terça-feira, 31 de março de 2020

DIÁRIO DO CONFINAMENTO


Viajar tornou-se um projeto (supérfluo) para um futuro distante por questões de segurança agora e depois porque levará tempo para a recuperação econômica do país e das pessoas. Mas o confinamento é uma necessidade e, no final, terá valido a pena. No momento, quem diria, ansiamos por coisas tão simples como percorrer velhos caminhos ... As fotos são todas do arquivo pessoal. 

JARDIM BOTÂNICO: as estufas. 


VALE DO ANHANGABAÚ: edifícios Banespa e Martinelli, marcos paulistanos.
AVENIDA PAULISTA.

PRAÇA RAMOS DE AZEVEDO: Teatro Municipal...


PARQUE DO IBIRAPUERA: Obelisco.

ACLIMAÇÃO: o posto de gasolina dos velhos tempos...

BAIRRO DA LIBERDADE. em comemoração de ano novo.



segunda-feira, 30 de março de 2020

DIÁRIO DO CONFINAMENTO


Um modo de sair de casa sem quebrar o confinamento é viajar e para a viagem sem risco usa-se a imaginação. Fotos de lugares que visitei e com a esperança de que tudo retorne ao normal para que as ruas dessas belas cidades voltem a fervilhar de pessoas. 

 Roma. Cidade calorosa, bela. O Coliseu em um dia típico... Setembro de 2011.

Paris. Arco do Triunfo. Dia da Vitória, data marca a derrota da Alemanha em 8 de maio de 1945. Manhã de festa cívica: 8 de maio de 2012.

Londres: a Torre de Londres é um dos cartões postais mais famosos da cidade. 11 de junho de 2015.

 Washington, D.C. Casa Branca, residência temporária de Mr. Barack Obama e Sra.  20 de setembro de 2013.

domingo, 29 de março de 2020

A EMPOLGANTE HISTÓRIA DO SAMPAIO CORRÊA

O quase centenário time de futebol maranhense

O Maranhão tem belezas naturais cantadas em prosa e versos. Aliás, tem fama de que por lá se fala o melhor português do Brasil. Franceses e holandeses bem que tentaram se apropriar daquelas terras, mas felizmente o braço forte os expulsou. O folclore é um dos mais ricos do país. Quem não conhece o “Bumba meu boi”? No mundo esportivo, o Maranhão também não falhou, pois conta com o quase centenário Sampaio Corrêa Futebol Clube. 
Não conhece? Eis a oportunidade conhecer a história de um time de futebol de São Luís, formado por trabalhadores pobres movidos pela paixão Ao esporte bretão.  O escritor e jornalista maranhense Wilson Marques acaba de lançar o livro SAMPAIO CORRÊA, UMA HISTÓRIA em que narra “A trajetória do time de futebol mais popular do Maranhão”.
E que história! É possível começar pelo nome. Quem seria esse Sampaio Corrêa? Um maranhense importante? Nada disso. Era o nome do senador carioca que apoiou a iniciativa de dois aviadores, um cearense e um norte-americano, que fizeram a primeira viagem de hidroavião dos Estados Unidos ao Brasil em 1922. O hidroavião chamava-se Sampaio Corrêa II em homenagem ao padrinho e no caminho para o Rio de Janeiro o Sampaio Corrêa II pousou em São Luís. A novidade entusiasmou a população ludovicense e os dirigentes do Remo, time que existia desde 1920, ao oficializar a entidade, resolveram dar-lhe o nome daquele fantástico aparelho.
Enfim, vale a pena ler os detalhes sobre a criação do time, o seu desenvolvimento, lutas e vitórias, mas principalmente a paixão que ele desperta como provam as torcidas organizadas. E SAMPAIO CORRÊA, UMA HISTÓRIA é só a primeira parte dessa lenda do futebol.
Wilson Marques é autor dos livros infantis “Artes e manhas do Jabuti” (Autêntica), “A menina Inhame” (SESI-SP Editora), “Contos e lendas da Terra do Sol” (Paulus) e “Adivinha quem foi o miolo do boi” (Editora do Brasil).

