"Há um
gosto todo especial em fazer preparar um pudim ou um bolo por uma receita velha
de avó. Sentir que o doce cujo sabor alegra o menino ou a moça de hoje já
alegrou o paladar da dindinha morta que apenas se conhece de algum retrato
pálido mas que foi também menina, moça e alegre. Que é um doce de pedigree, e não
um doce improvisado ou imitado dos estrangeiros. Que tem história. Que tem
passado. Que já profundamente nosso. Profundamente brasileiro. Gostado,
saboreado, consagrado por várias gerações brasileiras. Amaciado pelo paladar
dos nossos avós. Servido em potes indígenas, em terrinas patriarcais, enfeitado
de papel azul, cor de rosa, amarelo, verde, picado ou rendilhado segundo
modelos de outros séculos; recortado em corações meias-luas, estrelas, cavalinhos,
patinhos, vaquinhas, segundo velhas formas sentimentais."
“AÇÚCAR: uma
sociologia do doce, com receitas de bolos e doces do Nordeste do Brasil”, Gilberto
Freyre. São Paulo: Global, 2007.
Engenho de Itamaracá, obra de Frans Post. Muitos pintores viajantes registraram os primeiros anos do Brasil colonial. Frans Post (1612-1680), pintor, gravador e desenhista holandês, veio para o Brasil em 1637 durante a ocupação holandesa no Nordeste (1630-1654).
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