domingo, 28 de fevereiro de 2021

NUNCA AOS DOMINGOS

       A atriz grega Melina Mercuri (1920-1994) recebeu o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes de 1960 e indicação ao Oscar na mesma categoria pelo desempenho no filme “Nunca aos domingos”. Rever o filme, dirigido por Jules Dassin, desperta nostalgia nos mais velhos. Para os mais jovens, a oportunidade de conhecer a atriz que nos anos 1970 trocou a carreira artística pela política e se tornou mais tarde a primeira mulher a ocupar um ministério na Grécia ‒ o da Cultura. Foi casada com o diretor americano Jules Dassin (1911-2008). 

E fevereiro termina neste domingo. Mais um mês se esvai enquanto a pandemia no país não dá sinal de arrefecer. Sexta-feira, 26, fez um ano que o pesadelo começou, quando o teste de um homem de 61 anos, retornando de uma viagem à Itália, deu para o COVID-19. Desde então, de acordo com o Ministério da Saúde, o vírus fez mais de 254 mil vítimas em todo o país. Uma situação agravada pela transformação de uma situação de saúde pública grave em brigas políticas mesquinhas e irresponsáveis. 



sábado, 27 de fevereiro de 2021

A GRANDE SURPRESA

Em 2012 frequentei o curso da USP dirigido à terceira idade que tratava de fotografia e memória. Havia uns sete alunos para as dez vagas oferecidas pela Elly, a educadora responsável. Alguns já se conheciam de outras atividades. Uma das tarefas recebidas consistiu em levar uma foto que registrasse um momento relevante e falar um pouco sobre o fato. A aula ou bate-papo acontecia em torno de uma mesa onde cada participante colocava a sua foto para que todos acompanhassem as histórias. Ela era uma senhora muito bonita, que guardava um jeito de menina, elegante, voz baixa e pausada. Sorriu um tanto constrangida, quando chegou sua vez, e com a foto ainda no envelope, disse-nos que não gostava de falar do assunto. Achava embaraçoso.

 Ela cresceu em um casarão na região da Vila Mariana. Não me lembro dos detalhes da família. Certamente, era uma família muito especial, pois um dia o pai dela chegou a casa com uma grande novidade, tão grande que mudaria para sempre a vida de todos: um elefante. Um elefante de verdade. Como o animal era maltratado e estava com destino incerto, ele se condoeu da situação e simplesmente o transportou para casa. Todas as fotos exibidas até aquele momento perderam qualquer interesse. As pessoas em torno da mesa, de olhos arregalados e boca aberta, viram-na tirar do envelope uma foto com a família posando com um simpático paquiderme e a paisagem em torno não deixava dúvida de que o local era um grande quintal, com gramado, árvores, roupas penduradas no varal e a casa ao fundo.

Minha pergunta foi sobre a reação da mãe àquela situação. “Ela se divertiu” ‒ disse sorridente. Ela foi desfiando a história que nos deliciou. O elefante ficou com eles alguns anos. As crianças adoravam o bicho, que era dócil, virou atração da rua e fez a alegria da infância da nossa colega. Um dia, naturalmente, ele foi levado para outro destino, deixando saudade e muitas lembranças.

Em 2019, me inscrevi em outro curso oferecido pela Elly. Uma tarde, no intervalo, uma das funcionárias da unidade foi me cumprimentar e perguntou curiosa se eu tinha sido da “turma do elefante”. Rememoramos a história da senhora que teve o privilégio de ter na infância um elefante como pet

A música não poderia ser outra: "Olha o passo do elefantinho" (1963), composição de Henry Mancini e gravação do Trio Esperança (Mário, Regina e Evinha).

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

HOJE TEM BATUQUE NA COZINHA

Mais um mês vai chegando ao fim e a pandemia não dá sinal de terminar, sequer amenizar. Fevereiro costuma ser um mês delicioso: quente, curto e alegre como todo verão. Assim, nada como música para esses dias que restam dele. E para esta sexta escolhi o compositor carioca João Machado Guedes ou João da Baiana (1887‒1974), como ficou conhecido. João da Baiana teve uma vida repleta de realizações, porém morreu na Casa do Artista para onde, sem recursos, se recolheu quando a velhice chegou. Percussionista (pandeiro era seu principal instrumento), compositor e pintor nas horas vagas, fez parte dos grupos Oito Batutas (1922) e Velha Guarda e Diabos do Céu (1930); ele tinha seu próprio grupo - João da Baiana e Seu Terreiro, com o qual gravou músicas de candomblé. Seus grandes sucessos foram Cabide de Molambo (1928) e Batuque na Cozinha, (1968). Nos anos 1940, a convite de Villa-Lobos(1887-1953), participou da gravação da coleção Native Brazilian Music, com o maestro Leopold Stokowski (1882-1977). Ney Matogrosso (1941), sempre excelente, interpreta Batuque na Cozinha. 