SAMPAIO CORRÊA, UMA HISTÓRIA (primeira parte) ‒ formato digital, disponível na AMAZON. 

sábado, 28 de março de 2020

DIÁRIO DO CONFINAMENTO

Há sempre pessoas atentas às oportunidades, não importa o momento em que elas surjam. Hoje observei o carro das frutas estava diferente: o vendedor arranjou um caminhão com mais variedades de ofertas. Aquela voz a Silvio Santos interrompeu minha leitura por mais de meia hora. Deve ter feito bons negócios. 

O fluxo de mensagens aumentou consideravelmente na última semana.  Não leio as políticas, religiosas e os diz-que-diz-que de médicos e entendidos no Coronavírus. Informações sobre o assunto eu busco em canais confiáveis (nem sempre os governamentais). Há muita coisa criativa, engraçada (precisamos muito de bom humor) e inteligente.

Alguém enviou um vídeo em preto e branco que mostra Santos tristemente vazia, da importância de manter o confinamento para que tudo possa voltar ao normal o mais breve possível e, principalmente, com número de baixas pequeno. Pena que não consegui compartilhar.

O álcool continua desaparecido dos mercados e mercadinhos do bairro. Uma farmácia das imediações tem álcool em gel e vende dois pequenos vidros por cliente (uma boa medida). Bons e tradicionais desinfetantes também desapareceram das prateleiras.

Precisamos de mais cientistas, mais pesquisadores... 

Retrato de Pasteur, por Albert Edelfelt (1854-1905).

HOJE É DIA DE ROCK.

E com Elvis Presley (1935-1977), naturalmente. 

quinta-feira, 26 de março de 2020

DIÁRIO DO CONFINAMENTO


Nesta quinta-feira cheia de sol, apareceu uma novidade por estas plagas: o carro dos queijos, embutidos e sei lá mais o quê. Resolvi reler “História da Vida Privada”, que intercalo com leitura mais leve (Fitzgerald). Fechei a quarta-feira sem feijoada revendo “Os pássaros”, de Alfred Hitchcock. Continua ótimo. No momento, estou pensando se não vão nos oferecer mais uma vacina contra qualquer coisa... Só para dar uma voltinha lá fora (janela não vale).


Revolta da Vacina (RJ). Oswaldo Cruz ficaria feliz ao ver que todos esperam ansiosamente por uma vacina... (Ilustração: Wikipedia.) 

quarta-feira, 25 de março de 2020

DIÁRIO DO CONFINAMENTO


Dia agitadíssimo. O carro das frutas apareceu por aqui. Nem me dei ao luxo de levantar da poltrona para ver pela janela se a freguesia atendeu às ofertas do dia. Lembro-me desta bela natureza morta de Caravaggio (1571-1610). A arte sempre ajuda a passar o tempo... 


terça-feira, 24 de março de 2020

DIÁRIO DO CONFINAMENTO



Hoje fugi de casa. Levei salvo-conduto: carteirinha de vacinação. Ah! Seria uma boa caminhada não fosse a situação que vivemos. No metrô, poucas pessoas na estação Ana Rosa e nenhuma na plataforma da Santos-Imigrantes. Nas ruas, surpreendeu-me o fato de que as pessoas se cumprimentavam, coisa rara em São Paulo. No posto, que fica num recanto bucólico da Vila Mariana, uma fila de idosos na rua aguarda em silêncio mantendo a distância apropriada. Chega um senhor galhofeiro: “não se preocupem, estou só um pouco infectado”. Funcionários na porta aspergem álcool em cada um que entra. Cinco funcionários com roupas adequadas aplicam a vacina. Tudo rápido e eficiente. Aproveito essa manhã de liberdade para passar no supermercado. Na padaria, tudo mudou: retiraram as mesas porque não servem mais comida. Tudo o que tem é para levar. Implantaram o sistema de entrega. Antes que a manhã terminasse, estava de volta ao lar e à casa e ao confinamento. Quarentena significa período de quarenta dias e até agora nada foi definido nesse sentido, assim, 
confinamento é mais adequado. Hora da leitura.

