terça-feira, 30 de abril de 2019

AMIGOS E COMPANHEIROS


Ele tem permanência garantida.

Há dias venho sofrendo com a necessidade de me despedir de vários amigos. Trata-se de livros. Alguns já foram e voltaram para a lista crítica. Perco mais tempo do que deveria, pois encontro um escondido fora do lugar onde deveria estar e logo me vejo a folheá-lo, descobrindo tópicos que o salvam da despedida. Doei todos os que tratavam da Força Expedicionária Brasileira para o Museu da FEB em Sampa (aproveito para parabenizá-los pelos 74 anos da vitória de Fornovo di Taro na II Guerra, quando cerca de 20 mil alemães e italianos se renderam às tropas brasileiras em 29 de abril). Não foi difícil porque serão bem cuidados. Muitos livros não tenho intenção de reler, como as obras teatrais ou políticas dos tempos da pós-graduação, o que tornou a decisão mais fácil. Nem pensar em me desfazer de clássicos e dos livros de Monteiro Lobato cuja ortografia os condena. Descubro que meu catálogo está desatualizado à medida que o trabalho prossegue... Oh! Céus! Oh! Vida!

segunda-feira, 29 de abril de 2019

A PARTE DO LEÃO





“O cobrador de Impostos”, óleo sobre madeira de carvalho. A obra de 1616 é do pintor flamengo Peter Brueghel II, o Jovem, (1564-1637). Acervo Casa-Museu Medeiros e Almeida, Lisboa. Só para lembrar que amanhã termina o prazo para a entrega da declaração do Imposto de Renda. Aos contribuintes que tiveram a sorte de ganhar muito nada mais resta do que pagar a parte do leão.
Leão por quê? A expressão remonta a uma fábula citada por Esopo no século VI a.C. e por Platão no século V a.C. e atualizadas por La Fontaine no século XVII, segundo a Revista de História da Biblioteca Nacional (ano 3, nº 31, 2008).
Num cenário pouco provável, o leão convida uma bezerra, uma cabra e uma ovelha para caçar e combina dividir igualmente o que conseguirem. Quando termina a caça o rei dos animais faz a partilha: “Esta é minha, e a razão é que eu me chamo leão (...). A segunda me cabe ainda por direito: o direito do mais forte. Como o mais valente é que eu reclamo a terceira. A quarta, se alguma de vós a tocar, será estrangulada”.

domingo, 28 de abril de 2019

DOMINGO COM JAMELÃO E MANGUEIRA

Vinte e oito de abril de 1928 foi um sábado. A data marca a fundação da segunda escola de samba carioca, a Estação Primeira de Mangueira, iniciativa do compositor Cartola (Angenor de Oliveira, 1908/1980) e de outros sambistas. Com 91 anos de existência, o Grêmio Recreativo Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira é a segunda maior vencedora dos carnavais do Rio de Janeiro. A voz da Mangueira foi José Bispo Clementino dos Santos, o maravilhoso Jambolão (1913-2008). Emocionante o vídeo postado por Andreas Eustathopoulos. Jambolão e a Velha Guarda da Mangueira cantam “Exaltação à Mangueira” (Eneas Brittes da Silva e Aloisio Augusto da Costa). Sou fã incondicional de Jambolão. 


sábado, 27 de abril de 2019

SÁBADO COM ARTE


Quatro séculos de uma obra perfeita: “Os dois sátiros” (1619), óleo sobre tela, de Peter Paul Rubens (1577-1640). Acervo: Antiga Pinacoteca de Munique. Ah! Que olhar!