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

O PRIMEIRO VOO DE SANTOS DUMONT

No mesmo instante, o vento deixou de soprar. Era como se o ar em volta de nós tivesse se imobilizado. É que havíamos partido, e a corrente de ar que atravessávamos nos comunicava sua própria velocidade. Eis o primeiro grande fato que se observa quando se sobe num balão esférico. Esse movimento imperceptível de marcha possui um sabor infinitamente agradável. 

A ilusão é absoluta. Acreditar-se-ia, não que é o balão que se move, mas que é a terra que foge dele e se abaixa. No fundo do abismo que se cava sob nós, a 1.500 metros, a terra em lugar de parecer redonda como uma bola, apresentava a forma côncava de uma tigela, por efeito de um fenômeno de refração que faz o círculo do horizonte elevar-se continuamente aos olhos do aeronauta [...] Tive medo, não me sentia cair, mas via a terra aproximando-se velozmente e sabia o que isso significava [...].” (Santos-Dumont, 1897)

Alberto Santos-Dumont era filho de milionário. Aos 18 anos, ele acompanhou os pais em viagem a Paris, onde o pai doente ia consultar médicos especialistas. Numa tarde em que se viu sozinho, resolveu realizar seu sonho de voar. Nessa época, o balonismo era moda na França e havia até catálogo com nome e endereço dos principais balonistas da cidade. O profissional que ele procurou mediu o jovem baixinho e magro e tentou dissuadi-lo, mas diante do entusiasmo do rapaz concordou e informou que o valor do passeio de duas horas lhe custaria 1.200 francos, além de um contrato assinado responsabilizando-se por acidentes, pagamento das passagens de volta a Paris dos acompanhantes e pelo transporte do balão com a cesta de ferro por trem até Paris já que o vento os levaria sabe lá para onde.

Santos-Dumont se espantou diante do alto custo da aventura: “Para um rapaz de 18 anos, 1.200 francos era uma grande quantia. Como justificar-me de tal despesa perante os meus?”. Se não gostasse do passeio, teria perdido o dinheiro; se gostasse, ficaria com vontade de repetir e não teria dinheiro. “O dilema mostrou-me o caminho a seguir. Renunciei não sem magoas à aeroestação e fui buscar consolo no automobilismo”.

O primeiro voo de Santos Dumont em balão só aconteceu no outono de 1897. Durante a viagem para a Europa, leu o livro de Henri Lachambre e Alex Machuron, construtores do balão Eagle para o cientista sueco Salomon August Andrée (1854-1897), que desejava fazer a primeira expedição de balão ao polo Norte. Entusiasmado, Santos-Dumont visitou Lachambre e Machuron no Parque da Aerostação próximo de Paris. Foi surpreendido pelo preço: uma “ascensão de três ou quatro horas, com todas as despesas pagas, incluindo o transporte de volta do balão em caminho de ferro“ lhe custaria 250 francos! Aceitou na hora. E essa experiência resultou no relato acima que registrou em livro.

(Andrée morreu em seu balão a caminho do polo Norte naquele ano.)

 



(ASAS DA LOUCURA ‒ A extraordinária vida de Santos-Dumont, de Paul Hoffman, Editora Objetiva, 2004.)


