segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

PALÁCIO TIRADENTES
        Há várias opções para continuar a caminhada pelo Centro Histórico do Rio de Janeiro a partir do Paço Imperial, mas é difícil resistir à tentação de visitar o Palácio Tiradentes tão próximo do Paço que de uma de suas janelas até parece possível tocar a majestosa escultura à esquerda da entrada. Entretanto, há muito mais que arquitetura e arte neste espaço. No início da colonização, à mesma época do Paço, ergueu-se ali a Casa de Câmara e Cadeia, que se adaptou aos tempos de D. João VI, ao período do Império e, serviu aos primeiros anos da República. Não é por acaso que em frente ao prédio foi colocada a estátua de Joaquim José da Silva Xavier: o Tiradentes ficou preso ali, aguardando o julgamento, e de lá saiu para ser executado em 1792.
        Com a República no final do século XIX e a reurbanização da cidade no início do século XX, o prédio histórico da Cadeia foi condenado e as autoridades logo encomendaram um novo edifício. Assinam o projeto os arquitetos Archimedes Memória (1893-1960) e Francisco Couchet e o resultado foi um prédio em estilo eclético para acompanhar a moda da época. Uma fachada neogrega com seis colunas de 12 metros de altura, a cúpula dourada e as duas vitórias de bronze que ladeiam as escadarias são um convite a uma visita ao antigo Congresso brasileiro. O palácio foi inaugurado em 1926, quando o presidente da Câmara era Arnolfo Rodrigues de Azevedo (1868-1942). A festa não contou com a presença do presidente Artur Bernardes (1875- 1955).
Durante a visita monitorada, que dura cerca de trinta minutos, é possível ter uma boa ideia de alguns períodos da história nacional. O Congresso funcionou naquele endereço até ser fechado em 1937 com a instalação do Estado Novo e mais tarde ali funcionou o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIPE), órgão responsável pela censura no país criado pela ditadura Vargas; retornou às funções originais apenas em 1945. Com a transferida da Capital para Brasília em 1960, abrigou a Assembleia Legislativa do Estado da Guanabara de breve existência e em 1975 tornou-se a sede da Assembleia do Estado do Rio de Janeiro.
O Palacete foi decorado com obras dos principais artistas brasileiros do período como Eliseu Visconti, João Timóteo da Costa, Carlos Oswald. Assim, a pintura da cúpula do Plenário é de Rodolfo Chambelland e o vitral mostra o céu na noite de 15 de novembro de 1889 e um painel de Eliseu Visconti representa a assinatura da primeira Constituição Republicana (1891). A visita inclui o salão nobre, a biblioteca e a sala das comissões. Uma exposição fotográfica registra os principais fatos da história política brasileira e também do Parlamento fluminense.



Rua Primeiro de Março, s/n - Praça XV - Rio de Janeiro. Visitas de segunda a sábado das 10 às 17 horas; domingos e feriados das 12 às 17 horas. Gratuita. 
Foto: H.P.Araújo, 15/11/2015.

sábado, 20 de fevereiro de 2016

ESPELHO



                Toda foto tem uma história. Quase sempre banal, mas sempre sentimental para o autor, naturalmente. Esta foi feita em Praga, República Tcheca. Errei a entrada do Convento de Strahov (novidade!) e entrei em um caminho ladeado por um muro e um alambrado. Achei que era o parque do convento e depois percebi que era um caminho em um bosque. Havia poucas pessoas por lá. Depois de andar uns 15 minutos resolvi perguntar, mas logo desisti porque as duas pessoas que abordei não falavam inglês. Continuei mais um pouco e então desisti. Ao me voltar deparei com essa imagem maravilhosa e a porta que me reconduziu ao destino inicial. Fiz a foto e por um triz quase fui atropelada por uma lebre perseguida por um cão. Tudo isso para conhecer uma biblioteca barroca! 2008.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

RIO, 2016. (II)