quinta-feira, 25 de abril de 2019

SOL DE OUTONO NO PARQUE


Aproveitar o sol de abril. Como dizia Henfil (1944-1988), a nossa estrela transformou-se em remédio. A prescrição médica é mais comum do que se imagina. Um remédio bom, bonito e barato, aliás, de graça, sem fila ou estresse. E para meu espanto, fico sabendo que, aproximadamente, 60% dos brasileiros têm deficiência de Vitamina D!
        Rever o Parque Estadual Villa-Lobos, que este mês comemorou 31 anos, é a desculpa ideal para tomar um banho de sol. Uma passarela na saída da estação Villa-Lobos/Jaguaré da Linha 9-Esmeralda (CPTM) me deixa dentro do Parque, situado na Zona Oeste da cidade. Às 10h30 de um sexta-feira é tudo tranquilo, mas os fins de semana são agitados: o parque recebe 600 mil pessoas por mês!  E pensar que essa área verde de 732 mil m², foi um imenso depósito de lixo, alimentado pela CEAGESP e sobras da construção civil até 1988! (Diminuir as exclamações).
Como não sou uma praticante de esportes, passo rapidamente pelas quadras poliesportivas (tênis, vôlei, basquete e futebol) e aparelhos de ginástica. A arquitetura do Orquidário Ruth Cardoso é atraente, assim como o conteúdo, embora não seja época das floradas de orquídeas. Hora de ir conhecer a Biblioteca Villa-Lobos que me disseram ser uma biblioteca “viva”. Uma expressão tola, no meu entender, já que em todas as bibliotecas as ideias são preservadas, vivem e procriam – sim, porque tudo se transforma como bem disse Antoine Lavoisier (1743-1794) cujo “Tratado Elementar de Química” está à disposição de estudantes nas bibliotecas 225 anos após a morte dele e não das ideias dele.
A explicação da funcionária não me agrada: "viva" porque lá dentro pode se fazer barulho ao contrário das tradicionais onde o silêncio é norma, segundo ela. Uma novidade para mim que converso com funcionários em minhas pesquisas como tantas outras pessoas que frequentam as bibliotecas “mortas”, sem prejudicar a concentração dos demais frequentadores. O que ela deveria dizer é que naquele único espaço, além de livros para retirar ou ler no local, há cursos, palestras e funciona também um clube de leitura.
Hora de um cafezinho aproveitando a paisagem recuperada. Com dois decretos em 1988 o governo do Estado desapropriou duas glebas de 741 mil m² para implantar um “parque de lazer, cultura e esporte”. Não foi uma tarefa simples: famílias foram realocadas, o lixo removido, o solo substituído e feita a canalização do córrego Boaçava. As obras estiveram paralisadas por alguns anos, mas ao serem retomadas em 2005, o projeto do parque se tornou mais ambicioso, especialmente, com a valorização das áreas verdes: o Parque Villa-Lobos é uma das áreas mais densamente arborizadas da cidade com cerca de 13 mil árvores. Ele dispõe de um anfiteatro aberto com 750 lugares e uma aberta para shows.
O Parque Villa-Lobos foi um dos primeiros equipamentos de lazer da Capital adequado aos portadores de necessidades especiais. O nome foi uma homenagem ao centenário de nascimento do maestro Heitor Villa-Lobos (1887-1959). Um passeio bem agradável. 
Avenida Prof. Fonseca Rodrigues, 2001 - Alto de Pinheiros, São Paulo.


  





terça-feira, 23 de abril de 2019

DIA DO LIVRO


Para mim é todo dia. Raros são os dias em que não tenho um livro nas mãos. Frequento livrarias, sebos, bibliotecas, feiras de livros...

“Quando tenho algum dinheiro, compro livros. Se ainda me sobrar algum, compro roupas e comida”. Afirmação de Erasmo de Roterdã (1466-1536) que viveu os primórdios da revolução da imprensa no século XV.

Concordo plenamente com este provérbio chinês: “Ler um livro pela primeira vez é conhecer um novo amigo; lê-lo pela segunda vez é encontrar um velho amigo”.

Heinrich Mann (1871-1950) dizia que “Uma casa sem livros é como um quarto sem janelas”. Verdade. Quando se abre um livro, descortinam-se novos mundos.

Mas é Jorge Luis Borges (1899-1986) quem melhor definiu o prazer da leitura: “Sempre imaginei o paraíso como uma grande biblioteca”.

Os livros podem ser também um alerta porque “Onde se queimam livros cedo ou tarde se queimam homens”. Heinrich Heine (1797-1856).

Fundação Biblioteca Nacional: inestimável herança portuguesa.




Fonte: A Paixão pelos Livros. Organização: Júlio Silveira e Martha Ribas. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2004.


segunda-feira, 22 de abril de 2019

DIA DA TERRA

A TERRA VISTA DO ESPAÇO (HD).
Imagens do Astronauta Jeff Williams da NASA.




Para falar a verdade, o que me leva a acreditar que não existem habitantes nessa esfera é que me parece que nenhum ser sensato estaria disposto a morar aqui.

– Bem, nesse caso – disse Micrômnegas –, talvez os seres que a habitam não tenham juízo.

