segunda-feira, 10 de maio de 2021

O PREÇO DO SUCESSO

 

Entre o final do século XIX e o início do século XX, quando o setor de construção civil desenvolveu a tecnologia que permitia a construção dos arranha-céus e se inventou o elevador, desencadeou-se uma corrida para a conquista das alturas. Chicago e Nova York iniciaram a moda. Em minha opinião de leiga, atitude até justificável, afinal, era uma novidade e todos queriam ter, ver ou ocupar uma dessas maravilhas. Com o tempo os arranha-céus se tornaram cada vez maiores, se espalharam pelo mundo e, em pleno século XXI, engenheiros e arquitetos buscam incrementar essas construções enormes (nem sempre bonitas) com atrativos tecnológicos de ponta.

A “Dubai brasileira” fica em Santa Catarina, mais precisamente no Balneário Camboriú, município com população inferior a 145 mil habitantes. Balneário Cambo riu tem um alto Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) e ocupa o 5º lugar na avaliação recente da qualidade vida em cidades médias brasileiras com mais de 100 mil habitantes*. O Balneário é também o principal ponto turístico do estado catarinense pela beleza das praias (10) e atrações para todos os gostos. Em 2017 recebeu 4,2 milhões de turistas! Vinte e dois por cento a mais do que no ano anterior. O setor representa 20% do PIB local e contribui com 13% para o PIB de Santa Catarina.

O segmento imobiliário escolheu a praia Central para a construção dos espigões. Vitrine das construtoras. Os nomes, desculpem-me a franqueza, são suburbanos e pretensiosos. One Tower (290 m – 77 andares), Yachthouse Residence Club, torres gêmeas (281 m – 81 andares), Infinity Coast (234 m – 70 andares); Boreal Tower (230 m – 64 andares); Torre Vitra (226 m – 67 andares) e Epic Tower (192 m – 55 andares). Alguns estão em fase de acabamento.

Compradores? Celebridades, artistas, novos ricos e empresários, mas apenas 30% dos donos dos apartamentos com vista para o mar moram em sua propriedade o ano todo. Os valores dessas propriedades são compatíveis com a altura dos prédios.

Esse gigantismo tem um preço. A falta de água é um dos principais problemas da cidade, que investiu em um novo reservatório e tem ampliado a rede de distribuição de água para evitar o desabastecimento. Um prédio de 80 andares, por exemplo, tem reservatório cinco vezes maior do que o normal, consumindo até 150 mil litros de água, que nem sempre é suficiente na alta temporada, o que já levou alguns condomínios a limitar a ocupação dos apartamentos. Quer pegar um sol na praia? Apresse-se porque depois das 14 horas a sombra dos edifícios se esparrama pela areia. A intensificação do turismo já tornou algumas praias impróprias para o banho...

As pessoas que desejam paz e sossego procuram outras praias do município, que tem uma excelente rede hoteleira para todos os bolsos, sistema de transporte integrado e atrações culturais, gastronômicas e esportivas bem variadas

Quem quiser se aprofundar sobre o tema terá muitas informações no livro do professor Victor Mirshawka: “Encantadoras Cidades Brasileiras - As pujantes Economias alavancadas pela visitabilidade.” Volume I, de. São Paulo: DVS Editora, 2019. Mirshawka entrevistou várias pessoas e reuniu informações valiosas sobre a cidade.


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