domingo, 29 de setembro de 2019

LOUCOS POR TULIPAS!


 Na Europa do século XVI assolada por pobreza e peste, os Países Baixos viveram um período de grande prosperidade que beneficiou a população em geral. Não vem ao caso a forma como se ganhou dinheiro por lá, mas a especulação foi uma das opções. As pessoas que antes tinham a casa simples encheram suas paredes com reproduções de quadros de grandes mestres, revestiram o chão com imitações de tapetes turcos e nos armários colocaram versões da porcelana de Delft. Foi então que descobriram a tulipa e se apaixonaram. Originária da Turquia, era muito cara, um luxo.

Por volta de 1560, o diplomata e herborista Ogier Ghiselin de Busbecq (1522-1592) conheceu as plantações de tulipa em Adrianóplis e logo os bulbos estavam nos jardins de nobres e banqueiros de Antuérpia, Bruxelas* e Augsburgo. O botânico e comerciante Joris Rye cultivou variedades da flor que se espalhou pelo país; mais tarde dois botânicos fizeram experiências com cores e tamanhos diversos. Era uma novidade muito apreciada pela aristocracia e a mania se espalhou pela Europa, mas só se tornou a flor da moda na primeira metade do século XVII.
O cultivo da tulipa é fácil e ela se reproduz sem limites, o que tornou a flor acessível para as classes menos abastadas que podiam ter em seus jardins um produto de luxo verdadeiro e não uma imitação barata. As vendas cresceram rapidamente e continuavam crescendo. Os produtores holandeses fizeram alterações nas unidades de venda de modo que pudessem comprar bulbos por cesta, libra ou até peça e expandiram ainda mais o mercado, inclusive mantendo vendedores itinerantes.
Como o bulbo é arrancado em junho e o novo plantio faz-se em outubro, os produtores começaram a vender a planta no inverno para entregar meses depois, praticando a venda de futuros da tulipa. A ideia agradou os compradores que, por sua vez, vendiam com lucro as suas futuras flores para outros interessados, que as revendiam. Na primavera, os preços subiam devido à expectativa de entrega. E enquanto o negocio florescia, o bulbo ainda não havia sido plantado nem havia estoque de segurança. “Quanto mais próximo da data da entrega fosse fechado o negócio, maior o risco de o comprador ter de discutir com um plantador, porém, maior a possibilidade de lucrar com preços que cresciam não só dia a dia, mas também hora a hora”.
A procura intensa que se desencadeou entre 1634 e 1635 elevou os preços da tulipa a um patamar assustador. Assim, em 1636 uma tulipa Almirante De Maan, que custava 15 florins chegou a 175 florins; uma Centen de quarenta foi para 350 florins. Os pagamentos começaram a ser feitos à base de troca. Um comprador chegou a pagar 2500 florins por uma Vice-rei com “quatro toneladas de trigo e oito toneladas de centeio, quatro bois gordos, oito porcos, doze ovelhas, dois tonéis de vinho, quatro toneladas de manteiga, 450 quilo de queijo, uma cama, algumas peças de roupa e um copo de prata”!!!
 Os plantadores começaram a se preocupar com a situação, quando já era tarde. O desastre aconteceu em fevereiro de 1637 gerando pânico geral com os preços caindo assustadoramente. Houve uma tentativa de acordo que não foi reconhecido pela Suprema Corte, que anulou todos os negócios realizados desde o plantio de 1636. Para normalizar a situação as autoridades regulamentaram o cultivo da tulipa em 1638 e aos poucos a sanidade voltou a reinar nos Países Baixos. A tulipa manteve um lugar importante na economia do país e nos jardins do mundo. Até hoje é associada aos holandeses. Elas podem ser encontradas na Feira de Flores do CEAGESP: terça-feira e sexta-feira da meia-noite às 9h30. Pavilhão Mercado Livre do Produtor (MLP) –  Av. Dr. Gastão Vidigal, 1946 – Vila Leopoldina. Estacionamento pelos portões 4 e 7). 

*A Bélgica fazia parte dos Países Baixos.
Fonte: O Desconforto da riqueza, Simon Schama. Companhia das Letras.
Tulipa: do turco tülbend, que significa turbante; mais tarde a palavra foi afrancesada para tulipe.


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