segunda-feira, 23 de março de 2020

DIÁRIO DO CONFINAMENTO


O sol brilha lá fora. Gostaria de estar caminhando e aproveitando um dia que promete ser bastante agradável. Resisto. Não tão bravamente, apenas resisto. As ruas e a pracinha estão vazias. Nem os cães foram trazidos para os costumeiros passeios matinais. A novidade é que algum vizinho esqueceu a panela no fogo e no ar há um cheiro de queimado desagradável que aos poucos vai passando. Não é o meu caso, mas ficar trancado em casa com um estoque de comida pode se tornar um problema. Semana passada na fila do caixa do supermercado, a jovem senhora à frente, estendeu o braço para ovos de Páscoa numa prateleira lateral; mais à frente pegou potes de sorvete na geladeira e passou a mão em várias barras de chocolate que foi colocando no carrinho cheio de guloseimas. Parou porque chegou a sua vez. Mais um filme me ocorre: “A Comilança” (1973), filme italiano de Marco Ferreri (1928-1997): quatro homens (piloto de avião, um jornalista, um chef e um juiz) reúnem-se numa casa para um fim de semana com a intenção de se matar de tanto comer. Não é um filme fácil de digerir (por assim dizer), pois também escatológico (nos dois sentidos que a palavra tem), mas é excelente e bastante atual. O elenco é primoroso: Marcello Mastroianni (1924-1996), Michel Piccoli (1925), Ugo Tognazzi (1922-1990) e Philippe Noiret (1930-2006) e Andréa Ferréol (1947). Faz rir, causa constrangimento e, principalmente, faz pensar.

domingo, 22 de março de 2020

DOMINGO. DIA DE MÚSICA.

Uma tarde ouvindo música. Recordei bons momentos de minhas viagens. Como o encontro com o músico que tocava lindamente um dulcimer numa rua da Filadélfia. Dulcimer é um instrumento medieval de cordas da família do saltério, que tem um som delicado. O músico vestia roupas do século XVIII, tempo da América colonial, e era muito simpático. Depois de ouvi-lo comprei o CD e só mais tarde descobri que ele é um artista premiado, professor de música e ator de teatro. Trata-se de John Lionarons (1959) que, naturalmente, esta disponível na Internet. 
Filadélfia, setembro de 2013.

sábado, 21 de março de 2020

DIÁRIO DO CONFINAMENTO

A recomendação para não sair de casa não impede que eu viaje, fechando os olhos e recordando os lugares que visitei; os livros me levam para todos os lugares, reais ou imaginários, nas companhias mais esdrúxulas ou mais corriqueiras. Os filmes são outra opção para momentos especiais. Nada de silêncio nesta reclusão. A música é ótima companhia. E por falar em música não é que reencontrei Kyu Sakamoto, um cantor japonês que fez muito sucesso na segunda metade do século passado. Esteve no Brasil (Rio e São Paulo) em 1968. Ele era uma pessoa encantadora. Acho que esse foi o único sucesso dele por aqui. Vale a pena ler as citações e informações que acompanham o vídeo. Há também uma tradução livre da música. Ele faleceu em um desastre de avião em 1985.

