João
Vicente Saldanha da Cunha –
um nome bonito e bem pouco conhecido; entretanto, todo santista sabe quem foi esse
baiano que se tornou popular e até vereador com o apelido de Zé Macaco. João
Vicente deixou Vitória da Conquista, quando estava com 15 anos e se estabeleceu
em Santos. Em nenhuma das muitas reportagens que li sobre ele, descobri a
origem do apelido carregado de preconceito, mas Zé Macaco tinha uma grande paixão na vida
– o radio. Pobre e sem estudo, ele enfrentou a vida fazendo propaganda de casas
comerciais, com suas roupas extravagantes e um megafone; depois ampliou o
negócio e usava um triciclo com um sistema de som levando as mensagens dos
clientes para outras áreas da cidade, embora seu reduto fosse mesmo o Centro
Histórico.
Não foi esse trabalho, entretanto, que deu notoriedade ao Zé Macaco,
tornando-o uma das pessoas mais populares de Santos. O jornalista Tomás de
Aquino contava em uma bela matéria que tudo começou em 1951. Zé Macaco trabalhava como servente de
pedreiro, quando teve a ideia de fazer, com uma lata de azeite, um microfone
igual aos que os radialistas de futebol usavam em campo. Aos poucos ele
incrementou a sua fantasia e “estreou como radialista” cobrindo um jogo do Santos
Futebol Clube contra o São Bento de Sorocaba.
E nunca mais parou por vários motivos. No início, as pessoas acreditaram que ele pertencia a alguma emissora de rádio tal a perfeição do equipamento que usava e da desenvoltura com que fazia suas entrevistas. Depois, já era tarde para reparar o erro e todo mundo se divertia, especialmente com o pessoal que vinha de fora e não desconfiava do que estava acontecendo. A lista de “entrevistados” do Zé Macaco fazia inveja a muito jornalista sério: passaram por sua lata de azeite – como costumava dizer, segundo Tomás de Aquino – o Presidente de Portugal, general Craveiro Lopes; os presidentes Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e Médici; a entrevista com o Governador Laudo Natel rendeu-lhe a única prisão que ele enfrentou como “radialista”.
Em meados dos anos 1970, ele contava ao jornal CIDADE DE SANTOS: “no
momento estou dedicando-me a outras atividades, como a de trabalhar junto aos
clubes de nossa terra”. O que ele queria dizer mesmo é que era faxineiro e muito
provavelmente do Juventud
Española, que funcionava na esquina da Avenida Senador Feijó com a
Rua Júlio de Mesquita.
Lembro-me dele circulando pelas ruas do centro, alto, magro e meio
inclinado, sempre falando e gesticulando. E nada teria mudado na vida de Zé Macaco e da cidade de Santos, se um
estivador, revoltado com a situação política de 1988, não tivesse sugerido de
brincadeira a candidatura dele para vereador.
A sugestão pegou fogo e virou um incêndio. Zé Macaco foi o segundo vereador mais votado na história de Santos, conseguindo 10.913 votos e com isso ganhou o direito de presidir a sessão solene de posse da prefeita Telma de Souza em 1º de janeiro de 1989. Creio que ninguém esperava nada do vereador Zé Macaco, mas ele apresentou um total de 264 trabalhos e concedeu em 1990 o título de Cidadão Emérito ao ex-jogador do Santos José Macia, o Pepe. Ele renunciou ao cargo em setembro de 1992, após a morte da esposa Filomena em um acidente de carro. Zé Macaco morreu em 2006 aos 73 anos e foi notícia em todos os veículos de comunicação da cidade, que sempre entendeu sua paixão pelo radio.
(Foto em preto e branco: Câmara Municipal de Santos. Foto colorida: Walter Mello, A Tribuna.)
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