domingo, 28 de novembro de 2021

CENAS DO COTIDIANO

Primavera chegando ao fim. Manhã de sol. Um ponto de ônibus em frente a um prédio de apartamentos. Algumas pessoas aguardam entediadas. O funcionário do condomínio lava a calçada. A água jorra da mangueira estendida ao longo do passeio. Duas crianças, talvez cinco ou seis anos, se entretêm espiando os jardins quando veem o esguicho de água. Parece novidade. Ombro a ombro observam, cochicham, riem e se abaixam para sentir a força da água. Gostam da experiência. Então colocam os pés junto ao esguicho, saltam e correm ao redor da mangueira. Livram-se das havaianas. O rapaz volta com o balde e incentiva a brincadeira e mostra para as crianças o borbulhar da água enchendo o recipiente. Risadas de descobertas. Cochichos. O rapaz leva o balde cheio, mas deixa a mangueira no chão. Uma das crianças se afasta e vê uma poça. Salta com os dois pés. Os respingos o envolvem e o irmão se junta à nova experiência. Muitas risadas. Caem sentados sobre o que restou da poça. Voltam ao esguicho da mangueira. Os pais conversam tranquilamente ‒ nada de recriminações ou proibições. 

“Children-at-the-basin” (1886), obra de Berthe Morisot (1841-1895). 

Na entrada da livraria, um belo cachorro malhado observa a vitrine enquanto a dona olha o entorno. Não pude deixar de imaginar se ele procurava “Marley e eu” ou a biografia do Rin-Tin-Tin (gostei muito). Bobagem, claro. Entrei para pegar os livros encomendados, mas o vendedor não os conseguia localizar. Enquanto procurava, eu passeava pela loja. Já nem me lembrava do cachorro quando o vi entre as estantes, seguido pela dona indiferente ao ambiente. Nunca havia visto cães em livrarias, mas... O vendedor conferenciava com um colega sobre a possível localização dos livros. O rapaz até me indicou um lançamento de autor russo que me era completamente desconhecido. Ele havia lido. “Gostou?” E ele: “É russo”. Ri e dispensei. Numa última tentativa de achar os fugitivos, me vejo ao lado do cachorro que agora farejava uma escada de acesso a um porão que eu nunca vira. Então pergunto à acompanhante qual a raça dele. Ela responde que é um vira-lata e já vai explicando que ele procura o marido dela e por isso está tão ansioso. Elogio a beleza dele e me despeço dos vendedores, que ainda não acharam os livros encomendados, mas saio com dois outros que me interessaram muito. (À noite recebi mensagem da livraria informando que os fujões foram localizados e estão à minha disposição.)

"Tama, the Japanese Dog", c. 1876, óleo sobre tela de Pierre-Auguste Renoir. Acervo:  The Clark Art Institute, Williamstown, MA.
 

Surpreendi o passarinho na sala. Ele se assustou, tentou sair, mas na pressa bateu no vidro da janela e, desesperado, começou a se debater. Quando cheguei perto para ajudar, ele foi para o chão e ficou paralisado ao pé da estante. Com jeito consegui pegá-lo e levá-lo para a janela onde o liberei. Para minha surpresa permaneceu na minha mão, me olhando até que voou para a sibipiruna, onde vive. Muito engraçadinho.

terça-feira, 23 de novembro de 2021

A CIDADE E O ARQUITETO AUTODIDATA

Semana passada fui ver a exposição da Chácara Lane sobre um profissional paulistano que deu o que falar na cidade: “Artacho Jurado, arquiteto?”. Quando se tratava de regulamentar a profissão de arquiteto, João Artacho Jurado (1907-1983) ousou interferir na paisagem paulistana com seus prédios diferentes que, se agradavam ao público, indignavam os arquitetos. Artacho era autodidata e profissionais da sua empresa assinavam seus projetos. Um bom exemplo dessa indignação é o artigo do arquiteto Eduardo Corona (1921) sobre o edifício Bretagne (Av. Higienópolis, 938), em que ele considera a obra uma “aberração arquitetônica”. Talvez a obra mais visível de Artacho Jurado em São Paulo seja o edifício “Viadutos” (1956), na Praça General Craveiro Lopes, 19, no Centro da cidade. O nome prima pela falta de falta de imaginação: o prédio fica na confluência dos viadutos Nove de Julho e Jacareí. 