Alienígenas conversando ao se aproximarem da Terra em “Micrômegas: uma história filosófica”, de Voltaire (1752).

domingo, 21 de abril de 2019

LIBERTAS QUAE SERA TAMEN







DIA de Joaquim José da Silva Xavier, mártir da Inconfidência Mineira. Monumento em frente ao Palácio Tiradentes, que passou de Congresso Nacional (1926-1960) a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Nesse local, desde 1640 funcionou a Cadeia Velha onde Tiradentes ficou preso por três dias em 1789. Foi enforcado em 21 de abril de 1792 no local em que hoje é a Praça Tiradentes. Rio de Janeiro, 2015.

Libertas quae sera tamen – em latim o lema da inconfidência cujo significado é "Liberdade ainda que tardia".



Foto: Hilda P. Araújo.

UMA CHANCHADA CHINESA


KUNG-FUSÃO (2004). Direção e roteiro de Stephen Chow (1962), que também encabeça o elenco. Produção chinesa. De certa forma é uma estranha escolha, mas este filme me surpreendeu muito. Procurava algo interessante para ver na TV, quando me deparei com uma senhora de bobes enormes, cigarro pendurado nos lábios e usando camisola em frente a um prédio decadente. Resolvi conferir e não me arrependi. A história é banal: nos anos 1940 um jovem miserável, sem futuro, decide entrar numa gangue e arrasta um amigo meio idiota na aventura. Ele vive num cortiço imenso dirigido com mão de ferro pela senhora de bobes. E de repente o espectador descobre que Stephen Chow usou todos os chavões do cinema ocidental, especialmente americano, em sua obra, no melhor estilo das chanchadas brasileiras do século passado. Lá estão as cenas de gangster na barbearia, um musical, um faroeste, super-heróis, cenas explicitas de desenho animado, efeitos especiais e até um toque de Chaplin em meio a muita pancadaria. Enfim, é um filme para se assistir sem preconceito. Pura diversão. 

sábado, 20 de abril de 2019

A VIDA COMO ELA É...

 Não se trata da obra de Nelson Rodrigues(1912-1980), crônicas que, aliás, renderam ótimos filmes. Hora de deixar o cinema ocidental e embarcar para o Leste Europeu e Oriente. 


A CONSTITUIÇÃO (2016). Direção: Rajko Grlić (1947) Com Nebojsa Glogovac, Dejan Acimovic, Ksenija Marinkovic. Um edifício de apartamentos. Quatro pessoas  separadas por suas diferenças culturais e estilos de vida, mas algumas circunstâncias acabam envolvendo os vizinhos e revelando uma faceta desconhecida deles até então. Gostei muito. O filme é uma produção conjunta de Croácia, República Tcheca, Eslovênia e Macedônia.

DONA DE CASA DE BANHOS - Seu Amor Ferve a Água do Banho, (2016). Direção: Ryôta Nakano. Elenco: Rie Miyazawa, Hana Sugisaki e Aoi Itô. Um filme belo e delicado sobre ser mãe, o papel da família e a morte.  

sexta-feira, 19 de abril de 2019

GUERREIROS EM AÇÃO

FELIZ NATAL (2005). Direção de Christian Carion, com Diane Krüger, Daniel Brühl e Benno Fürmann. Filme pacifista, baseado em um fato real ocorrido na noite de Natal durante a I Guerra Mundial (1914-1918) quando, espontaneamente, os soldados inimigos deixam as trincheiras para comemorar juntos a data. Um tanto romantizado, mas belo e denso. Mais uma vez música da melhor qualidade. Produção: França, Reino Unido, Bélgica, Romênia e Alemanha.




O FILHO DE RAMBOW (2007), de Garth Jennings. Com Bill Milner e Will Poulter. Não gosto de filmes com crianças, mas este foi uma grande surpresa. Muito divertido. Dois amigos apaixonados por cinema resolvem produzir um filme e acabam enredando família, escola e igreja em suas aventuras para rodar a história criada por um deles. Produção: França, Estados Unidos e Reino Unido.



quinta-feira, 18 de abril de 2019

MÚSICA COMO RESISTÊNCIA

A LENDA DO PIANISTA DO MAR (1998), de Giuseppe Tornatore. Com Tim Roth (1961). Trilha musical de Ennio Morricone e Roger Waters. O filme conta a história de uma criança rejeitada, que sobrevive no porão de um navio graças à bondade de um trabalhador, mas com a morte dele vê-se mais uma vez abandonada; entretanto, ela descobre o mundo através de uma fresta de luz na escuridão do porão do navio de onde emerge como um músico extraordinário. Um filme com muitas leituras, sobretudo sobre música e vida.