sexta-feira, 20 de março de 2020

HISTÓRIA, LITERATURA E ATUALIDADE


Algumas pessoas reclamam do período de quarentena, uma necessidade que se impõe para o bem comum. Muitos ficam perdidos sem saber o que fazer da vida quando a porta de casa está fechada e lá fora ronda o perigo invisível. A história e a literatura podem ajudar muito. “Decamerão: ou Príncipe Galeotto”, obra-prima do poeta italiano Giovanni Boccaccio (1313-1375), foi escrita após a epidemia da peste que assolou a Europa e chegou à Florença em 1348. O livro contém cem novelas, narradas em dez jornadas (decameron) por sete mulheres e três homens, que se refugiaram durante dez dias em um local isolado na tentativa de escapar da peste. “Nas ditas novelas surgirão casos de amor. Uns agradáveis, outros escabrosos. Serão registrados outros eventos felizes, passados tanto nos tempos atuais, como nos antigos”, escreveu Boccaccio no prólogo.
Muitas das narrativas (contos) inspiraram grandes escritores (Shakespeare e Molière) e compositores como Vivaldi (Griselda). Em 1971, o cineasta italiano Pier Paolo Pasolini (1922-1975) fez uma adaptação satírica da obra, vencedora do Grand Prix do Festival de Berlim.  Enfim, Boccaccio é considerado o precursor do realismo.
Tudo começa com uma palestra de Pampineia sobre o motivo que levou o grupo a fazer essa jornada e narra de forma realística o cotidiano nas cidades afetadas pela peste. “... pois ela atirava-se contra os sãos, a partir dos doentes, sempre que doentes e sãos estivessem juntos. Ela agia assim de modo igual àquele pelo qual procede o fogo: passa às coisas secas, ou untadas, estando elas muito próximas dele”. A moça prossegue: “Não apenas o conversar e o cuidar de enfermos contagiavam os sãos com esta doença, por causa da morte comum, porém mesmo o ato de mexer nas roupas, ou em qualquer outra coisa que tivesse sido tocada, ou utilizada por aqueles enfermos, parecia transferir ao que bulisse, a doença referida”.
        O livro tem duas lições importantes: numa época em que nada se sabia sobre a peste, o instinto dizia que o isolamento era fundamental; que para passar o tempo contar uma boa história ajudava muito. Além de distrair e desenvolver a criatividade, ajuda a enfrentar frustração, medo e preocupação.  No século XXI, sete séculos após o poeta florentino, temos conhecimento científico avançado, tecnologia de ponta e informação para enfrentar situações críticas, mas bom senso é fundamental. Enquanto nova vacina não for desenvolvida, é preciso seguir as orientações dos serviços de saúde, pois a segurança de cada um está estreitamente ligada à segurança de todos.

Decameão: a história de Peronella por Pasolini. Marido e mulher e o amante dela na barrica.


DECAMERÃO ‒ Giovanni Boccaccio, tradução de Torrieri Guimaraes, São Paulo, Abril Cultural, 1981. (Dois volumes.)
Atualmente, está disponível na Internet. 

quinta-feira, 19 de março de 2020

DIÁRIO DO CONFINAMENTO


DIA 2. As saídas são apenas por necessidades básicas, como almoçar. Uma caminhada de mais ou menos 500 metros, porém bem movimentada. Na saída encontro B. (75) e J. (84), indo ou voltando de suas múltiplas tarefas. J. é “office-boy” de um escritório de advocacia e outro dia comentou que não ia mais trabalhar, mas parece que desistiu. Ambos são aposentados e têm estabilidade financeira, mas não querem parar. Depois lá estão Antônio, José e Francisco, motoristas do ponto de táxi, batendo papo enquanto esperam passageiros desaparecidos. Todos acima de 60 anos. L. (68) passa correndo para atender a cliente octogenária; F (?) também tem compromissos. Na banca de jornal, onde sempre há uma aglomeração de idosos, agora parece que fazem rodízio: C., sempre elegante, senta-se no banquinho colocado especialmente para clientes prioritários, e conta suas dificuldades recentes. N. (jornalista veterano de Santos) sempre para para um dedo de prosa com Chico, dono da banca. E. (?), jogador de basquete na juventude, foi vítima de acidente e tornou-se cadeirante. Na quadra seguinte, o bom dia é para o sapateiro/chaveiro, contador de lorotas. Enfim, chego ao Recanto Doce para o almoço. Um Recanto Doce atingido violentamente pelo CV: estacionamentos (3) quase vazios, funcionários à espera dos clientes que debandaram. Os poucos que restaram espalham-se pelo salão e, por incrível que pareça, são os idosos que continuam batendo o ponto.  Os coelhos, cenouras e ovos dependurados pelo estabelecimento não conseguem animar o ambiente. O cardápio continua impecável. Enquanto saboreio a refeição, faço um roteiro para o resto da tarde: banco e algumas compras essenciais. Depois, volto para casa e à leitura.



DIA DE JOSÉ


Um forte abraço (à distância) aos amigos José marinheiro, José voador, José livreiro, José educador, José (s) enólogo/enófilo; José engenheiro, e a todos os que se dedicam jornalismo, à publicidade e à fotografia. Todos muito especiais. Cuidem-se!

