segunda-feira, 31 de maio de 2021

PÃO E VINHO

 Um almoço? Uma ceia? Quem sabe? O quadro é belíssimo tanto pela composição como pelas expressões reveladoras do trio que domina a cena. Surpreendidos pela chegada inesperada ou inoportuna de alguém? Enquanto a moça com o chapéu que mais parece um lenço comenta com jeito malicioso o que acontece, a companheira olha de esguelha para a cena oculta e o rapaz pouco discreto se vira e parece não gostar do que vê. No fundo, três amigos conversam indiferentes ao que tenha acontecido. Ah! E um inexplicável gato, mas naturalmente gatos não se explicam. Sobre as duas mesas, o vinho que acompanha a refeição e a conversa...

“In a Roman Osteria” (1866), óleo sobre tela do pintor dinamarquês Carl Bloch (1834-1890). Acervo National Gallery of Denmark, Copenhagen.

Chi ha pane e vino, sta meglio del suo vicino”.

Tradução literal: "Quem tem pão e vinho está melhor que seu vizinho".

domingo, 30 de maio de 2021

IN VINO VERITAS

 


Domingo com uma taça de vinho oferecida por Baco, o deus do vinho. A belíssima pintura BACO (1595), óleo sobre tela de Caravaggio (1571-1610), pode ser admirada na Galleria degli Uffize, em Florença.

 In vino veritas”, segundo Plínio, o Velho, naturalista romano (23-79).

sábado, 29 de maio de 2021

HIP, HIP, HURRA!

"La vie est trop courte pour boire du mauvais vin."

 “Hip, hip, hurra!” (1888), obra do pintor dinamarquês Peter Severin Krøyer (1851-1909). Coleção: Gothenburg Museum of Art.

sexta-feira, 28 de maio de 2021

UM BRINDE

Semana chegando ao fim, mês de maio terminando... Sobrevivemos? Vivemos. Vale um brinde mesmo sem a companhia de amigos. 

A tela (O Brinde) é do americano Louis-Moeller (1855-1930).

“Castelo Mouton-Rothschild”, do brasileiro Juarez Machado (1941).

PS: Um brinde! Ontem, dia de grande aventura: depois de um ano e dois meses peguei um ônibus usando máscara e luvas. Quase vazio e foram só três pontos. Mesmo assim a sensação foi de insegurança. Voltei para casa a pé. 😐


quinta-feira, 27 de maio de 2021

O ESCRITOR E O ESPIÃO

 

As relações entre David e John me parecem complicadas. David deve fama e fortuna a John, que muitas vezes o colocou em situações embaraçosas. A verdade é que John não existiria sem David. Quando David pensou que teria se livrado de uma profissão de que não gostava, acabou por ceder a vaga a John que o suplantou de forma avassaladora. Será que David sentiu ciúmes por esse sucesso? Complicado? Sim, para David que passou a maior parte da vida tentando explicar ao mundo que ele não era John. A história ficará mais simples quando eu disser que escrevo sobre David Cornwell (1939-2020) e John Le Carré, o pseudônimo de David. Ou seja, a mesma pessoa.

        Claro que são elucubrações numa pausa da leitura de “O Túnel de Pombos” (2016), livro em que John Le Carré conta histórias da vida de David com o talento que lhe é peculiar. Não é uma biografia nos moldes tradicionais. Le Carré reuniu fatos engraçados ‒ muitos nem tanto ‒, relevantes e importantes; suas viagens pelo mundo para fundamentar o enredo de seus romances, as entrevistas e a criação de seus personagens.

        É, entretanto, no último capítulo que ele desnuda a alma e exibe o garoto abandonado, o adolescente atormentado e a fuga do colégio interno em busca da sua própria história. O surpreendente foi superar o fato de que o pai era um homem sem escrúpulos, golpista com várias passagens pela cadeia e com uma visão de grandeza que estava de longe de ter. Quando David estava com cinco anos a mãe fez a mala e fugiu de casa deixando para trás os dois filhos. Esse pai abusivo teve uma grande preocupação com a educação dos filhos, o que não o impediu de perder no jogo o dinheiro destinado ao pagamento do colégio. E Le Carré só não foi expulso da escola porque o colega de quarto, que era muito rico, deu-lhe um cheque que cobria as mensalidades até o final do ano. Num bilhete, dizia que ele pagaria quando pudesse e se pudesse. O amigo nunca falou do assunto com ele. Le Carré pagou tudo, inclusive com os juros que lhe foram devolvidos com um agradecimento polido.