OU TUDO, OU NADA (1997), de Peter Cattaneo (1964). Com Robert Carlile (1961) e Mark Addy (1964). Uma comédia inglesa com um gosto amargo. Uma pequena cidade industrial em meio à crise econômica. O desemprego. A desestabilização da família. Na luta pela sobrevivência vale tudo? Seja por um casamento ou pelo amor de um filho? Como reagiria uma comunidade conservadora diante de um show nada conservador? Um filme delicioso.  

terça-feira, 16 de abril de 2019

UMA DECLARAÇÃO DE AMOR AO CINEMA

Dois ótimos diretores norte-americanos. As escolhas são sempre pessoais, nem sempre acompanham as opiniões dos críticos especializados ou da Academia que distribui os prêmios.


A ROSA PÚRPURA DO CAIRO (1985), de Woody Allen (1935). Com Jeff Daniels (1955) e Mia Farrow (1945). É um dos meus filmes preferidos. Uma história deliciosa, bem-humorada, criativa. Uma declaração de amor ao cinema, essa invenção que nos transporta para onde desejarmos, como o velho e bom tapete mágico. 




O REI DA COMÉDIA (1983), Martin Scorsese (1942). Jerry Lewis (1926-2017) e Robert De Niro (1943). Não gosto do humor do histriônico Jerry Lewis . Só vi uma comédia com ele na adolescência e nunca mais me interessei em assistir os filmes estrelados por ele. Entretanto, após ler a sinopse desse filme à época do lançamento, resolvi conferir o lado sério do ator. Não me arrependi. O filme é ótimo e pude, enfim, ver em Jerry Lewis um grande ator. Em tempo: apesar do título, não se trata de comédia.



AMOR E GUERRA

HAROLD AND MAUDE, de Hal Ashby, 1971. Elenco: Ruth Gordon (1896-1985) e Bud Cort (1948). Um filme delicioso, sobre vida e morte, juventude e velhice... Um jovem obcecado pela morte e uma idosa exuberante de vida. Uma lição prática de vida recheada de humor negro da melhor qualidade e a música deliciosa de Yusuf Islam /Cat Stevens (1948). Foi um fracasso de bilheteria no lançamento, mas tornou-se um sucesso internacional e virou um cult movie





APOCALYPSE NOW, de Francis Ford Coppola, 1979. Com Marlon Brando, Martin Sheen e Robert Duval. A insanidade da Guerra do Vietnã (de todas as guerras) levada às ultimas consequências ao som de The Doors (The End) e Wagner (Cavalgada das Valquírias) e de composições de Carmine Coppola (1910-1991). São 150 minutos do melhor cinema na minha opinião. 



segunda-feira, 15 de abril de 2019

REALIDADE E FICÇÃO.

Difícil escolher filmes marcantes dos anos sessenta. Parece que juntaram os clássicos em uma única década! Escolhi dois muto diferentes, mas  revejo c

LAWRENCE DA ARÁBIA (1961), de David Lean. Com Peter O’Toole. Li o livro “Os Sete Pilares da Sabedoria”, escrito por T.E. Lawrence (1888-1936), militar, arqueólogo e diplomata inglês. O roteiro é bem fiel à obra. Música e locações maravilhosas. Sempre que posso revejo com prazer e no final,sobra o desapontamento com a política - como sempre, aliás.




2001, UMA ODISSEIA NO ESPAÇO (1968), de Stanley Kubrick (1928-1999). Roteiro de Kubrick e Arthur C. Clarke (1917-2008).Com Keir Dullea (1936). A voz de Hal, o computador é de Douglas Rain (1928-2018).O homem nem havia chegado à Lua e Kubrick estava muito além da nossa Galaxia.  Imagens e música perfeitas. Efeitos especiais muito à frente do seu tempo. Uma obra que induz à reflexão sobre a vida e a morte e o Universo...Insuperável.





domingo, 14 de abril de 2019

"GOOD MORNING"

O século XX chegou à metade com o aparecimento de ótimos diretores – Akira Kurosawa, Truffaut, Bergman, Otto Preminger, Alan Resnais... E Hitchcock lançou alguns dos seus melhores filmes. Foi a década do clássico “CANTANDO NA CHUVA” (1952), filme que se encaixa perfeitamente nesta manhã paulistana. Direção de Gene Kelly e Stanley Donen, Com Danny Kaye, Debbie Reynolds e Gene Kelly. Um filme para se assistir sempre... 



sábado, 13 de abril de 2019

SEMANA DE CINEMA

Em meados do século passado, os filmes demoravam a ser exibidos nos cinemas de Santos e alguns nem chegavam à cidade. Minhas tias me levavam às matinês de domingo no Cine Carlos Gomes ou Bandeirantes, dependendo da programação. Dois filmes me impressionaram muito de formas diferentes – um me encantou e outro me apavorou.

