DIA 2. As saídas são apenas por necessidades
básicas, como almoçar. Uma caminhada de mais ou menos 500 metros, porém bem
movimentada. Na saída encontro B. (75) e J. (84), indo ou voltando de suas
múltiplas tarefas. J. é “office-boy” de um escritório de advocacia e outro dia
comentou que não ia mais trabalhar, mas parece que desistiu. Ambos são
aposentados e têm estabilidade financeira, mas não querem parar. Depois lá
estão Antônio, José e Francisco, motoristas do ponto de táxi, batendo papo
enquanto esperam passageiros desaparecidos. Todos acima de 60 anos. L. (68)
passa correndo para atender a cliente octogenária; F (?) também tem
compromissos. Na banca de jornal, onde sempre há uma aglomeração de idosos,
agora parece que fazem rodízio: C., sempre elegante, senta-se no banquinho
colocado especialmente para clientes prioritários, e conta suas dificuldades
recentes. N. (jornalista veterano de Santos) sempre para para um dedo de prosa
com Chico, dono da banca. E. (?), jogador de basquete na juventude, foi vítima
de acidente e tornou-se cadeirante. Na quadra seguinte, o bom dia é para o
sapateiro/chaveiro, contador de lorotas. Enfim, chego ao Recanto Doce para o
almoço. Um Recanto Doce atingido violentamente pelo CV: estacionamentos (3) quase vazios,
funcionários à espera dos clientes que debandaram. Os poucos que restaram
espalham-se pelo salão e, por incrível que pareça, são os idosos que continuam
batendo o ponto. Os coelhos, cenouras e
ovos dependurados pelo estabelecimento não conseguem animar o ambiente. O
cardápio continua impecável. Enquanto saboreio a refeição, faço um roteiro para
o resto da tarde: banco e algumas compras essenciais. Depois, volto para casa
e à leitura.
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