segunda-feira, 23 de março de 2020

DIÁRIO DO CONFINAMENTO


O sol brilha lá fora. Gostaria de estar caminhando e aproveitando um dia que promete ser bastante agradável. Resisto. Não tão bravamente, apenas resisto. As ruas e a pracinha estão vazias. Nem os cães foram trazidos para os costumeiros passeios matinais. A novidade é que algum vizinho esqueceu a panela no fogo e no ar há um cheiro de queimado desagradável que aos poucos vai passando. Não é o meu caso, mas ficar trancado em casa com um estoque de comida pode se tornar um problema. Semana passada na fila do caixa do supermercado, a jovem senhora à frente, estendeu o braço para ovos de Páscoa numa prateleira lateral; mais à frente pegou potes de sorvete na geladeira e passou a mão em várias barras de chocolate que foi colocando no carrinho cheio de guloseimas. Parou porque chegou a sua vez. Mais um filme me ocorre: “A Comilança” (1973), filme italiano de Marco Ferreri (1928-1997): quatro homens (piloto de avião, um jornalista, um chef e um juiz) reúnem-se numa casa para um fim de semana com a intenção de se matar de tanto comer. Não é um filme fácil de digerir (por assim dizer), pois também escatológico (nos dois sentidos que a palavra tem), mas é excelente e bastante atual. O elenco é primoroso: Marcello Mastroianni (1924-1996), Michel Piccoli (1925), Ugo Tognazzi (1922-1990) e Philippe Noiret (1930-2006) e Andréa Ferréol (1947). Faz rir, causa constrangimento e, principalmente, faz pensar.

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