Lili” (1953), direção de Charles Walters (1911-1982). Com Leslie Caron (1931) e Mel Ferrer (1917-2008). Oscar de melhor música original.  



Não sei se foi o primeiro filme a que assisti, mas voltei para casa querendo ser bailarina. Revi várias vezes ao longo dos anos, apesar de Mel Ferrer (1917-2008), que parece estar sempre resfriado ou com alguma indisposição.

“O dia em que a Terra parou” (1951), de Robert Wise (1914-2005) com Patricia Neal.

Eu devia ter uns oito anos quando assisti ao filme e o “monstro” me amedrontou tanto que jamais o esqueci. Adulta, revi para saber do que se tratava e gostei especialmente dos "efeitos especiais" da época. 

sexta-feira, 12 de abril de 2019

VAMOS ÀS CORRIDAS!


As esculturas de Brecheret da fachada.
Um belo dia – ou noite, provavelmente, tomando cerveja –, um grupo de jovens jornalistas resolveu fazer um curso de extensão na ECA. Não me lembro do tema escolhido, mas, determinados, certa tarde depois do expediente subimos a Serra do Mar. Um fusca cheio de jornalistas. O problema é que o mestre ou o tema não agradou. Lá pelas tantas, um olhou para o outro e todos saíram de fininho. E no caminho de volta lá estava o Jockey Club de São Paulo todo iluminado. Foi assim que os ilustres representantes da imprensa santista foram parar nas arquibancadas do clube e terminaram a noitada paulistana de forma divertida. Foi a primeira vez que fui ao Jockey Club. Retornei anos depois (já morava em São Paulo) para assistir a um espetáculo de Taikô.
Visitantes observam uma das arquibancadas.
Ontem, voltei para uma visita ao hipódromo. Embora não goste de jogo, sem dúvida as corridas de cavalo são um belo espetáculo. Lembranças da infância e das transmissões dominicais, se não me falha a memória, pela Rádio Eldorado. Porque ouvia, é outra história que não vem ao caso. Quando comecei no jornalismo, os jornais ainda publicavam colunas de turfe que sumiram à medida que os hipódromos foram perdendo o glamour com a saída dos grã-finos das pistas para as passarelas...
O Jockey nasceu na Mooca. Rafael Aguiar Paes de Barros (1835-1889), filho do barão de Itu, reuniu 73 sócios e um capital de $9.990 réis e fundou em sua fazenda um clube de corridas de cavalos nos mesmos moldes dos clubes ingleses. O Hipódromo da Mooca ou Club de Corridas Paulistano tinha capacidade para 1200 pessoas. A primeira corrida aconteceu em 29 de outubro de 1876 e estavam inscritos apenas dois cavalos: Macaco e Republicano. Deu Macaco na cabeça. Logo o Hipódromo tornou-se uma atração da cidade e os visitantes queriam conhecer o “Prado”. A iniciativa incentivou o desenvolvimento da Mooca e o clube mudou para uma área doada pela Companhia Cidade de Jardim do outro lado do rio Pinheiros. As obras estenderam-se de 1937 a 1941. A partir do projeto do arquiteto Elisário Bahiana, remodelado mais tarde pelo arquiteto francês Henri Sajous, a nova sede foi inaugurada no dia 25 de janeiro de 1941.
Museu resume história da instituição.

O prédio elegante com obras de Vitor Brecheret pode ser admirado da Rua Lineu Prestes. Na verdade, o público é bem-vindo para assistir às corridas que acontecem aos sábados à tarde e desfrutar da bela paisagem da cidade que se descortina das arquibancadas. A entrada é gratuita. É possível que em breve o hipódromo conviva com um parque público. As visitas guiadas apenas para grupos e pré-agendadas acontecem duas vezes por semana à tarde.
Grupo da terceira idade recebido carinhosamente pela equipe e posa com uma das éguas do clube.


