manoel Antônio Álvares de Azevedo nasceu na biblioteca da Faculdade de Direito. Na verdade, o poeta nasceu no dia 13 de setembro de 1831 em um sobrado próximo, na esquina da Rua da Freira com a Rua da Cruz Preta (Senador Feijó com Quintino Bocaiuva), onde morava o avô Severo Mota. O filho do estudante de Direito Inácio Manuel Álvares de Azevedo e de Maria Luísa Mota Azevedo viveu apenas vinte anos e nesse curto período destacou-se como poeta, contista e ensaísta. “Era o poeta dos gorjeios”, na opinião do crítico Rodrigues Cordeiro, mas sua poesia também era carregada de tristeza e melancolia ao estilo de George Byron (1788-1824) e Alfred Musset (1810-1857), poetas que inspiraram muitos românticos.
Álvares de Azevedo passava férias com a família no Rio de Janeiro, quando se acidentou e morreu algumas semanas em decorrência de uma septicemia. No enterro, Joaquim Manuel de Macedo leu uma das ultimas obras de Álvares de Azevedo “Se eu morresse amanhã”, escrita semanas antes do acidente.



Busto do poeta no Largo de S. Francisco. HPA.

SE EU MORRESSE AMANHÃ
Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!


Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!


Que sol! que céu azul! que doce n’alva
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito

Se eu morresse amanhã!

Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!


quinta-feira, 12 de setembro de 2019

SUJISMUNDO: 48 ANOS DEPOIS NADA MUDOU.

Se me divirto procurando coisas bonitas e fora do comum nas minhas andanças, me desgasto com a falta de educação da população, visível em quase todos os bairros por onde passo. O lixo é o problema mais grave. Neste caso específico, o poder público luta contra o porcalhão e o vândalo: um acha que ruas, praças, jardins e rios são depósitos de lixo e o outro destrói as latas de lixo. Neste caso específico, o poder público luta contra o porcalhão e o vândalo: um acha que ruas, praças e jardins são depósitos de lixo e o outro destrói as latas de lixo. Encontro os varredores trabalhando e as pessoas jogando lixo no que acabou de ser limpo. Dupla falta de respeito - com a cidade e com o trabalhador. Essa falta de educação não é atributo de uma classe social. Todas têm representantes incluídos na categoria dos porcalhões.
No Parque Villa-Lobos limpinho, por exemplo, vi cocos jogados no chão ao lado das latas de lixo! No Ipiranga, pedestres não podiam usar as calçadas tomadas por entulho de alguma reforma. Na praça em frente ao prédio em que moro, deixaram um vaso sanitário. Nos jardins públicos é comum encontrar caixas de pizza, embalagens de isopor, copos e garrafas de plástico... Montes de lixo na calçada aguardando a coleta não faltam. Pode-se imaginar a rota dos consumidores irresponsáveis pelas embalagens que eles vão descartando pelo caminho. Já observaram as paradas de ônibus? No fim do dia estão cheias de pontas de cigarros. Contribuição dos fumantes.
Depois se queixam de enchentes, de bueiros entupidos e apontam para a prefeitura que nada faz... 
Lamentável. 
Observação: as fotos foram feitas entre agosto e setembro.


Bairro: Várzea do Carmo.

Ipiranga: calçadas tomadas por entulho.
Santana: muro do Parque Domingos Luís.

O personagem Sujismundo foi criado por Ruy Perotti em 1972 para uma campanha publicitária educativa promovida pelo governo federal. O boneco tinha péssimos hábitos - como jogar lixo na rua, na praia sem respeitar as outras pessoas. Vale a pena assistir ao vídeo. Os sujismundos estão à solta pela cidade. 

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

SOBRE PRAÇAS E BANCOS

Não é a mesma praça e muito menos o mesmo banco. Nem poderiam ser as mesmas flores, tampouco do mesmo jardim. Às vezes a cena se repete, ver duas ou mais pessoas sentadas em uma praça. Não resisto à tentação de registrá-la seja em São Paulo, Nova York ou Istambul.
("A praça", de Carlos Imperial, 1967, gravação de Ronnie Von.)

Talvez os dois homens não se conheçam, mas encontraram
paz e sossego na Praça João Mendes incomumente florida. Janeiro de 2006.