        Por mais que David afirmasse que havia deixado o serviço de sua majestade há muitos anos e ganhava a vida escrevendo, várias vezes foi convocado para resolver problemas que estavam muito longe da sua realidade. Exemplo: certa vez o chamaram porque um jovem ator checo em visita à Inglaterra queria permanecer no país e pediam que ele falasse “com o seu pessoal”. Surpreso com o pedido porque nem tinha “pessoal”, explicou que nada poderia fazer. Insistiram, achando que era má vontade. Ele sugeriu pedido de asilo, mas o jovem não queria porque causaria problemas para amigos e família na então Tchecoslováquia. Depois de muita conversa o ator disse que desejava estudar medicina na Inglaterra, tinha algumas economias. Assim, de repente David tinha um problemão que os amigos achavam que poderia resolver. Ele se esforçou, procurou contatos e conseguiu que o rapaz permanecesse na Inglaterra.

        Le Carré conta que sem saber direito como aconteceu, ele financiou os estudos e a permanência do rapaz no país e que, após se formar, o médico mudou para o Canadá e se tornou um brilhante pediatra. Ele pagou todo o investimento de David e continuou escrevendo sempre relatando suas realizações.

        Gostei muito do livro que me pareceu bem sincero. 

“O Túnel de Pombos: Histórias da Minha Vida”. John Le Carré, Editora Record, 2016.

domingo, 23 de maio de 2021

DOMINGO COM MÚSICA

A música é de Walter Murphy (1952) e Seth MacFerlane (1973). A cantora é a americana Norah Jones (1979), filha do músico e compositor indiano Ravi Shankar (1920-2012), que se tornou famoso no Ocidente nos anos de 1960. Norah Jones também é pianista e compositora. “Everybody needs a best friend”  acompanha os créditos do filme “Ted” (2012), dirigido por Seth MacFerlane,  e foi indicada ao Oscar de melhor canção original de 2013. A animação é muito boa.


terça-feira, 18 de maio de 2021

SURPRESAS DE UMA CAMINHADA

 

A cidade de São Paulo é sempre uma surpresa: você fica algum tempo sem passar por algum lugar e quando retorna percebe que está tudo diferente. A rua em que moro teve um trecho fechado para carros e pedestres há quase dois anos por causa de um problema na estrutura de dois prédios e por esse motivo mudei meu percurso. Ontem, fiz parte do velho caminho e descobri dois novos edifícios de apartamentos já em fase de acabamento. No início da pandemia, as obras estavam no começo... Aliás, observo que a construção civil e o mercado imobiliário não parecem afetados pela crise econômica gerada pela pandemia. Não faltam folhetos de fino acabamento convidando para visitar novos lançamentos não apenas no bairro, mas em vários pontos da Zona Sul.

 A outra novidade foi a venda de todos os imóveis de uma esquina da Rua Rodrigues Alves. Algumas lojas já fecharam, outras liquidam o estoque. Imagino que tipo de prédio construirão ali. Há um comércio variado ‒ farmácias, supermercados, restaurantes, lojas de sapatos, roupas e duas ou três galerias a serem exploradas sem pressa. O proprietário de uma loja que frequento há anos diz que não tem ideia do que fará. No final de 2019 ele havia reformado a loja, quando teve que fechar em março do ano passado por vários meses.

        E se estes comerciantes fecham suas lojas por causa da venda dos imóveis há aqueles que encerram suas atividades s porque não resistiram à implantação do “lock down”. A Rua Domingos de Moraes até as imediações da Sena Madureira tem uma aparência desoladora. Em uma das quadras, que era dominada pela concessionária da FORD, resta apenas uma loja aberta, (“Ri Happy”). Até a “Galinha Morta” se foi... Nas imediações dei por falta de pelo menos três postos de gasolina.