José: nome de origem hebraica; significa aquele que acrescenta de acordo com o Dicionário de Nomes Próprios.



quarta-feira, 18 de março de 2020

JANELAS INDISCRETAS


Alfred Hitchcock: janelas em plano americano.
De manhã, enquanto tomo sol, aproveito para ler, mas às vezes passarinhos me interrompem ao pousarem no beiral da janela. São graciosos, entretanto, é impossível não reparar no prédio enorme ao fundo, inaugurado há uns dois anos e que me privou da vista do amanhecer. Os apartamentos do primeiro andar parecem vitrines ou fotogramas em plano aberto. De onde estou é possível ver os móveis, a decoração, os movimentos dos moradores... Uma situação bastante incômoda porque, queira ou não, do lado de cá todos acabam vendo o que acontece por lá, mesmo que não sejam janeleiros, como eu. Abro as janelas logo cedo e só retorno para avaliar as condições do tempo ou se percebo que há algo fora do normal acontecendo lá embaixo, e para fechá-las no início da noite. Controlar a vida alheia não é uma opção nem mesmo neste momento de isolamento a que estamos sujeitos.
Lembro-me de “Janela Indiscreta” (1954), o filme de Alfred Hitchcock (1899-1980), em que o personagem de James Stewart com o pé quebrado está confinado no apartamento e passa os dias bisbilhotando a vida dos moradores do prédio em frente, munido com possantes binóculos. É um ótimo filme, mas não estou interessada no que acontece nessas vitrines e o bandido, que circula no momento, é invisível e imune à lei e à ordem. Volto ao livro “Uma história da leitura”, de Alberto Mangel.
Aqui, eles não precisariam de binóculos porque as janelas ocupam toda a frente do apê. 





MUITA ÁGUA E SABÃO NESTES DIAS




domingo, 15 de março de 2020

ENCONTROS E DESENCONTROS


Chuva de verão para fechar o domingo. Semana agitada. Quinta-feira, a caminho do metrô observava o movimento da Rua Líbero Badaró: como sempre trânsito intenso, gente indo e vindo em todas as direções. Parados apenas os seguranças dos prédios e os porteiros em hora de fumar. No meio de toda essa balburdia, vi o senhor idoso parado no meio da calçada olhando a parede de um prédio. Camisa azul de algodão de quadriculado bem miudinho, calças bege e óculos sem armação, ele estava tão concentrado que diminui o passo para ver o que atraía tanto a atenção dele na parede do Edifício Sampaio Moreira. E ele percebeu, virou-se para mim e perguntou sem mais nem menos: “A senhora sabe que esse foi o primeiro arranha-céu de São Paulo?”. Surpresa com a abordagem direta, respondi que sabia. Enquanto as pessoas se desviavam dos dois idosos, ele continuou a sabatina. A segunda pergunta eu também acertei: quem tinha sido Sampaio Moreira. Acho que ele não acreditou em mim, afinal, quem se importa com essas coisas hoje em dia? De passagem me contou a trajetória dele por São Paulo, uma cidade fascinante, nas palavras dele. Tinha um forte sotaque português que 62 anos de Brasil não eliminaram. Aposentado, desfruta de dois verões por ano: como a irmã mora no Canadá, ela vem para São Paulo no inverno do Hemisfério Norte e ele embarca para Ottawa no inverno aqui do Sul. Quando me deu chance de falar, sugeri alguns lugares para ele visitar no Centro, caso ele não se incomodasse em se deslocar para lá. “Eu moro no Centro, onde mais eu poderia viver?”. A conversa estava boa, mas eu estava de olho na Casa Godinho e fui me despedindo. Ah! Ele estava lendo, no granito da fachada, uma inscrição meio apagada pelo tempo.
Líbero Badaró num domingo de dezembro de 2019.


sexta-feira, 13 de março de 2020

NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO


No século XVIII, a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos era constituída por pessoas pobres e escravos e foi, provavelmente por volta de 1721, que conseguiu recursos para erguer uma capela às margens do Anhangabaú. Em 1725 obteve a licença para erguer uma igreja, em 1728 conseguiu um terreno (atualmente Praça Antônio Prado), onde foi construída a igreja original de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos que ficou pronta em 1737. O entorno ficou conhecido como Largo do Rosário, onde se realizavam congadas e festejos tradicionais dos escravos, que aos poucos foram abandonados. Com a transposição do Anhangabaú no processo de expansão da cidade, a igreja foi desapropriada em 1903 (Lei nº 698, de 24 de dezembro de 1903) e, além da indenização, a irmandade recebeu um terreno no Largo do Paissandu (antiga Rua da Cachoeira, Tanque do Zunega e Praça das Alagoas).       
A Igreja graciosa domina o largo que, em 1955, ganhou a estátua da "Mãe Preta"
 de autoria do escultor paulista Júlio Guerra (1912-2001).


