quinta-feira, 6 de maio de 2021

RUDYARD KIPLING

Rudyard Kipling (1865-1936) encontra-se entre os grandes escritores ingleses. Nasceu em Bombaim (Índia colonial britânica), começou a escrever ainda na infância e ao chegar à Inglaterra aos 24 anos já era um autor popular. “Era de Kipling” foi como os críticos denominaram as primeiras décadas do século XX. Foi um grande contador de histórias; inovou ao escrever contos curtos e ao usar uma linguagem vigorosa, pouco convencional, a que o público não estava acostumado. Ganhou o Prêmio Nobel em 1906 aos 41 anos. Sua obra causou também controvérsias ao longo do século XX, pois ele foi um defensor do imperialismo britânico em ascensão. É sempre bom considerar o artista/escritor no contexto histórico em que viveu em vez de bani-lo da lista de obras importantes para se conhecer. Entre seus livros destacam-se ”O Homem que queria ser Rei” (1888), ” Gunga Din” (1890), “O Livro da Selva” (1894) e ”Kim” (1901). Quem aprecia bons filmes certamente já conhece Kipling porque vários livros dele foram adaptados para o cinema com sucesso.

O poema ”Se” foi escrito em 1895 e publicado apenas em 1910, numa coletânea de contos e poemas. Kipling visitou o Brasil em 1927.

SE

Se és capaz de manter a tua calma quando
Todo o mundo ao teu redor já a perdeu e te culpa;
De crer em ti quando estão todos duvidando,
E para esses no entanto achar uma desculpa;
Se és capaz de esperar sem te desesperares,
Ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
E não parecer bom demais, nem pretensioso;

Se és capaz de pensar --sem que a isso só te atires,
De sonhar --sem fazer dos sonhos teus senhores.
Se encontrando a desgraça e o triunfo conseguires
Tratar da mesma forma a esses dois impostores;
Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas
Em armadilhas as verdades que disseste,
E as coisas, por que deste a vida, estraçalhadas,
E refazê-las com o bem pouco que te reste;

Se és capaz de arriscar numa única parada
Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
Resignado, tornar ao ponto de partida;
De forçar coração, nervos, músculos, tudo
A dar seja o que for que neles ainda existe,
E a persistir assim quando, exaustos, contudo
Resta a vontade em ti que ainda ordena: "Persiste!";

Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes
E, entre reis, não perder a naturalidade,
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
Se a todos podes ser de alguma utilidade,
E se és capaz de dar, segundo por segundo,
Ao minuto fatal todo o valor e brilho,
Tua é a terra com tudo o que existe no mundo
E o que mais --tu serás um Homem, ó meu filho!

Tradução: Guilherme de Almeida (1890-1969).

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