        Artacho Jurado e o irmão Aurélio eram proprietários da Construtora e Imobiliária Monções, criada em 1946. Entre as obras da construtora destacam-se os edifícios Louvre (Av. São Luís, 192), Saint-Honoré (Av. Paulista, 1195) e o Cinderela (Rua Maranhão, 163). O empresário organizava feiras fora da Capital para vender seus projetos. Como comissário da Feira Comemorativa do I Centenário de Santos, ele fez o seu primeiro evento importante. A feira ocorreu de 4 de fevereiro a 24 de abril de 1939. Em Santos, ele construiu três prédios: Nosso Mar (Av. Afonso Celso de Paula Lima, 31), Parque Verde Mar (Av. Vicente de Carvalho, 6) e Enseada (Av. Bartolomeu de Gusmão, 180).

Edifício Viadutos, 1956. Foto: Cristiano Mascaro.

Edifício Parque Verde Mar, Santos, 1957. Foto: Tuca Vieira.

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

HITCHCOCK, SEMPRE BOM CINEMA.

Concluí as sessões de cinema dedicadas aos filmes de Hitchcock dos anos 1930 antes de deixar a Inglaterra para trabalhar nos Estados Unidos. Nesse período ele dirigiu: “Valsas de Viena” (1934), “Os 39 degraus” (1935), “Agente Secreto (1936)”, “A Dama Oculta” (1938), “A Estalagem maldita” (1939) e “Correspondente Estrangeiro” (1940). O melhor, em minha opinião, é a “Dama Oculta”. Na década de 1930, já havia prenúncios de guerra e a maioria dos filmes envolve espionagem e nem sempre o enredo é bom, mas sempre vale observar os efeitos especiais, o desempenho dos atores, a decoração do set e, como sempre, procurar o diretor em meio à multidão. Muito boa diversão.

      Na fase americana, o primeiro trabalho de Hitchcock teve um sucesso retumbante: ”Rebecca, a mulher inesquecível” (1940), filme com Laurence Olivier (1907-1989) e Joan Fontaine (1917-2013). Logo de saída levou o Oscar de Melhor filme, único na carreira do mestre do suspense. Não tenho vontade de rever o novelão.  Gostei demais de “Um barco e Nove destinos” (1944), “A Sombra de uma Dúvida” (1943), “Sabotador” (1942) e “Suspeita” (1941).

“Um barco e Nove destinos” cujo elenco não tem grandes estrelas de Hollywood é um filme que pode ser visto em qualquer época porque trata do comportamento humano, basicamente sobre o discurso e a ação das pessoas. A história se passa durante a II Guerra, quando um navio de passageiros é torpedeado por um submarino alemão e oito pessoas (americanos e ingleses) conseguem se salvar num bote salva-vidas, em que é acolhido um alemão ferido.

Outro filme excelente é “A Sombra de uma Dúvida”, com Joseph Cotten (1905-1994) e Theresa Wrigth (1918-2005). O roteiro foi baseado na história verdadeira de Earle Leonard Nelson, um serial killer dos anos 1920, conhecido como o assassino de viúvas alegres. Hitchcock afirmou várias vezes que este era seu filme favorito. Em síntese: uma adolescente entediada numa cidadezinha do interior, a notícia da chegada de um tio querido, a felicidade, a suspeita e o amadurecimento.