        Nem tudo é desanimador: a Rua Noé de Azevedo agora tem um supermercado!  Aliás, essa rua é um mistério para mim.

sábado, 15 de maio de 2021

TREM DE FERRO

O poeta pernambucano Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho, ou simplesmente, Manuel Bandeira (1886-1968) é o autor deste poema que nos dá vontade de correr para a estação e embarcar no trem, velha máquina que deixava um rastro de fumaça e fuligem por onde passava... A maria-fumaça como passou a ser chamada com carinho. Ah!O poeta. O poeta nos encanta enquanto descreve a paisagem que fica lá atrás. Bandeira fez parte do Modernismo (1922).  (Foto: Palácio das Indústrias - Museu Catavento, Parque D. Pedro.) 

TREM DE FERRO

Café com pão
Café com pão
Café com pão
Virge Maria que foi isto maquinista?

Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força

Oô...
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
De ingazeira
Debruçada
No riacho
Que vontade
De cantar!

Oô...
Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficiá

Oô...
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matá minha sede
Oô...
Vou mimbora vou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no Sertão
Sou de Ouricuri
Oô...

Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...

quarta-feira, 12 de maio de 2021

O JARDIM ENCANTADO

 

Dean Stockwell,  Margareth O’Brien e Brian Roper (1929-1994). 

No tempo do VHS, assisti a um filme em preto e branco sobre uma menina solitária que encontrou um jardim mágico, única cena colorida. Gostei muito, mas naturalmente acabei me esquecendo do enredo. No início do ano, não sei o motivo, lembrei-me dele e tentei achar. Em vão. Pesquisando a feira de livros da UNESP encontrei um título que me pareceu ser a origem do filme: “O Jardim Encantado” e, claro, comprei. A autora é a inglesa Francis H. Burnett (1849-1924). Finalmente, localizei o filme de 1949, dirigido por Fred M. Wilcox, e até descobri que havia uma versão recente.

        Burnett conta a história de uma menina inglesa feia, rica e mimada, que vive na Índia colonial aos cuidados dos empregados, e em plena epidemia de cólera não só perde os pais como é esquecida na mansão em que vive. Achada ela é envida para a Inglaterra aos cuidados de um tio. Em seu novo lar ela viverá o mesmo problema, já que o tio é tão ausente quanto seus pais. A menina autoritária aos poucos descobre um mundo muito diferente da Índia e levada pela curiosidade começa a explorar a nova casa, desvendando mistérios que irão mudar sua vida e a das pessoas ao redor. De forma sutil a autora vai mostrando como a feiura da menina desaparece à medida que ela aprende a conviver com as pessoas e a fazer dos seus erros um aprendizado que ajudará a todos. Uma excelente história infantil, muito bem narrada e com uma linguagem elegante, sem contar que a edição da Martin Claret (2017) é muito bonita.

No filme de Fred M. Wilcox, as crianças são interpretadas por Margareth O’Brien (1937) e  Dean Stockwell (1936). Ela ganhou o Oscar de melhor atriz infantil em 1947, mas a carreira adulta da atriz não teve sucesso, ao contrário de Dean Stockwell, que recebeu dois prêmios de melhor ator em Cannes em 1959 e em 1962 e foi indicado ao Oscar de melhor ator em 1989.

segunda-feira, 10 de maio de 2021

O PREÇO DO SUCESSO

 

Entre o final do século XIX e o início do século XX, quando o setor de construção civil desenvolveu a tecnologia que permitia a construção dos arranha-céus e se inventou o elevador, desencadeou-se uma corrida para a conquista das alturas. Chicago e Nova York iniciaram a moda. Em minha opinião de leiga, atitude até justificável, afinal, era uma novidade e todos queriam ter, ver ou ocupar uma dessas maravilhas. Com o tempo os arranha-céus se tornaram cada vez maiores, se espalharam pelo mundo e, em pleno século XXI, engenheiros e arquitetos buscam incrementar essas construções enormes (nem sempre bonitas) com atrativos tecnológicos de ponta.

