Hoje, descendo a Rua Rego Freitas, me lembrei do “Som de Cristal”, gafieira famosa que por anos reuniu apreciadores de dança. Tentei localizar a casa em que a casa funcionou, mas não consegui. Olhei em torno e vi poucas pessoas, todas jovens; mas localizei um homem de cabelos brancos, sentado à porta de um prédio que levava jeito de ter sido cinema. Perguntei se ele conhecia a vizinhança e quis saber qual o endereço procurava. Falei do “Som de Cristal” e ele abriu o maior sorriso. Os olhos brilharam. “Ah! Era aqui mesmo. Fechou faz muito tempo. Era um lugar muito bom”. Expliquei que passava por lá quando ia ao Sindicato dos Jornalistas ali perto, mas não conseguia me lembrar do local da boate. “O sindicato é lá embaixo” ‒ disse apontando para o lado da Consolação. Conta que funciona um baile por ali, muito ruim. “Os tempos mudaram. As coisas pioraram muito. Faz parte” ‒ filosofou. Concordei, me despedi e o deixei com suas lembranças.
Em casa pesquisei na hemeroteca da Fundação Biblioteca Nacional e achei uma matéria de Osmar Freitas Jr. no JORNAL DA REPÚBLICA (1979). “Coroas, a postos” conclama o título de uma saborosa matéria de pé de página em que o repórter fala das casas noturnas da cidade: “Lugares onde damas e cavalheiros saracoteiam alegremente sem pensar na idade”. Os habitués? Segundo ele, “viúvas alegres e solteirões solitários”. Freitas Jr., porém, diz que o Som de Cristal teve o apelido de Sindicato das Empregadas Domésticas, “mas o que se comenta menos é alegria que reina ali, sempre com música ao vivo”. Das casas que o jornalista cita, acho que só o Clube dos Sargentos da PM, no Cambuci, ainda tem bailes às sextas-feiras.
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