sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

RIO, 2016. (II)

  Pode-se dizer que naquele dia 14 de janeiro de 1808 o vento trouxe a notícia ou que a notícia chegou pelo mar. Tanto faz. As novas de todo jeito causaram um grande alvoroço no Paço, onde pontificava o conde dos Arcos, Marcos de Noronha e Brito (1771-1828), vice-rei do Brasil. O príncipe português estava chegando ao Rio de Janeiro, trazia a família real e parte da corte! O portador da espantosa notícia viera no brigue de guerra com o sugestivo nome de “Voador”.
Com a novidade o conde deixava de ser vice-rei, mas nem por isso ele se esqueceu das obrigações: mandou buscar em São Paulo e Minas víveres para abastecer a ilustre comitiva, tratou da própria mudança do Paço, enquanto despejava os ocupantes da Casa da Moeda para acomodar os nobres hóspedes. O Tribunal de Relação (a Justiça) já estava instalado havia algum tempo na Casa da Câmara e Cadeia ao lado do Paço. Foram necessárias, entretanto, outras providências como unir por passadiços o Convento dos Carmelitas (os religiosos foram para a Casa dos Romeiros de Nossa Senhora da Glória) e a Casa da Câmara e Cadeia ao Paço. Até os presos tiveram que mudar e Joaquim Manoel de Macedo diz que não tiveram muito do que reclamar, porque foram transferidos para o Aljube (na Ladeira da Conceição), a reclusão que o bispo Antonio de Guadalupe mandara fazer para os eclesiásticos que mereciam punição por saírem da linha.
Que choque para a família real que deixara o Palácio de Queluz e encontrava deste lado do mundo um casarão simples e despojado! A rainha Dona Maria I e o príncipe regente lia não ficaram muito tempo no Paço. Logo um cortesão lhes ofereceu a casa na Quinta da Boa Vista, onde D. João se instalou enquanto dona Carlota preferiu Botafogo. A rainha ficou no Convento dos Carmelitas.
O Paço continuou a ser a sede do governo e teve a presença constante de D. João. Uma das primeiras providências do príncipe regente foi indicar a igreja de Nossa Senhora do Carmo para ser a Capela Real Portuguesa, que mais tarde seria a Sé. Ali foram realizadas as exéquias de D. Maria I (1777-1816) e a sagração de novo rei de Portugal, D. João VI (1767-1826).
Dessa forma, o modesto Paço tornou-se sede do governo português, ganhou sala do trono e outra para a cerimônia do beija mão. Em abril de 1821, D. João VI retornou a Portugal deixando no Brasil como regente o filho D. Pedro – que meses depois, ali no Paço, proferiu o discurso que marcou o futuro da nação: "Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto! Digam ao povo que fico”. Ficou, deu a independência ao Brasil e continuou no mesmo endereço que desde então se tornou o Paço Imperial.

        No Paço Imperial, funciona, atualmente, um Centro Cultural que promove exposições de arte, mantém a Biblioteca Paulo Santos, livraria e loja. Entrada gratuita.
Vista lateral do Paço Imperial.


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