terça-feira, 9 de abril de 2019

BIGODES ACADÊMICOS

Quantas vezes você visita uma cidade e ela não a atrai no primeiro momento, assim como um livro pode ser arrebatador numa determinada fase da vida e aborrecidíssimo quando se atinge a maturidade... Outros revelam perspectivas diferentes em leituras posteriores. Uma pintura ou fotografia também pode ser vista, revista e sempre revelar algo novo... 
Penso no assunto ao ler textos selecionados nas pequenas biografias dos membros da Academia Brasileira de Letras (ABL) que vêm sendo publicados na SÉRIE ESSENCIAL. Vários faziam parte das antologias dos cursos secundário e colegial do século passado, outros apesar de antigos são novos para mim. Enquanto hesitava na escolha do que ler primeiro, este ou aquele autor que me é desconhecido, as capas me distraem. Algumas são ilustradas com fotos e outras, com caricaturas. Meu interesse muda de foco. Talvez tenha sido induzida pelas muitas referências recolhidas por Seffrin sobre o bigode de Pardal Mallet? Quem sabe?



“Nosso Adonis, com os seus cabelos, o seu bigode, a sua pera de um ouro velho e puro...” (Leôncio Correa) ou “Bigodes de mata-mouros...” (Agrippino Grieco).

O bigode de Lauro Müller se parece com os de Vicente de Carvalho. O bigode de Luís Murat combina com o topete; o de Eduardo Prado lembra um guidão de bicicleta cujas pontas avançam em direção às sobrancelhas... O de Rui Barbosa parece ter inspirado o símbolo da aeronáutica...
As simpáticas caricaturas de J. Bosco levaram-me a selecionar alguns imortais por seus bigodes extravagantes. (Ah! Essa coleção ainda vai dar muita história...)


 












segunda-feira, 8 de abril de 2019

CUBATÃO, 70 ANOS.