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

HISTÓRIAS SANTISTAS CENTENÁRIAS

Percenillo Francisco dos Santos, de 14 anos, começou a década de 1920 no minguado noticiário policial da cidade de Santos. O adolescente, que morava na Avenida Conselheiro Nébias, 20, conseguira emprego em uma quitanda da Travessa do Rosário. Quando Palmira – dona do estabelecimento – saiu por alguns momentos, ele aproveitou para surrupiar 60$000 da gaveta e correu para o Belchior, localizado na mesma rua. Ali, ele fez a festa, ou melhor, as compras de fim de ano (e de carreira). Percenillo comprou um tambor de tamanho médio, um par de perneiras, quepe, corrente de prata, relógio de metal ordinário e uma bola de futebol. O fato publicado no jornal A TRIBUNA (janeiro de 1921) mostra uma justiça rápida e eficiente: Dona Palmira ao descobrir o roubo, foi à polícia, que localizou o ladrão esbanjador. O Belchior recuperou as mercadorias e a vítima recebeu o dinheiro roubado. Nenhuma informação sobre o destino do adolescente.

O santista aproveitou bem o feriado de Ano Novo. No primeiro dia de janeiro de 1921, estava em cartaz no Teatro Guarany o filme “A casa misteriosa”. O programa incluía ainda “O Intolerável”, comédia em dois atos. Tom Mix (1880-1940) era o cartaz do Cine Polytheama. Os preços variavam: frisas, 5$000; varanda, 1$500; cadeira, 1$000 e crianças, $500. “O selo (fica) a cargo do público.” Curioso mesmo é o filme “Castidade” que, conforme o anúncio em A TRIBUNA, mostra “o nu purificado... e apresentado numa genuína e elevada expressão de arte”. A estrela é Audrey Munson (1891-1996), conhecida como a Vênus americana, Miss Manhattan, "Panama-Pacific Girl" e ainda a "Exposition Girl". Uma foto mostra a lânguida Audrey Munson coberta por um véu diáfano sobre um corpo esbelto. O filme que deve ter mexido com a imaginação do público estava em cartaz no Teatro Coliseu. 




Foi notícia também naquele longínquo janeiro a cerimônia no Teatro Guarany formatura dos aprovados nas provas públicas dos concursos de datilografia e taquigrafia. O paraninfo da turma foi o coronel Joaquim Montenegro, que fazia parte da administração da cidade. Há cem anos saber datilografar era um requisito essencial para todos que desejavam trabalhar em escritórios. (A TRIBUNA,15/1/1921).



domingo, 21 de fevereiro de 2021

MONTE CASTELO, ITÁLIA, 1945.

 O tenente-coronel Emilio Rodrigues Franklin, comandante de um dos batalhões do  Regimento Sampaio, pegou o telefone de campanha e deu a notícia aos generais Mascarenhas de Moraes e Cordeiro de Farias: “Estou no cume de Monte Castelo.” Eram 17h50 do dia 21 de fevereiro de 1945. Um dia histórico para não ser esquecido pelos brasileiros. Há 76 anos os soldados da Força Expedicionária Brasileira – FEB conquistaram uma das mais importantes vitórias da II Guerra Mundial, na Itália: a tomada de Monte Castelo, nos Apeninos, entre a Toscana e a Emilia. Desde novembro de 1944 os Aliados, já com a participação da FEB, vinham tentando remover os alemães daquele ponto estratégico para a evolução da campanha da Itália. 

Ilustração do site da ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS VETERANOS DA FEB - JUIZ DE FORA (MG).

https://www.amirjf.com/anvfeb.php  

sábado, 20 de fevereiro de 2021

SANTOS: A HISTÓRIA DE UM VEREADOR.

João Vicente Saldanha da Cunha – um nome bonito e bem pouco conhecido; entretanto, todo santista sabe quem foi esse baiano que se tornou popular e até vereador com o apelido de Zé Macaco. João Vicente deixou Vitória da Conquista, quando estava com 15 anos e se estabeleceu em Santos. Em nenhuma das muitas reportagens que li sobre ele, descobri a origem do apelido carregado de preconceito, mas Zé Macaco tinha uma grande paixão na vida – o radio. Pobre e sem estudo, ele enfrentou a vida fazendo propaganda de casas comerciais, com suas roupas extravagantes e um megafone; depois ampliou o negócio e usava um triciclo com um sistema de som levando as mensagens dos clientes para outras áreas da cidade, embora seu reduto fosse mesmo o Centro Histórico.