A “Dubai brasileira” fica em Santa Catarina, mais precisamente no Balneário Camboriú, município com população inferior a 145 mil habitantes. Balneário Cambo riu tem um alto Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) e ocupa o 5º lugar na avaliação recente da qualidade vida em cidades médias brasileiras com mais de 100 mil habitantes*. O Balneário é também o principal ponto turístico do estado catarinense pela beleza das praias (10) e atrações para todos os gostos. Em 2017 recebeu 4,2 milhões de turistas! Vinte e dois por cento a mais do que no ano anterior. O setor representa 20% do PIB local e contribui com 13% para o PIB de Santa Catarina.

O segmento imobiliário escolheu a praia Central para a construção dos espigões. Vitrine das construtoras. Os nomes, desculpem-me a franqueza, são suburbanos e pretensiosos. One Tower (290 m – 77 andares), Yachthouse Residence Club, torres gêmeas (281 m – 81 andares), Infinity Coast (234 m – 70 andares); Boreal Tower (230 m – 64 andares); Torre Vitra (226 m – 67 andares) e Epic Tower (192 m – 55 andares). Alguns estão em fase de acabamento.

Compradores? Celebridades, artistas, novos ricos e empresários, mas apenas 30% dos donos dos apartamentos com vista para o mar moram em sua propriedade o ano todo. Os valores dessas propriedades são compatíveis com a altura dos prédios.

Esse gigantismo tem um preço. A falta de água é um dos principais problemas da cidade, que investiu em um novo reservatório e tem ampliado a rede de distribuição de água para evitar o desabastecimento. Um prédio de 80 andares, por exemplo, tem reservatório cinco vezes maior do que o normal, consumindo até 150 mil litros de água, que nem sempre é suficiente na alta temporada, o que já levou alguns condomínios a limitar a ocupação dos apartamentos. Quer pegar um sol na praia? Apresse-se porque depois das 14 horas a sombra dos edifícios se esparrama pela areia. A intensificação do turismo já tornou algumas praias impróprias para o banho...

As pessoas que desejam paz e sossego procuram outras praias do município, que tem uma excelente rede hoteleira para todos os bolsos, sistema de transporte integrado e atrações culturais, gastronômicas e esportivas bem variadas

Quem quiser se aprofundar sobre o tema terá muitas informações no livro do professor Victor Mirshawka: “Encantadoras Cidades Brasileiras - As pujantes Economias alavancadas pela visitabilidade.” Volume I, de. São Paulo: DVS Editora, 2019. Mirshawka entrevistou várias pessoas e reuniu informações valiosas sobre a cidade.


domingo, 9 de maio de 2021

O PRESENTE

O ilustrador Richard "Dick" Sargent (1911-1978) teve seus trabalhos publicados nas principais revistas americanas entre as quais The Saturday Evening Post (47 capas entre 1951 e 1952), Fortune e Photoplay



sábado, 8 de maio de 2021

ADEUS A UMA AMIGA

 

Maria Aparecida de Oliveira, a Cida, foi uma dessas pessoas raras que por onde passam deixam amigos e admiradores. Chegava à redação discretamente e brindava-nos com seu sorriso; não se importava com as brincadeiras dos colegas; encarava os desafios de cada reportagem com bom-humor e quando reclamava de alguma coisa era com elegância. Num ambiente em que o vocabulário nem sempre era “família”, ela jamais adotou uma expressão inadequada. Era incapaz de ferir as pessoas, tinha sempre uma palavra de conforto ou de incentivo para todos. Trabalhamos juntas por alguns anos, mas ao mudar para São Paulo nos distanciamos. Reencontramos-nos há alguns anos num evento e combinamos um almoço que acabou não se concretizando. Há alguns dias, escrevendo sobre Santa Catarina, lembrei-me dela porque fomos a Oktoberfest ‒ e Cida nem bebia. Em outra ocasião fomos a Guarujá entrevistar o cantor espanhol Manolo Otero que estava se apresentando num clube. Cida era fã. São muitas as lembranças dessa pessoa maravilhosa que, infelizmente, nos deixou. Discretamente, como viveu. Deixa muita saudade. Ela nasceu no estado do Rio, era jornalista e advogada. 