Para quem gosta de filmes românticos este reúne Cary Grant (1904-1986) e Joan Fontaine (1917-2013). O que poderia ser uma história medíocre, Hitchcock transformou em algo muito especial. E achei o final ainda melhor, porque o espectador pode escolher o que quiser. “Sabotador”, com Robert Cummings (1910-1990) e Priscila Lane (1915-1995) é outro filme que tem como pano de fundo a guerra na Europa e a ameaça de espiões em território americano, entretanto, o que não falta é ação ‒ suspeitas, fugas, perseguições, romance... Em 1942, Hitchcock já era bem moderno. (Foto: Alfred Hitchcock, 1955. Wikipedia.)




sábado, 20 de novembro de 2021

VAMOS DANÇAR

A fotografia e o cinema têm o poder de congelar momentos importantes da vida. A fotografia popularizou a possibilidade do retrato pessoal e daquelas pessoas importantes para nós, enquanto o cinema, que influenciou o comportamento de uma geração após a outra, nos proporciona muito mais que simples divertimento, sem contar que congela no tempo a juventude de grandes atores em momentos especiais. Os mais jovens, com os recursos da tecnologia, conseguem fazer montagens deliciosas como esta que me lembram das matinês de final de semana em Santos. Vamos dançar mantendo os cuidados necessários para esta época de pandemia. Máscaras  e álcool (nas mãos) sempre.


sexta-feira, 19 de novembro de 2021

UMA VIAGEM INESQUECÍVEL

 

 17/11/2021: Via Anchieta - 13h17.

Depois de quase dois anos sem ir a Santos, quarta-feira, de máscara e cheirando álcool, embarquei no ônibus de 10h35 da Cometa. Um dia lindo e quente. Poucos passageiros. Ninguém ao meu lado. E lá fomos nós cheios de planos. Já estávamos entrando na Anchieta, quando o trânsito começou a diminuir a velocidade até parar. Às vezes andava um pouquinho, tornava a parar. E o relógio marcou 11h30, meio-dia e só havíamos avançado uns poucos quilômetros.  Internet intermitente. Por volta de meio-dia e meia, um senhor foi falar com o motorista. Tinha compromisso em S. Vicente às 15 e passagem de volta as 17 na rodoviária de Santos. Qual a previsão? O motorista só sabia que tinha ocorrido um acidente e a rodovia estava fechada e tentou acalmá-lo. Situação estranha. Da minha janela observei a encosta ‒ Mata Atlântica, pés de bananeira em flor, uma ou outra borboleta (felizmente não podiam entrar); do outro lado, caminhões. Na verdade, caminhões à frente, ao lado e atrás. Fiz várias páginas de Sudoko. Lá pelas 15 horas, o passageiro voltou para conversar o motorista. Informou que havia cancelado o compromisso (?) e queria saber o que o motorista pretendia fazer. Olhei para a vizinha do outro lado e rimos. Fazer o quê? O passageiro explicava ao motorista que se perdesse o ônibus, não tinha dinheiro para ficar em Santos. “É só trocar a passagem para outro horário, porque não foi culpa sua o atraso”, explicou o motorista e o preocupado voltou para o lugar dele. E assim continuou nossa aventura até as 16h53 quando chegamos à rodoviária e o senhor desceu correndo para entrar no ônibus das 17 horas já na plataforma ao lado para voltar a São Paulo. Situação surrealista a dele. Mais do que a dos outros 20 passageiros. Foi o dia em que ir a Santos demorou tanto quanto ir para o Rio de Janeiro. Foi uma experiência interessante, que exigiu paciência de todos e sobre paciência a pandemia nos ensinou bastante. 


Via Anchieta: 13h51.


Via Anchieta: 14h27.


Via Anchieta: quase na Baixada - 16h30.