Por mais de 400 anos Cubatão foi parte da rota de comércio entre Santos e São Paulo, mas poucas pessoas se fixaram ali. O meio ambiente da região foi o primeiro a sofrer um ataque direto dos ocupantes, com a realização dos aterros para melhorar a ligação entre a ilha de São Vicente e o Planalto. Em 12 de agosto de 1833, o vilarejo foi elevado à categoria de Porto Geral de Cubatão pela Lei nº 24, sancionada pela Regência. Mas esse privilégio durou menos de uma década: em 1º de março de 1841 voltou a integrar o território de Santos (Lei Provincial nº 167).
Com a construção da São Paulo Railway em meados do século XIX, criaram-se empregos que acabaram aumentando o número de moradores do povoado; bem mais tarde algumas indústrias se estabeleceram no pé da serra, entre elas o Curtume Costa Muniz, Ind. e Comércio, Cia. Curtidora Mex; Cia. Anilinas e Produtos Químicos do Brasil.
No começo do século passado, algumas empresas, como a Cia. Santista de Papel e a Light Improvement, preocuparam-se em construir casas para seus funcionários, como a Vila Fabril e a Vila da Light. A Vila da Light destinava-se a funcionários de médio e alto escalão e destacava-se pela elegância da arquitetura.
        Os dados demográficos, registrados em 1940, mostram que 4.683 pessoas viviam na zona rural enquanto apenas 1.887 pessoas residiam na área urbana. A economia era basicamente o cultivo de banana, cana-de-açúcar além da extração de tanino (Acidum tannicum), usado em curtumes; produziam-se tijolos e praticava-se a pesca. Entre 1938 e 1947, as empreiteiras que construíam a primeira pista da via Anchieta instalaram os operários em casas nas encostas da serra do Mar, formando os bairros Cota 95/100; Cota 200 e Cota 500. 
Com o apoio do deputado estadual Lincoln Feliciano (1893-1971), a campanha pela emancipação ganhou força. Em 17 de outubro de 1948 realizou-se o plebiscito que decidiu pela emancipação política de Cubatão. Foram 1.017 votos pró-desmembramento de Santos, 82 votos contra e um voto em branco. Com este resultado, o governador Ademar de Barros (1901-1969) sancionou a Lei nº 283 de 24 de dezembro do mesmo ano, fixando o quadro territorial e administrativo do Estado.
Assim, no dia 1º de janeiro de 1949, Cubatão foi elevado à categoria de município, mas permanecendo sob a administração da Prefeitura de Santos até 9 de abril, quando assumiu o primeiro prefeito Armando Cunha. No mesmo dia, foi instalada oficialmente no Grupo Escolar Júlio Conceição, a Câmara Municipal de Cubatão.
Quando o setor produtivo se interessou pelo município, a ocupação ocorreu sem planejamento pelo vale entre os rios Mogi e Cubatão junto da Serra do Mar e os resultados não poderiam ter sido piores tanto do ponto de vista social como ambiental. Cubatão e toda a Baixada ao redor sofreram nas décadas seguintes as consequências dessa escolha.  
Morros foram destruídos, mangues aterrados, rios usados para despejo de esgotos químicos enquanto a atmosfera era degradada com a emissão de gases pelas chaminés que cresciam como cogumelos pelo vale. Milhares de pessoas de todo o país acorreram em busca de emprego que a industrialização oferecia e essas pessoas não tinham onde morar e começou a ocupação irregular de terrenos e o crescimento de favelas na região.  
A PETROBRAS iniciou em 1953, no vale, as obras de instalação da Refinaria Presidente Bernardes, que começou a funcionar dois anos depois. A COSIPA entrou em operação em 1962 e depois chegaram as grandes indústrias. Na década de 1970, o parque fabril do município tinha 23 indústrias de ponta – além da siderúrgica e da refinaria de petróleo, havia nove fábricas de produtos químicos e sete de fertilizantes! Cubatão ocupava o quarto lugar no Estado de São Paulo em arrecadação, embora a cidade continuasse sem infraestrutura.
Em resumo, na década de 1980, Cubatão ficou conhecida no mundo como o “Vale da Morte”. Em 1980, a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental de São Paulo (CETESB) relatou que o complexo industrial de Cubatão emitia cerca de 30 mil toneladas por mês de material poluente, apenas no ar, isto é, gases e particulados. Partículas sólidas (maiores), também eram emitidas à taxa de um milhão e meio de toneladas ao ano. Eram 75 tipos de poluentes que se depositavam no solo, nos rios e no mangue. Além das doenças respiratórias que afetavam a população da região, houve a denúncia de um crescente número de crianças recém-nascidas com anencefalia (sem cérebro). Em fevereiro de 1984 um incêndio matou 93 pessoas na Vila Socó, favela construída sobre a tubulação de combustível da Refinaria Presidente Bernardes. As chuvas ameaçavam as encostas da Serra do Mar, onde os escorregamentos aumentaram consideravelmente.
Com a primeira eleição direta após 20 anos, o governo de São Paulo (Franco Montoro*) iniciou em julho de 1983 o “Programa de Controle e Recuperação da Qualidade Ambiental de Cubatão”, um trabalho que envolveu os pesquisadores da CETESB e de diferentes instituições. A meta: controlar as fontes de poluição ambiental; desenvolver estudos, pesquisas e atividades para obtenção de um quadro mais preciso da situação; conscientizar as entidades e instituições da comunidade sobre o problema, suas dimensões e consequências. Após uma década de trabalho, o controle de poluição realizado pela CETESB foi bem-sucedido.
Outra ação importante, realizada simultaneamente, foi a recuperação da vegetação nativa da Serra do Mar em Cubatão. Após análise da situação e na estruturação de um laboratório na CETESB para estudos de vegetação e de um viveiro, em fevereiro e abril de 1989 e em janeiro de 1990 foi feita a semeadura aérea com sementes paletizadas de espécies arbóreas e arbustivas pioneiras e secundárias resistentes à poluição. Helicópteros lançaram sobre a serra cerca de 750 milhões de sementes! O trabalho foi um sucesso. A cobertura vegetal recuperou-se.

Cubatão, enfim, podia respirar melhor.

Ponte dos Arcos. Foto: Prefeitura. 

Fontes:
Novo Milênio Santos

CETESB 50 ANOS - livro disponível em pdf no site

*Franco Montoro (1916-1999).


domingo, 7 de abril de 2019

O ANTIGO E O NOVO


Paris moderna. Ali entre os prédios de aço e vidro, o delicado carrossel empresta um colorido especial à paisagem urbana e atrai o homem urbano às raízes rurais onde o brinquedo surgiu em tempos imemoriais.


Esplanade de La Défense, Paris, 2012.

sábado, 6 de abril de 2019

UMA TARDE NO LOUVRE

A senhora parecia indiferente ao burburinho de visitantes do Museu do Louvre e caprichava na cópia de Le Tricheur a l'as de carreau, bela obra do pintor francês Georges de La Tour (1593-1652)... 
Um dia de maio de 2010.

quinta-feira, 4 de abril de 2019

DORIS DAY


Ontem foi o aniversário dela. Completou 97 anos. É uma senhora bonita. Cabelos brancos e sorriso perfeito. Se gosto muito da atriz, sou fã incondicional da cantora.