quinta-feira, 6 de maio de 2021

RUDYARD KIPLING

Rudyard Kipling (1865-1936) encontra-se entre os grandes escritores ingleses. Nasceu em Bombaim (Índia colonial britânica), começou a escrever ainda na infância e ao chegar à Inglaterra aos 24 anos já era um autor popular. “Era de Kipling” foi como os críticos denominaram as primeiras décadas do século XX. Foi um grande contador de histórias; inovou ao escrever contos curtos e ao usar uma linguagem vigorosa, pouco convencional, a que o público não estava acostumado. Ganhou o Prêmio Nobel em 1906 aos 41 anos. Sua obra causou também controvérsias ao longo do século XX, pois ele foi um defensor do imperialismo britânico em ascensão. É sempre bom considerar o artista/escritor no contexto histórico em que viveu em vez de bani-lo da lista de obras importantes para se conhecer. Entre seus livros destacam-se ”O Homem que queria ser Rei” (1888), ” Gunga Din” (1890), “O Livro da Selva” (1894) e ”Kim” (1901). Quem aprecia bons filmes certamente já conhece Kipling porque vários livros dele foram adaptados para o cinema com sucesso.

O poema ”Se” foi escrito em 1895 e publicado apenas em 1910, numa coletânea de contos e poemas. Kipling visitou o Brasil em 1927.

SE

Se és capaz de manter a tua calma quando
Todo o mundo ao teu redor já a perdeu e te culpa;
De crer em ti quando estão todos duvidando,
E para esses no entanto achar uma desculpa;
Se és capaz de esperar sem te desesperares,
Ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
E não parecer bom demais, nem pretensioso;

Se és capaz de pensar --sem que a isso só te atires,
De sonhar --sem fazer dos sonhos teus senhores.
Se encontrando a desgraça e o triunfo conseguires
Tratar da mesma forma a esses dois impostores;
Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas
Em armadilhas as verdades que disseste,
E as coisas, por que deste a vida, estraçalhadas,
E refazê-las com o bem pouco que te reste;

Se és capaz de arriscar numa única parada
Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
Resignado, tornar ao ponto de partida;
De forçar coração, nervos, músculos, tudo
A dar seja o que for que neles ainda existe,
E a persistir assim quando, exaustos, contudo
Resta a vontade em ti que ainda ordena: "Persiste!";

Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes
E, entre reis, não perder a naturalidade,
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
Se a todos podes ser de alguma utilidade,
E se és capaz de dar, segundo por segundo,
Ao minuto fatal todo o valor e brilho,
Tua é a terra com tudo o que existe no mundo
E o que mais --tu serás um Homem, ó meu filho!

Tradução: Guilherme de Almeida (1890-1969).

quarta-feira, 5 de maio de 2021

LEMBRANÇAS

Antes de conhecer outros países, viajei pelo Brasil porque sempre achei que não adiantaria nada chegar a um país estranho e não ter o que falar do meu. Graças a essa decisão tenho uma boa noção do Brasil de Norte a Sul e de Leste a Oeste. Em seu livro “Encantadoras cidades brasileiras ‒ as pujantes economias alavancadas pela visitabilidade” (DVS Editora), o professor e escritor Victor Mirshawka destaca quinze municípios por ordem alfabética: Aracajú (SE), Balneário Camboriú (SC), Belém (PA), Belo Horizonte (MG), Blumenau (SC), Bonito, Brasília (DF), Caldas Novas, Campina Grande, Campo Grande (MS), Caxias do Sul, Cuiabá (MS), Curitiba (PA), Fernando de Noronha e Florianópolis (SC).