A interdição ocorreu porque “uma carreta com excesso de altura e sem autorização especial para circular pelo Sistema Anchieta-Imigrantes se chocou contra uma passarela localizada no km 57 da pista Norte da Via Anchieta, em Cubatão, durante as primeiras horas da manhã desta quarta-feira (17). O acidente não provocou feridos, nem queda da passarela. Por precaução, no entanto, a Ecovias interditou o local do acidente nos dois sentidos, para uma perícia técnica da estrutura, realizada por equipe especializada”. (G1)


terça-feira, 16 de novembro de 2021

SOM DE CRISTAL

Hoje, descendo a Rua Rego Freitas, me lembrei do “Som de Cristal”, gafieira famosa que por anos reuniu apreciadores de dança. Tentei localizar a casa em que a casa funcionou, mas não consegui. Olhei em torno e vi poucas pessoas, todas jovens; mas localizei um homem de cabelos brancos, sentado à porta de um prédio que levava jeito de ter sido cinema. Perguntei se ele conhecia a vizinhança e quis saber qual o endereço procurava. Falei do “Som de Cristal” e ele abriu o maior sorriso. Os olhos brilharam. “Ah! Era aqui mesmo. Fechou faz muito tempo. Era um lugar muito bom”. Expliquei que passava por lá quando ia ao Sindicato dos Jornalistas ali perto, mas não conseguia me lembrar do local da boate. “O sindicato é lá embaixo” ‒ disse apontando para o lado da Consolação. Conta que funciona um baile por ali, muito ruim. “Os tempos mudaram. As coisas pioraram muito. Faz parte” ‒ filosofou. Concordei, me despedi e o deixei com suas lembranças. 

    Em casa pesquisei na hemeroteca da Fundação Biblioteca Nacional e achei uma matéria de Osmar Freitas Jr. no JORNAL DA REPÚBLICA (1979). “Coroas, a postos” conclama o título de uma saborosa matéria de pé de página em que o repórter fala das casas noturnas da cidade: “Lugares onde damas e cavalheiros saracoteiam alegremente sem pensar na idade”. Os habitués? Segundo ele, “viúvas alegres e solteirões solitários”. Freitas Jr., porém, diz que o Som de Cristal teve o apelido de Sindicato das Empregadas Domésticas, “mas o que se comenta menos é alegria que reina ali, sempre com música ao vivo”. Das casas que o jornalista cita, acho que só o Clube dos Sargentos da PM, no Cambuci, ainda tem bailes às sextas-feiras. 

O PARQUE PRAÇA

 

Aproveitei a manhã de sol para ir conhecer o Parque “Bruno Covas” ou Augusta. Achei melhor ir de metrô e desci no Mackenzie/Higienópolis (ou vice-versa), porém, creio agora que a estação República seja mais adequada. Não resisti e no caminho fui ver a exposição “Artacho Jurado, arquiteto?”, na Chácara Lane; na Rua Caio Prado fotografei duas casas que escaparam da sanha imobiliária.

 Finalmente avistei o novo parque, que parece uma praça, apenas menos incrementada que o usual. Acho que até menor que a velha Praça da República (nem lembrada no dia de ontem) com seus lagos e pontes, esculturas graciosas (se os vândalos ainda não as descobriram) em meio a árvores e jardins. Nesse novo parque/praça crianças se divertiam nos brinquedos novos sob a supervisão de adultos; há bancos, espaço para bicicletas, leitura. Quem tiver rede em casa pode levar e tirar uma soneca à sombra das árvores, que fazem parte de um pequeno bosque, formado por dezenas de espécies nativas e exóticas, segundo a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, que também registrou 21 espécies de aves silvestres flanando por lá.


Ao sair os sinos do meio-dia me chamaram para uma visita à igreja da Consolação, onde entrei apenas uma vez para assistir a uma assembleia do sindicato dos jornalistas em 1979. Deixei as fotos para outro dia, pois a missa começava.

Enfim, hora do almoço.