Não foi esse trabalho, entretanto, que deu notoriedade ao Zé Macaco, tornando-o uma das pessoas mais populares de Santos. O jornalista Tomás de Aquino contava em uma bela matéria que tudo começou em 1951. Zé Macaco trabalhava como servente de pedreiro, quando teve a ideia de fazer, com uma lata de azeite, um microfone igual aos que os radialistas de futebol usavam em campo. Aos poucos ele incrementou a sua fantasia e “estreou como radialista” cobrindo um jogo do Santos Futebol Clube contra o São Bento de Sorocaba.

E nunca mais parou por vários motivos. No início, as pessoas acreditaram que ele pertencia a alguma emissora de rádio tal a perfeição do equipamento que usava e da desenvoltura com que fazia suas entrevistas. Depois, já era tarde para reparar o erro e todo mundo se divertia, especialmente com o pessoal que vinha de fora e não desconfiava do que estava acontecendo. A lista de “entrevistados” do Zé Macaco fazia inveja a muito jornalista sério: passaram por sua lata de azeite – como costumava dizer, segundo Tomás de Aquino – o Presidente de Portugal, general Craveiro Lopes; os presidentes Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e Médici; a entrevista com o Governador Laudo Natel rendeu-lhe a única prisão que ele enfrentou como “radialista”.

Em meados dos anos 1970, ele contava ao jornal CIDADE DE SANTOS: “no momento estou dedicando-me a outras atividades, como a de trabalhar junto aos clubes de nossa terra”. O que ele queria dizer mesmo é que era faxineiro e muito provavelmente do Juventud Española, que funcionava na esquina da Avenida Senador Feijó com a Rua Júlio de Mesquita.

Lembro-me dele circulando pelas ruas do centro, alto, magro e meio inclinado, sempre falando e gesticulando. E nada teria mudado na vida de Zé Macaco e da cidade de Santos, se um estivador, revoltado com a situação política de 1988, não tivesse sugerido de brincadeira a candidatura dele para vereador.

    A sugestão pegou fogo e virou um incêndio. Zé Macaco foi o segundo vereador mais votado na história de Santos, conseguindo 10.913 votos e com isso ganhou o direito de presidir a sessão solene de posse da prefeita Telma de Souza em 1º de janeiro de 1989. Creio que ninguém esperava nada do vereador Zé Macaco, mas ele apresentou um total de 264 trabalhos e concedeu em 1990 o título de Cidadão Emérito ao ex-jogador do Santos José Macia, o Pepe. Ele renunciou ao cargo em setembro de 1992, após a morte da esposa Filomena em um acidente de carro. Zé Macaco morreu em 2006 aos 73 anos e foi notícia em todos os veículos de comunicação da cidade, que sempre entendeu sua paixão pelo radio. 

(Foto em preto e branco: Câmara Municipal de Santos. Foto colorida: Walter Mello, A Tribuna.)

Texto publicado em 23/1/2010, editado.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

ME DÁ UM DINHEIRO AÍ!

Eis uma marchinha que não perde a atualidade! Talvez tenha sido um dos últimos sucessos da fase áurea do Carnaval. A composição é de Moacir Franco (1936), mineiro de Ituiutaba, a partir do bordão do personagem (mendigo) que ele interpretava na “Praça da Alegria”. Carnaval de 1960.

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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

ONDE ESTÃO OS TAMBORINS?

Segunda-feira de Carnaval. Aproveito a manhã de sol para uma longa caminhada (ou dose de vitamina D) pelo bairro. Ruas quase vazias. Lembro-me de uma música do compositor Pedro Caetano (1911-1992), paulista radicado no Rio: “Onde estão os tamborins?”, gravada pelo conjunto “Quatro Ases e um Coringa” e grande sucesso do Carnaval de 1947. Os tamborins este ano se calaram por questão de saúde pública e, cá entre nós, se o Carnaval tivesse sido suspenso ano passado provavelmente a situação não seria tão grave ainda.

   Pedro Caetano foi um dos grandes compositores brasileiros e entre seus sucessos estão: 1942: “Sandália de Prata” (Francisco Alves); em 1948 os foliões se esbaldaram cantando “É com esse que eu vou”, gravação de “Quatro Ases e um Coringa” e 25 anos Elis Regina repetiria a dose.u vou sozinha como gosto, sem distrações. 

A Aclimação ganha ou reforça o ar oriental com restaurantes e até um supermercado típicos. A culinária japonesa, coreana e chinesa tem várias opções. A Câmara de Comércio Brasil-China ocupa um belo casarão na Rua Safira, o restaurante China Garden se destaca na Avenida Aclimação e para quem quer comodidade ainda há o China in Box. Há pouco tempo foi inaugurado um supermercado com produtos coreanos.

Logo estou na Rua Conselheiro Furtado, me embrenhando na Liberdade. Ao atravessar o viaduto, noto que os manacás já estão feericamente coloridos ao longo da Radial Leste... Atravesso a Praça Almeida Júnior (um ótimo pintor) e me perco pelas ruas da Liberdade. A feira da praça está praticamente vazia, mas por pouco tempo porque uma multidão vai deixando a estação do metrô. Hora de retornar...

(Ah! Vi o manequim do lado de fora da loja, talvez porque não usasse máscara já que o cartaz diz que é proibida a entrada sem o acessório.)

ELIANA E GRANDE OTELO

Eliana Macedo e Grande Otelo (sempre maravilhoso) interpretam "No tabuleiro da baiana", composição de Ary Barroso (1903-1964), no filme "Carnaval Atlântida" (1952) com direção de José Carlos Burle (1910-1983). Cenas musicais: direção de Carlos Manga (1928-2015). Produção da Atlântida Empresa Cinematográfica do Brasil S.A. ACERVO: Radio Educativa Mensagem (radiosantos) (REM).



domingo, 14 de fevereiro de 2021

MARLENE OU EMILINHA?

“Lata d’água na cabeça”, música do paraense Joaquim Antônio Candeias Júnior (1923-2009), foi gravada por Victória Bonaiutti de Martino (1922-2014), a popular Marlene, e faz parte das composições que denunciavam os problemas sociais da capital da República, ou seja, Rio de Janeiro. Candeias Júnior era formado pela Academia Militar de Agulhas Negras e se reformou como coronel-professor. Deixou uma obra extensa e entre as quais  se destacam “Sassaricando” (vários autores) e “Sinos de Belém” (com João de Barro). 

sábado, 13 de fevereiro de 2021

TOMARA QUE CHOVA!

Não gosto de Carnaval. Não sentirei falta. 

BACANAL

MANUEL BANDEIRA

 Quero beber! cantar asneiras

No esto brutal das bebedeiras
Que tudo emborca e faz em caco...
Evoé Baco!

Lá se me parte a alma levada
No torvelim da mascarada.
A gargalhar em doudo assomo...
Evoé Momo!

Lacem-na toda, multicores
As serpentinas dos amores,
Cobras de lívidos venenos...
Evoé Vênus!

Se perguntarem: Que mais queres,
Além de versos e mulheres?...
‒  Vinhos!... o vinho que é meu fracco!...
Evoé Baco!

O alfanje rútilo da lua,
Por degolar a nuca nua
Que me alucina e que eu não domo!...
Evoé Momo!

A Lira etérea, a grande Lira!...
Por que eu extático desfira
Em seu louvor versos obscenos.
Evoé Vênus!

 Muito boa a análise da festança nacional realizada pelo professor da USP natural de São Vicente (SP) da qual transcrevo um trecho: 

“Manuel Bandeira, porque tinha a paixão do Carnaval, interpreta com propriedade a perspectiva pela qual a magia da folia se manifesta e que, paradoxalmente, é a individual. É preciso que o folião penetre, se integre e se entregue a uma massa de estranhos para que ele perca as referências da sua identidade e se incorpore na dimensão maior da multidão enlouquecida. Se alguém que o conhece permanecer perto dele, ele não pode deixar de se reconhecer no olhar que o identifica. Daí a necessidade da fantasia e das máscaras como recurso auxiliar de despersonalização. O efeito do carnaval é dissolver a consciência individual na pulsação sensual dos corpos em comunicação por meio do ritmo. É a apenas estando sozinho, portanto, que se pode viver a emoção do coletivo. Nesse sentido Machado (de Assis) tem toda a razão em falar em anarquismo e Bandeira em vislumbrar a sociedade desfeita em cacos. A loucura de todos só pode nascer da loucura individual de cada um. Isso faz do Carnaval uma hora da verdade, ninguém mais precisa manter a personalidade construída para contemplar as pressões, demandas e convenções sociais. Viver em consonância com esse potencial resguardado, portanto, significa viver ‘se guardando para quando o Carnaval chegar’, como bem intuiu essa alma foliã, Chico Buarque de Holanda.” 

