segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

RÁDIO NACIONAL
Na amplidão da Praça Mauá, procurei saber onde era o prédio da Rádio Nacional. Abordo um senhor, que nunca ouviu falar da Radio Nacional. Fico decepcionada. A segunda pessoa a que pergunto não me anima também; entretanto, não sou de desistir com facilidade. Caminhei sob o sol escaldante em busca de uma pista. Vejo um carteiro. “Quem sabe?” – penso, mas ele entra em um prédio. Não vacilo em segui-lo, mas vejo a placa escondida e não é que de repente estou no primeiro arranha-céu do Rio de Janeiro, sede do jornal “A Noite” e da Rádio Nacional? Na recepção (do quê?), um funcionário que parece ter sido esquecido ali, informa que está vazio; serve de depósito para uma empresa enquanto se aguarda o destino desse lugar por onde circularam os maiores nomes da cultura popular brasileira da primeira metade do século passado. Imagino a constelação de astros entrando saindo por aquele belo saguão, agora abandonado. O burburinho dos fãs em direção ao auditório no último andar... Peço para fotografar.
Até 1930 o Brasil tinha vinte estações de radio. A maior parte em São Paulo e Rio de Janeiro; entretanto, a história da radiodifusão no Brasil talvez possa ser dividida em antes e depois da Rádio Nacional. O jornal “A Noite”, fundado por Irineu Marinho e Joaquim Marques da Silva em 1911, se tornou o mais popular do Distrito Federal, contudo Marinho afastou-se em 1925, quando Geraldo Rocha assumiu a direção da empresa e decidiu investir na construção do prédio de 22 andares (102m de altura) na Praça Mauá. Os autores do projeto foram os arquitetos Joseph Gire (francês) e Elisário Bahiana e pela primeira vez usou-se no
Brasil o concreto armado.  O engenheiro Emilio Henrique Baumgart fez os cálculos estruturais. Quando a obra terminou, o Distrito Federal tinha o edifício mais alto da América Latina, situação que durou até a inauguração do Edifício Martinelli em São Paulo em 1934.
Os problemas financeiros começaram em 1931 e a empresa foi transferida para a Companhia Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande do capitalista norte-americano Percival Farqhuar (1864-1953), envolvido em vários empreendimentos no Brasil (entre eles a construção da Ferrovia Madeira-Mamoré). Em 1933, o novo dono de “A Noite” formou a Sociedade Civil Brasileira Rádio Nacional.
 A Rádio Nacional foi inaugurada solenemente em 12 de setembro de 1936, logo após a transmissão de “A Hora do Brasil”, quando o locutor Celso Guimarães (1907-1973) anunciou: “Alô, alô, Brasil. Aqui fala a Rádio Nacional do Rio de Janeiro”.
 E o Brasil se ligou na Rádio Nacional. A emissora funcionava no 22º andar do Edifício de “A Noite” com cerca de 30 pessoas, divididas entre a seção artística e a administrativa. Se a Rádio Mayrink Veiga contava com Francisco Alves, Carmen e Aurora Miranda entre outras grandes estrelas, a Nacional tinha novos talentos: Sonia Carvalho, Elisa Coelho, Silvinha Melo, Orlando Silva e Nuno Roland. Marília Batista e Aracy de Almeida eram as sambistas da casa. Estavam por lá também Haroldo Barbosa, Radamés Gnattali, Lamartine Babo e Henrique Foréis Domingues, o Almirante. A Nacional consolidou-se, embora em 1940 a Mayrink ainda fosse a campeã de audiência. (foto: H.Araújo)

No cenário renovado, o prédio de "A Noite" à direita.

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