Largo do Paiçandú, s/nº.
Fotos: HPA, 9/11/2019.

quarta-feira, 11 de março de 2020

CATEDRAL METROPOLITANA DE SÃO PAULO


A Catedral Metropolitana Nossa Senhora da Assunção de São Paulo domina a Praça da Sé, Marco Zero de São Paulo. Foi inaugurada ainda sem as torres em 1954, ano do quarto centenário de fundação da cidade. As obras haviam começado em 1912, mas sofreram atrasos por falta de recursos e pelas duas guerras mundiais (1914-1918 e 1939-1945) que impediram a importação do material de construção. A igreja ficou pronta em 1967.
  

O projeto é do alemão Maximilian Emil Hehl (1861-1916), responsável também pela Catedral de Santos, ambas em estilo eclético (combinação de várias tendências arquitetônicas), com predominância do neogótico. Ela mede 111m de comprimento, por 45m de largura e 65m de altura (com exceção das torres).
Os belos vitrais nacionais foram executados pela Casa Conrado, fundada em 1889 pelo alemão Conrado Sorgenicht, que funcionou até 1989, enquanto os europeus têm assinatura de artistas como o francês Max Ingrand (1908-1969). O carrilhão, localizado nas torres, compõe-se de 61 sinos – 35 acionados eletronicamente. O órgão confeccionado na Itália é o maior da América do Sul: tem cinco teclados manuais e 12 mil tubos com entalhes a mão. Os altares de Santana e de São Paulo também são obras de artistas italianos; para a pia batismal foi usado mármore de Siena. Na cripta, encontram-se os restos mortais do cacique Tibiriçá, dos padres Manuel da Nóbrega e José de Anchieta e do Padre Diogo Antonio Feijó (1784-1843), regente do Império.
A primeira igreja matriz de São Paulo de Piratininga começou a funcionar em 1612. Era uma antiga reivindicação dos moradores; a permissão real foi concedida em 1591 e a obra começou em 1598. Em 1745 São Paulo tornou-se sede da Episcopal e a igreja foi demolida e substituída por outra em estilo barroco que funcionou de 1764 até 1911, quando também foi demolida. D. Dom Duarte Leopoldo e Silva (1867-1938), primeiro arcebispo de São Paulo, teve a iniciativa da construção da nova catedral.

(Adaptação de texto original de 2015.)

terça-feira, 10 de março de 2020

IGREJA DA ORDEM TERCEIRA DO CARMO

Terça-feira, 10 de março de 2020: Hora de almoço sempre movimentada no Centro.

Entre as igrejas antigas da cidade a da Ordem Terceira do Carmo é a mais imponente. Tudo começou no século XVI, quando um grupo de moradores e bandeirantes construiu uma capela que daria origem à igreja de Nossa Senhora do Carmo. Mais tarde os carmelitas ergueram em um outeiro às margens do rio Tamanduateí um convento e uma igreja, que incluía área de sepultamento. A edificação em taipa de pilão ocorreu entre 1747 e 1758. A igreja passou por reformas e entre 1772 e 1802 foi ampliada e ganhou um novo frontispício de autoria de Joaquim Pinto de Oliveira (1721-1811), ou Tebas, escravo alforriado. O altar em estilo rococó, a pintura do teto da capela e do coro são de autoria do Frei Jesuino do Monte Carmelo (1764-1819), artista santista; os painéis são do antigo Recolhimento de Santa Teresa, fundado por Pedro Taques, e que já não existe.
       Quando o imperador D. Pedro II e a imperatriz Tereza Cristina visitaram São Paulo em 1846, as festas solenes ocorreram na Igreja do Carmo que, entretanto, também teve seus maus momentos: em 1867 ela foi palco do assassinato de Frei Antônio Inácio por dois escravos.
       São Paulo cresceu e a região foi se descaracterizando. Atualmente, a igreja domina a esquina da Rua Rangel Pestana com a Rua do Carmo. Em 1928, o governo do Estado desapropriou a capela e o convento para a construção da Secretaria da Fazenda.
O jovem buscou a igreja para uma conversa privada ao celular.
Avenida Rangel Pestana, 230 - Sé.