O banco é o mesmo, mas ignoro se as senhoras são as mesmas. Arrumam-se com capricho e assumem  os bancos para o bate-papo ao ar livre. Sempre vejo 
o grupo ao passar pela Praça Júlio Prestes, no Bom Retiro. Setembro, 2019.

A arquitetura monumental de Manhattan parece hipnotizar o rapaz e a moça, 
que desfrutam de um momento de tranquilidade na tarde de 
verão à beira do East River. Pier 15, Manhattan, 13 de setembro de 2013.


Após a devoção e as compras, as duas senhoras fazem uma pausa à 
                    sombra generosa da árvore, no verão tórrido de Istambul. Junho de 2019.



sábado, 7 de setembro de 2019

D. PEDRO I: COMPROMISSO COM O BRASIL.


Neste dia tão importante para todos nós brasileiros, lembro uma obra que desmistifica a figura de D. Pedro I, em geral mostrado como um doidivanas, e revela a participação de D. João VI no processo de Independência do Brasil, na qual José Bonifácio de Andrade e Silva teve um papel fundamental com seu projeto político para um novo país.
          A obra em questão é “As quatro coroas de D. Pedro I”, escrita pelo diplomata e historiador Sérgio Corrêa da Costa (1919-2005), infelizmente, ignorada nas salas de aula. Correa da Costa relata como a independência nacional foi urdida entre pai e filho, como D. Pedro se comprometera com a questão brasileira sem perder de vista Portugal, e como ele recusou ofertas, aparentemente, melhores mantendo-se fiel ao Brasil e a Portugal.
Em abril de 1822 os gregos, que haviam derrotado os turcos e se tornado, recentemente, um estado independente, enviaram a Portugal o capitão Nicolau Chiefala Greco que em audiência com o rei D. João VI ofereceu ao filho dele a coroa de soberano da Grécia. Uma oferta que encantou os senhores da corte seriamente preocupados com a situação na colônia, onde monarquistas, liberais e republicanos trabalhavam pela emancipação do Brasil. Imaginavam que o jovem príncipe D. Pedro não hesitaria em escolher a a Grécia, deixando o Brasil para a recolonização. Imediatamente, as cartas do emissário grego foram enviadas a D. Pedro no Rio de Janeiro. Para espanto da corte e dos gregos (mas não de D. joão VI), a oferta não balançou as convicções do príncipe que se sentiu muito honrado ao receber no dia 13 de maio o título de Protetor e Defensor Perpétuo do Brasil.
Sobre a homenagem, disse em carta ao pai: “Honro-me e orgulho-me do título que me confere este povo leal e generoso; mas não o posso aceitar tal como se me oferece. O Brasil não precisa de proteção de ninguém, protege-se a si mesmo. Aceito porém o título de Defensor Perpétuo e juro mostrar-me digno dele enquanto uma gota de sangue correr nas minhas veias".
Com a morte de D. João VI em 1826, ele assumiu o trono português com o nome de D. Pedro IV, porém como a sua popularidade começou a diminuir, abdicou condicionalmente à coroa portuguesa em favor da filha Maria da Glória.
A segunda coroa recusada por D. Pedro foi a de Espanha, que nos anos de 1820 vivia uma grave situação política. Os liberais espanhóis ofereceram três vezes (1826, 1829 e 1830) a coroa a D. Pedro, que sempre a rejeitou porque tinha planos para o Brasil, mas esta é outra história que fica para outra ocasião.
O imperador abdicou à coroa do Brasil, em 7 de abril de 1831, em favor do filho D. Pedro de Alcântara. Motivo: sua falta de habilidade para enfrentar os crescentes problemas políticos. Ele deixou o Brasil com destino à Europa e mais tarde, diante da traição do irmão Miguel, nomeado regente, foi à luta e garantiu pelas armas o trono português a D. Maria da Gloria, que assumiu o trono como D. Maria II.
No prefácio do livro, o diplomata Osvaldo Aranha (1894-1960) diz “Sua fidelidade à raça de que foi símbolo e flor tornou-o indiferente às simples aventuras da ambição. Nem a Grécia, com todo o brilho do seu passado imortal, nem a Espanha, com o luxo da sua riquíssima tradição peninsular e ultramarina, puderam fazê-lo desviar-se da linha instintiva: viver para o Brasil, morrer por Portugal”. 
Sérgio Corrêa da Costa mostra o compromisso do imperador com o Brasil e revela os planos entre pai e filho para a nossa independência. D. João era um homem apaixonado por estas terras e D. Pedro não foi um filho rebelde.


