Por volta de 1560, o diplomata e herborista Ogier
Ghiselin de Busbecq (1522-1592) conheceu as plantações de tulipa em
Adrianóplis e logo os bulbos estavam nos jardins de nobres e banqueiros de Antuérpia,
Bruxelas* e Augsburgo. O botânico e comerciante Joris Rye cultivou variedades
da flor que se espalhou pelo país; mais tarde dois botânicos fizeram experiências
com cores e tamanhos diversos. Era uma novidade muito apreciada pela
aristocracia e a mania se espalhou pela Europa, mas só se tornou a flor da moda
na primeira metade do século XVII.
O
cultivo da tulipa é fácil e ela se reproduz sem limites, o que tornou a
flor acessível para as classes menos abastadas que podiam ter em seus jardins um
produto de luxo verdadeiro e não uma imitação barata. As vendas cresceram
rapidamente e continuavam crescendo. Os produtores holandeses fizeram
alterações nas unidades de venda de modo que pudessem comprar bulbos por cesta,
libra ou até peça e expandiram ainda mais o mercado, inclusive mantendo vendedores
itinerantes.
Como o bulbo é arrancado em junho e o novo plantio faz-se em outubro, os
produtores começaram a vender a planta no inverno para entregar meses depois,
praticando a venda de futuros da tulipa. A ideia agradou os compradores que,
por sua vez, vendiam com lucro as suas futuras flores para outros interessados,
que as revendiam. Na primavera, os preços subiam devido à expectativa de
entrega. E enquanto o negocio florescia, o bulbo ainda não havia sido plantado
nem havia estoque de segurança. “Quanto mais próximo da data da entrega fosse
fechado o negócio, maior o risco de o comprador ter de discutir com um
plantador, porém, maior a possibilidade de lucrar com preços que cresciam não só
dia a dia, mas também hora a hora”.
A procura intensa que se desencadeou entre 1634 e 1635 elevou os preços
da tulipa a um patamar assustador. Assim, em 1636 uma tulipa Almirante De Maan, que custava 15 florins
chegou a 175 florins; uma Centen de
quarenta foi para 350 florins. Os pagamentos começaram a ser feitos à base de
troca. Um comprador chegou a pagar 2500 florins por uma Vice-rei com “quatro toneladas de trigo e oito toneladas de centeio,
quatro bois gordos, oito porcos, doze ovelhas, dois tonéis de vinho, quatro
toneladas de manteiga, 450 quilo de queijo, uma cama, algumas peças de roupa e
um copo de prata”!!!
Os plantadores começaram a se
preocupar com a situação, quando já era tarde. O desastre aconteceu em
fevereiro de 1637 gerando pânico geral com os preços caindo assustadoramente.
Houve uma tentativa de acordo que não foi reconhecido pela Suprema Corte, que
anulou todos os negócios realizados desde o plantio de 1636. Para normalizar a
situação as autoridades regulamentaram o cultivo da tulipa em 1638 e aos poucos
a sanidade voltou a reinar nos Países Baixos. A tulipa manteve um lugar
importante na economia do país e nos jardins do mundo. Até hoje é associada aos
holandeses. Elas podem ser encontradas na Feira de Flores do CEAGESP: terça-feira e sexta-feira da meia-noite às 9h30. Pavilhão Mercado Livre do Produtor (MLP) – Av. Dr. Gastão Vidigal, 1946 – Vila Leopoldina. Estacionamento pelos portões 4 e 7).
*A Bélgica fazia parte dos Países Baixos.
Fonte: O Desconforto
da riqueza, Simon Schama. Companhia das Letras.
Tulipa: do turco tülbend,
que significa turbante; mais tarde a palavra foi afrancesada para tulipe.
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