domingo, 8 de março de 2020

CAFÉ DA MANHÃ DE DOMINGO



“Pequeno almoço de artistas escandinavos no Café Ledoyen, em Paris, no dia da abertura do Salão, 1886.” Óleo sobre tela do pintor sueco Hugo Birger (1854-1887). 


 “Pequeno Almoço dos Artistas” (1883), do dinamarquês Peder Severin Krøyer (1851-1909). Entre 1880 e 1890, um grupo de pintores escandinavos reunia-se no verão em uma colônia de artistas situada em Skagen. Acervo do museu da cidade de Skagen, Dinamarca. 

sábado, 7 de março de 2020

UM SINO DA ITÁLIA PARA O BRASIL

 Adoro sinos. Nada me deixa mais feliz do que estar no centro histórico por volta do meio-dia, quando começam a tocar os sinos das igrejas. Conheci uma funcionária da USP que fez uma dissertação de mestrado sobre os sinos de São Paulo. Numa palestra no Instituto de Astronomia e Geofísica soube que a profissão de sineiro foi uma das mais perigosas da antiguidade, pois cabia a ele para chamar as pessoas para se abrigar de tempestades e, claro, raios são atraídos por objetos metal...

Este sino do século XIX está no Museu de Arte Sacra de São Paulo. Obra da Fonderia De Poli de Vittorio Veneto (Itália), fundada em 1453 e ainda em funcionamento (e por aqui nos admiramos quando encontramos empresas com mais de cem anos!). Este é um dos mais bonitos sinos que já vi. É do século XIX e pesa 295 quilos.

sexta-feira, 6 de março de 2020

ARTE SACRA


No século XIV, quando teve o início o ciclo de navegações português, supostamente em busca de um caminho marítimo para as Índias, membros da igreja católica, ansiosa por pescar novos adeptos, foram incluídos na tripulação das caravelas. A conversão à força dos povos nativos teve início com a chegada de Cabral às novas terras e, diante de um inimigo superior em armas, os povos aderiram às novas crenças, o que não impediu a escravização e dizimação das populações silvícolas diante da ganância do colonizador por terra e ouro.
Para quem é católico ou simplesmente aprecia a arte sacra é possível passar um dia no Centro Histórico de São Paulo percorrendo belas igrejas. O roteiro pode ser desenhado por antiguidade, proximidade ou santos de devoção. Uma possibilidade é começar pela Praça da Sé (metrô Sé) onde há pelo menos cinco igrejas com características diversas. A principal e mais moderna é a Catedral Metropolitana de São Paulo.
        À medida que a ocupação do Brasil avançava, os religiosos iam construindo igrejas. A fundação de São Paulo em 1554 se fez com uma igreja e uma escola. O cacique Tibiriçá, que desempenhou importante papel na implantação do vilarejo, se converteu e, no batismo, recebeu o nome do seu padrinho, Martim Afonso. Martim Afonso Tibiriçá morreu em 1562 e seus despojos encontram-se na cripta da Catedral Metropolitana de São Paulo, junto com os dos padres Bartolomeu de Gusmão (1685-1724) e Diogo Antônio Feijó (1784-1843). O primeiro, natural de Santos, foi o inventor do aeróstato ou passarola que mereceu a primeira patente brasileira, e o segundo, político do Império.
Pateo do Colégio. Foto HPA: 2009.
Da igreja que deu origem à cidade restaram alguns tijolos que podem ser vistos no complexo do Pátio do Colégio (igreja e museu), inaugurado em 1979. A frágil construção dos tempos de Manuel da Nóbrega foi transformada em um templo de estilo colonial no século XVII; entretanto, com a expulsão dos jesuítas pelo Marquês de Pombal no século XVIII, a igreja foi abandonada até ter parte do telhado destruído em 1896, em consequência de uma tempestade, o que levou as autoridades, com anuência da igreja, a proceder à demolição. Com a aproximação das comemorações do IV Centenário da cidade a área foi devolvida aos jesuítas e a nova igreja foi construída no local. O nome sofreu alterações: somente em 1980, José de Anchieta tornou-se padroeiro do templo e com a canonização do jesuíta em 2014 passa a se chamar Igreja São José de Anchieta.