Doris Day e Rock Hudson (1925-1985)- comédias ingênuas e glamorosas.



quarta-feira, 3 de abril de 2019

PARDAL MALLET


Ele tinha nome de passarinho, mas era uma fera. Bem, uma fera na arte de escrever e de falar, mas no fundo um sentimental de acordo com amigos. Foi mesmo um “enfant terrible”, como diriam seus contemporâneos. O gaúcho João Carlos de Medeiros Pardal Mallet (1864-1894) ou simplesmente Pardal Mallet foi um jovem irreverente. Filho de uma família de militares, ele escapou da carreira, mudando para o Rio de Janeiro na adolescência e mais tarde ingressou na Faculdade de Medicina. Republicano convicto, abandonou a faculdade porque foi ameaçado de reprovação caso não mudasse suas ideias. Pardal Mallet mudou de cidade e de curso: veio para São Paulo e ingressou na Faculdade de Direito, mas concluiu o curso em Recife, onde arranjou nova encrenca – recusou-se a fazer o juramento de colação de grau. Situação contornada por Joaquim Nabuco, que era diretor da faculdade. Arrumou a mala e retornou ao Rio. Estava com 23 anos.
Nunca tinha ouvido falar de PARDAL MALLET, cuja história é deliciosamente contada pelo crítico André Seffrin, no livro da SÉRIE ESSENCIAL da Academia Brasileira de Letras, dedicado ao ocupante da Cadeira 30, patrono, da ABL. No Rio de Janeiro, frequentou a boemia e tornou-se amigo de Olavo Bilac, Coelho Neto e Álvares de Azevedo entre outros. Uma amizade que não o impediu de desafiar Álvares de Azevedo para um duelo por causa de uma discordância literária. Álvares de Azevedo ignorou o desafio. Mais tarde foi a vez de desafiar Olavo Bilac, mas a polícia impediu o confronto. O resultado foi uma ata muito divertida publicada no Diário de Notícias em 25 de setembro de 1889.
O jornalismo engajado na campanha republicana foi o caminho de Pardal Mallet. O advento da República levou-o a combater ferozmente o Marechal Floriano Peixoto e, naturalmente, ele levou a pior: foi deportado para a Amazônia (inacreditável), onde durante meses esperou pela anistia que foi assinada em 1892. No retorno, a vida se tornou difícil para Mallet, que foi violentamente agredido por florianistas e em consequência teve a saúde debilitada e morreu algum tempo depois. Não completou 30 anos. Pardal Mallet escreveu três romances: “Meu Álbum” (1887), “Hóspede” (1887), “Lar” (1888); “A pandilha, costumes gaúchos” (1889) e “Pelo divórcio!” (1894) - bastante elogiado.
Sob o pseudônimo de Vitor Leal, escreveu um folhetim com Olavo Bilac: “O Esqueleto: Mistérios da Casa de Bragança” (1890). Com Aluísio Azevedo, Coelho Neto e Olavo Bilac escreveu em 1891 o romance “Paula Matos ou O monte de socorro”.
 Ao terminar a leitura da biografia escrita por André Seffrin, fica um gosto de quero mais.
  
PARDAL MALLET por André Seffrin. Cadeira 30, patrono; Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2012.



segunda-feira, 1 de abril de 2019

ABRIL

Abril. Mês de lagartear ao sol, escreveu Monteiro Lobato em "As Caçadas de Pedrinho". Mês de sol ameno, convidativo. Mês de céu azul e nuvens preguiçosas. Abril que inspirou o poeta Vicente de Carvalho (santista) e Vinicius de Moraes (carioca). 

Santos, José Menino. Muitos dão o nome de garça à escultura sem nome de Tomie Ohtake.
Quando eu nasci, raiava
O claro mês das garças forasteiras;
Abril, sorrindo em flor pelos outeiros,
Nadando em luz na oscilação das ondas,
Desenrolava a primavera de ouro:
E as leves garças, como folhas soltas
Num leve sopro de aura dispersadas,
Vinham do azul do céu turbilhonando
Pousar o voo à tona das espumas...
(Espumas flutuantes, de Vicente de Carvalho.)
Santos, 2019.

As cores de abril
Os ares de anil
O mundo se abriu em flor
E pássaros mil
Nas flores de abril
Voando e fazendo amor
(As cores de abril, de Vinicius de Moraes.)