  Pode-se dizer que naquele dia 14 de janeiro de 1808 o vento trouxe a notícia ou que a notícia chegou pelo mar. Tanto faz. As novas de todo jeito causaram um grande alvoroço no Paço, onde pontificava o conde dos Arcos, Marcos de Noronha e Brito (1771-1828), vice-rei do Brasil. O príncipe português estava chegando ao Rio de Janeiro, trazia a família real e parte da corte! O portador da espantosa notícia viera no brigue de guerra com o sugestivo nome de “Voador”.
Com a novidade o conde deixava de ser vice-rei, mas nem por isso ele se esqueceu das obrigações: mandou buscar em São Paulo e Minas víveres para abastecer a ilustre comitiva, tratou da própria mudança do Paço, enquanto despejava os ocupantes da Casa da Moeda para acomodar os nobres hóspedes. O Tribunal de Relação (a Justiça) já estava instalado havia algum tempo na Casa da Câmara e Cadeia ao lado do Paço. Foram necessárias, entretanto, outras providências como unir por passadiços o Convento dos Carmelitas (os religiosos foram para a Casa dos Romeiros de Nossa Senhora da Glória) e a Casa da Câmara e Cadeia ao Paço. Até os presos tiveram que mudar e Joaquim Manoel de Macedo diz que não tiveram muito do que reclamar, porque foram transferidos para o Aljube (na Ladeira da Conceição), a reclusão que o bispo Antonio de Guadalupe mandara fazer para os eclesiásticos que mereciam punição por saírem da linha.
Que choque para a família real que deixara o Palácio de Queluz e encontrava deste lado do mundo um casarão simples e despojado! A rainha Dona Maria I e o príncipe regente lia não ficaram muito tempo no Paço. Logo um cortesão lhes ofereceu a casa na Quinta da Boa Vista, onde D. João se instalou enquanto dona Carlota preferiu Botafogo. A rainha ficou no Convento dos Carmelitas.
O Paço continuou a ser a sede do governo e teve a presença constante de D. João. Uma das primeiras providências do príncipe regente foi indicar a igreja de Nossa Senhora do Carmo para ser a Capela Real Portuguesa, que mais tarde seria a Sé. Ali foram realizadas as exéquias de D. Maria I (1777-1816) e a sagração de novo rei de Portugal, D. João VI (1767-1826).
Dessa forma, o modesto Paço tornou-se sede do governo português, ganhou sala do trono e outra para a cerimônia do beija mão. Em abril de 1821, D. João VI retornou a Portugal deixando no Brasil como regente o filho D. Pedro – que meses depois, ali no Paço, proferiu o discurso que marcou o futuro da nação: "Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto! Digam ao povo que fico”. Ficou, deu a independência ao Brasil e continuou no mesmo endereço que desde então se tornou o Paço Imperial.

        No Paço Imperial, funciona, atualmente, um Centro Cultural que promove exposições de arte, mantém a Biblioteca Paulo Santos, livraria e loja. Entrada gratuita.
Vista lateral do Paço Imperial.


quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

ROBERTO SIMONSEN

O professor Luiz Felipe Bruzzi Curi lançará no próximo dia 26 de fevereiro às 14 horas o livro “Entre a história e a economia: o pensamento econômico de Roberto Simonsen”, Editora Alameda. O evento será na sala Delfim Netto da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA).  A obra é o resultado da dissertação de mestrado do professor Curi, que teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) para a pesquisa e publicação do livro.
O empresário, economista e historiador santista Roberto Simonsen (1889-1948) também foi professor na Escola Livre de Sociologia e Política, em São Paulo. Roberto Cochrane Simonsen nasceu no Rio de Janeiro, mas sua família era de Santos, onde foi criado. Ele estudou no Colégio Tarquínio Silva de onde saiu para frequentar o curso secundário no Colégio Anglo-Brasileiro em São Paulo. Aos 15 anos matriculou-se na Escola Politécnica de São Paulo, formando-se em engenharia civil aos 21 anos.
O diploma obtido com distinção dava a Simonsen o direito à escolha de um cargo público, mas ele recusou os dois que lhe foram oferecidos, preferindo ir trabalhar como engenheiro da Southern Brazil Railway, onde permaneceu de 1909 a 1910. Entre 1911 e 1912, trabalhou na Prefeitura de Santos como diretor geral e, posteriormente, como engenheiro-chefe da comissão de Melhoramentos do Município de Santos. Deixou a Prefeitura para fundar com amigos a Companhia Construtora de Santos, que dirigiu até 1940. A empresa tinha concepção avançada para uma época em que as construções residenciais eram atribuição de empreiteiras. A empresa de Simonsen reformava e construía casas, simples ou de luxo, erguia vilas operárias, armazéns, teatros, matadouro, frigorífico, igrejas, campos de esportes, bancos entre muitas outras coisas.
A Bolsa de Café de Santos, inaugurada em 1922, é a sua obra-prima e orgulho da cidade; entretanto, o assunto do livro de Bruzzi, que foi orientado pelo professor Alexandre Saes, é a visão de Simonsen, um defensor do planejamento e incentivo à industrialização pelo Estado.  
É no período em que a industrialização do Brasil começa a se intensificar (entre 1920 e 1940) que Simonsen desenvolve suas ideias econômicas. “Avanços nas indústrias de transformação, como a têxtil e a metalúrgica, levaram
gradativamente a uma defesa radical da industrialização para aumentar a diversidade produtiva e reduzir a dependência das receitas da produção de café”, de acordo com o pesquisador.

Fonte: Agência USP de Notícias.
FEA/USP: Av. Prof. Luciano Gualberto, 908, Cidade Universitária, São Paulo.  


quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

RIO, 2016.
        Escolho o escritor Joaquim Manoel de Macedo (1820-1882) para me guiar pelo Rio de Janeiro de 2015. Enfrento alguns problemas de nomenclatura das ruas e de identificação dos locais ocupados por prédios desaparecidos por questões políticas e urbanísticas, mas à medida que ele narra os fatos, tento reconstruir essa parte da cidade que desapareceu.
Começo pelo Paço (Praça XV), que só foi construído 118 anos depois da fundação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.  E – conta Manoel de Macedo – até o fim do século XVII os governadores da Capitania viviam onde queriam ou podiam, com exceção do primeiro, Salvador Correa de Sá, que teve de construir seu abrigo no morro do Castelo. Em 1698, o rei de Portugal mandou comprar uma casa da Rua Direita (1º de Março) para residência do governador do Rio. Em 1733, o conde de Bobadela, Gomes Freire de Andrade, solicitou ao rei D. João V licença para a construção de uma casa de governo. O local escolhido foi o Largo do Polé em frente à praia de Nossa Senhora do Ó e a obra começou apenas em 1738. (Hoje é a Praça XV.) Embora o escritor não explique, descubro no dicionário que polé é a roldana usada para um tipo de suplício infligido aos condenados. O projeto é do engenheiro militar português José Fernandes Pinto Alboim.
No princípio, o prédio tinha apenas um andar com a face principal voltada para a praia; a face norte abria-se para o chafariz; os fundos davam para o Convento dos Carmelitas, enquanto a parte sul ficava de frente para a Casa da Câmara e Cadeia, “que é hoje a Câmara dos Deputados”, como explica o cronista. (A Casa da Câmara e Cadeia, onde Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, esteve preso, foi derrubada no início do século XX e, em seu lugar, erguido o Palácio Tiradentes – sede do Parlamento e atual Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.)
O conde de Rezende, almirante José Luís de Castro, quinto vice-rei do Brasil, chegou ao Rio em 1790 e mandou construir o segundo andar do Paço. Com a obra concluída o palácio (um nome enganador) tinha 125 janelas! E ao admirar o belo prédio colonial que domina a Praça XV imagino a luminosidade e o frescor dos salões naqueles tempos; hoje, quase todas as janelas estão cerradas e calor intenso que reverbera na Praça fica banido do casarão pelo forte ar condicionado.
Meu guia explica que a Justiça e a Fazenda dividiam o mesmo teto com governadores e vice-reis. “Os vice-reis ocupavam mais de meio da galeria superior, além do segundo andar, para o lado da praça. Para o mesmo lado, todo resto da casa até ao canto fronteiro ao convento do Carmo servia de assento ao tribunal da relação. No pavimento inferior e sob esses domínios da relação ficava a fábrica moedal (...) e o quarto do canto que olha por um lado para a Casa da Câmara e por outro para o Convento dos Carmelitas, era habitado pelo provedor da Moeda.”
(Continua.)

O Paço Imperial. Foto: Hilda Araújo.

Fonte: ‘Um passeio pela cidade do Rio de Janeiro”, coletânea de crônicas de Joaquim José de Macedo.


domingo, 14 de fevereiro de 2016

VERSÃO 2014

Hal instalou-se aqui em casa sem que eu soubesse e agora faz o que bem entende, exatamente como o seu homônimo, mas incomparável ao original infinitamente melhor. E, cá entre nós, eu vou vencê-lo. Estava ligado à TV, mas resolveu desconectar o som por conta própria, mais tarde ele decidiu redistribuir meus arquivos em nova pasta sem que eu desconfiasse e depois de procurar muito encontrei todos na pasta de Música; quando quis me desfazer de algum material excedente ele se pôs a tirar inúmeras cópias, enlouquecendo-me. Pedi ajuda profissional e Hal mostrou toda sua teimosia, mas, aparentemente, regenerou-se. Por dois dias. Trata-se do meu computador. Não se preocupem porque ele não tem vírus, apenas resolveu fazer o que bem entende. Da primeira vez apenas tirou o som do aparelho e o técnico levou duas horas até conseguir dobrá-lo. Agora, desligou-se totalmente da TV. Estou em dúvida: chamar o técnico para refazer a conexão ou lançá-lo pelos ares. 

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

MAU HUMOR
Meus amigos santistas estão aborrecidos com a história de Santos mostrada na Sapucaí neste carnaval. Não sei como funciona o critério das homenagens prestadas pelas escolas de samba a personalidades ou como elas escolhem o tema do ano. Neste caso, Santos foi escolhida para ser homenageada pelo carnavalesco Fábio Ricardo porque o pai dele foi trabalhador do porto de Santos, conforme reportagem de “A Tribuna”. Não assisto aos desfiles e creio que a população da cidade tenha desenvolvido expectativa muito grande com o evento, daí a decepção proporcional com o resultado. Entretanto, é preciso lembrar que se trata de Carnaval – uma festa popular onde o princípio é a inversão da ordem das coisas, portanto, compromissos com a História não devem pesar. A escola não é de ensino formal, apesar do “acadêmicos” do título da agremiação carioca. Alguém acredita que todos os outros temas abordados no sambódromo sejam fidedignos à História? O eterno Sérgio Porto que o diga!
Creio que não é possível contar a história inteira da cidade no espaço de tempo dado às agremiações. Pelo relato do repórter José Cláudio Pimentel está tudo lá: Brás Cubas e a fundação do porto e da Santa Casa, os piratas, a fonte do Itororó, a padroeira da cidade, o desenvolvimento do porto, José Bonifácio, a luta abolicionista, a estrada de ferro, o bonde, o café e o comércio; o esporte na cidade, o Santos Futebol Clube, Pelé, Neymar e até a primeira miss Brasil. Há, ainda segundo o jornalista Pimentel, referências ao Aquário e Orquidário. Faltou o quê? Nem o cheiro do café pelo que leio – uma ideia interessante.
O essencial estava lá. Se bem ou mal desenvolvido o enredo, isso é outra coisa. Faltaram, como bem lembrou alguém, artistas como Leny Eversong, Lolita Rodrigues, Plínio Marques, Betty Mendes, Ney Latorraca, Nuno Leal Maia e Gilberto Mendes entre outros. Mas levaram a brasília amarela dos “Mamonas assassinas” por causa de uma musiquinha de péssimo gosto. Horror dos horrores!
Vale dizer que Brás Cubas nunca foi cavaleiro da Casa Real Portuguesa. A marquesa não nasceu em Santos nem passeou por lá. A menção a R. Carlos é válida pela música “As curvas da estrada de Santos”, mas as mencionadas “corridas” devem ter sido as primeiras viagens entre Santos e São Paulo de automóvel, pois de outras não se tem notícia; lembraram do remo (introduzido na cidade pelos ingleses), mas esqueceram do tamboréu inventado nas praias santistas.
No final, Acadêmicos do Grande Rio classificou-se em sétimo lugar. No quesito samba-enredo, ficou em quarto lugar com a composição “Fui no Itororó beber água, não achei. Mas achei a bela Santos e por ela me apaixonei".  
Como já disse um velho folião “quem sai na chuva é para se queimar”.
                                          
Andre Derain (1880-1954): "Arlequim e Pierrô".

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

CARNAVAL EM SANTOS



  
 Desde pequenininha não gosto de carnaval como atesta a havaiana em pose típica da Foto Moderna (Praça José Bonifácio, Santos). De quando é a foto? Digamos que o sucesso do Carnaval daquele ano foi "Chiquita Bacana".


Desfiles e bailes “momísticos”, só a trabalho. Muitas décadas depois alguém registrou o encontro dos jornalistas amigos que amanheceram na Quarta-feira de Cinzas nas imediações da Praça da Independência, em Santos. Eu ainda fui para a redação escrever a matéria sobre a última noite da festança. Provavelmente, 1986.
TERÇA-FEIRA GORDA



“O fluminense, na terça-feira gorda, anda, corre, pula, fala, grita, canta, dança e agita-se por todo um ano. Faz a sua provisão de pândega, e vai para casa esperar resignadamente pelo próximo carnaval, rolando, enquanto descansa, a pesada pedra de Sísifo  que se chama  vida prática.” Arthur de Azevedo (1855-1908). 

É hoje só! 

Pierrô e Colombina, de Picasso, 1900.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

CARNAVAL E ARTE



Pierrete, obra de Di Cavalcanti, 1924,




Formosa.
(Nássara – J. Rui)

Ó mulher o teu amor 
Não é coisa de durar 
Hoje é meu, mas amanhã 
Eu não sei de quem será 

Foi Deus quem te fez formosa 
Formosa, oi, formosa 
Porém este mundo te tornou 
Presunçosa, presunçosa 

A saudade de um amor 
No meu peito quis entrar 
O amor já foi-se embora 
E a saudade quis ficar.


Marcha do Carnaval de 1933, gravada por Francisco Alves e Mário Reis. 




domingo, 7 de fevereiro de 2016

CARNAVAL, FESTA DE TODOS.

"Games during the carnival at Rio de Janeiro", de Augustus Earle*, 1822.


Charge de Angelo Agostini retrata o entrudo na Rua do Ouvidor (RJ) em 1884**.


“O Imperador mandou cartel de desafio a várias famílias e na ocasião oportuna fez sair as forças imperiais, fartamente suprida de munição. S. M. rompeu fogo nutrido contra as sacadas, recebendo e resistindo galhardamente e mesmo retribuindo as abóbadas de projectis arremessados de todos os lados. A batalha foi feroz e mortífera. As bisnagas espirravam água perfumada sobre quem passava; os ovos e limões de cheiro voavam em nuvens, e a cada tiro certeiro, correspondiam gargalhadas homéricas.” Notícia sobre o entusiasmo de D. Pedro II e família no Carnaval de 1882 em Petrópolis, publicada em “The Anglo Brazilian Times”. (Fonte: Leonardo Affonso de Miranda Pereira)



*O pintor e desenhista Augustus Earle (1793-1838) esteve duas vezes no Brasil, registrando cenas do cotidiano, costumes e paisagens do país. A aquarela “Brincadeiras no carnaval do Rio de Janeiro” registra o entrudo em família.

**  Publicada na Revista Ilustrada de 29 de fevereiro de 1884, 
DOMINGO GORDO


Carnaval, Portinari, 1960.

“O Carnaval no Rio tem aspectos especialíssimos. No domingo gordo passei todo o dia pela cidade. Às três horas da tarde todas as mulheres brasileiras põem-se à porta ou às janelas de suas casas ou então nas sacadas a atirar a todos os senhores transeuntes bombas de cera de todas as cores, cheias d’água e aqui chamados ‘limons’”. Carta de um francês para a mãe datada de 5 de fevereiro de 1849. (Fonte: Leonardo Affonso de Miranda Pereira)

sábado, 6 de fevereiro de 2016

CARNAVAL E ARTE

 Palhaço, de Cândido Portinari, 1967.

“Eu bailo em poemas, multicolorido! Palhaço! Mago! Louco! Juiz! Criancinha! Sou dançarino brasileiro! Sou dançarino e danço!” (Mario de Andrade, “Carnaval Carioca”, 1923.)

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

CARNAVAL E ARTE


Di Cavalcanti: Carnaval no Morro, 1963.

brasil

O Zé Pereira chegou de caravela
E preguntou pro guarani da mata virgem
— Sois cristão?
— Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte
Teterê Tetê Quizá Quizá Quecê!
Lá longe a onça resmungava Uu! ua! uu!
O negro zonzo saído da fornalha
Tomou a palavra e respondeu
— Sim pela graça de Deus
Canhém Babá Canhém Babá Cum Cum!
E fizeram o Carnaval.


Oswald de Andrade.
Poema da primeira fase do Modernismo e trata da formação étnica brasileira. O título é mesmo em letra minúscula. 

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016


CARNAVAL E ARTE

                               Baile à fantasia (1913). Tela de Rodolfo Chambelland (1879-1967)*.

 Baile no Municipal

O que é que eu vou fazer?
Sem você, no imenso carnaval,
O que é que eu vou fazer?
Sem você, no municipal,
Como é que eu vou sorrir?
Se estou chorando, com ódio de você,
O que é que eu vou fazer?
Se por acaso, você aparecer.

Eu vou pular, eu vou cantar de alegria. Ei !
Eu vou beber, pra afastar a nostalgia.Ei !
Eu vou mostrar a todo mundo que lhe adoro. Ei !
Eu vou... Eu vou... O que é que eu vou?
Se você não aparecer.

Eu vou pular, eu vou cantar de alegria! Ei!
Eu vou beber, pra afastar a nostalgia. Ei!
Eu vou mostrar a todo mundo que lhe adoro. Ei!
Eu vou... Eu vou... O que é que eu vou?

Se você não aparecer...

Marchinha de Lourival Faissal, gravação de Eliana Pittman, 1975.

*Rodolfo Chambelland, pintor carioca, responsável por pinturas no Palácio Tiradentes e Câmara Municipal - Palácio Pedro Ernesto entre outros prédios públicos do Rio de Janeiro.

CARNAVAL E ARTE


Cenas de Carnaval. Jean-Baptiste Debret ((1768-1848).

Viva o Zé Pereira
Que a ninguém faz mal
Viva a pagodeira
Nos dias de Carnaval
Viva, viva, viva
Viva o Zé Pereira
E viva o Carnaval
Zé Pereira

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

MAPA DO TESOURO

O Museu de Imagem e do Som do Rio de Janeiro (MIS) mantém a Coleção Rádio Nacional, que reúne parte do acervo histórico da emissora que foi líder absoluta de audiência entre 1940 e 1950, considerada a época de ouro do rádio no Brasil. Fazem parte da coleção programas de auditório, como os de César de Alencar e Manoel Barcelos, programas de calouros e musicais com os ídolos da época. O tesouro guarda radionovelas famosas, inclusive Em Busca da Felicidade”, original do cubano Leandro Blanco, com adaptação de Gilberto Martins. Foi a primeira a ser transmitida pela emissora, durou mais de dois anos e faziam parte do elenco Lourdes Meyer e Brandão Filho. 
Lá se encontram também as transmissões do “Repórter ESSO, a testemunha ocular da história” pelo locutor Heron Domingues (1924-1974). Não faltam sequer edições extraordinárias. A Coleção compõe-se de milhares de discos, roteiros de programas escritos por importantes nomes do rádio brasileiro como Almirante, Renato Murce, Paulo Tapajós, Fernando Lobo e Max Nunes, além de partituras de grandes orquestras assinadas por maestros e arranjadores entre os quais Guerra Peixe, Lírio Panicali, Léo Peracchi e Moacyr Santos.