A CAPITAL, IRRADIANTE: TÉCNICA, RITMOS E RITOS DO RIO, de Nicolau Sevcenko (1952-2014), in História da Vida Privada no Brasil, volume 3. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.


O filme “Aviso aos navegantes”, de Watson Macedo, é de 1950. Um elenco de ouro: Oscarito, Grande Otelo, Anselmo Duarte e Eliana Macedo, José Lewgoy e Zezé Macedo. E, naturalmente, Emilinha Borba, Ivon Cury e o pianista Benê Nunes. A produção: Atlântida Empresa Cinematográfica. 

Lembrei-me de duas coisas: aviso aos navegantes era um segmento do programa radiofônico nacional oficial “Voz do Brasil”, que ia ao ar todas as noites, porém, o roteiro nada tem a ver com o programa. Assim como "Cantando na chuva", de Stanley Donen, que só seria produzido dois anos depois  acho que foram as capas e galochas😏. 


quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

A VOLTA À BIBLIOTECA

As bibliotecas municipais estão funcionando, mas o leitor precisa agendar o empréstimo e a devolução dos livros pela internet. O que era algo corriqueiro para mim tornou-se uma aventura por causa da pandemia. Era tão simples tomar o trólebus na esquina, descer na Praça Ramos e caminhar até a Biblioteca Mário de Andrade. Nas circunstâncias atuais, preferi ir de metrô (mais distante, porém mais rápido), descer na estação São Bento, atravessar o Anhangabaú até a Xavier de Toledo para chegar à biblioteca.  

        Depois de quase um ano sem ir ao centro da cidade, sinto grande prazer nesse reencontro com lugares que aprecio tanto; entretanto, muita coisa mudou. A tradicional sapataria Bongusto na Rua São Bento foi substituída por uma óptica e a Casa Mathilde com aqueles doces portugueses deliciosos fechou. Lembro-me da confeitaria Maria Cristina lá na Rua Álvares Penteado. Queria conferir, mas infelizmente, fora do meu caminho. Há outras portas cerradas, mas não consigo identificar as lojas... Quem sabe na volta, uma passadinha pela Casa Godinho? O Vale do Anhangabaú revestido de concreto perdeu o encanto. Espaço para “skatistas”. Enfim, a biblioteca. Na entrada, seguranças conferem o agendamento, funcionários pulverizam álcool e medem a temperatura dos leitores ‒ na verdade eu era a única leitora ‒ para liberar o ingresso no prédio. Está tudo modificado. O acervo está fechado para o público. Atendimento rápido: os livros estão separados aguardando a retirada e o material devolvido ficará isolado por oito dias.

        Abastecida de livros para os próximos dias, faço o caminho de volta até a estação Sé, onde estive pela última vez no dia 13 de março do ano passado, visitando a cripta da Catedral Metropolitana. No viaduto, estão os de sempre: camelôs, leitores de “buena-dicha”, pessoas observando o movimento, matando o tempo, um ou dois maluquinhos e, principalmente, os que se apressam para evitar o calor do meio-dia. Há um pequeno grupo protestando em frente à Prefeitura... A Rua Direita parece mais movimentada. Engano. É apenas a hora do almoço.




quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

BONS TEMPOS: CARLOS GONZAGA.

Quem viveu os anos 1960 com certeza se lembra de músicas como “Diana”, “Louco Amor”, “Oh! Carol”, “O Diário” entre tantas outras versões de músicas americanas gravadas por Carlos Gonzaga, que hoje completa 95 anos. Uma amiga daqueles tempos torce o nariz e diz que é música brega. E o que se ouve por aí atualmente é o quê? Carlos Gonzaga, mineiro de Paraisópolis, tinha uma bela voz, foi um sucesso nacional até surgir a Bossa Nova e o Tropicalismo. Os fãs mantiveram-se fiéis. Ele gravou muitas composições de Paul Anka (1941) e Neil Sedaka (1939), que se mantêm na ativa até hoje. As versões eram quase sempre de Fred Jorge (1928-1994), professor, jornalista e escritor.

    Encontrei no YouTube (Lucinha Zanetti) esta homenagem a Carlos Gonzaga quando ele completou 58 anos de carreira. 