O TRABALHO RECONHECIDO

 Mais que comemoração, este é o reconhecimento de um trabalho louvável que minha amiga Carmen Biancardi Mejias vem realizando ao  em Santos. A Associação de Pais, Amigos e Educadores de Autistas tem sede na rua Almeida de Moraes, 17 - Vila Matias, Santos - SP, 11015-450. Telefone (13) 3235-6985.


segunda-feira, 15 de novembro de 2021

SIMPLESMENTE DICK FARNEY

Cem anos de nascimento de Dick Farney, um artista completo: cantor, pianista e compositor, dono de uma voz privilegiada. Um repertório de muito bom gosto. Ouvi-lo é sempre um grande prazer. Era uma daquelas pessoas que emprestavam elegância por onde se apresentasse. Nasceu no Rio de Janeiro em 14 de novembro de 1921 e faleceu em São Paulo em 4 de agosto de 1987, mas chamava-se Farnésio Dutra e Silva.


domingo, 14 de novembro de 2021

CINEMA E PIPOCA

 

Dos três romances da escritora inglesa Daphne du Maurier (1907-1989) que Alfred Hitchcock adaptou para o cinema, “A estalagem maldita” é, em minha opinião, o filme mais fraquinho. Não por culpa do rei do mistério, mas pela fragilidade do enredo do livro lançado em 1936. As soluções para as situações de risco beiram a comédia não fosse a qualidade do elenco encabeçado por Charles Laughton (1899-1962), mesmo assim o filme agrada. Sem contar que entre personagens sujos, feios e malvados, brilha a beleza de Maureen O’Hara (1920-2015). Se alguém perguntar como essa atriz que estrelou clássicos norte-americanos, queridinha de John Ford, estava num filme britânico, vale lembrar que Maureen O’Hara era irlandesa de nascimento.

Hitchcock adaptou ainda da obra de du Maurier: “Rebecca, a mulher inesquecível” (1940), que levou o Oscar de melhor filme e melhor fotografia de 1941, e “Os pássaros” (1963).

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

VALSAS DE VIENA

Alfred Hitchcock (1899-1980) deixou a Inglaterra em 1939 para trabalhar nos Estados Unidos, portanto, ao contrário do que informa a Wikipedia, o filme “Valsas de Viena”, de 1934, não é americano. Aliás, quem escreveu a sinopse não assistiu ao filme, uma divertida comédia sem nenhum compromisso com fatos históricos ou biográficos. Músico de sucesso em Viena, Johann Strauss (1804-1849) não desejava que os filhos se tornassem músicos profissionais e queria que Johann Strauss Jr. (1825-1899) fosse banqueiro.


O jovem Strauss aprendeu violino escondido e só pôde se dedicar à música quando o pai constituiu nova família com a amante. Johann Strauss Jr. ou Johann Strauss II superou o sucesso do pai e seu talento foi reconhecido mundialmente. Ele compôs principalmente músicas para dança (especialmente valsas e polcas) e operetas. Uma das suas obras mais famosas é a valsa “Danúbio Azul”, que foi escrita por encomenda da Associação Masculina de Canto Coral de Viena.

A estreia aconteceu em um baile de Carnaval em Viena no dia 15 de fevereiro de 1867 e a orquestra foi conduzida por Rudolf Weinwurm, regente da Associação porque Strauss estava atendendo a um compromisso na Corte Imperial. Diz-se que o título foi inspirado em poema do poeta húngaro Karl Isidor Beck (1817-1879); a letra de autoria de Joseph Weyl não agradou e logo foi esquecida. A valsa não apaixonou apenas o povo. Richard Wagner se encantou com a introdução e Johannes Brahms lamentou- se num guardanapo, onde rabiscou um comentário sobre a música: "Infelizmente, não é minha”.