A BANHISTA E O VIOLINO


“O Violino de Ingres” (1924) faz parte da exposição das principais obras do fotógrafo norte-americano Man Ray, pseudônimo de Emanuel Radnitzky (1890-1976), que acontece no Centro Cultural Banco do Brasil. A fotografia foi baseada na tela “Banhista de Valpiçon” (1808), do pintor francês Jean-Auguste Dominique Ingres (1780-1867) e que faz parte do acervo do Museu do Louvre. 


“O Violino de Ingres” 
Banhista de Valpiçon”















Alice Prin (1901-1953) foi a modelo da foto. Ela teve uma vida intensa em Paris, atuando como modelo, atriz de filmes experimentais, pintora e cantora de cabaré. Conhecida como Kiki de Montparnasse, conviveu com os grandes artistas e intelectuais da época. Viveu alguns anos com Man Ray, que se inclui entre os grandes artistas dos movimentos dadaísta e surrealista.


A mostra do CCBB pode ser visitada até 28 de outubro. A entrada é gratuita, mas precisa ser agendada. Rua Álvares Penteado, 112, Centro. Fechado às terças-feiras.

terça-feira, 3 de setembro de 2019

DATA ESPECIAL


  Há 20 anos recebi a carta do INSS informando-me, oficialmente, que a partir daquela data eu fazia parte do clube dos aposentados. Entre o pedido e a concessão de aposentadoria foram apenas dois meses e, confesso, quando recebi a correspondência, senti-me muito bem. A partir daquele momento era dona do meu tempo. Comemoração com uma larga fatia de bolo com todas os ingredientes que nutricionistas não recomendam. 




segunda-feira, 2 de setembro de 2019

MUITO BONITA, MAS DISTÂNCIA.

Depois de um incidente, o bebê foi levado para a enfermaria para ser atendido. Longe da família só restava mesmo à Barbara Gordon a atenção dos profissionais que trataram de lhe oferecer todo conforto possível no ambiente estranho. Quando se recuperou alguns meses depois e já se movimentava bem, havia conquistado a equipe, com seus grandes olhos negros e jeito frágil. É verdade que tinha o hábito de ficar de cabeça para baixo sempre que podia embora a prática de ioga estivesse fora de cogitação. Se ainda não adivinhou pelo nome da garota, trata-se de um morcego. No caso, uma fêmea recém-nascida do zoológico do Bronx (NY), que precisou de cuidados médicos e os atendentes deram-lhe o nome de Barbara Gordon, personagem dos quadrinhos que durante um tempo foi parceira do Batman até se tornar independente (tempos modernos).

A Barbara do Bronx é uma raposa-voadora, nome comum dos enormes morcegos frugíveros (Pteropus rodricensis), natural da Ilha Rodrigues, no oceano Índico, e pertencente à República da Maurícia. Apesar do tamanho, chegam a ter 1m80 de envergadura, são inofensivos, alimentam-se de frutas e néctar. Vivem até 30 anos. Soube da história de Barbara Gordon pelo Animal Planet ontem. Com uma carinha muito semelhante a uma raposa em miniatura, é uma gracinha assim bem de longe e na TV.

(Imagem: Animal Planet.)

domingo, 1 de setembro de 2019

DATA PARA REFLETIR

Há 80 anos o ditador alemão Adolf Hitler (1889-1945) iniciava o maior conflito da História ao invadir a Polônia num ataque brutal que resultou na perda de 17% da população. Foram cinco anos e sete meses de luta envolvendo 26 países e que causaram cerca de 55 milhões de mortos (há historiadores que contabilizam 80 milhões). Uma data para reflexão sobre a estupidez de todas as guerras. O Brasil, que perdeu 1081 civis em ataques alemães a 34 navios da marinha mercante, declarou guerra  à Alemanha e Itália em agosto de 1942. A Força Expedicionária Brasileira - FEB foi criada em 1943 e em 1944 o contingente de 25 mil soldados partir para a Itália, onde morreram 462 pracinhas cujos corpos foram transladados para Brasil em 1960 e jazem no mausoléu do Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, Aterro do FlamenGo, Rio de Janeiro (foto: 2015).