CRISTÃOS ORTODOXOS

A Igreja Ortodoxa Antioquina da Anunciação a Nossa Senhora está situada no térreo de um edifício de sete andares na Rua Cavalheiro Basílio Jafet nº115. Tudo começou em janeiro de 1897, quando o Padre Mussa Abi Haidar  celebrou Missa em um salão da Rua Vinte e Cinco de Março organizou a primeira procissão ortodoxa realizada na América do Sul. Pouco depois começou a construção de uma pequena igreja na Rua Itobi (atual Cavalheiro Basílio Jafet), custeada por Michel Assad e concluída em 1904. Entretanto, por volta de 1920, a comunidade ortodoxa ficou sem recursos para manter a igreja e por sugestão do padre construiu-se um prédio comercial para custear as despesas da igreja. O segundo problema era o terreno pequeno e assim o arquiteto fez um “recorte” na igreja e construiu o prédio sobre ela. Da antiga igrejinha sobraram a fachada, o sino e fotos. Entre uma loja e outra observe a fachada da igreja, única coisa que sobrou da primeira igreja ortodoxa de São Paulo. O sino, que pode ser visto na Catedral Ortodoxa Metropolitana, tem uma inscrição: "Esta Igreja pertence ao Rito Grego-Ortodoxo, foi construída por iniciativa do Conselho Administrativo Ortodoxo de São Paulo, a expensas dos Sírios e Libaneses da Colônia, em 1904".

Rua Cavalheiro Basílio Jafet, 115.

terça-feira, 3 de março de 2020

CHUVAS DE VERÃO (Editada.)

Logo cedo abri a janela e vi de tudo no céu. Nuvens para todos os gostos: brancas, cinza e negras ‒ estas pareciam se concentrar ao Norte, mas algumas navegavam para outros lados. E não é que deixaram uma réstia de azul lá para o Sul? Pelo meio da manhã percebi algo estranho: um raio de sol banhava a sala meio sem jeito. Vou rapidamente pegar a bolsa, os livros e saio com destino à Biblioteca. Feliz, sem guarda-chuva. O ônibus para o metrô estava no ponto. Que beleza! Apenas três paradas... No Paraíso, uma garoa preocupante. No Anhangabaú tempo firme. Devolvo os livros, penso em dar uma caminhada pelas imediações, mas lá estava o trólebus no ponto e resolvo ir almoçar na Aclimação. Tudo funcionando às mil maravilhas! Quando estou quase terminando o almoço, vejo algo familiar lá fora: chove. Chove torrencialmente. Fiquei à mesa, observando o movimento, mordiscando um brigadeiro de sobremesa... Se o céu não é de brigadeiro...
São Paulo, 3 de janeiro de 2020.

LEMBRANÇAS DO VERÃO PASSADO

Rua florida. Perfumada. Silenciosa.Roupa lavada, dependurada com cuidado. Muito branca. Janelas fechadas. Que segredos guardam? 
Tivoli, Itália, 7 de junho de 2019.



domingo, 1 de março de 2020

DOMINGO COM GLENN MILLER

Gleen Miller nasceu em 1º de março de 1904. Nos anos 1930 tornou-se um dos músicos respeitados dos Estados Unidos, organizando várias bandas até formar a própria orquestra em 1937. Foi um grande sucesso. Durante a II Guerra, ingressou no Exército com a patente de capitão e após promoção tornou-se major e diretor da Banda da Força Aérea Americana. Na viagem da Inglaterra para a França, em 15 de dezembro de 1944, o avião desapareceu no Canal da Mancha. A orquestra de Miller continuou sob a direção de um grande amigo até que a família, anos depois, contratou um músico da banda da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos liderada por Miller para conduzir uma nova banda - e ela continua em atividade setenta e cinco anos após sua morte*. 



*Se duvidar, basta uma visita ao site: