RÁDIO NACIONAL
Na
amplidão da Praça Mauá, procurei saber onde era o prédio da Rádio Nacional. Abordo
um senhor, que nunca ouviu falar da Radio Nacional. Fico decepcionada. A
segunda pessoa a que pergunto não me anima também; entretanto, não sou de
desistir com facilidade. Caminhei sob o sol escaldante em busca de uma pista.
Vejo um carteiro. “Quem sabe?” – penso, mas ele entra em um prédio. Não vacilo
em segui-lo, mas vejo a placa escondida e não é que de repente estou no
primeiro arranha-céu do Rio de Janeiro, sede do jornal “A Noite” e da Rádio
Nacional? Na recepção (do quê?), um funcionário que parece ter sido esquecido
ali, informa que está vazio; serve de depósito para uma empresa enquanto se
aguarda o destino desse lugar por onde circularam os maiores nomes da cultura
popular brasileira da primeira metade do século passado. Imagino a constelação
de astros entrando saindo por aquele belo saguão, agora abandonado. O
burburinho dos fãs em direção ao auditório no último andar... Peço para
fotografar.
Até
1930 o Brasil tinha vinte estações de radio. A maior parte em São Paulo e Rio
de Janeiro; entretanto, a história da radiodifusão no Brasil talvez possa ser
dividida em antes e depois da Rádio Nacional. O jornal “A Noite”, fundado
por Irineu Marinho e Joaquim Marques da Silva em 1911, se tornou o mais popular
do Distrito Federal, contudo Marinho afastou-se em 1925, quando Geraldo Rocha
assumiu a direção da empresa e decidiu investir na construção do prédio de 22
andares (102m de altura) na Praça Mauá. Os autores do projeto foram os
arquitetos Joseph Gire (francês) e Elisário Bahiana e pela primeira vez usou-se
no
Brasil o concreto armado. O engenheiro Emilio Henrique Baumgart fez os cálculos estruturais. Quando a obra terminou, o Distrito Federal tinha o edifício mais alto da América Latina, situação que durou até a inauguração do Edifício Martinelli em São Paulo em 1934.
Brasil o concreto armado. O engenheiro Emilio Henrique Baumgart fez os cálculos estruturais. Quando a obra terminou, o Distrito Federal tinha o edifício mais alto da América Latina, situação que durou até a inauguração do Edifício Martinelli em São Paulo em 1934.
Os
problemas financeiros começaram em 1931 e a empresa foi transferida para a
Companhia Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande do capitalista norte-americano
Percival Farqhuar (1864-1953), envolvido em vários empreendimentos no Brasil
(entre eles a construção da Ferrovia Madeira-Mamoré). Em 1933, o novo dono
de “A Noite” formou a Sociedade Civil Brasileira Rádio Nacional.
A Rádio
Nacional foi inaugurada solenemente em 12 de setembro de 1936, logo após a
transmissão de “A Hora do Brasil”, quando o locutor Celso Guimarães (1907-1973)
anunciou: “Alô, alô, Brasil. Aqui fala a Rádio Nacional do Rio de Janeiro”.
E
o Brasil se ligou na Rádio Nacional. A emissora funcionava no 22º andar do
Edifício de “A Noite” com cerca de 30 pessoas, divididas entre a seção
artística e a administrativa. Se a Rádio Mayrink Veiga contava com Francisco
Alves, Carmen e Aurora Miranda entre outras grandes estrelas, a Nacional tinha
novos talentos: Sonia Carvalho, Elisa Coelho, Silvinha Melo, Orlando Silva e
Nuno Roland. Marília Batista e Aracy de Almeida eram as sambistas da casa.
Estavam por lá também Haroldo Barbosa, Radamés Gnattali, Lamartine Babo e
Henrique Foréis Domingues, o Almirante. A
Nacional consolidou-se, embora em 1940 a Mayrink ainda fosse a campeã de
audiência. (foto: H.Araújo)
No cenário renovado, o prédio de "A Noite" à direita.
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