Em 2012 frequentei o curso da USP dirigido à terceira idade que tratava de fotografia e memória. Havia uns sete alunos para as dez vagas oferecidas pela Elly, a educadora responsável. Alguns já se conheciam de outras atividades. Uma das tarefas recebidas consistiu em levar uma foto que registrasse um momento relevante e falar um pouco sobre o fato. A aula ou bate-papo acontecia em torno de uma mesa onde cada participante colocava a sua foto para que todos acompanhassem as histórias. Ela era uma senhora muito bonita, que guardava um jeito de menina, elegante, voz baixa e pausada. Sorriu um tanto constrangida, quando chegou sua vez, e com a foto ainda no envelope, disse-nos que não gostava de falar do assunto. Achava embaraçoso.
Ela cresceu em um casarão na região da Vila Mariana. Não me lembro dos detalhes da família. Certamente, era uma família muito especial, pois um dia o pai dela chegou a casa com uma grande novidade, tão grande que mudaria para sempre a vida de todos: um elefante. Um elefante de verdade. Como o animal era maltratado e estava com destino incerto, ele se condoeu da situação e simplesmente o transportou para casa. Todas as fotos exibidas até aquele momento perderam qualquer interesse. As pessoas em torno da mesa, de olhos arregalados e boca aberta, viram-na tirar do envelope uma foto com a família posando com um simpático paquiderme e a paisagem em torno não deixava dúvida de que o local era um grande quintal, com gramado, árvores, roupas penduradas no varal e a casa ao fundo.
Minha pergunta foi sobre a reação da mãe àquela situação. “Ela se divertiu” ‒ disse sorridente. Ela foi desfiando a história que nos deliciou. O elefante ficou com eles alguns anos. As crianças adoravam o bicho, que era dócil, virou atração da rua e fez a alegria da infância da nossa colega. Um dia, naturalmente, ele foi levado para outro destino, deixando saudade e muitas lembranças.
Em 2019, me inscrevi em outro curso oferecido pela Elly. Uma tarde, no intervalo, uma das funcionárias da unidade foi me cumprimentar e perguntou curiosa se eu tinha sido da “turma do elefante”. Rememoramos a história da senhora que teve o privilégio de ter na infância um elefante como pet!
A música não poderia ser outra: "Olha o passo do elefantinho" (1963), composição de Henry Mancini e gravação do Trio Esperança (Mário, Regina e Evinha).
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