        Das quinze cidades encantadoras citadas por Mirshawka, conheci sete e passei um dia em uma delas. Tenho ótimas lembranças de Aracaju, onde fiquei uma semana aproveitando sol e viajando pelo entorno. Belém é uma cidade deliciosa. Até a chuva é bem-vinda. Gostei tanto que voltei outras vezes. Tenho ótimas recordações de Belo Horizonte onde fui com minha avó Maria Luiza que me proporcionou como presente de aniversário a minha primeira viagem de trem ‒ Central do Brasil. Voltei anos depois a caminho de Pirapora para embarcar numa gaiola do rio São Francisco com destino a Petrolina.

        Nem precisa dizer que a Oktoberfest foi o motivo de minha ida a Blumenau, uma cidade linda. Quase fui morar em Cuiabá, que visitei várias vezes. Sem mar, não seria minha morada ideal. A primeira viagem que fiz sozinha foi para o Paraná e a primeira parada, claro, foi em Curitiba. Retornei outras vezes a trabalho. Florianópolis é muito linda! E depois tem praia... Gostei muito.

Prometi a mim mesma voltar ao Balneário Camboriú para conhecer melhor, mas ainda não tive oportunidade. Quem sabe, depois que a pandemia acabar, seguindo as indicações do professor? O livro é muito bom e tem informações atuais sobre as cidades e as decisões administrativas que fazem a diferença.

Gostaria muito de retornar a esses lugares que hoje estão muito diferentes...

 A EXCEÇÃO. Brasília. Tinha quinze anos quando Brasília foi inaugurada. Eu acompanhei entusiasmada a construção da nova capital. Na primeira visita, anos depois, muito rápida, por sinal, já não me entusiasmei tanto. Voltei em 2019 e, definitivamente, a detestei. Para mim uma cidade que funciona muito mais como exposição arquitetônica. Muito concreto.




terça-feira, 4 de maio de 2021

PEREIRAS, LUTÉCIA E QUEIROZ...

Volto à minha viagem onomástica pelo interior de São Paulo, ou seja, pela origem do nome próprio de algumas cidades paulistas. Pereiras chamou-me atenção por motivos óbvios, embora eu não seja pereirense. A ocupação da região começou no século XVIII ao longo do ribeirão das Conchas, que foi pouso de tropeiros e local de criação de gado. Na primeira metade do século XIX, posseiros se instalaram no pouso e entre eles as famílias de Bento Pereira Barbosa e Pereira de Araújo, que em 1839 construíram uma capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição, que ficou conhecida como a Capela dos Pereira. Mais tarde o povoado tornou-se Freguesia de Nossa Senhora da Conceição dos Pereiras até que em abril de 1889 ganhou status de Vila e em 1906 tornou-se o município de PEREIRAS. A cidade, que fica próximo à Tatuí, tem cerca de oito mil habitantes.




Quando os romanos ocuparam a área em que viviam os parísios deram-lhe o nome de Lutécia dos Parísios. Isso em 52 a. C. No final do Império Romano do Ocidente, em 476 d. C, a próspera cidade romana já era conhecida como Parísio, que mais tarde ficou conhecida como Paris. A LUTÉCIA paulista também teve outros nomes: primeiro foi Frutal (1926) e depois Boa Esperança até que o deputado Estadual Nelson Ottoni de Rezende sugeriu que a povoação fosse chamada de Lutécia, mas só se tornou município em 1944. O gentílico: luteciano. População: 2.636 habitantes. 

QUEIROZ, por sua vez, teve origem em uma fazenda (Guatuporanga) desmembrada de outra fazenda (Paiquerê) na comarca de Marília nos anos de 1930. A área foi loteada e os lotes vendidos a prestações com a intenção de formar um centro comercial para atender à região agrícola. A iniciativa de Heitor Ferreira Gandra, proprietário da Fazenda Guatuporanga, teve um rápido crescimento. A povoação ficou conhecida, primeiro como Queirozópolis, e depois por Vila Queiroz, nome de um dos proprietários da firma Queiroz Ferreira & Cia Ltda., principal empregadora local. Tornou-se município em fevereiro de 1964. Atualmente a cidade tem cerca de 3.460 habitantes. O gentílico é queirozense. 

MAPAS: GOOGLE.