         O Museu tem dois endereços: Rua Visconde de Maranguape 15, Lapa; fone: 21-2332-9509 e Praça Luiz Souza Dantas, 1 (Praça XV), fone: 21- 2332-9068

Saguão do edifício onde funcionou a Rádio Nacional.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

RÁDIO NACIONAL
Na amplidão da Praça Mauá, procurei saber onde era o prédio da Rádio Nacional. Abordo um senhor, que nunca ouviu falar da Radio Nacional. Fico decepcionada. A segunda pessoa a que pergunto não me anima também; entretanto, não sou de desistir com facilidade. Caminhei sob o sol escaldante em busca de uma pista. Vejo um carteiro. “Quem sabe?” – penso, mas ele entra em um prédio. Não vacilo em segui-lo, mas vejo a placa escondida e não é que de repente estou no primeiro arranha-céu do Rio de Janeiro, sede do jornal “A Noite” e da Rádio Nacional? Na recepção (do quê?), um funcionário que parece ter sido esquecido ali, informa que está vazio; serve de depósito para uma empresa enquanto se aguarda o destino desse lugar por onde circularam os maiores nomes da cultura popular brasileira da primeira metade do século passado. Imagino a constelação de astros entrando saindo por aquele belo saguão, agora abandonado. O burburinho dos fãs em direção ao auditório no último andar... Peço para fotografar.
Até 1930 o Brasil tinha vinte estações de radio. A maior parte em São Paulo e Rio de Janeiro; entretanto, a história da radiodifusão no Brasil talvez possa ser dividida em antes e depois da Rádio Nacional. O jornal “A Noite”, fundado por Irineu Marinho e Joaquim Marques da Silva em 1911, se tornou o mais popular do Distrito Federal, contudo Marinho afastou-se em 1925, quando Geraldo Rocha assumiu a direção da empresa e decidiu investir na construção do prédio de 22 andares (102m de altura) na Praça Mauá. Os autores do projeto foram os arquitetos Joseph Gire (francês) e Elisário Bahiana e pela primeira vez usou-se no
Brasil o concreto armado.  O engenheiro Emilio Henrique Baumgart fez os cálculos estruturais. Quando a obra terminou, o Distrito Federal tinha o edifício mais alto da América Latina, situação que durou até a inauguração do Edifício Martinelli em São Paulo em 1934.
Os problemas financeiros começaram em 1931 e a empresa foi transferida para a Companhia Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande do capitalista norte-americano Percival Farqhuar (1864-1953), envolvido em vários empreendimentos no Brasil (entre eles a construção da Ferrovia Madeira-Mamoré). Em 1933, o novo dono de “A Noite” formou a Sociedade Civil Brasileira Rádio Nacional.
 A Rádio Nacional foi inaugurada solenemente em 12 de setembro de 1936, logo após a transmissão de “A Hora do Brasil”, quando o locutor Celso Guimarães (1907-1973) anunciou: “Alô, alô, Brasil. Aqui fala a Rádio Nacional do Rio de Janeiro”.
 E o Brasil se ligou na Rádio Nacional. A emissora funcionava no 22º andar do Edifício de “A Noite” com cerca de 30 pessoas, divididas entre a seção artística e a administrativa. Se a Rádio Mayrink Veiga contava com Francisco Alves, Carmen e Aurora Miranda entre outras grandes estrelas, a Nacional tinha novos talentos: Sonia Carvalho, Elisa Coelho, Silvinha Melo, Orlando Silva e Nuno Roland. Marília Batista e Aracy de Almeida eram as sambistas da casa. Estavam por lá também Haroldo Barbosa, Radamés Gnattali, Lamartine Babo e Henrique Foréis Domingues, o Almirante. A Nacional consolidou-se, embora em 1940 a Mayrink ainda fosse a campeã de audiência. (foto: H.Araújo)

No cenário renovado, o prédio de "A Noite" à direita.