        “Valsas vienenses” tem boa música, muitas trapalhadas, romances e principalmente muita imaginação. Entre os roteiristas está Reville, a sra. Hitchcock desde 1926. Elenco encabeçado por Jessie Mattews e Esmond Knight, ambos muito populares no período pré-II Guerra na Inglaterra. Ela fez também fez sucesso nos Estados Unidos. 




terça-feira, 9 de novembro de 2021

NOITES DE SUSPENSE

 

Ele nasceu em Londres numa terça-feira 13 de agosto nos estertores do século XIX e ficou famoso mundialmente pelos crimes que engendrou. (Acho que nessa área se igualou a uma compatriota que também matava com chá e simpatia.) Ele adorava loiras e era exibicionista. Trata-se de Alfred Hitchcock que, além de fazer ótimos filmes, apareceu em quase todos eles, o que dá ao espectador mais uma diversão: achá-lo entre os figurantes.

Alfred Hitchcock é considerado o segundo melhor diretor da história do cinema ‒ eleito por críticos e outros diretores. O público, que parece não ter sido consultado, também o tem entre os melhores. No final de semana, resolvi dedicar as próximas noites ao rei do suspense. Comecei com “Festim diabólico” (1948), com James Stewart, a que já havia assistido muitos anos atrás. Agora, havia um dado novo para mim: o roteiro foi baseado em um crime real, que aconteceu em Nova York, sendo a diferença que a vítima real era um garoto de 14 anos. A história adaptada inicialmente para o teatro acontece em um único cenário: o apartamento simples, porém elegante, de dois jovens universitários por onde todos os personagens se movimentam e aonde jaz o morto, estrategicamente escondido embora haja sempre o risco de ser descoberto. Diálogos inteligentes e ágeis em um suspense crescente prendem o espectador à poltrona.

Farley Granger, James Stewart e John Dall.

 
O segundo filme foi “A Dama Oculta” (1938), realizado antes que Hitchcock mudasse para os Estados Unidos. Não conhecia nada desse período e gostei muito do filme. A história começa em uma estação de trem, um hotel anexo superlotado até que a ação se concentre a bordo do trem onde começa o pesadelo da mocinha se vê envolvida em uma trama política internacional, quando uma senhora desaparece do trem. Gostei muito ‒ tem suspense, romance e bom humor. Desconhecia os atores. Foto: a partir da esquerda May Whitty, 
Margaret Lockwood e Michael Regrave.


sexta-feira, 5 de novembro de 2021

DIA DO CINEMA

Difícil escolher um filme para marcar a passagem dessa data, que lembra a primeira exibição pública de cinema no Brasil, no Rio de Janeiro há 124 anos. Pensei em tantas obras inesquecíveis criadas por De Mille, Victor Fleming, Billy Wilder, Stanley Kubrick, Vincent Minelli, Wood Allen; Goddard, Truffaut, Alain Resnais, Claude Lelouch; Carlos Saura, Almodovar; Federico Fellini, Visconti, Antonioni, Rossellini; Kurosawa; Werner Herzog, Ruy Guerra, Babenco, Cacá Diegues, Nelson pereira dos Santos entre tantos outros... Então escolhi essa maravilha, que me encanta a cada vez que revejo: CINE PARADISO (1990), de Giuseppe Tornatore (1956), com música de Ennio Morricone (1928-1920). 


Outra possibilidade: " A Rosa Púrpura do Cairo", de Woody Allen, que eu vi várias vezes também e sempre gosto do filme (apesar de Mia Farrow).

quinta-feira, 4 de novembro de 2021

GILBERTO FREYRE E OS DOCES.

"Há um gosto todo especial em fazer preparar um pudim ou um bolo por uma receita velha de avó. Sentir que o doce cujo sabor alegra o menino ou a moça de hoje já alegrou o paladar da dindinha morta que apenas se conhece de algum retrato pálido mas que foi também menina, moça e alegre. Que é um doce de pedigree, e não um doce improvisado ou imitado dos estrangeiros. Que tem história. Que tem passado. Que já profundamente nosso. Profundamente brasileiro. Gostado, saboreado, consagrado por várias gerações brasileiras. Amaciado pelo paladar dos nossos avós. Servido em potes indígenas, em terrinas patriarcais, enfeitado de papel azul, cor de rosa, amarelo, verde, picado ou rendilhado segundo modelos de outros séculos; recortado em corações meias-luas, estrelas, cavalinhos, patinhos, vaquinhas, segundo velhas formas sentimentais." 