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

JAMES DEAN

 

Muitos almejam a fama sem nunca alcançá-la, entretanto, trágico o destino daqueles cujo sucesso precoce supera a própria morte. James Dean (1931-1955) faria 90 anos hoje, mas no início de uma promissora carreira cinematográfica morreu em um acidente de carro. Havia feito oito filmes, mas era o automobilismo que o estava fascinando no momento. Morreu a caminho de uma competição em Salinas (Califórnia) e no trajeto já havia recebido uma multa por excesso de velocidade. Seus três últimos trabalhos são clássicos: “Vidas Amargas”, “Juventude Transviada” e “Assim Caminha a Humanidade”. Foi o primeiro ator a receber indicação póstuma ao Oscar (“Vidas Amargas”); foi indicado também por “Assim Caminha a Humanidade” ‒ filme que deu a George Stevens o Oscar de melhor diretor. James Dean morreu quando o filme ainda estava em fase de produção; deixou fãs inconformados e continuou sendo referência para atores de várias gerações. 💗



domingo, 7 de fevereiro de 2021

O NEGÓCIO É AMAR...

E para terminar a lenga-lenga amorosa...
“O negócio é amar”, composição de. Dolores Duran (1930-1959) e Carlos Lyra (1939).



“O Beijo” do austríaco Gustav Klimt (1862-1918).


O beijo II, do americano Roy Lichtenstein. (1923-1997)



sábado, 6 de fevereiro de 2021

AMAR PARA SEMPRE?

“Eu te amarei para sempre – eu disse. Ela se virou para a parede e disse apenas: Basta me amar todos os dias.” Escritor francês (nascido em Marrocos) Daniel Pennac (1943).

Sophia Loren com Robert Hossein em “Madame Sans-Gêne” (1961), filme de  Christian-Jaque.


sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

PARA SER AMADO...

 “Para ser amado seja amável.” Ovídio (43 a.C.-17/18 d.C.): "A Arte de Amar".


"Luzes da Cidade”, de Charles Chaplin (1889-1977). Com Virginia Cherrill (1908-1996).

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

PRAGAS DE AMOR

E não é que este cartum do Amigo da Onça (Péricles de Andrade Maranhão ‒ 1924-1961) trouxe à memória dos mais vividos uma balada que fez muito sucesso nos anos de 1960? A música que o Amigo da Onça canta chama-se “Esmeralda” e os autores são Filadelfo Nunes (?) e Fernando Barreto (1918-1988) e foi gravada por Carlos José (1934-2020)* e fez muito sucesso na voz inigualável de Agostinho dos Santos (1932-1973). O amante abandonado, movido pelo ciúme, no dia do casório deseja uma série de “desgraças” à amada: que os anjos não cantem na capela, o padre falte à cerimônia e que à festa não apareçam a orquestra e os convidados.  
  

 

ESMERALDA

Vestida de noiva, com véu e grinalda,

Lá vai Esmeralda, casar na igreja.

Deus queira que os anjos não cantem pra ela

E, lá na capela, seu vigário não esteja.

 

Deus queira que à noite, na hora da festa ,

Não venha a orquestra e não venha ninguém

Pra ver Esmeralda com véu e grinalda

Nos braços de outro que não é seu bem.

 

Quem devia casar com ela

Era eu, sim senhor.

Quem devia casar com ela

Era eu, seu amor.


*Carlos José faleceu vítima do Covid-19. 

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

AMOR: POESIA E ESCUTLTURA.

 

"Cupido e Psiquê", 1793, escultura de mármore do italiano Antonio Canova. Museu do Louvre, Paris.

Amor é fogo que arde sem se ver,
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente,
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor.

Esta é a mais bela definição de amor e o autor, o poeta Luís de Camões (1524-1580). 

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

UMA TRAGÉDIA DE AMOR

“O amor é fumaça formada pelos vapores dos suspiros. Purificado, é um fogo chispeante nos olhos dos amantes. Contrariado, um mar alimentado pelas lágrimas dos amantes. Que mais ainda: Loucura prudentíssima, fel que nos abafa, doçura que nos salva.” Romeu, personagem de Shakespeare (1564-1616),  primeiro ato de “Romeu e Julieta”, tragédia de 1592.


Ilustração de John H. Bacon (1865-1914).