“AÇÚCAR: uma sociologia do doce, com receitas de bolos e doces do Nordeste do Brasil”, Gilberto Freyre. São Paulo: Global, 2007.

Engenho de Itamaracá, obra de Frans Post. Muitos pintores viajantes registraram os primeiros anos do Brasil colonial. Frans Post (1612-1680), pintor, gravador e desenhista holandês, veio para o Brasil em 1637 durante a ocupação holandesa no Nordeste (1630-1654).

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

A BOA MESA

"Todo o trabalho do homem está em sua boca." Eclesiastes VI,  7.

"Pequeno almoço com presunto" (1735), tela do francês Nicolas Lancet (1690-1743).

 

terça-feira, 2 de novembro de 2021

DIA DE REFLEXÕES

 

“Ser ou não ser, eis é a questão! Que é mais nobre para o espírito sofrer os dardos e setas de uma ultrajante fado, ou tomar armas contra um mar de calamidades para por-lhes fim, resistindo? Morrer ... dormir; nada mais! E com o sono, dizem, terminamos o pesar do coração e os mil naturais conflitos que constituem a  herança da carne! Que fim poderia ser mais devotamente desejado? Morrer... dormir! Dormir! Talvez sonhar! Sim, eis aí a dificuldade! Porque é forçoso que nos detenhamos a considerar que sonhos possam sobrevir durante o sono da morte, quando nos tenhamos libertado do torvelinho da vida. Aí está a reflexão que torna uma calamidade a vida assim tão longa. HAMLET - III Ato, William Shakespeare. Peça registrada em 1602. Tradução F. Carlos de Almeida Cunha Medeiros e Oscar Mendes.

 

“De todos os problemas visivelmente insolúveis da humanidade, um continuou sendo o mais intrigante, interessante e importante: o problema da morte. Antes do fim da era moderna, a maioria das religiões e ideologias aceitava que a morte era nosso destino inevitável. (...) Para os homens da ciência a morte não é um destino inevitável, mas meramente um problema técnico. As pessoas morrem não porque os deuses decretaram, mas em decorrência de uma serie de falhas técnicas: um ataque do coração, um câncer, uma infecção. (...) Agora, no entanto, estamos em ponto em que podemos ser francos a esse respeito. O principal projeto da Revolução Científica é dar à humanidade a vida eterna. (...) Especialistas em nanotecnologia estão desenvolvendo um sistema imunológico biônico composto de milhões de nanorobôs, que habitariam nossos corpos, abririam vasos sanguíneos obstruídos, combateriam vírus e bactérias, eliminariam células cancerosas e até mesmo reverteriam processos de envelhecimento. Alguns pesquisadores sérios sugerem que, por volta de 2050, alguns humanos terão se tornado amortais (não imortais, mas amortais, o que significaria que, na ausência de um trauma fatal, suas vidas poderiam ser indefinidamente estendidas).” Projeto Gilgamesh, in SAPIENS ‒ Uma breve história da Humanidade, Yuval Harari, Porto Alegre: L&PM, 2015.

Fotos  Hilda Araújo: Cemitério da Consolação, 2018, e Cemitério do Araçá, 2020. 

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

COMER ATÉ MORRER

O filme no Brasil chama-se "A Comilança", uma história sobre a decisão de quatro homens que se reúnem para comer até morrer. Dirigido por Marco Ferreri em 1973, reúne um elenco de primeira: Marcello Mastroianni,  Michel Piccoli, Philippe Noiret, Ugo Tognazzi e Andréa Ferréol. Produção franco-italiana. 

“Toda a existência humana decorre do binômio Estômago e Sexo. A Fome e o Amor governam o mundo, afirmava Schiller.” “História da Alimentação no Brasil, Luís da Câmara Cascudo (1898-1986),”.